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2 HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA: ENSINO E APRENDIZAGEM

2.4 Aprendizagem significativa: conceitos básicos e modelo de ensino decorrente

3.1.5 A filosofia Popperiana

Vários filósofos e investigadores da ciência contribuíram para a superação de uma concepção positivista da ciência e para o surgimento das ‘novas filosofias’ da ciência no século XX, entre eles o pensador austríaco Karl Popper. Este filósofo era um importante membro do Círculo de Viena, tendo no entanto, se afastado deste grupo por discordar de algumas das suas teses fundamentais.

As idéias de Popper que podem ser situadas na transição entre o Empirismo Lógico e as novas tendências mais radicais que surgiram na Filosofia da Ciência neste período, ficaram conhecidas como o Falsificacionismo ou Falseacionismo. Ele criticou o modelo de investigação positivista baseado na observação como fonte segura de conhecimento, reconhecendo a ausência de embasamento lógico para o método da indução e a sua impossibilidade de garantir a verdade das afirmações científicas. Popper construiu uma teoria da ciência que não se apoiava na indução defendendo uma ciência empírica mas sem ser indutiva.

Para descrever o desenvolvimento da Ciência propôs um novo modelo, o Falseacionismo que considerava a cientificidade de uma proposição atrelada à possibilidade de ser falseada pela experiência. O erro era fundamental neste processo, desempenhando um importante papel na elaboração do conhecimento.

Popper considerava que o método científico devia ter como objetivo provar a falsidade e não a verdade das hipóteses de que partia, verificando até que ponto elas iriam resistir a hipóteses contrárias. Mesmo defendendo um método hipotético-dedutivo, ele considerava que uma hipótese só avançava se pudesse ser empiricamente testada, tendo introduzido a noção de aproximação da verdade em oposição à verdade por correspondência, defendida pelos empiristas lógicos (POPPER, 2001).

A Filosofia de Popper incluia dois aspectos principais: um critério de demarcação, isto é, a tentativa de estabelecer um critério que possibilitasse distinguir as teorias científicas da metafísica e/ou das pseudo-ciências e um conjunto de regras metodológicas elaboradas visando assegurar a aplicação deste critério. A falseabilidade ou refutabilidade é o critério que ele propôs para a demarcação entre ciência e não- ciência, preservando o caráter racional da pesquisa científica. Para Popper, o falseamento não significa a rejeição imediata de uma teoria, podendo implicar apenas na modificação de hipóteses auxiliares. As teorias que têm maior validade nunca são teorias verdadeiras, mas teorias que ainda não foram falseadas. A atividade científica, como atividade crítica, deve ter como meta a refutação e não a verificação. Teorias científicas, na verdade, são consideradas como conjecturas que podiam ser a qualquer momento refutadas.

Pode-se dizer, resumidamente, que o critério que define o status científico de uma teoria é a sua capacidade de ser refutada ou testada.[...] Não existe método mais racional do que o método de ensaio e erro, de conjectura e refutação, de proposição audaz de teorias, de esforços no sentido de demonstrar que elas são errôneas; e de sua aceitação, a título precário, se os nossos sentidos forem coroados de êxitos (POPPER, 1982, p. 66).

De acordo com Popper, no processo de indução encontrava-se implícita a idéia de que o investigador podia observar e experimentar a realidade sem pressupostos e de forma neutra. Ele propôs uma ciência dedutiva3 mas sem certezas, admitindo que as teorias podiam ser testadas através do método dedutivo visando a confirmação (PESSOA JUNIOR, 2004).

Popper se destacou como importante crítico do Empirismo Lógico, entretanto, compartilha com esta escola a idéia de que a Filosofia da Ciência deve ter como função articular um ideal de Ciência e não descrever o trabalho científico. Este ideal devia se pautar em termos metodológicos e não numa reconstrução lógico-semântica das teorias científicas. Segundo Abrantes (1997), para Popper a principal função da Filosofia da Ciência era a compreensão do processo de crescimento do conhecimento científico, a dimensão histórica portanto, se fazia necessária à reflexão filosófica sobre a Ciência.

3. 2 Novos rumos da Filosofia da Ciência no século XX

Na segunda metade do século XX, surgiu um novo tipo de Filosofia da Ciência que congregava diferentes pontos de vista filosóficos mas, com questões que asseguravam interfaces comuns entre eles (Kuhn, Lakatos, Laudan, Feyerabend, etc.). O que caracterizou o movimento dos “globalistas” foi a rejeição da “visão recebida” (Carnap, Reichenbach, Hempel) e da excessiva valorização da lógica formal como principal ferramenta para análise da ciência (Popper, Quine) (McGUIRE, 1992). Em seu lugar, propuseram um detalhado estudo da História da Ciência e o uso de muita

3 Dá-se o nome dedução à operação lógica de se partir de um enunciado geral para se formular ou justificar

informação histórica para subsidiar análises e justificar suas teses filosóficas. As dimensões histórica e temporal da mudança e do desenvolvimento científico passaram a ser bastante valorizadas.

Outro importante aspecto desta nova abordagem foi a crítica à ortodoxia e à ênfase na continuidade dos programas de pesquisa e na acumulação do conhecimento científico. As “teorias globalistas” sobre a ciência e o seu desenvolvimento consideram que para se descrever como a ciência de fato é feita, devia-se prestar atenção na História, na Sociologia e na Psicologia e não apenas em seus aspectos racionais e em sua estrutura lógica. Sob este ponto de vista, considerava-se que as questões de justificação das teorias estavam relacionadas com as das descobertas (PESSOA JUNIOR, 1993).

Considera-se como um dos precursores desta abordagem o filósofo francês Gaston Bachelard, cuja obra de maior repercussão foi o livro “O Novo Espírito Científico”, publicado em 1934 (BACHELARD, 1996). Outros filósofos que podem ser considerados como integrantes desta abordagem, alguns pelo menos como precursores são: Richard J. Blackwell, J. Bronowski, Harold I. Brown, Norwood Russel Hanson, Michael Polanyi e Stephen Toulmin (ABIMBOLA, 1983; PESSOA JUNIOR, 1993).

Os trabalhos de Thomas Kuhn e Paul Feyerabend são considerados como importantes focos de oposição às doutrinas positivistas e ofereceram uma direção alternativa de investigação. Uma importante conseqüência desta nova opção foi a aproximação entre a História e a Filosofia da Ciência. Os filósofos que abraçaram esta nova abordagem, embora ainda estivessem engajados na reconstrução racional do

particulares para se chegar a enunciados gerais ou a generalizações.

conhecimento científico priorizaram, nesta reconstrução, a emergência histórica dos métodos científicos, teorias e ontologias tanto quanto na estrutura formal da confirmação e explicação dos aspectos teóricos.

3.2.1 Filósofos da ciência que destacamos como críticos