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Fim da história e crise das utopias

No documento Download/Open (páginas 32-36)

Boaventura diz que a sociedade liberal moderna defrontou-se com alguns problemas fundamentais e que, entre eles, se nota a oposição feita pelos movimentos socialista e comunista.

A sociedade moderna não só acabou por neutralizar esta oposição como resolveu todos os grandes problemas que lhes foram postos. Por esse motivo é legítimo admitir que estamos perante o fim da história, uma posição a que Fukuyama (1992) deu recentemente grande notoriedade (SANTOS, 2003, p.

284).

A expressão O fim da história surgiu com artigo escrito pelo Francês Fukuyama em 1992, e depois foi aprofundada no livro El fin de la história e el último hombre . A sua pergunta principal é se existe uma direção na história do homem? Segundo ele a sociedade atual vive sobre duas lógicas: a lógica da ciência moderna, que apresenta um amplo horizonte de desejo, oferecido através do processo econômico, e a lógica da luta por reconhecimento, que também perpassa a sociedade e que segundo Fukuyama é o motor da história.

Fukuyama defende que a democracia liberal poderia pôr um ponto final na evolução histórica da humanidade e isso é o que marcaria o Fim da História . Alerta o autor para não se confundir Fim da História com sucessão de fatos e acontecimentos, mas tomar a história como um processo único, evolutivo e coerente das experiências de todos os povos em todos os tempos (FUKUYAMA, 1998, p. 11).

Isso não significaria que o ciclo natural de nascimento, vida e morte chegavam ao fim, ou que acabariam os acontecimentos importantes. Significava que não haveria mais novos processos no desenvolvimento dos princípios e instituições subjacentes, porque todos os problemas realmente cruciais haveriam sido resolvidos (FUKUYAMA, 1998, p. 13). Assim, segundo Fukuyama, tem sentido falar de uma história direcional, orientada e coerente por duas razões: uma econômica e outra pela luta por reconhecimento (FUKUYAMA, 1998, p. 13).

Desta maneira a pós-modernidade teria surgido porque a sociedade vive uma crise de utopias que alguns chamam de crise civilizatória. Essa crise seria moral e ética e diria respeito ao modelo de pessoa se que busca.

A crise repercutiria nas pessoas, nas instituições e provocaria o desencantamento. No campo político essa situação de crise causa uma apatia política, de distanciamento entre eleitores e eleitos, com progressiva repressão da sociedade sobre o pensamento político e da marginalização dos políticos em relação aos eleitores.

Resulta disso, segundo Boaventura, uma patologia da participação, através do conformismo e do abstencionismo (SANTOS, 2003, p. 22).

Algumas características da crise de utopias podem ser notadas nas seguintes questões: econômicas, políticas, geográficas, culturais e no imediatismo.

Quanto à questão econômica, a expansão extensiva do mercado e do consumo, que converte os bens da natureza em produto e que leva á progressiva acumulação de capital. Esses produtos são oferecidos para o consumo, gerando uma mecanização da vida dos bens e serviços e provocando novas relações sociais, mundiais e a perda das classes em sua capacidade de negociar com o capital e com o Estado.

O Estado tem perdido a vontade e a capacidade de regular a produção social. Percebe-se uma crescente deslegitimação das lutas, o aumento da diversidade conflitiva, o não acreditar na possibilidade de lutar para mudar a realidade.

A ampliação do mundo o tornou uma aldeia global . Cada vez mais a globalização econômica separa e diferencia o centro, a semiperiferia e a periferia global. Há uma constante mobilidade e transnacionalização através das ciências, do turismo, dos refugiados, das migrações e das empresas multinacionais.

Essa situação faz com que os Estados nacionais percam o controle do seu próprio território, surgindo assim, algo parecido com o desenraizamento, como uma conseqüência da globalização, favorecendo a perda das imagens estáveis do mundo e de sua tradição cultural.

Aparecem novas interações globais, com a perda das fronteiras que leva ao surgimento de novos costumes, de novas linguagens e ideologias. Existe um crescente desabrochar de novas identidades regionais e locais, com a valorização das raízes, de novos territórios simbólicos e imaginários entre o real e o hiper-real. Valoriza-se a particularização do gosto.

O pensamento de Fukuyama, sobre o Fim da História , junta se ao mecanismo da provisoriedade e do imediatismo, que teria levado a humanidade à sugestão de que tudo agora é permitido. O que importa é viver aqui e agora.

A sociedade passa a viver sob a busca do desejo e do reconhecimento, que é um elemento do neoliberalismo e se tornou o motor da história, interferindo na cultura, na religião, no trabalho, no nacionalismo e nas guerras.

Assim as conseqüências da pós-modernidade podem ser sentidas no individuo e na sociedade. No que diz respeito às influência sobre os indivíduos a pós-modernidade traz um novo horizonte que se baseia na especialização progressiva, do conhecimento da subjetividade com o surgimento de uma nova faceta das questões da liberdade.

Ser livre, ser sujeito, ser humano são considerados sinônimos dentro dessa nova cosmo-visão. Afirma-se o valor absoluto da subjetividade2, ou seja, a autoconsciência como critério ultimo e supremo do bom, do belo e do verdadeiro

(MOREIRA, sd, p. 2).

Cada pessoa enquanto sujeito vive uma realidade de múltiplos sujeitos.

Todos nós, cada um de nos é uma rede de sujeitos em que se combinam várias subjetividades correspondentes às várias formas de poder que circularam na sociedade. Somos arquipélagos de subjetividades que se combinam diferentemente sob múltiplas circunstancias pessoais e coletivas (SANTOS,

2003, p. 107).

A pessoa é colocada sob o domínio da expectativa constante do futuro e com isso, há uma curiosidade pela experimentação e pela busca dos limites, que gera a crise de sentido das sociedades avançadas (MOREIRA, sd, p. 2).

Já na sociedade, criam-se novos padrões de transformação social e aparecem as novas agências de publicidade, que vão produzir a nova religião, posta a partir da

2

- A subjetividade envolve às idéias de auto-reflexibilidade e de auto-responsabilidade, a materialidade do corpo e as particularidades potencialmente infinitas que conferem cunho próprio e único à personalidade (SANTOS. P. 240)

imposição de um sentir e desejar. Assim, tudo se torna mais próximo, e as populações se encavalam nos espaços urbanos e o precipício econômico e social entre estas populações aumenta rapidamente (DOWBOR, 2000, p. 11).

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