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O fim da música

No documento JOSÉ APARECIDO MARINHO (páginas 62-67)

3 TODOS OS EVENTOS NUM SÓ FESTIVAL

3.5.1 O fim da música

A ascensão do teatro marcou a retração do concurso de música no Festival Universitário de Londrina. Em 17 de setembro, dois dias antes da abertura oficial do evento por meio da encenação do espetáculo De Amor..., foi noticiado que das 64 composições inscritas ao concurso, 42 haviam sido eliminadas pela comissão selecionadora: 4 em virtude de irregularidade de inscrição e 38 por “insuficiência

109 Elenco: Renato Navarro, Maria Celeste Burgos Corrêa, Cleusa Antônia Venâncio, José Carlos Trevisan e Roldão de Oliveira Arruda.

110 Elenco: íris de Almeida, Suely Pusch, A lex de Almeida e Nilda Rodrigues.

111 Elenco: Moacir Camargo, Oswaldo Antônio Palhares, Christiani Helena Lourenço, Elias Marçal e Jussara Rezende Araújo.

112 Anjinho Bossa Nova hoje no IBC. Folha de Londrina, 28 nov. 1970. p. 2.

artística ou de técnica artística.”113 O presidente do CUCA, Abinoan Siqueira, justificou que a seleção havia sido “rigorosa”, porém “justa”, para garantir a

qualidade da disputa. Seria, na opinião dele, um concurso “menor e melhor.”114

Com apenas 22 canções selecionadas, foram marcadas duas eliminatórias, para 18 e 25 de outubro, nas quais 12 músicas115 classificaram-se para a final, a ser realizada em 1o de novembro. A data, posteriormente, foi transferida para o dia 8 daquele mês e o local escolhido para a festa foi o Ginásio de Esportes do Instituto Filadélfia (Colossinho), o mesmo dos dois anos anteriores. Só que, desta vez, mesmo tendo as músicas sido consideradas “as melhores já apresentadas no Festival Universitário, desde 68”116, o público não passou da metade das edições de 68 e 69. “Sempre-Viva, a vencedora do concurso de música do III Festival Universitário de Londrina, foi friamente vaiada e friamente aplaudida, ontem, no final do concurso.”117

O clima de indiferença foi o mesmo diante do anúncio das outras quatro vencedoras, em ordem crescente: A Chuva e eu, Joanice, Antimatéria e Das coisas que não diz o amor. Para Abinoan Siqueira, “se o público não veio, é porque o festival não foi mais novidade, sensação, como nos anos anteriores.”118

O vice-presidente do CUCA, Domingos Pellegrini Jr., publicou um artigo em

113 Eliminadas 38 das 60 músicas do Festival. Folha de Londrina, 17 set. 1970. p. 2.

114 ld.

115 As músicas classificadas são: Samba da semana que passou e Sempre-Viva (Neuza Pinheiro de Freitas), Engenharia (Francisco Pesserl), Jogo de batuque (Antenor Bertone Jr. e Nikinho), Bong, Bong Yet Bong (João Pessoa Rodrigues e Antenor Bertone Jr.), Joanice (Antenor Bertone Jr. e ligo Prestes), Antimatéria e Pesadelo (Edvaldo Viecelli), A chuva e eu (Gerli Moraes de Araújo), Das coisas que não diz o am or (Diza Aguiar, Nikinho e llzo Prestes), Nêga vem me ver (Milton Freire) e Domingo Tele 2000 (Nikinho).

116 A vencedora. Folha de Londrina, 8 nov. 1970. p. 1.

117 ld.

118 Encerrado o mais frio de todos os festivais. Folha de Londrina, 10 nov. 1970. p. 2.

que afirma que aquela edição representava o fim dos festivais de música na cidade:

Quando “Sempre-Viva, de Neuza Pinheiro de Freitas, foi anunciada como vencedora do concurso de música popular (...) o público aplaudiu pouco e vaiou fracamente. As ameaças de aplausos e de vaias foram constantes durante a apresentação das 12 músicas finalistas. Um público frio, sem entusiasmo, demonstra que festival não é festival sem público de festival, e que a “era dos festivais” já passou.119

E 1970, realmente, foi o último ano de concurso de música no Festival Universitário. “O desgaste só foi verificado no setor de música, pois o concurso de teatro está cada vez melhor”120, afirmava Abinoan Siqueira.

3.6 1971: TEATRO EM NOVA FASE

Aos poucos o Centro Universitário de Cultura Artística (CUCA), agora sob a presidência de Antenor Bertone Jr., vai saindo de cena da organização do Festival Universitário. O marco deste ano é o apoio da Universidade Estadual de Londrina (UEL), criada em 1969 mas só reconhecida através de decreto baixado pelo presidente da República, Garrastazu Médici, em outubro de 1971, permitindo que as cinco faculdades isoladas fossem definitivamente incorporadas pela nova instituição.

A diretora do Grupo de Teatro da Faculdade de Filosofia de Arapongas (GRUTA), Nitis Jacon de Araújo Moreira, é convidada a assumir o Setor de Teatro da UEL, que demonstra interesse em encampar o festival em virtude da necessidade de possuir trabalho de extensão à comunidade no âmbito cultural. Depois de receber o aval de diretores do CUCA, ela aceita a proposta e sua incumbência inicial é organizar em apenas 15 dias o concurso de teatro, que passa a ser denominado pela imprensa, devido à sua representatividade, de IV Festival de Teatro de Londrina, como se, desde 1968, o teatro tivesse sido a atividade mais importante do evento.

119 PELLEGRINI JR. D. O fim dos festivais. Folha de Londrina, 10 nov. 1970. Folha 2, p. 1.

120 Encerrado o mais frio de todos os festivais. Folha de Londrina, 10 nov. 1970. p. 2.

A programação começa dia 23 de outubro, às 15 horas, no auditório da Associação Médica, com um congresso para debate da situação do teatro. O evento sofre atraso de mais de uma hora e comparece um público de apenas 31 pessoas.121 Na ocasião, o assessor jurídico da universidade, Wilson Sokolowski, afirma que “a instituição não quer usurpar os movimentos estudantis como esse do Festival, mas apenas agasalhá-los, oficializá-los, pois queremos que continue com todos vocês.”122 Com o apoio da universidade, o evento ampliou-se, ganhou estrutura para receber especialistas em teatro que, além de participarem do congresso, ministraram cursos durante o período de concurso do festival.

Joana Lopes, professora e coordenadora artística do Teatro de Educação de São Paulo (GRUPARTE), por exemplo, coordenou o curso “A Arte do Movimento”, durante uma semana. No início do congresso, ela já provocou polêmica e permitiu o início de uma ampla reflexão dos participantes, ao condenar o modo de como se fazia teatro no Brasil - na base da “cópia de formulas européias” . Joana Lopes defendeu a prática de um teatro em linguagem acessível e voltada para a realidade local, explorando-se outros elementos cênicos, como expressões gestuais, e não apenas a oralidade. E questionou: “Lamenta-se que o futebol consiga atrair grandes públicos, enquanto que o teatro continua não interessando a não ser a um pequeno público costumeiro. Diz que o teatro está morrendo e está mesmo Não estaria o próprio ator matando-o?”123

O apelo feito pela professora no sentido de que haja a inserção de uma nova estética teatral, surtiu efeito imediatamente: diante da manifestação dela, a organização do festival mudou o endereço do congresso do dia seguinte,

121 Aberto concurso de teatro do IV Festival Universitário de Londrina. Folha de Londrina, 24 out. 1971. p. 14.

122 ld.

123 Congresso de teatro será em praça pública. Folha de Londrina, 24 out. 1971. p. 3.

transferindo a reunião de um espaço fechado para a Praça Floriano Peixoto, no centro da cidade.124

Foram, no total, cinco congressos. Além de Joana Lopes apresentar a defesa do teatro como meio de educação, também foram tratados os seguintes temas: teatro universitário, aspectos de montagem e texto, psicodrama e laboratório de emoção, e teatro latino-americano.

O congresso sobre o teatro latino-americano foi apresentado por Carlos Henrique Padilha Prado, professor do Instituto Nacional Superior de Arte Dramática de Lima (Peru) e integrante do Departamento de Teatro da Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo (USP). Ele também ministrou um curso de iluminação durante o período do concurso e, ao final, seus alunos e os participantes do curso “A Arte do Movimento” , coordenado por Joana Lopes, puderam praticar o que aprenderam durante as aulas, montando um espetáculo.

Nesse clima de efervescência de discussões sobre o teatro através do congresso e dos cursos, os cinco espetáculos inscritos ao concurso entraram na programação especial, à medida em que, após o encerramento das apresentações, foram realizados debates a respeito de aspectos da montagem, texto, direção, interpretação e outros itens julgados pertinentes.

A primeira montagem levada ao palco do Teatro Universitário, onde ocorreram todas as apresentações teatrais, foi GRUTA conta Tiradentes, uma variação de Arena conta Tiradentes, de Augusto Boal e Giafrancesco Guarnieri. O grupo de Arapongas retomava o espetáculo cuja apresentação havia sido impedida pela censura no festival de 1969.

O concurso prosseguiu até 31 de outubro, com as apresentações, pela ordem, de: N.U. Nós Universitários (Grupo de Teatro da Universidade Federal do Paraná), Vagão sem leito (Agremiação Maringaense de Teatro Amador-AMTA),

124 id.

Pedro Mico (Oficina de Cultura Artística-OCA) e Biedermann e os incendiários (Grupo Teatro Universitário Rocha Pombo-TURP).

No documento JOSÉ APARECIDO MARINHO (páginas 62-67)

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