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A música e outros concursos

No documento JOSÉ APARECIDO MARINHO (páginas 57-62)

3 TODOS OS EVENTOS NUM SÓ FESTIVAL

3.4.1 A música e outros concursos

Na segunda edição do festival, 38 músicas participaram do concurso, das quais, seguindo a fórmula do ano anterior, 15 foram classificadas em eliminatórias para a grande final, realizada em 29 de outubro.96

Outra vez o palco foi o Ginásio de Esportes do Instituto Filadélfia (Colossinho). Para atrair maior público, mesas e ingressos foram comercializados ao mesmo preço praticado em 1968, custando 3 cruzeiros novos a inteira, 2 para estudantes e 25 a mesa.97

Não houve surpresas em relação à presença de público, que novamente lotou o espaço e participou dele até antes do início do espetáculo:

Fazia calor e ameaçava chover. Quando o público ameaçava uma vaia em peso, o “Som Charme 7” começou a tocar. Vaias, assobios, aplausos, gritos. Uma dupla Cosme-Damião (como são chamados dois policiais em serviço) retira uma das faixas, alegando ser imoral.

Na parede de fundo do palco do Colossinho, em letras grandes pintadas: “Mais que nunca

95 A composição do elenco não foi localizada.

96 Músicas classificadas: Seqüência de sol e vento (Pedro Scucuglia e José Carlos Vieira), Madrugada do fim, O que cabe ao peito de um cantador e O violeiro (Robert Sallum e Flávio Campos), Samba do buraco da agulha (Luiz Antonio de Oliveira), Sou mais o vento (Rodolpho Sproesser e W aldecyr de Oliveira), O campeador (Antenor Bertone Jr.), Menina do cordão (Antenor Bertone Jr. e Edilson Leal), Camões (Domingos Pellegrini Jr. e Antonio Clélio Pellegrini), Mareante (Alcides Menolli e Ordália Rezende), Girassol (Alcides Menolli, Ordália Rezende e Sérgio Menolli), E o vento disse Maria (W alter Luiz Guimarães), Um mundo melhor (Carlos Pimenta e Márcia Jerônimo), Daniela (Márcia Constantino) e Clarinda (Nikinho e Mirian Paglia Costa).

97 Colossinho hoje vai encher. Folha de Londrina, 29 out. 1969. p. 11.

é preciso cantar”. Era o final do festival de música.98

A música vencedora foi D aniela", de Márcia Constantino, que no ano anterior havia classificado três composições entre as seis melhores. A campeã da primeira edição, Mirian Paglia Costa, ficou em segundo lugar, com a canção Clarinda, composta em parceria com Nikinho. A terceira colocada foi a música E o vento disse Maria, seguida por Camões e Samba do buraco da agulha, que dividiram a quarta posição; O campeador, em quinto, e Sou mais o vento, em sexta posição.

As vencedoras no concurso de música também foram premiadas no concurso de poesia - atividade realizada paralelamente para ampliação do cenário cultural - invertendo a ordem de classificação: Mirian conquistou o primeiro lugar, com a obra Contraface, e Márcia o segundo, com Murandanças. Houve também concurso de contos, e o vencedor foi o mesmo de 1968: Domingos Pellegrini Jr., desta vez com o texto O jornal. E, no salão de artes plásticas, foram quatro primeiros colocados. Pintura (Integração - Carmelita Vilella de Magalhães), Escultura (Vidas secas e Psicose - Suely Portes), Gravura {Luta, Lavoura e Catadora de papel -Maria Imola) e Desenho (Prostituição e Intimidade - lone Giovannette Fonseca).

3.5 1970: M AIS D E S T A Q U E A O T E A T R O

O Festival Universitário de Londrina entra na década de 1970 bem diferente em relação às edições anteriores. Dia 28 de maio é eleita a nova diretoria do Centro Universitário de Cultura Artística (CUCA), responsável pela organização

98 Olha aí: a final do festival. Folha de Londrina, 31 out. 1969. p. 15.

99 Texto de Daniela: Não chora mais, Daniela/ tira o pranto da janela/ tenta um verso de ciranda/ menos triste que é quem canta./ Vem, derrama o sorriso/ mais bonito, que eu preciso/

inventar uma esperança/ só pra ver se a dor se cansa./ Minha rua, assim como a tua/ se chama procurar/ não tem onde dar.../ tanto encontro passando por ela/ e eu, Daniela... a esperar.../ (refrão Não chora...)/ Tua mágoa é bem igualzinha/ a esta que é m inha/ quem sofre adivinha.../ seca o pranto e aprende no canto/ quem chora só sente acalento.../ (refrão).

do evento. O arquiteto Abinoan Siqueira assume a presidência da entidade e Domingos Pellegrini Jr. o cargo de vice-presidente. Imediatamente, começam a ser discutidas novas bases para o evento, definindo-se que permanecerá aberto a todos os interessados nos concursos, sejam ou não estudantes. Com uma novidade:

torná-lo de âmbito estadual.

Nas primeiras reuniões dos organizadores fica evidente a importância atribuída ao teatro. Tanto que, ainda em maio, é divulgado que as inscrições de peças teatrais poderão ser feitas até 30 de julho, e que o prazo para o concurso de música terminará em 30 de agosto. Para os “outros” concursos - de artes plásticas, contos, poesia e o recém-criado salão de fotografia - , os regulamentos seriam conhecidos apenas no segundo semestre.100

O destaque é tanto que, diferentemente dos anos anteriores, desta vez o festival será aberto oficialmente através do concurso de teatro, em data definida durante reunião de diretores do CUCA e representantes de 10 grupos inscritos, no começo de agosto. A abertura é marcada para 19 de setembro e, no mesmo encontro, os dirigentes decidem ainda a ordem da apresentação dos espetáculos e traçam o cronograma, que prosseguirá até o mês de novembro.101

Para coordenar o concurso e integrar a comissão julgadora, é convidado o teatrólogo paranaense Armando Maranhão, que iniciou a carreira em 1948, como vice-presidente do Teatro do Estudante do Paraná. Ele irá avaliar os espetáculos, juntamente com Fernanda Jiran, Benedito Guizzo, Zita Kiel, Osvaldo Diniz e Heitor

Bertin. Os nomes dos jurados, ao contrário das edições anteriores, são divulgados com antecedência para evitar comentários maldosos de que apenas Abinoan

100 Festival universitário. Folha de Londrina, 28 maio 1968. p. 8.

101 Diretores de teatro decidiram: festival começará em setembro. Folha de Londrina, 2 ago. 1970. p. 2.

Siqueira, atual presidente do CUCA, estivesse procedendo ao julgamento.102

De Amor, Filosofia e Banana103 abre o festival na noite do dia 19, no auditório do Colégio Londrinense. Com texto e direção de Domingos Pellegrini Jr., o Grupo Três Sangues permanece em cartaz durante quatro dias, cumprindo a regra válida para os demais competidores, que se sucederão a cada semana.

Apesar de dez grupos terem se inscrito ao festival, oito chegam de fato aos palcos. A História de Muitos Amores (de Domingos de Oliveira, dirigida por Edilson Leal e encenada pelo Grupo de Teatro de Direito) e A Moratória (de Jorge Andrade, dirigida por Ivo Cordeiro Lopes e montada pelo Grupo Teatral da Fafi de Ponta Grossa), desistem de apresentar-se.104

Em compensação, dois grupos de Maringá - Teatro Universitário de Maringá (TUM) e Agremiação Maringaense de Teatro Amador (AMTA) - garantem presença no evento, trazendo, respectivamente, os espetáculos Assalto ao Banco de Virgínia City e Cupido no Abismo. As duas peças são dirigidas por Oscar Leandro, também autor dos textos, motivo que o retira da competição de melhor direção.

A diretora do Grupo de Teatro da Faculdade de Filosofia de Arapongas (GRUTA), Nitis Jacon de Araújo Moreira, volta a enfrentar problemas com a censura, mas consegue apresentar o espetáculo Arena conta Zumbi. A previsão inicial era de que o grupo se exibisse em 17 de outubro, porém, devido à demora para liberação, isso só aconteceu no dia 29. “Depois de um adiamento motivado pela burocracia da Polícia Federal, que retinha o texto da peça em Curitiba, o GRUTA levou ontem ao

102 Armando Maranhão preside júri do concurso de teatro. Folha de Londrina, 20 set. 1970.

p. 3.

103 Elenco: Apoio Theodora, Pedro Olher e Domingos Pellegrini Jr.

104 O Inspetor geral hoje no IBC. Folha de Londrina, 20 nov. 1970. p. 3.

palco Arena conta Zumbi.105

O espetáculo, de autoria de Augusto Boal e Giafrancesco Guarnieri, que conta a história do herói Ganga Zumba, o Zumbi dos Palmares, mereceu destaque de página inteira na Folha de Londrina. O texto elogia a diretora Nitis Jacon, afirmando que ela “soube captar bem todas as nuances do difícil texto”, e que,

“aproveitando-se da técnica do ‘coringa’ (atores interpretando vários personagens), conseguiu dar uma dimensão extraordinária ao espetáculo, que tem momentos verdadeiramente apoteóticos.”106

A montagem do grupo de Arapongas serve também para Leal enaltecer a relevância do festival: “Esta montagem bem sucedida de Arena conta Zumbi é uma prova do acerto da realização do Festival Universitário de Londrina. É claro que nem todas as peças representam o elevado nível artístico de Arena conta Zumbi, mas mesmo os desacertos são válidos na medida em que indicam a procura de um caminho e represente uma tentativa de fazer arte em Londrina” .107

O conhecido texto O Inspetor Geral, de Nicolai Gogol, também causou polêmica e só foi levado aos palcos londrinenses depois de funcionários do Serviço de Censura Federal, em Brasília, cortarem partes consideradas impróprias pela ditadura. Com direção de Rubem Valduga, o espetáculo108 foi montado pelo Grupo de Teatro Universitário Rocha Pombo (TURP), da Faculdade de Filosofia, com um atraso muito superior ao de Arena..., de exatos 40 dias. Foi a sexta peça dentro da programação do festival, pois haviam sido apresentadas também, além das

105 Finalmente Zumbi é contado. Folha de Londrina, 30 out. 1970. p. 1.

106 LEAL, E. Zumbi: uma história bem contada. Folha de Londrina, 31 out. 1970. Caderno 2, p. 1.

107 Id.

108 Elenco: Renata Bertin, Antenor Bertone Jr., Sérgio Bugacov, José Roberto Mortari, Romeu de Oliveira, Marcelo Rachwerger, Belluce Bellucci, Ornar Larini, Odarclê Mansur, Jane Tramontini, Elza Correia, Apoio Theodora, Irineu Garcia, Alba Maria Perfeito e Fatilde Meneghetti.

produções mencionadas, Piquenique no Front109, dirigido por Roldão Arruda, e Abre a Janela e Deixa Entrar o A r Puro e o Sol da Manhã110, com direção de Alex de Almeida.

Seguindo a mesma linha do concurso do ano anterior, o Grupo Teatro Novo, dirigido por Linda Bulik, investiu outra vez, a exemplo da maioria da produção já apresentada na terceira edição do festival, na conscientização política. Com atrasos provocados pela censura, o grupo montou o espetáculo Anjinho Bossa Nova111, de autoria de Paulo Silvino, que apela ao riso para criticar a estrutura social.

A farsa, dividida em três atos, é defendida pela diretora como “uma comédia séria, para rir e pensar ao mesmo tempo” . Ela acrescenta: “Não se trata de humor pelo humor, como pode dar a entender o título: nada na peça é gratuito ou alienante - é um trabalho para o espectador rir e depois pensar que talvez esteja rindo de si próprio.”112

No documento JOSÉ APARECIDO MARINHO (páginas 57-62)

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