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Fim de setembro de 2000, na Terra

Excitação e apreensão. Existe uma sutil diferença entre essas duas emoções. Nesse momento, porém, Andy mal sabia dizer qual era essa diferença, porque as duas emoções fluíam por todo o seu ser. Excitação porque seu novo guia disse que ele estava pronto. Apreensão porque ele não tinha a menor ideia e para que ele estava pronto.

No entanto, não havia tempo para perguntas. Antes que pudesse formular a primeira, ele e Joshua tinham partido, deixando a calma e azul harmonia para trás.

Instantaneamente, os dois espíritos estavam no plano terrestre, no meio de um cruzamento movimentado de uma grande cidade.

Excitação!

Era hora do almoço em Tóquio. A multidão agitada do meio-dia rodeava Andy e Joshua. Em volta e, literalmente, através deles, milhares de pessoas se apressavam para compromissos, compras e restaurantes, cada um vivendo sua vida singular no meio da selva urbana.

— Dê uma olhada à sua volta. Existem bilhões de histórias, ideias e emoções diferentes nos rodeando — disse Joshua, observando movimento. — E eles estão todos ligados por um fio comum: são espíritos encarnados na Terra.

— Se pelo menos eles soubessem disso — refletiu Andy, amargamente —, a Terra seria um lugar diferente.

— Esse tempo está chegando e virá antes do que a maioria das pessoas imagina — disse Joshua.

Apreensão!

Mas seriam as próximas palavras do guia que iriam chocar Andy e virar seu mundo de cabeça para baixo.

— Tudo isso vai acabar. A vibração da Terra está mudando. Andy ficou imóvel.

O alto rumor da cidade virou silêncio. Andy já não podia ouvi- lo.

O apressado grupo de pessoas ao seu lado nas calçadas lotadas parou de se mover, transformando-se em uma imagem suspensa no tempo.

Carros, táxis, ôníbus, carrinhos de mão, bicicletas, motocicletas viraram um grande borrão colorido.

Tudo foi perdendo a forma, misturando-se numa só imagem.

A única coisa que Andy ainda ouvia eram as palavras de Joshua. Elas soavam em seus ouvidos:

“Tudo isso vai acabar. A vibração da Terra está mudando.”

A mancha de cores e sons à sua volta derreteu e sumiu. Tudo estava parado. Tudo deixou de existir, exceto Joshua, em pé ao lado dele, fitando, sem nenhuma emoção, os olhos de Andy.

— Não se preocupe, não é o fim do mundo. É um novo começo para o mundo. Você vai saber mais...

— Quando eu estiver pronto — interrompeu Andy, impaciente.

— Isso mesmo. Quando você estiver pronto — confirmou Joshua, com paciência. A mancha entrou em foco, os borrões de cor se alinharam e os ruídos da grande cidade voltaram aos ouvidos de Andy. Ele o lhou em volta: tudo estava normal, tudo estava como devia ser. Mas, daquele momento em diante, nada mais voltaria ao normal para Andy.

“Tudo isso vai acabar”, as palavras de Joshua ecoavam em sua mente.

E, levando essas palavras com ele, eles se foram. Tão rapiamente quanto surgiram em Tóquio, eles desapareceram. Joshua e Andy estavam agora em uma área remota e solitária da América do Sul.

Eles estavam em um vale, em meio a duas extensas cadeias de montanhas. Em frente a eles, um fazendeiro solitário irrigava sua plantação. Os únicos sons vinham do suave cair da água sobre as plantas verdes e cobertas de folhas e o alegre cantar dos grilos.

Andrew olhou para a cena. Como era diferente das ruas agitadas e frenéticas de Tóquio onde eles estavam há apenas alguns segundos!

“Tudo isso num mesmo planeta”, Andy se maravilhou.

O contraste também fora percebido por Joshua. Na verdade era parte de seu plano. — Agora mesmo, no outro lado do mundo, as pessoas estão transbordando de prédios de escritórios, correndo para os compromissos da hora do almoço. E aqui — disse o guia em um tom sussurrante — um homem solitário molha suas plantas. A Terra é mesmo um lugar fascinante.

Andy estava feliz em descobrir que Joshua sentia de verdade o mesmo que ele a respeito da Terra. Esse planeta era positivamente um lugar fascinante.

O sol começava a se pôr em um glorioso tom alaranjado e dourado. Joshua se voltou para seu aluno e, ainda falando quase num sussurro, disse:

— E você viveu tudo isso. Você viu e experimentou tudo que a Terra pôde oferecer. Você é um espírito terrestre, de verdade.

Excitação e apreensão.

Andy assentiu. Ele ainda não tinha a menor ideia de onde toda aquela conversa ia levar, mas sentia que estavam finalmente chegando a algum lugar.

Pela quinta vez, ele ouviu a voz de Phil atravessando o tempo e espaço e repetindo, mais uma vez, uma lição de um remoto passado.

“Encarnação é uma necessidade imposta por Deus como um meio de atingir a perfeição. Para alguns espíritos ela é uma reparação; para outros, uma missão.”

Joshua, que também ouviu as palavras, reafirmou-as. Andy sabia que uma verdade estava para ser revelada. Ele estava pronto.

A fazenda solitária e o espetacular pôr-do-sol dourado eram um cenário deslumbrante.

“Joshua deve ter sido um produtor de Hollywood”, brincou Andy consigo mesmo. “Ele tem uma queda pelo dramático.”

E Joshua continuava ajustando o cenário.

— Você viveu em toda situação possível na Terra: guerra, epidemia, fome, pobreza e riqueza. Você viu e experimentou quase toda vibração existente na Te rra.

— Esta foi a abertura — observou Andy, espertamente decidindo deixar suas brincadeiras para si mesmo.

— Muitos espíritos começam ciclos de encarnação em mundos menos desenvolvido s. Você não. Você cresceu e evoluiu com a Terra. Tem alguma ideia do porquê?

Andy deu de ombros. Ele não tinha nem uma pista, mas ele sabia que Josh estava deliberadamente elevando os níveis de ansiedade. Porque o guia não ia direto ao assunto?

Excitação e apreensão. Ambas corriam pelo ser de Andy. Joshua piscou. Ele sabia que Andy estava uma pilha de nervos, mas continuava a incrementar o suspense. “Um guia tem o direito de se divertir”, disse a si mesmo.

— Você é um modelo de espírito terrestre. Em simplicidade e ignorância você entrou em um mundo simples e ignorante. Você aprendeu e evoluiu com ele. Não existem muitos como você por aí.

Joshua estava certo e Andy sabia disso. Ele era atraído não apenas pela vibração terrestre, mas também pelos espíritos que ali viviam. Mas a atração não continha ilusões.

Andy sabia que os espíritos encarnados na Terra eram capazes de ser mesquinhos, assim como eram capazes de ter grandeza. Em suas vidas ele viu grande mal, mas também testemunhou o amor, a compaixão e a bondade.

Eu amo a Terra, apesar de suas falhas. Eu a amo por suas virtudes. Nesse caso, acho que você pode me chamar de um verdadeiro “espírito terrestre” — ponderou Andy, em voz alta.

— Você sabe, Andy, às vezes nós encarnamos para pagar ou consertar algo que fizemos ou deixamos de fazer. De vez em quando escolhemos as circunstâncias de nossas vidas, escolhendo o que nós precisamos para aprender. E às vezes, por causa do carma, as circunstâncias são escolhidas para nós. E ainda tem às vezes, como agora, quando o carma e o aprendizado juntam para formar uma missão.

Os únicos sons quebrando o silêncio eram os grilos cantando e a água caindo da mangueira do fazendeiro enquanto ele, sem notar a presença dos espíritos, continuava a cuidar de sua colheita.

— O que você acharia de ser um “confortador terrestre”? — propôs Joshua. Sem um só instante de hesitação, Andy respondeu:

— Como era você?

— Sim e não. Nós nascemos para ajudar o início de uma era; os novos confortadores ajudarão a preparar uma nova. Mas, assim como aqueles primeiros confortadores, você não estará sozinho. Haverá milhares como você. Alguns já estão encarnados.

Já não havia mais apreensão. Ela se dissipara. Tudo que sobrou foi a excitação diante das possibilidades.

O guia sorriu e esfregou as mãos.

— Hora das perguntas! — exclamou, animado.

— Eu só tenho uma — respondeu Andy, suavemente. — O que tenho de fazer? Joshua foi pego de surpresa. Ele estava esperando um turbilhão de perguntas. — Ensiná-los a confiar — foi sua resposta.

Andy ergueu uma sobrancelha e esperou que Joshua exp licasse.

— Mostrar a eles que estão todos ligados uns aos outros. Ensiná-los que não há nada a temer.

Enquanto Andy meditava sobre as palavras do guia, Joshua alertou o candidato a confortador:

— Não vai ser fácil. Existe muito trabalho pela frente. Você vai ter de se preparar para ver a Terra e a si mesmo como você jamais viu antes.

— Estou pronto — foi tudo que Andrew disse.

E, com essas palavras, ele deu mais um passo em sua longa e difícil jornada de dúvida e descobrimento.

Ele tinha dado o primeiro passo: a revelação em Nova York.

Ele tinha dado o segundo: foi tocado pelos dois lugares do Universo. Ele podia agora escolher entre as dúvidas do “outro lugar” e a fé do “lugar especial”.

Ele tinha dado o terceiro passo: tornou-se um consigo mesmo.

Havia muitos, muitos passos pela frente, e cada um era único. Ele tinha de superar suas dúvidas, controlar sua raiva e dominar sua impaciência. Estes seriam os próximos.

Andy então olharia para a Terra como nunca a olhara antes.

Passos... Alguns grandes, outros pequenos. Todos parte da jornada de dúvida e descobrimento de Andy.

Seria uma jornada de dúvidas, porque ele teria de confrontá- las.

Seria uma jornada de descobrimento, porque lhe daria, se ele superasse suas dúvidas, o direito a uma olhada na Nova Era.

Chegava a hora de Andy encontrar o Mestre. O próximo passo, um passo de testes, estava para começar.

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