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4. A REFORMA POLÍTICA: IMPLICAÇÕES NO FINANCIAMENTO DE

4.4 Financiamento de campanhas femininas e a ADI nº 5.617

A minirreforma eleitoral de 2015, efetivada pela Lei nº 13.165/15, estabeleceu, em seu art. 9º, percentuais mínimo e máximo de recursos do Fundo Partidário a serem aplicados em campanhas eleitorais femininas, estabelecendo ainda um prazo de vigência para tal regra. Previa o referido artigo que nas três eleições que se seguissem à publicação da lei, os partidos

39 SANTANO, Ana Claudia. O financiamento coletivo de campanhas eleitorais como medida econômica de democratização das eleições. Estudos Eleitorais.

deveriam reservar, em contas bancárias específicas para este fim, no mínimo 5% e no máximo 15% do montante do Fundo Partidário destinado ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas campanhas de suas candidatas.

No entanto, o Procurador-Geral da República ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade questionando a regra disposta acima. O pedido de declaração de inconstitucionalidade da norma se fundamentou sobretudo no argumento de que a regra produz desigualdade de gênero e reduz o pluralismo político, fundamento do Estado Democrático de Direito.

O STF, ao julgar a ADI, decidiu por declarar a inconstitucionalidade da expressão “três”, contida no art. 9º da Lei 13.165/2015, eliminando o limite temporal que era fixado; dar interpretação conforme à Constituição ao art. 9º da Lei 13.165/2015 de modo a equiparar o patamar legal mínimo de candidaturas femininas ao mínimo de recursos do Fundo Partidário a lhes serem destinados, que deve ser interpretado como também de 30% do montante do Fundo alocado a cada partido, para as eleições majoritárias e proporcionais; além de fixar que, havendo percentual mais elevado de candidaturas femininas, o mínimo de recursos globais do partido destinados a campanhas lhe seja alocado na mesma proporção.

O Supremo decidiu ainda por declarar a inconstitucionalidade, por arrastamento, do §5º-A e do §7º do art. 44 da Lei 9.096/1995, que fixam percentuais de recursos do Fundo Partidário destinados à criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres.

Foram vencidos, em parte, os Ministros Marco Aurélio e Gilmar Mendes, por terem julgado parcialmente procedente a ação, e o Ministro Ricardo Lewandowski, por tê-la julgado procedente em maior extensão. Eles concordaram que era preciso derrubar o percentual máximo de 15%, mas foram contrários à fixação de um novo percentual mínimo de 30%.

A maioria, no entanto, entendeu que fixar um percentual mínimo de recursos do Fundo Partidário em patamar proporcionalmente inferior àquele exigido para o número de candidaturas femininas gera desequilíbrios, vez que impede que as mulheres disputem os cargos eletivos em igualdade de chances com os homens.

A regra disposta no art. 10, §3º da Lei nº 9.504/97, incluída pela Lei nº 12.034/09, utilizada como parâmetro na decisão do STF, já buscava justamente dirimir a discrepância existente entre o número de candidatas e candidatos eleitos segundo o sistema proporcional, num contexto em que se demanda por ações afirmativas que fomentem a participação das mulheres na política.

Diante desse cenário, é louvável a posição tomada pelo STF, dada a incongruência entre a baixa participação feminina nas casas legislativas no Brasil quando comparada com o percentual de mulheres na sociedade brasileira. A título de exemplo, a nível federal, no âmbito da Câmara dos Deputados, o número de deputadas federais gira em torno de 10%41, o que

demonstra que as casas parlamentares brasileiras precisam de uma maior participação feminina para equilibrar os espaços e as relações de poder.

Assim, resgatando a relação existente entre a utilização de recursos financeiros nas disputas e o aumento de chances de sucesso nos pleitos, têm-se que a representatividade feminina encontrava-se protegida de forma deficiente, tendo o Supremo, no julgamento da ADI nº 5.617, equalizado de forma um pouco mais satisfatória a destinação do dinheiro à presença das mulheres nas campanhas. Como podemos constatar no gráfico abaixo, em geral, os partidos destinam menos recursos para suas candidatas do que para aqueles do sexo masculino, tanto nos partidos tidos como de esquerda quanto naqueles com posição mais direitista, o que exigia uma ação afirmativa para reverter essa situação, na busca de consolidar a igualdade de gênero também na política.

No gráfico abaixo, foi feita uma comparação entre a média de recursos destinados por cada partido a seus candidatos do sexo masculino e feminino. Assim, se o valor é próximo de 1, significa que o partido não diferencia homens e mulheres na distribuição de dinheiro. Se a razão fica acima de 1, quer dizer que as mulheres são favorecidas; para os valores abaixo de 1, os homens levam vantagem na repartição feita pelo partido.

41Pesquisa realizada no sítio oficial da Câmara dos Deputados: http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa. Último acesso em: 30 de abril de 2016.

Gráfico 1 – Relação entre Valores Médios Destinados pelos Partidos a Candidatas e Candidatos nas Eleições para as Câmaras Municipais de 2016

Fonte: Santos42 (2017).

Percebe-se que, com exceção do partido REDE, há clara discriminação dos partidos quanto à divisão dos recursos entre candidatos e candidatas. Portanto, com o aumento do percentual de recursos financeiros a ser distribuído nas campanhas femininas, proporcional ao percentual mínimo de candidaturas que já era exigido por lei, busca-se minimizar a disparidade de candidatura por gênero, saltando do mínimo de 5 para 30 por cento, sem fixar um valor máximo, assim como não existe na destinação de dinheiro para candidaturas masculinas, mas apenas condicionando ao percentual que as candidaturas femininas alcançarem.

42 Gráfico elaborado por Bruno Carazza dos Santos, utilizando dados do TSE. Disponível em: http://www.politize.com.br/participacao-das-mulheres-na-politica-brasileira/. Acesso em: 30 de abril de 2018.

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