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CAPÍTULO 5 – AVANÇOS NOS LIMITES, LIMITES NOS AVANÇOS

5.2 Financiamento público da capoeira

O orçamento do Ministério da Cultura durante o governo PT/aliados, bem como em governos anteriores, sempre esteve vinculado aos menores recursos entre as pastas. Como exemplo, segundo dados da Auditoria Cidadã da Dívida (s.d.), observando as despesas discricionárias, foram destinados 0,09% do orçamento geral no ano de 2012 e 0,04% em 2011, porcentagem significativamente menor em relação a outras esferas como saúde (em torno de 4%), previdência social (em torno de 20%) e serviços de juros e amortização da dívida (em torno de 47%). Compreendendo a grande diferença entre as despesas discricionárias e a execução orçamentária, os gastos de todas as pastas são muito diferentes das porcentagens iniciais em virtude das estratégias de contingenciamento de recursos convenientes em descomprometer o Estado com os gastos em áreas sociais para favorecer situações de ocasião política que garantam a governabilidade e os compromissos financeiros com o capital internacional.

Compreendendo o orçamento executado, a porcentagem do MinC oscila ao longo dos anos entre 0,2% e 0,6% (VIEIRA; BONFIM, 2010). Apesar do orçamento limitado durante a gestão de Gil/Juca, foi aumentado em cerca de dez vezes, passando de 275 milhões, aproximadamente, para 2,2 bilhões (MINC, 2010). Apesar da significativa mudança, a proporção em relação à execução orçamentária geral não teve grande alteração, chegando a 0,7%. Com uma execução limitada, a inclusão de novas demandas gera uma grande “ginástica” por parte da gestão e, não obstante, evidência a busca de novas alternativas de financiamento, como acontece no âmbito cultural.

A capoeira, durante essa gestão, flerta com essa perspectiva. Se em 2005 o edital teria sido contemplado como parte do programa Cultura Viva e, a partir do registro da capoeira, as ações seriam possíveis via gestão orçamentária do IPHAN, nos editais do programa Capoeira Viva, o financiamento dos editais teria sido possível pelo Programa Petrobras Cultural (PPC), destinando 900 mil reais em 2006 e 1,2 milhão em 2007. A inclusão do setor produtivo no

seguinte maneira: “Avalio como um marco na história da capoeira, pois uma atividade já tida como ilegal pelo código penal de 1890 do Brasil foi reconhecida oficialmente como um patrimônio cultural brasileiro. A partir do processo de reconhecimento do Estado a capoeira obteve um respaldo social maior. No entanto ainda há uma visão preconceituosa de alguns em relação à capoeira, ainda há muitas portas fechadas para ela. Percebi o despertar de vários grupos de capoeira com intuito de se articularem para se beneficiarem enquanto associações civis do momento em que a capoeira é posta em evidência e se é discutida. As condições de trabalho ainda são precárias para a maioria dos capoeiristas”

financiamento da cultura, em observância à Lei Rouanet, gera a isenção fiscal e aumenta os recursos para a cultura. A iniciativa do MinC em se vincular à sociedade de economia mista Petrobras para o financiamento de suas ações buscava dar um perfil democrático da política de isenção fiscal, geralmente relacionado aos interesses empresariais privados pouco atentos aos princípios de equidade de recursos quanto às diversas manifestações culturais. A utilização dos recursos do PPC, maior programa privado de financiamento da cultura por parte do MinC, no entanto, demonstra seus limites quando o mercado financeiro mostra sua dimensão antidemocrática. Se no biênio 2006/2007 foram destinados 62,9 milhões ao PPC (maior repasse de recursos feito pela empresa), no biênio seguinte o montante foi de 2,5 milhões, sendo a drástica diminuição relacionada à grande crise financeira internacional do capital de 2008 (PETROBRAS, s/d.), fato que repercutira significativamente no financiamento conduzido pela parceria MinC/Petrobras, podendo inclusive ter afetado ações para a capoeira em 2008.

A redução de orçamento do programa, que se recuperou nos biênios posteriores, demonstra que o mecenato existe desde que ocorra um grande excedente de lucro para o investimento em cultura. Do contrário, as portas se fecham e os mecanismos da gestão compartilhada entre Estado, mercado e terceiro setor como forma de garantir um Estado de Bem-Estar Social em tempos neoliberais se esvaziam, por mais que se trate de uma empresa de economia mista controlada pela União.

Vale lembrar que os recursos destinados aos editais para a capoeira, oriundos desta parceria, foram sempre menores que outras iniciativas para a capoeira proporcionadas pelo MinC por meio da divulgação de sua execução orçamentária. Ainda que o financiamento público prevaleça e sobressaia a gestão das ações compartilhadas com organizações não governamentais, tanto na coordenação quanto na execução dos projetos, compreende-se que a atenção por parte do MinC acontece mediante um contingenciamento abrupto dos gastos públicos que afetam todas as políticas sociais e suas possíveis garantias às necessidades básicas de sobrevivência. Isso revela a condição de uma gestão neoliberal, em que, apesar do aumento nos gastos (observando a pasta cultural), que acabam por serem proporcionais ao aumento ao orçamento da União, os recursos são mínimos ou quase inexistentes quando se observa a conformação do orçamento geral comprometido em quase 50% com serviços de pagamento de juros e amortizações da dívida, além da prática do superávit primário, economia feita pelo governo para o mesmo fim, além da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que autoriza o governo a manipular 20% do orçamento retirando dos gastos sociais para ações que lhe forem mais convenientes (SALVADOR, 2010). Essa conjuntura permite

que a cultura, assim como demais áreas, conviva com a escassez de recursos diante de grandes possibilidades reprimidas pelo próprio Estado. Nesse sentido, novas demandas, novos sujeitos adentram ao espaço do Estado, só que diante de uma situação de administração da precariedade.