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3. O mar virou Sertão: contextualização da área de estudo

3.2. Florestas brancas do semi-árido brasileiro

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e um dos maiores em extensão60, com cerca de 735.000km2. O bioma é característico da região Nordeste (Figura 10), sendo reconhecido como uma das 37 grandes regiões naturais do planeta (TABARELLI e SILVA, 2003; LEAL et al, 2005). Ocorre em partes dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e no vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais, ocupando aproximadamente 12,14% do território nacional, e 70% da região Nordeste (CASTELLETTI, 2003).

Com mais de 2.000 espécies, entre plantas vasculares, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, e com taxas de endemismo que variam de 3% a 57%, a Caatinga é uma das mais biodiversas florestas secas do mundo e que apresenta algumas das condições mais difíceis à convivência com o ser humano (LEAL et al, 2005). Uma das principais dificuldades é atribuída à disponibilidade de água na região, já que de acordo com Prado (2003), a precipitação média anual varia entre 240 e 1.500mm, sendo que metade da região recebe

menos de 750mm, havendo um déficit hídrico elevado durante todo o ano – de 7 a 11 meses para algumas localidades.

Figura 10. Distribuição dos biomas brasileiros.

É importante destacar, no entanto, que em torno de 50% das terras nesse bioma são de origem sedimentar, ricas em águas subterrâneas. A altitude da região varia de 0-600m e a temperatura varia de 24 a 28oC. É limitada a leste e a oeste pelas florestas Atlântica e Amazônica, respectivamente, e ao sul pelo Cerrado, mantendo conexão com outros biomas (LEAL et al, 2005). Por isso, existem áreas de florestas úmidas, que se estendem sobre as encostas e topos das serras e chapadas com mais de 500m de altitude, conhecidos como brejos de altitudes, que recebem mais de 1.200mm de chuvas orográficas (PRADO, 2003).

O bioma é conhecido devido ao fato de que a maioria das plantas perde as folhas na estação seca (verão) e apenas os troncos, claros e reluzentes, permanecem visíveis, o que proporciona um aspecto branco a toda a paisagem. Por isso, o termo caatinga, do tupi, o qual significa “mata branca” ou “floresta branca” (ROMARIZ, 1996; PRADO, 2003; MAIA, 2004). Tais características são particularmente comuns em espécies dos gêneros Tabebuia (Bignoniaceae), Cavallinesia (Bombacaceae), Schinopsis e Myracrodruon (Anacardiaceae) e

Aspidosperma (Apocynaceae), os quais eram dominantes nos tempos pré-colombianos.

Atualmente, a caatinga arbórea é rara e esparsa e está restrita às manchas de solos ricos em nutrientes (Prado, 2003). Isso é resultado da utilização massiva no início do século XVI, na construção de casas, cercas e fazendas de gado. Sendo assim, a vegetação arbustiva, espinhosa e ramificada domina a paisagem, sendo constituída, principalmente, de espécies lenhosas e herbáceas, de pequeno porte, dotadas de espinhos e caducifólias, adaptadas para resistir à evaporação intensa. As famílias das euforbiáceas, bromeliáceas e cactáceas são as mais representativas nesse sentido. Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpinaceae também são famílias abundantemente encontradas em qualquer trabalho de levantamento no bioma. Não existe uma lista completa para as espécies da Caatinga, encontradas nas suas mais diferentes situações edafoclimáticos (agreste, sertão, cariri, seridó, carrasco, entre outros), até porque é um dos biomas menos pesquisados no Brasil, uma vez que 80% da região permanece subamostrada e 41% nunca foi investigada. Já foram registradas 932 espécies de plantas vasculares, 187 de abelhas, 240 de peixes, 167 de répteis e anfíbios61, 62 famílias e 510 espécies de aves e 148 espécies de mamíferos (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE et al, 2002; LEAL et al, 2005).

As Caatingas62 é um bioma heterogêneo, ao contrário do que se pensa63, representando uma área de importância fundamental na manutenção dos padrões regionais e globais do clima, na disponibilidade de água potável e de solos agricultáveis (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE et al 2002; PRADO, 2003). Contudo, permanece como um dos biomas menos conhecidos na América do Sul, sendo negligenciado na agenda pública e programas de conservação, com cerca de 15% do bioma em processo de desertificação devido aos inadequados uso e manejo do solo (TABARELLI e SILVA, 2003; LEAL et al, 2005). Além disso, de acordo com Leal, Tabarelli e Silva (2003) apenas 2% do bioma encontra-se protegido como unidades de conservação, sendo o uso insustentável de seus recursos naturais responsável pela supressão de processos ecológicos chaves e extinção de espécies ímpares. Essas unidades são as áreas com menor impacto antrópico, visto que desde a chegada dos portugueses às costas da Bahia, no século XVI, o bioma vem sendo utilizado para atividade pecuária (que vem se tornando a principal atividade econômica no semi-árido) e plantação de

61 De acordo com Ministério do Meio Ambiente et al (2002), são: 44 espécies de lagartos; 9 espécies de

anfisbenídeos; 47 de serpentes; 4 de quelônios; 3 de crocodilianos; 47 de anfíbios anuros e 2 de gimnofionos.

62 O termo foi adotado em referência ao geógrafo Aziz Ab’Saber, pois para o autor o bioma é constituído por

várias e diferentes fisionomias de vegetação, daí sua grande heterogeneidade.

63 Segundo Ministério do Meio Ambiente et al (2002), existem três principais mitos sobre a Caatinga: 1) que é

algodão, além de atualmente ser continuadamente desmatada para exploração de madeira. Ademais, historicamente, a agricultura praticada na região é nômade, itinerante ou migratória, acarretando o desmatamento, queima e degradação dos solos (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE et al, 2002).

Existem, atualmente, 23 unidades de conservação na Caatinga, das quais 16 destas são de nível federal e 7 estadual, estas últimas concentradas nos Estados da Bahia e Rio Grande do Norte. Das unidades federais, somente a metade contém exclusivamente formações de Caatinga, sendo metade da categoria de proteção integral. Os principais problemas enfrentados por essas unidades são semelhantes aos observados de forma generalizada em outras áreas de proteção no Brasil: situação fundiária irregular; falta de verba para manutenção; funcionamento e implementação insatisfatórios; persistência da caça; desmatamento e retirada de lenha, que ainda é componente importante da matriz energética regional; queimadas etc (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE et al, 2002).

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