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3. O mar virou Sertão: contextualização da área de estudo

3.5. Município de Coronel José Dias

Coronel José Dias é um dentre os 224 municípios do Estado do Piauí. Está localizado a 33 km de São Raimundo Nonato e a 548 km da capital. O município possui uma área de 1.914,811 km2, uma população de 4.541 habitantes e densidade demográfica de 2,37 hab/km2 (IBGE, 2011). De acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 2000, o índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M) é de 0.58, demonstrando um crescimento de 21,85% em relação a 1991. Assim, o município está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento. Os dados apontam também que o fator que mais contribuiu para essa elevação foi a Educação, com 73,5% (PNUD, 2003).

A história do município começa ainda no século XIII, quando em meio à luta pela posse das terras, um jovem chamado Vitorino Dias Paes Landim ocupou a região, expulsando os índios e construindo casas e roças para a criação de gado. Como recompensa pelo massacre na região, recebeu três fazendas do então governador: Serra Talhada, Boqueirãozinho e Serra Nova68. Esta última, com sua valorização, passou a ser chamada fazenda Várzea Grande em 1855. Em 1910, o processo migratório tornou-se bastante intenso, vindo para a região baianos, pernambucanos, cearenses e alagoenses, ou seja, nordestinos em sua maioria. Nesse período, o advogado e promotor de justiça Coronel José Dias também chegou à região, que em 1916 se tornou povoado Várzea Grande e, posteriormente, em 1962, município de Coronel José Dias. Embora a passagem para município ter sido efetuada, foi considerada depois como ilegal e somente em 29 de abril de 1992, o povoado foi desmembrado de São Raimundo Nonato pela Lei nº 4.477, votada e sancionada pelo governador (SOUSA, 2009). É um dos municípios – o outro é São Raimundo Nonato – que fazem parte da Área de Preservação Permanente da Zona de Uso Intensivo da unidade de conservação (PESSIS, 1998) que, segundo o Decreto Federal nº 84.017 de 21 de setembro de 1979:

É aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O ambiente é mantido o mais próximo possível do natural, devendo conter: centro de visitantes, museus, outras facilidades e serviços. O objetivo geral do manejo é o de facilitar a recreação intensiva e educação ambiental em harmonia com o meio.

68 Essa área, na verdade, era classificada como Sítio como estratégia para lograr a Resolução Nº 76 de 1822, uma

Em pesquisa realizada sobre o perfil sócio-econômico da Área de Preservação Permanente do PNSC, foram citados vários problemas que o município, especialmente a sede, precisava solucionar: desorganização urbana e ocupação irregular dos espaços urbanos; carência de serviços básicos, como saneamento, abastecimento de água, alimentos, moradia, escolas, centros sanitários, esportivos-recreativos e transporte. Todos esses fatores, aditados à falta de interesse das autoridades municipais e à seca qüinqüenal (1979-1983), levaram a população, principalmente a masculina, a uma onda migratória intensa a partir da década de 1980. Uma das iniciativas tomada pela Fundação Museu do Homem Americano foi o direcionamento de esforços, desde 1989, para a criação de Núcleos de Apoio às Comunidades (NACs). A situação rural ainda era mais crítica, pois devido à falta de estadas e vias de acesso, essas áreas ficaram isoladas e, portanto, impossibilitadas de receber e desenvolver serviços básicos, como eletricidade, água, saúde e educação.

Assim, a partir de 1992 foram criados cinco NACs, onde foram implantadas escolas formais, unidades de educação ambiental, de alfabetização de adultos, de treinamento profissionalizante e postos de saúde, com a formação de agentes locais de saúde, oficinas de artesanato, com destaque para os trabalhos manuais com cerâmica, marcenaria e papel reciclado e um projeto de apicultura, com beneficiamento do mel, gerando alternativas de saúde, educação e produção para a população (PESSIS, 1998). A fundação do primeiro NAC ocorreu no povoado Sítio do Mocó (1991), sendo posteriormente instalados núcleos no Barreirinho (1992), Serra Vermelha (1992), Porteirinha e Alegre (2000) (HAUFF, 2004). Atualmente, a estrutura da cidade é composta por: 01 prefeitura, 01 centro de convenções, 21 escolas, 08 igrejas (06 católicas e 02 protestantes), 03 postos de saúde, 01 delegacia, 01 posto de gasolina, 01 posto de correios, telefones fixos e públicos, 02 praças, lanchonetes, 02 farmácias, padarias, 03 clubes na sede e vários outros tipos de comércio. As principais atividades econômicas do município são a criação de caprinos, ovinos e apicultura (IBGE, 2011). Por fim, os aglomerados rurais do Barreirinho e do Sítio do Mocó fazem parte do município de Coronel José Dias e serão as áreas amostradas nesse presente trabalho.

Povoado do Barreirinho

Constituído por 19 residências, sendo 2 isoladas numa localidade chamada Esperança, o povoado do Barreirinho é um dos mais importantes, pois é onde está em funcionamento a fábrica de cerâmica com a marca “Serra da Capivara”, que produz suas peças com o barro extraído no entorno da Unidade de Conservação (IBAMA, WWF-Brasil, 2007). Nesta, são

manufaturados uma grande variedade de produtos, que atendem tanto o mercado interno quanto o externo (especialmente Europa), sempre trabalhando os motivos baseados nas pinturas e gravuras rupestres do Parque. A comunidade dispõe de energia elétrica e sinal de telefone celular VIVO, mas não há sistema de abastecimento de água, embora tenham sido implantadas cisternas nas residências. Algumas casas somente possuem banheiros externos e a criação de animais, especialmente galináceos, é comum.

Povoado do Sítio do Mocó

O povoado do Sítio do Mocó também foi incluído na presente pesquisa, pois se notou a necessidade de ampliar o recorte amostral, visto que o número de domicílios visitados no povoado do Barreirinho pareceu, num primeiro momento, insuficiente. A expansão da pesquisa para este povoado foi bastante conveniente devido aos seguintes aspectos: a) ser o maior aglomerado rural da região (OLIVEIRA-FILHO, 2007) e a localidade mais representativa do município, só perdendo para a própria sede (PESSIS, 1998); b) a possibilidade de maior impactação na área, já que o povoado está entre um dos mais ‘desenvolvidos’ do entorno; c) a escassez de dados relacionados ao povoado e à fauna local; d) uma melhor infra-estrutura local para a condução da pesquisa; e) a proximidade, já que o povoado está a apenas 2 km de distância da entrada principal do PNSC, possibilitando um maior contato com a fauna do parque.

O povoado Sítio do Mocó (08º50’24’’S/042º33’29’’O) está localizado no município de Coronel José Dias, no extremo sul do Estado do Piauí. O povoado dista 28 km de São Raimundo Nonato, a cidade com maior infra-estrutura na região e tem como limites a comunidade Barreirinho e o Parque Nacional Serra da Capivara (Figura 12). Segundo os próprios moradores, o povoado surgiu no inicio do século XX por iniciativa de Antônio Mocó. Muitos sítios arqueológicos, encontrados com evidências de existência de fornos, foram utilizados pelos moradores dessa comunidade no período de extração da maniçoba. A subsistência da comunidade se faz, principalmente, pela agricultura, embora, com a instituição do Parque, os moradores tenham abandonado a prática de criação de animais domésticos (a única exceção é a criação de aves) e tenham sido também, em sua maioria, absorvidos pelas atividades vinculadas à unidade de conservação. Nesse sentido, o turismo vem se consolidando como uma das atividades mais importantes na comunidade, que dispõe de um camping, um restaurante e uma loja de produtos artesanais (OLIVEIRA-FILHO, 2007), além da opção por hospedagem familiar e dos outros artesãos e artesãs autônomos do povoado.

Figura 12. Delimitação do PNSC e localização dos povoados estudados.

Fonte: Levy (2006, p. 7).

Após a criação do PNSC e, especialmente com a implantação do NAC no povoado, também foram implantados os serviços de abastecimento de água (poços e cisternas), luz e telefone, fatos que são considerados de extrema importância pela população. Por ser considerada uma das localidades mais importantes do município, foi neste povoado onde se implantou o primeiro Núcleo de Apoio à Comunidade (PESSIS, 1998). Além disso, ambas as comunidades possuem grande contato com a atividade turística, pois 32% do município de Coronel José Dias está dentro da Unidade de Conservação (OLIVEIRA-FILHO, 2007). Os povoados mantêm contato direto com inúmeras espécies de aves, répteis (principalmente lagartos e serpentes), anfíbios, aracnídeos, e especialmente com os mamíferos devido ao porte e hábito destes.

Ambas as comunidades podem ser caracterizadas como tradicionais, de acordo com Hanazaki et al (2010), pois estão associadas a áreas rurais e são periféricas ao centro urbano propriamente dito, ou seja, o município de Coronel José Dias. Assim, entende-se que mantém

uma relação direta com os recursos naturais dos quais sobrevivem. No entanto, apesar de existir uma diversidade grande de conceituações sobre o que pode ser avaliado como “tradicional”, essas comunidades não são consideradas neste trabalho como tradicionais, pois apesar de manterem uma relação direta com alguns dos recursos naturais que lhes é necessário para a sobrevivência, possuem outras fontes de subsistência e não dependem completamente do conhecimento acumulado individual e coletivamente.

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