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FOCALIZANDO OS FATORES EXTRÍNSECOS EM RELAÇÃO AOS DOCENTES

5. PARTILHANDO SABERES: ELEMENTOS PARA PENSAR OS FATORES QUE

5.3. F ATORES QUE ( DES ) MOBILIZARAM OS DOCENTES

5.3.1. FOCALIZANDO OS FATORES EXTRÍNSECOS EM RELAÇÃO AOS DOCENTES

Durante as experiências com essa pesquisa-ação observamos diferentes momentos no qual os fatores extrínsecos aos docentes foram explicitados como elementos que distanciam as possibilidades do acionamento da cultura digital nas práticas pedagógicas da EFE. Sendo evidenciada principalmente em três fontes de informação captadas ao longo dos encontros com os docentes: em seus discursos proferidos no transcorrer dos encontros, nas produções realizadas, e nas fichas de avaliação proposta pela equipe de docentes formadores.

Três tendências foram identificadas em nossa leitura sobre essas experiências em relação aos fatores extrínsecos que desmobilizaram os docentes: 1) a infraestrutura e os dispositivos disponíveis nas escolas; 2) o tempo pedagógico para o planejamento; e 3) o apoio da organização pedagógica da escola.

As problemáticas de infraestrutura, que envolvem a disponibilidade de materiais e dispositivos tecnológicos para usos pedagógicos nas escolas públicas, das redes municipais e estaduais, não é novidade. Nos discursos dos docentes, nas produções e, principalmente, nas avaliações realizadas ao longo dos encontros é perceptível o protagonismo dado a essa problemática enquanto desmobilizadora para o acionamento da cultura digital no cotidiano das práticas pedagógicas.

Nas produções que realizamos ao longo dos encontros, é possível visualizar diversos exemplos que tencionam essa problemática. No encontro realizado no dia 30 de maio de 2016, no qual foram produzidas diversas narrativas digitais, no formato de histórias em quadrinhos, com a tematização dos Jogos Olímpicos, essa tendência se apresenta com um desmobilizador. Uma dessas produções, como podemos visualizar

na Figura 29 questiona a viabilidade para levar os tablets — utilizados na própria produção dessas narrativas — para as escolas.

Figura 29. Produção de narrativas digitais: como levar o tablet para a escola?

Fonte: produzida pelos docentes no dia 30 de maior de 2016.

A Figura 29 apresenta um efeito de mobilização, ao demonstrar nos dois primeiros quadros, que os docentes gostaram da experiência e vislumbraram possibilidades pedagógicas. Porém, no quadro final é lançado a questão que manifesta um desejo de levar os tablets para escola, enquanto reconhece que um fator externo ao docente (não possuir tal dispositivo nas escolas) pode desmobilizar a efetivação dessa vontade.

Em outros discursos e produções realizadas nos encontros, essas desmobilizações diante da tendência envolvendo a infraestrutura, foram observadas. É nas avaliações dos docentes, nos diferentes encontros, que ficou evidenciado os elementos extrínsecos aos docentes que desmobilizaram o acionamento da cultura digital em suas práticas pedagógicas. Em um total de 262 avaliações realizadas (nem todos os docentes que participavam dos encontros respondiam), 20 anunciaram essa tendência, principalmente, através dos discursos que apontam para o distanciamento das realidades das escolas do município do Natal-RN, em relação aos diálogos entre EFE e a cultura digital.

Como visualizamos no levantamento de consumo e acionamento midiático desses docentes, alguns dispositivos realmente não estão disponíveis para uso pedagógico nas escolas, como é o caso dos tablets, das filmadoras, e dos videogames, porém, aqueles que estão disponíveis, poucos são acionados em sua

atuação profissional (FIGURA 9). Portanto, podemos identificar que o levantamento realizado sobre o consumo e acionamento midiático por esses docentes no contexto escolar, apontam potencialidades para desmobilizar e/ou mobilizar situações referentes aos fatores extrínsecos, principalmente a tendência de infraestrutura, como é o caso das informações disponibilizadas na Figura 9.

A segunda tendência dos fatores extrínsecos aos docentes, que corresponde ao tempo pedagógico para a organização e planejamento das propostas para o acionamento desse diálogo, aparece timidamente nos discursos dos docentes, tendo apenas um anúncio nas avaliações dos encontros, no qual um professor escreve em relação ao encontro do dia 25 de abril de 2016: “Tentar conciliar no nosso dia a dia”69,

expressando um comentário que vela uma relação com o tempo pedagógico para as possibilidades de acionamento da cultura digital em sua atuação pedagógica.

Em nossa análise, essa tendência encobre uma problemática da educação pública que consiste nas condições de trabalho dos docentes em seus ambientes de atuação profissional, com baixos salários (que promovem a necessidade do docente possuir vários vínculos), distribuição de carga horária que desconsidera o planejamento e a avaliação como atuação pedagógica e as constantes investidas para a revogação de direitos conquistados, na esfera federal, estadual e municipal.

Essa nossa defesa se baliza em Nóvoa (2009) ao apontar a importância do espaço e tempo escolar como um ambiente de formação. Pois, uma das principais fontes de saberes para a atuação profissional dos docentes, conforme Tardif (2002), consiste nos saberes da própria experiência cotidiana da docência. No entanto, se esses espaços e tempos pedagógicos são inflados, estressantes, burocráticos, etc., inviabilizam os momentos de reflexão sobre a própria atuação. Intensificando, em nosso caso, a desmobilização para com a apropriação da cultura digital pelos docentes de EF.

Por fim, o apoio e a organização pedagógica da escola surge enquanto outra tendência dos fatores extrínsecos aos docentes que desmobilizam o acionamento da cultura digital nas práticas desses docentes em seus cotidianos. Em uma das avaliações é escrito em referência a tematização e as possibilidades da mídia na

escola: “Bem interessante, porém fora da nossa realidade (...) a diretora não deixa os alunos usarem nem celular.”70

Desse modo, ao longo desses encontros, ficou evidente que os elementos ligados à infraestrutura, como o acesso à internet e a disponibilidade de dispositivos digitais, foram aqueles que os docentes se balizaram para justificar as suas desmobilizações para acionamento da cultura digital em suas práticas pedagógicas. No entanto, é necessário pontuarmos algumas reflexões sobre os fatores extrínsecos, e para tanto, retomamos algumas considerações realizadas por Fantin e Rivoltella (2012), em suas comparações sobre o contexto das cidades de Florianópolis e Milão.

Observa-se que a dificuldade com a falta de infraestrutura e condições de acesso em Florianópolis é o dobro da mencionada em Milão, o que pode sinalizar que em países onde a infraestrutura das escolas oferece boa oferta e diversidade de equipamentos e a conexão à internet é muito difundida, o debate pode estar mais voltado para os usos pedagógicos e os resultados da utilização das tecnologias (FANTIN e RIVOLTELLA, 2012, p. 117-118).

Dessa forma, Fantin e Rivoltella (2012) levantam hipóteses que corroboram com Burne (2017) e Li et al. (2015). Se a falta de infraestrutura em Florianópolis é mais que o dobro de Milão, e as outras dificuldades permanecem equilibradas, como é o caso da falta de conhecimento específico, de formação inicial e continuada a respeito dos meios, bem como a falta de tempo para aprender a usar, podemos ter como hipótese que a resposta para a superação dessa problemática não está contida nos fatores extrínsecos aos docentes, dessa forma, possuir uma boa infraestrutura e ter apoio dos gestores pedagógicos não implicariam uma mobilização para o acionamento da cultura digital na EFE, nem nos parece ser condição para o acionamento, diante das experiências realizadas pelos docentes, principalmente a partir dos relatos no SEEFEM.

No entanto, em relação à tendência referente ao tempo pedagógico para o planejamento, acreditamos que seja condicionante, porém, não se caracteriza como determinante para a mobilização. É nesse caminho que os fatores intrínsecos são colocados em evidência.