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4. A PROGRESSÃO REFERENCIAL ENTRE TEXTOS COMO ELEMENTO ESTRUTURAL NA

4.3 Recategorizações nos discursos reportados nas coberturas dos jornais O Estado de S Paulo e Folha

4.3.1 Folha de S Paulo

Notamos que o jornal Folha de S. Paulo se vale de discursos de autoridades para as recategorizações anafóricas, nos quais apenas as recategorizações são reproduzidas. Inicialmente, começaremos por apresentar as duas recategorizações, “’tentativa ultrajante de aterrorizar civis inocentes’ e ‘um ato contra toda a humanidade. ’”, proferidas no discurso do presidente americano, nos exemplos 17. Na sequência, ainda no exemplo 1, o jornal reproduz a recategorização presente no discurso da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, na qual o modificador terrorista, um dos recursos promotores de continuidade e identidade referencial na progressão, aparece com outro nome núcleo, barbárie.

Exemplo 17

“Líderes mundiais expressaram solidariedade às vítimas dos ataques terroristas. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou os atentados como uma ‘tentativa ultrajante de aterrorizar civis inocentes’ e ‘um ato contra toda a humanidade.’”

Em sua conta no Twitter, a presidente Dilma Rousseff expressou ‘repúdio’ à ‘barbárie terrorista’.” (MATÉRIA 23 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 10h55)

Na cobertura do jornal Folha de S. Paulo levantamos uma série de recortes de falas de autoridades e de testemunhas, como recurso de recategorização. Ao levar para o discurso do jornal recortes das falas de outros personagens, o veículo de imprensa se isenta da escolha das categorizações empregadas, ao referendar a autoria. Esse modo de referenciar o fato e de construir o objeto de discurso se dá pela atualização discursiva promovida pelas diferentes vozes de autoridades, seja do presidente francês, sejam dos líderes políticos do mundo.

Cabe-nos ressaltar que o jornal se utilizou, em grande número, de recortes de fala do presidente francês François Hollande, para as recategorizações empregadas. Vejamos, a

seguir, que na fala do presidente francês, dentre as categorizações que emprega, ele retoma os mesmos referentes introduzidos desde o início da cobertura, ataques e atentados. No exemplo 15, a catáfora crime é introduzida e recategorizada na sequência, pelo próprio presidente, em sua fala. Igualmente ao anterior, no exemplo 16, o referente atentados é recategorizado como um horror, pelo próprio presidente francês.

Exemplo 15

“De acordo com o presidente, ‘o fechamento das fronteiras foi decidido para que as pessoas que cometeram esse crime possam ser detidas. Sabemos de onde veio esse ataque (...)” (MATÉRIA 15 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 02h16)

Exemplo 16

“(...) o presidente francês disse que os atentados desta sexta-feira (13) foram ‘um horror’ (...)” (MATÉRIA 15 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 02h16)

Nestes últimos exemplos de recategorizações inseridas pelo presidente francês em seus pronunciamentos, destacamos, no exemplo 18, um processo de recategorização sequencial, no qual o referente atentados é recategorizado duas vezes, sem que haja outros elementos discursivos entre elas, apenas a conjunção aditiva “e”, somando-as: uma abominação e um ato bárbaro. Porém atentamo-nos para o fato de que o próprio presidente promove em seu discurso uma recategorização ancorada no referente que introduziu anteriormente, pelo léxico: bárbaro, barbaridade, vistos nos exemplos 19 e 20.

Exemplo 18

“(...) o presidente francês, François Hollande, classificou os atentados como ‘uma abominação e um

ato bárbaro’(...)” (MATÉRIA 20 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 08h54)

Exemplo 19

“(...) ‘Foi um ato de absoluta barbaridade. A França é forte, e, mesmo em luto, nada vai destruí-la’, disse o presidente (...)” (MATÉRIA 21 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 09h14)

Igualmente às recategorizações realizadas pelos trechos do pronunciamento do presidente francês, o jornal utiliza-se também da recategorização realizada no discurso do presidente iraniano, da presidenta brasileira e do presidente americano:

Exemplo 20

“O presidente iraniano, Hasan Rohani, chamou os ataques de ‘crime contra a humanidade’ (...)” (MATÉRIA 17 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 08h10)

Exemplo 21

“Líderes de países como Irã, Egito e Paquistão condenaram, nas últimas horas, os ataques, que a presidente Dilma Rousseff classificou como ‘barbárie’.” (MATÉRIA 19 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 08h51)

Exemplo 22

“Em sua conta no Twitter, a presidente Dilma Rousseff expressou ‘repúdio’ à ‘barbárie terrorista’.” (MATÉRIA 23 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 10h55)

Exemplo 23

“O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou os atentados como uma ‘tentativa

ultrajante de aterrorizar civis inocentes’ e ‘um ataque contra toda a humanidade’.” (MATÉRIA 23 –

JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 10h55)

Outra recategorização do objeto de discurso ataques em Paris que foi incluída por meio da reprodução do discurso de outras figuras públicas foi o introduzido pelo falso pronunciamento do candidato à presidência americana, Donald Trump. Porém, essa introdução possui uma caraterística diferente das anteriores, pois a fala não apresenta e recategoriza o referente, mas deixa-o explícito pelo seu complemento, a especificação de local em Paris, utilizada ao longo da cobertura em acompanhamento do referente ataques. O complemento especificador de lugar também aparece no trecho exposto na sequência, contudo trata-se de uma retomada, como explicaremos a seguir:

Exemplo 24

“O suposto tuíte do pré-candidato republicano Donald Trump que dizia ‘não é interessante que a

tragédia em Paris tenha acontecido em um dos países que tem o maior controle de armas?’ é falso.”

Exemplo 25

“Massacre em Paris faz Europa reforçar sua segurança interna” (MATÉRIA 34 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 15/11/2015 02h00)

A ponderação em relação à categorização Massacre em Paris, apresentada anteriormente, ocorre pelo fato de consistir em uma retomada pelo jornal, de um trecho da fala de uma das testemunhas, que recategoriza o referente anterior. Podemos notar, contudo, que além da retomada a complementação de lugar, completa e especifica a referência.

Seguindo ainda a mesma estratégia, a de recategorizar utilizando-se de referentes incluídos pela reprodução de outros pronunciamentos, nos trechos a seguir o jornal apresenta aos leitores o que seriam trechos de uma versão dos fatos, contada por testemunhas, nos quais as recategorizações não possuem uma âncora, ou recategorização explícita no enunciado, mas é apresentada como um relato do ocorrido, o que causa ao leitor o entendimento do fato sobre o qual se narra, por meio da apresentação das falas e dos seus autores.

Outro recurso na utilização de outras vozes na composição da cobertura e novas categorizações dos objetos de discurso ocorrem por intermédio do recorte de fala de testemunhas. No exemplo 26, o relato publicado na rede social Facebook, por Benjamin Cazanoves, foi reproduzido na matéria, trazendo à construção dos objetos de discurso novas recategorizações, como carnificina:

Exemplo 26

“ O relato havia sido compartilhado mais de 16.700 vezes até as 22h desta sexta. ‘Vivo. Uma

carnificina. Cadáveres por todo lado’ (...)” (MATÉRIA 3 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO –

13/11/2015 20h56)

No exemplo 27, o relato de Yasmin à rede BFMTV, também foi reproduzido na matéria, conferindo mais uma nova recategorização:

Exemplo 27

“‘Foi um massacre’, descreveu ela.” (MATÉRIA 15 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 02h16)

Exemplo 28

“‘Foi um banho de sangue’, relatou Julien Pierce, um repórter da emissora France 1, à CNN. ‘As pessoas berravam e gritavam, todo mundo se deitou no chão e durou dez minutos, dez minutos, dez minutos horríveis em que todo mundo estava no chão cobrindo sua cabeça.” (MATÉRIA 18 – JORNAL: FOLHA DE S. PAULO – 14/11/2015 02h15)