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3 ANÁLISE DOS IMPACTOS REGIONAIS DA CRISE FINANCEIRA

3.1. Aspectos Metodológicos: análise descritiva dos dados e referencial

3.1.1 Fonte e Tratamento dos Dados

O período selecionado para a análise da dissertação está compreendido entre os anos de 2004 e 2014, utilizando, para os exercícios econométricos que se pretende, uma periodicidade mensal para as variáveis. A análise vai se proceder a nível dos estados brasileiros.

Para a observação dos impactos da crise financeira, serão definidos como indicadores de atividade econômica, as informações sobre produção e emprego. Os dados sobre PIB (Produto Interno Bruto) e Produto Industrial fazem parte da base de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados sobre emprego formal estão disponíveis nas bases de dados do Ministério do Trabalho e Emprego, nas informações da RAIS e CAGED.

Ambas as opções apresentam problemas que precisam ser destacados. Um dos principais problemas no uso do Índice de Produção Industrial como proxy para a atividade econômica consiste na sua abrangência limitada, sendo calculado para apenas 13 das 27 unidades da federação. Ademais, caso seja necessária uma análise de periodicidade mais longa, a quantidade de informações disponíveis se reduz ainda mais, dado que apenas 10 estados apresentam séries anteriores a 2002. Outro fator relevante é que, por ser um indicador setorial, não se captam movimentos nos setores de serviços e agropecuário, que podem ser relevantes para o entendimento da dinâmica econômica de estados cujo peso da indústria é menos representativo, ou mesmo daqueles cujo peso do setor industrial é bastante relevante, tal como acontece nos estados da fronteira agrícola brasileira, no Centro-Oeste.

Em relação à variação do emprego, é importante destacar que apenas são captados movimentos no mercado formal de trabalho. Além disso, como ressalta Silva (2011), a resposta do emprego a choques pode ser mais lenta que a do produto, por exemplo. De todo modo, em função da disponibilidade de dados para todas as unidades da federação para o período considerado neste trabalho (2004 a 2014), optou-se por proceder às análises econométricas usando preferencialmente a variação no emprego formal, realizando algumas análises sobre o Índice de Produção Industrial de forma complementar.

Muitos estudos sobre os impactos da crise têm sido realizados em termos da variável produto. Entretanto, a escassa disponibilidade de dados regionais com periodicidade maior dificultam que tais variáveis captem respostas mais consistentes dos estados à crise. A utilização de dados sobre

emprego/desemprego, por outro lado, de acordo com Blazek e Netrdová (2012), permite a utilização de informações em períodos maiores e com maior frequência, o que pode fornecer os primeiros impactos das crises financeiras a nível regional. E por outro lado, como discutido acima e ressaltado em trabalhos mais recentes, tal como em Ciccarelli et al. (2013), ao utilizar a variável emprego formal como proxy para a variação na atividade econômica faz-se uma análise mais geral e agregada que não capta efeitos setoriais da crise nem os efeitos sobre o setor informal da economia.

A Variação no Emprego Formal foi obtida através do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego, por meio do saldo entre as séries de Admissões e Desligamentos ocorridos em cada mês. Utilizando os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) sobre o total de empregos no mês de dezembro de 2003, gerou-se uma série aproximada do nível de emprego formal mensal em cada estado. Dessa maneira, o nível de emprego formal no mês de janeiro de 2004, por exemplo, foi calculado como sendo o número de trabalhadores formais em 31 de dezembro de 2003 (a partir dos dados da RAIS) somando-se o saldo entre Admissões e Desligamentos ocorridos em janeiro de 2014 (informações obtidas do CAGED).

) (

1 t t

t

t Emprego Admissões Desligamentos

Emprego   (3.1)

Com t0,1,...,n, onde 1 janeiro/2004, tal que

) ( 2004 / 2004 / 2003 / 2004

/ Emprego Admissõesjaneiro Desligamentosjaneiro

EmpregojaneiroDezembro   (3.2)

A partir do nível de emprego formal mensal aproximado pelas equações acima, gerou-se um Índice de Emprego Formal, que será utilizado na estimação do VAR. A opção pelo Índice de Emprego, ao invés da variação absoluta, obtida diretamente das séries do CAGED, ou do nível construído via a interação desta série com as informações da RAIS, se justifica, sobretudo por dois pontos. Ao utilizar o índice ou o nível de emprego, pode-se incluir tais variáveis no modelo aplicando-se os respectivos logaritmos, de forma a reduzir as suas variâncias. Tal operação não é possível de ser aplicada na Variação do Emprego Formal, que

apresenta valores negativos. Em segundo lugar, a utilização das variáveis em Índices reduzem as discrepâncias existentes em termos absolutos na quantidade e variação do emprego entre os estados, facilitando a comparação entre eles. O Índice do Emprego Formal (IEmprego) tem como período base janeiro de 2008, ano de início dos impactos da crise financeira nos estados brasileiros.

Em função do forte componente sazonal de algumas séries, tornou-se necessário usar procedimentos para realizar ajustes sazonais, especificamente no caso das variáveis Variação no Emprego e Exportações. A variável Índice de Produto Industrial sofreu ajuste sazonal por parte do IBGE, sendo que este trabalho utilizou a base da série já dessazonalizada.

A variação do emprego formal e, consequentemente, o Índice do Emprego Formal apresentam, em geral, forte componente sazonal e, por isso, todas as séries foram ajustadas pelo programa X12-ARIMA, desenvolvido pelo United States

Census Bureau. O componente sazonal das séries de emprego é bastante

conhecido na literatura econômica. De toda forma, o comportamento das séries selecionadas para este trabalho apresentam Autocorrelação serial de ordens elevadas, como pode ser observado na tabela 1 do anexo desta dissertação, o que é um forte indício da sazonalidade.

As séries de Operações de Crédito utilizadas nesta dissertação foram extraídas da base ESTBAN, do Banco Central do Brasil. Parte da série já havia sido sistematizada pelo LEMTe (Laboratório de Estudos em Moeda e Território) da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, tendo sido completada por esta dissertação. O Total de Operações de Crédito foi obtido com a soma das contas 1600 da ESTBAN para todos os municípios de cada estado brasileiro. A série de crédito foi deflacionada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo IBGE. A fim de compatibilizar os dados com a base do LEMTe foi feita uma mudança no IPCA da original, dez.1993=100, para jan.2008=100. O IPCA será a variável correspondente ao nível de preços utilizada no modelo VAR. Além do IPCA, serão utilizadas outras variáveis agregadas no modelo VAR, com objetivo de representarem os choques monetários comuns. A taxa de Juros

consiste na Série Acumulada Mensal anualizada da taxa Selic Over, conta 4189 do Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central. A taxa de câmbio será a taxa de câmbio efetiva real, deflacionada pelo IPCA, extraída do Banco Central. As expectativas em relação à economia brasileira serão aproximadas pela variável EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus), medida do Risco-País, índice calculado pelo Banco JP Morgan que aproxima as informações das expectativas dos agentes sobre a economia brasileira. A Série diária do EMBI+ foi extraída do site IPEADATA e agregada pela média mensal.

As exportações estaduais serão incluídas no modelo VAR a fim de captar os impactos da redução no comércio internacional, decorrente, sobretudo, da redução da renda mundial após a última crise financeira, sobre as economias dos estados brasileiros. As exportações estaduais foram calculadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e foram extraídas do Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central. Uma vez que a unidade da série de exportações é de US$ mil, deve-se utilizar um índice de inflação correspondente ao dólar, de forma a captar a desvalorização dessa moeda.

Para tanto, baseado nos trabalhos de Castro e Cavalcante (1997), Nakabashi e Cruz (2007) e Bliska e Guilhoto (1999), esta dissertação utiliza como deflator das exportações o IPA-US, Índice de Preço por Atacado dos Estados Unidos (Wholesale price index), retirada do Fundo Monetário Internacional (FMI). É realizada uma mudança de base de janeiro de 2005 para janeiro de 2008, a fim de manter base semelhante com as demais variáveis.

Para a estimação do modelo VAR, com as simulações a partir das Funções de Resposta ao Impulso, todas as variáveis serão utilizadas em Logaritmo com fins de estabilizar as variâncias das variáveis, como sugere Bretanha e Haddad (2008). Tal procedimento tem como exceção as taxas Selic e a taxa de câmbio, que já estão em valores percentuais.

No tópico abaixo, são especificados as duas metodologias que serão utilizadas nas análises que se propõe neste trabalho. Inicialmente trata-se dos aspectos que

embasam o estudo da resiliência regional e, em seguida, apresenta-se as avaliações sobre o crédito como canal de transmissão de choques recessivos.