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Fontes de inovação

No documento Poder judiciário: morosidade e inovação (páginas 94-97)

A inovação, uma vez concebida como fruto de um processo incentivado e organizado com a finalidade de buscar o enfrentamento das mudanças e capaz de viabilizar também o rompimento de paradigmas e a renovação da cultura da organização, pode decorrer de sete fontes, indicadas como as oportunidades de empreendimento conforme a doutrina de Peter Drucker.161

Drucker subdivide as fontes em internas e externas, sendo aquelas as visíveis para quem está dentro da organização apenas e estas as que decorrem do meio social, filosófico, político e intelectual.

Dentre as fontes internas, o autor identifica como sintomas de mudança ou fontes de inovação: o inesperado – sucesso, fracasso ou acontecimento externo –; a incongruência entre a realidade como ela é e como as pessoas pensam que ela é; a necessidade de processo e a mudança da estrutura do setor econômico industrial ou do mercado.

Para as fontes externas, identifica: dados demográficos; mudanças de percepção, ânimo ou significado; e, ainda, novos conhecimentos científicos ou não científicos.

160 FALCÃO, Joaquim. O monopólio da Justiça. Jornal O Globo, Rio de Janeiro, p. 8, 27 jun. 1993. 161

DRUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor (entrepreneurship): prntica e princípios. Tradução de Carlos Malferrari. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

Sendo essas as fontes de inovação, ainda de acordo com Drucker, é possível apontar entre as fontes internas a ênfase na oportunidade ou na necessidade e, entre elas, a fonte que ampara a inovação como forma de enfrentamento da morosidade da prestação jurisdicional.

O inesperado, a incongruência e a mudança do setor econômico ou do mercado são mudanças que viabilizam a inovação como forma de aproveitamento de uma oportunidade que se abre. Na esfera privada, por exemplo, a oportunidade de assumir liderança de mercado, de crescimento econômico, de maior eficiência ou lucratividade.

A outra fonte interna de percepção da mudança e que viabiliza a inovação tem como foco a necessidade e não a oportunidade. Trata-se da necessidade de processo, fonte de inovação bastante específica.

Segundo Drucker

Algumas inovações baseadas na necessidade do processo exploram incongruências; outras, mudanças demográficas. De fato, a necessidade do processo, ao contrário das outras fontes de inovação, não se inicia com um evento no meio ambiente, seja interno ou externo. Inicia-se com o trabalho a ser feito. Está concentrada na tarefa e não concentrada na situação. Ela aperfeiçoa um processo que já existe, substitui uma ligação que esteja fraca, redesenha um antigo processo a partir do conhecimento existente. Às vezes, ela torna possível um processo fornecendo o ‘elo que faltava’. Nas inovações baseadas na necessidade do processo, todos na organização estão sempre sabendo que a necessidade existe. No entanto, em geral, ninguém faz nada sobre isso. Porém, assim que a inovação aparece, ela é imediatamente aceita como ‘óbvia’, e logo ‘padrão’.162

É justamente esse o foco que pretendemos destacar para fins de enfrentamento da morosidade da prestação jurisdicional. As atividades-meio, que têm grande influência na celeridade e eficiência da prestação jurisdicional, estão todas atreladas a uma estrutura e a uma série de processos de trabalho que devem ser permanentemente reavaliados para fins de simplificação e aperfeiçoamento.

Nesse contexto, “para satisfazer a necessidade do processo, é preciso que seja produzido um volume considerável de conhecemento novo”.163 Isto será fruto de um processo 162 DRUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor (entrepreneurship): prntica e princípios. Tradução de Carlos Malferrari. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. p. 93-94.

que deve iniciar, segundo Drucker, pela percepção da necessidade, ou seja, “é preciso que seja possível identificar o que é necessário.”164

Na mesma linha de raciocínio, ainda que não expressamente adotada ou considerada a classificação proposta por Peter Drucker para a identificação das fontes de oportunidades de mudança por meio de inovações, Héctor Rafael Lisondo descreve que

A força original – ou motivação para esse movimento [desenvolvimento e implantação de novas idéias] – parte de um sentimento de frustração, da percepção, ou da consciência, de uma necessidade, de um dar-se conta, que é um estado mental com atividade emocional capaz de questionar paradigmas e/ou mitos que imperaram até então – mas que se mostram inadequados para lidar com a realidade interna ou externa.165

O aproveitamento dessa fonte de inovações, a necessidade do processo, pressupõe não apenas um processo auto-suficiente, mas também o que Peter Drucker acrescenta e indica como “um elo ‘fraco’ ou que ‘falta’; uma definição clara do objetivo; que as especificações para a solução possam ser claramente definidas; percepção ampla de que ‘deve haver um modo melhor’, isto é, alta receptividade.”166 Estes são os chamados critérios básicos que

viabilizam a implantação de inovação com sucesso.

O autor elenca, ainda, cuidados ditos importantes no processo da inovação baseado na necessidade de processo, denominados restrições. São eles a compreensão efetiva da necessidade, o conhecimento necessário para fazer o trabalho inovador e o estabelecimento de solução que seja adequada à maneira como as pessoas fazem o trabalho ou desejam fazê-lo.167

Assim, na concepção de Drucker

As oportunidades para inovação, baseadas na necessidade do processo, podem ser achadas sistematicamente. De fato, a área se presta para a busca e análises sistemáticas. Porém, uma vez encontrada a necessidade do processo, ela precisa ser testada em relação aos cinco critérios básicos apresentados antes. Então, finalmente, a oportunidade de necessidade do processo precisa ser testada também em relação às três restrições. Entendemos o que é

164 Ibid., p. 97.

165 LISONDO, Héctor Rafael. Mudança sem catnstrofe ou catnstrofe sem mudanças. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. p. 37

166

DRUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor (entrepreneurship): prntica e princípios. Tradução de Carlos Malferrari. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. p. 99-100.

necessário? O conhecimento é acessível, ou pode ser obtido dentro do ‘estado da arte’? E a solução se enquadra ou viola os hábitos e os valores dos usuários pretendidos?168

No documento Poder judiciário: morosidade e inovação (páginas 94-97)