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1 INTRODUÇÃO

2.3 FONTES INTERNACIONAIS DE NORMAS DE AUDITORIA

As normas de auditoria têm o propósito de estabelecer padrões técnicos e de comportamento, para atingir uma condição coletiva e individualmente desejável, cujo objetivo final é a qualificação na condução dos trabalhos e a garantia de atuação suficiente e tecnicamente consistente do auditor e de sua opinião, certificação ou parecer destinados aos seus usuários (TCU, 2017).

De acordo com o entendimento apresentado pelo TCU (2017), as normas de auditoria correspondem aos requisitos básicos a serem considerados no desenvolvimento do trabalho de auditoria. Estas normas devem ser compreendidas como princípios e regras constituídos pelas entidades e organismos regulamentadores da profissão ou de controle e auditoria governamental, que prescrevem orientações e diretrizes a serem observadas no desempenho da atividade fiscalizatória.

Regularmente, as normas gerais de auditoria são classificadas em três ou quatro categorias ou grupos, dependendo da fonte emissora, discriminados abaixo conforme o TCU (2011). O Quadro 3 demonstra a classificação das normas de auditoria.

Quadro 3 - Classificação das normas de auditoria.

Normas gerais Tratam de postulados básicos da auditoria, como a independência do órgão de auditoria e as condições de sua atuação, além de princípios

básicos que devem orientar essa atuação, como neutralidade, qualidade, credibilidade, confiança e respeito público.

O enfoque dessas normas, portanto, é geralmente dirigido à entidade, ao processo ou à atividade de auditoria como um todo.

Normas relativas à pessoa do auditor

Tratam de questões relacionadas à independência profissional, ética e integridade, objetividade, imparcialidade, ao sigilo profissional, à competência e ao desenvolvimento profissional, dentre outros aspectos. O enfoque destas normas, por conseguinte, é dirigido à atitude e aos aspectos comportamentais do auditor.

Normas relativas à execução dos trabalhos

Tratam de questões relacionadas ao planejamento, à avaliação de riscos e controles internos, à supervisão dos trabalhos, à aplicação de procedimentos e à obtenção de evidências, à documentação e sua guarda, à utilização de trabalho de especialistas e à auditoria interna, dentre outras questões.

Às vezes referidas como “normas de trabalho de campo”, o enfoque dessas normas está na atividade de execução do processo de auditoria. Normas relativas à

comunicação dos resultados

O enfoque dessas normas é tratar da forma, do conteúdo, dos atributos e dos tipos de relatórios, pareceres e certificados de auditoria, ou seja, das formas como o auditor deve expressar e comunicar as opiniões e conclusões dos trabalhos de auditoria.

Fonte: Adaptado de TCU (2011).

Quanto às fontes internacionais de normas de auditoria, as experiências destas instituições são utilizadas como referência na produção de normas nacionais em diversos países, inclusive no Brasil. De acordo com o TCU (2011), a prática de benchmarking é bastante utilizada, sendo comum órgãos de controle da gestão pública brasileiros buscarem as melhores práticas, não apenas em normas, mas também em métodos e procedimentos de controle e auditoria adotados por organizações internacionais, e vice-versa.

O Quadro 4 apresenta os principais organismos internacionais de referência em normas de auditoria, de acordo com o TCU (2017).

Quadro 4 - Instituições internacionais de referência em normas de auditoria.

Federação Internacional de Contadores

(International Federation of Accountants - IFAC)

Suas normas foram traduzidas e publicadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), no final de 2009, para aplicação no Brasil. São membros dessa instituição

internacional, dentre outros, o próprio CFC, o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), o Instituto Americano de Contadores Públicos (American Institute of Certified Public Accountant – AICPA).

Instituto dos Auditores Internos (Institute of Internal Auditors – IIA)

Referência em auditoria interna. Representado no País pelo Instituto dos Auditores Internos do Brasil (Audibra).

Securities and Exchange Commission (SEC)

Órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais

norteamericano, equivalente, no Brasil, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As empresas que têm ações negociadas nas bolsas dos EUA, devem observar as normas emitidas por esse órgão.

Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB)

Entidade criada pela Sarbanes-Oxley, de 2002, para fiscalizar o trabalho dos auditores externos. Auditores de empresas que têm ações negociadas nas bolsas dos EUA, também devem observar as normas emitidas por essa instituição.

Government

Accountability Office (GAO)

Órgão de controle e auditoria dos Estados Unidos. Importante referência normativa para o setor público brasileiro. Suas normas também influenciam as normas da INTOSAI. National Audit Office

(NAO)

Órgão de controle e auditoria do Reino Unido cujas referências normativas foram muito utilizadas quando da introdução da auditoria operacional no Brasil.

Organização Internacional de

Entidades Fiscalizadoras Superiores (INTOSAI)

A INTOSAI, organização da qual o TCU é membro, é a principal fonte normativa de auditoria para o setor público em todo o mundo. No Brasil, suas normas são seguidas,

principalmente, pelos órgãos de controle externo (TCU e Tribunais de Contas de estados e municípios).

Fonte: Adaptado de TCU (2011).

Dentre as instituições internacionais de referência em normas de auditoria listadas no Quadro 4, optou-se por explorar com maiores detalhes a INTOSAI, por ser mais conhecida no Brasil.

2.3.1 A INTOSAI

Na descrição de Galdino et al. (2013), a International Organization of Supreme Audit Institutions (Organização Internacional das Entidades Fiscalizadoras Superiores), conhecida como INTOSAI, é uma organização internacional não governamental, autônoma, independente e não política.

A entidade expede padrões normativos de auditoria governamental, referendados pelos países-membro da Organização das Nações Unidas (ONU), incluindo o Brasil, através do Tribunal de Contas da União (TCU). A INTOSAI possui status consultivo especial junto ao

Conselho Econômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas (TCU, 2018; VALDELANDE, 2003).

Quirino (2015) apresentou a sua definição, afirmando que a INTOSAI é o principal órgão responsável pela normatização e orientação do controle externo no mundo. É um organismo internacional, autônomo, independente e apolítico, congrega as Entidades Fiscalizadoras Superiores dos países membros da Organização das Nações Unidas e tem por objetivo fomentar o intercâmbio de ideias e experiências das EFS. É a principal fonte normativa de auditoria para o setor público em todo o mundo.

Com sede em Viena, na Áustria, a INTOSAI foi fundada em 1953 por iniciativa de Emilio Fernandez Camus, então presidente da EFS de Cuba. Naquele momento, 34 países, entre eles o Brasil, se reuniram para o 1º Congresso da INTOSAI em Cuba. Atualmente, a INTOSAI possui 194 Membros Plenos, 5 Membros Associados e 1 Membro Afiliado (INTOSAI, 2018; TCU, 2017; QUIRINO, 2015).

Com 06 (seis) idiomas oficiais – inglês, francês, espanhol, alemão, árabe e russo, a INTOSAI trabalha no sentido de fomentar a troca de informações e experiências a respeito das atividades executadas por Entidades de Fiscalização Superiores e das dificuldades encontradas no exercício de suas funções de controle governamental (INTOSAI, 2018). Além dessas finalidades, Galdino et al. (2013) afirma que a INTOSAI também fornece os fundamentos teóricos e conceituais de padrões de auditoria governamental.

De acordo com Azuma (2008), a participação como membro pleno da INTOSAI e de todos os seus órgãos e funções está aberta às instituições superiores de auditoria de todos os países que são membros da Organização das Nações Unidas ou de qualquer de suas agências especializadas e às instituições superiores de auditoria daquelas organizações supranacionais que estão sujeitas ao direito internacional e são dotadas de um status legal e um grau apropriado de integração econômica, técnica, organizacional ou financeira.

O Tribunal de Contas da União é membro do Comitê de Normas Profissionais (Presidente) da INTOSAI: Subcomitê de Auditoria de Desempenho, Subcomitê de Auditoria de Conformidade, Subcomitê de Auditoria de Controle Interno; do Comitê de Desenvolvimento de Competências: Força-tarefa sobre Profissionalização de Auditores; do Comitê de Compartilhamento de Conhecimento: Grupo de Trabalho sobre Dívida Pública, Grupo de Trabalho sobre Auditoria de Tecnologia da Informação, Grupo de Trabalho sobre Auditoria Ambiental, Grupo de Trabalho sobre Modernização Financeira e Reforma Regulatório Grupo

de Trabalho sobre Auditoria em Indústrias Extrativistas, Grupo de Trabalho sobre Indicadores Nacionais Chave, Grupo de Trabalho sobre Big Data; do Comitê de Políticas Financeiras e Administrativas: Grupo Diretivo do Comitê de Doadores da INTOSAI (TCU, 2018).

De acordo com Hernández (2013), a função da INTOSAI, que reúne entidades de auditoria externa em vários países, é facilitar um quadro institucionalizado de trabalho entre seus parceiros, promover o desenvolvimento e transferência de conhecimento, a melhoria da auditoria do setor público em todo o mundo e aumentar as habilidades profissionais, a presença e influência de seus membros em seus respectivos países.

Para subsidiar as atividades de controle externo desenvolvidas por seus membros, são publicados a Revista Internacional de Auditoria Governamental e os trabalhos dos diversos Grupos de Trabalho e Comissões da organização, que englobam diretrizes, guias metodológicos e pesquisas (INTOSAI, 2018).

A INTOSAI emite dois tipos de padrões profissionais: International Standards of Supreme Audit Institutions, conhecidas como ISSAIs e Diretrizes para a Boa Governança, também chamadas de INTOSAI GOVs. Todas essas regras são emitidas após a aprovação final de todas as EFS reunidas no Congresso Internacional de Instituições Superiores de Auditoria da INTOSAI (INCOSAI), que são realizadas de três em três anos (INTOSAI, 2010).

Akyel e Erkan (2012) ressaltam que com apelo feito na Declaração da África do Sul de que seja utilizada a estrutura das normas internacionais de auditoria como um quadro comum de referência para a auditoria do setor público, a INTOSAI e seus grupos de trabalho regionais devem concentraram-se em tomar passos decisivos para a implementação e disseminação das ISSAIs.

Especialmente após o lançamento do primeiro conjunto completo de ISSAIs, no XXI INCOSAI realizado em Joanesburgo, África do Sul em 2010, os esforços internacionais foram acelerados para, segundo Akyel e Erkan (2012), aumentar a conscientização entre as EFSs sobre as contribuições esperadas de assimilação das ISSAIs e, em seguida, para assegurar a adoção e efetiva implementação delas no trabalho regular de auditoria.

No entendimento apresentado por Akyel e Erkan (2012), os padrões de auditoria são princípios e regras vinculantes que fornecem orientação no nível mínimo para os auditores nas atividades de auditoria. A objetividade das normas de auditoria é importante uma vez que

estas devem ser definidas por lei ou organizações profissionais específicas ou ser geralmente aceitas na implementação.

Galdino et al. (2013) ressaltam que as normas, padrões e preceitos da INTOSAI não possuem caráter legal impositivo, porém são oportunidades de benchmarking para os órgãos de fiscalização dos países-membro.

Os autores acrescentam que dentro dos padrões e diretrizes de auditoria governamental, preceituados pela INTOSAI, destacam-se suas três normas básicas: o Código de Ética, as Normas de Auditoria e a Declaração de Lima, estas normas serão abordadas de forma mais detalhada na seção seguinte.