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4. OS REFELXOS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NO INSTITUTO DA

4.2. FONTES NORMATIVAS O ATUAL PRECEITO CONSTITUCIONAL QUE

A delimitação do regime jurídico atinente ao tratamento da improbidade administrativa parte da Emenda Constitucional nº 26, de 27 de novembro de 1985, que convocou o Congresso Nacional para instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte e após uma vasta discussão democrática, originou a Constituição da República Federativa de 1988, sendo esta promulgada em 05 de outubro de 1988. Agora no contexto de um Estado Democrático de Direito, foi assentado de uma vez o combate aos atos atentatórios à probidade administrativa.

Em seu artigo 14, §9º a Carta de 1988 asseverou que lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, com o intuito de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício de mandato

Deputados Federais (âmbito federal), os Deputados Estaduais (âmbito estadual) e os Vereadores (âmbito municipal). Lembramos, desde já, que os Senadores da República Federativa do Brasil representam os Estados-membros e o Distrito Federal, de acordo com o art. 46 da CF/88. Além de desempenhar o poder de maneira indireta (democracia representativa), por intermédio de seus representantes, o povo também o realiza diretamente (democracia direta), concretizando a soberania popular, que, segundo o art. 1º da Lei n.9.709, de 18.11.1998 (que regulamentou o art. 14, I, II e III, da CF/88), “é exercida por sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igaul para todos, nos termos desta Lei e das normas constitucionais pertinentes, mediante: plebiscito, referendo e iniciativa popular.”’(LENZA. Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12ª Edição. 2007. Pág. 09.).

73 considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

O artigo 15, V da Constituição, estabeleceu dentre as hipóteses de perda ou suspensão dos direitos políticos a hipótese de improbidade administrativa, nos termos do artigo 37, §4º do mesmo diploma legal.

O seu artigo 37, §4º, por sua vez, estabeleceu que os atos de improbidade administrativa importarão na suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. 113

A Magna Carta, em seu artigo 85, V estabeleceu como crime de responsabilidade os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição e, especialmente, contra a probidade administrativa. 114

É importante, também, referir o artigo 129, III, da Constituição, que prevê a ação civil pública, devido ao fato dela contemplar a defesa do patrimônio público social.

O constituinte originário, ao remeter ao instituto da improbidade administrava em diversas disposições- nos capítulos atinentes a direitos políticos, à Administração Pública e ao Poder Executivo- deixou evidente a necessidade de sancionar gravemente os atos de improbidade administrativa, estabelecendo o controle e combate da improbidade administrativa como uma das metas da República Federativa do Brasil.

Nesse contexto, o combate a improbidade administrativa constitui em necessidade imprescindível do estado e da sociedade, a fim de que se possa construir uma sociedade livre, justa e igualitária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a

113 Forçoso reconhecer que o ressarcimento do dano causado ao Erário causado por qualquer

ato ilícito de pessoa, poderia ser objeto de pleito judicial de condenação ao ressarcimento, mesmo antes da superveniência da lei que a disciplinasse. No tocante ao ressarcimento ao erário esse dispositivo sempre foi autoaplicável. Esse posicionamento, inclusive, era reforçado pela Lei n. 3.502, de 21 de dezembro de 1958 (Lei Bilac Pinto), que, conforme visto no segundo capítulo desse trabalho, sujeitava a sequestro e perda os bens ilicitamente adquiridos por agente público, dirigente ou empregado de autarquia, por força de abuso de cargo ou função. Essa lei era compatível com a Constituição de 1988, sendo por ela recepcionada. Ademais, o artigo 159 do Código Civil de 1916, que impunha a todo aquele que causasse dano a outrem o dever de indeniza-lo.

114 O artigo 85, V da Constituição de 1988 foi inclusive empregado no caso Collor. Para um maior

aprofundamento no assunto vide: COMPARATO, Fábio Konder. O processo de impeachment e a importância constitucional do caso Collor. In: ROSENN, Keith s.; DOWNES, Richard (org.). Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor. Trad. Robero Grey. Rio de Janeiro: FGV, 2000. P.111-126.

74 pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais e para promover o bem de todos. 115

Com o intuito de regulamentar o disposto na Constituição da República foi editada a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 (lei de Improbidade Administrativa), popularmente conhecida como “Lei do colarinho branco”, resultante do Projeto de Lei 1.446/91. Essa lei visou dar máxima efetividade ao princípio da moralidade, bem como regulamentar o artigo 37, §4º, da Constituição. Ela estabeleceu regras de direito material e processual em matéria de improbidade administrativa.

A Lei n. 8.429/1992 delimita como sendo improbidade administrativa as condutas contidas nos seus artigos 9º (enriquecimento ilícito), 10 (atos que acarretam lesão ao erário) e 11 (atos que violam os princípios da administração pública), quando praticadas por agentes públicos e também por particulares que nelas tomem parte. Por tanto, o seu conceito é bastante abrangente. Contudo, vale frisar, que a Lei n. 8.429/1992 prevê como ato de improbidade qualquer conduta que ofenda os princípios da Administração Pública, dentre os quais está a legalidade (artigo 37, caput, da Constituição da República). Todavia, ilegalidade e improbidade possuem significados dispares. Não é correta a afirmação de que toda ilegalidade corresponda a um ato de improbidade. A improbidade é, como já afirmado anteriormente, uma ilegalidade qualificada pelo intuito nocivo do agente, atuando com desonestidade, malícia, dolo ou culpa grave.

É certo, por um lado, que a Lei n. 8.429/1992 constitui o texto legal regente da figura da improbidade administrativa. Por outro lado, é também verdadeiro que essa figura extravasa esse texto legal, como ocorreu com a Constituição e no caso da Lei n.1.079/1950, que define os crimes de responsabilidade do Presidente da República e de outras autoridades. Ademais, outros diplomas legais, de alguma forma ou de outra, podem conectar-se com a improbidade administrativa, muito embora por meio de liames mais tênues, como o Código Civil que emprega o termo probidade como sinônimo de honestidade e lealdade (artigo 422 do Código Civil) e a Lei n.8.666/1993, que reclama conduta de probidade nas licitações públicas.

A partir de agora nos limitaremos ao exame de alguns aspectos relevantes da Lei de Improbidade Administrativa. Contudo, poderemos para tanto, devido a sua conexão

75 com a referida lei, tocar em outros diplomas legais que, como ela, faça referência ao tema da improbidade.