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FONTES PARA O ESTUDO DA HISTÓRIA DA MEDICINA:

No documento A medicina na era da informação (páginas 157-167)

acesso facilitado pelas novas tecnologias

Esther Caldas Bertoletti Esther Caldas BertolettiEsther Caldas Bertoletti Esther Caldas BertolettiEsther Caldas Bertoletti estherbertoletti@hotmail.com

Nossas primeiras palavras são de agradecimento aos professores da Ufba José Tavares-Neto, diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Lídia Brandão, diretora do Instituto de Ciência da Informação, aos amigos professores Zeny Duarte e Lúcio Farias e à mestre de todos nós Maria José Rabello de Freitas, a quem, há bem pouco tempo, todos reverenciamos por ocasião do recebimento da mais que merecida diplomação de professor honorário desta emblemática Faculdade de Medicina da Bahia. Muito obrigada por nos trazerem de volta, mais uma vez, a esta nossa terra maravilhosa, e que o Senhor do Bonfim nos abençoe a todos, inclusive aos nossos ilustres professores colegas portugueses, que nos honram com suas participações.

Ainda temos presente na memória as solenidades comemorativas do bicentenário da Faculdade de Medicina, em fevereiro deste ano, com a presença de ilustres personalidades, entre as quais o também baiano, hoje nosso ministro da cultura, Juca Ferreira e o ministro da saúde, José Gomes Temporão, cujas raízes baiana e portuguesa certamente estremeceram com as comemorações, ao lado do reitor da Universidade de Coimbra, professor Seabra Santos, do diretor da Faculdade de Medicina lusitana Francisco de Castro e Souza e das autorida- des locais. Tudo foi maravilhoso e inesquecível para os de fora. Imaginamos como devem estar os corações dos mais intimamente ligados a esta veneranda e bicentenária escola de medicina, um dos marcos da chegada da Corte ao Brasil, dando início à grande transformação da antiga colônia em sede do Reino Unido e, depois, no nosso independente Brasil-Império e República.

Os estudiosos e pesquisadores da história da medicina no Brasil sempre tiveram muita dificuldade no acesso a documentos organizados, textuais, primá- rios e mesmo a documentos hemerográficos, como periódicos, revistas e jornais especializados editados no passado e até nos dias de hoje, que não se apresentam - salvo raríssimas exceções - em sua completude informacional, nas instituições de guarda da memória documental, de modo a facilitar a pesquisa e leitura dos interessados. Sabemos todos que só a organização dos arquivos e das bibliotecas especializadas, como a que está sendo feita na Faculdade de Medicina da Bahia, possibilitará o estudo mais aprofundado dos temas médicos. Podemos esperar que, com as datas comemorativas dos bicentenários da criação dos cursos de Medicina na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e com o apoio dos profis- sionais de informação, sejam organizadas as fontes onde os pesquisadores pode- rão colher novas informações para instigantes e inéditas pesquisas.

Em texto (a que tivemos acesso antes mesmo da publicação na revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos) das arquivistas baianas do Arquivo Público do Estado, sua diretora Maria Teresa Navarro de Britto Matos e Adriana Sousa Silva, verificamos quão facilitada está agora a pesquisa nos documentos do Arquivo Municipal de Salvador, graças ao esforço desenvolvido no sentido de identificar os fundos e as séries custodiadas no importante acervo, que possui um número significativo de documentos interessantes para a história e a cultura da saúde na capital histórica do Brasil. Bom exemplo que deve ser sempre citado e louvado é o trabalho realizado pela equipe do Cedic- Centro de Informação Ci- entífica da PUC/SP, coordenado pela professora Yara Aun Koury, que resultou na publicação Guia dos Arquivos das Santas Casas de Misericórdia do Brasil, em 2 volu- mes, (1) na qual se encontram as informações da documentação existente nos arquivos das santas casas criadas entre os anos de 1500 e 1900, incluindo a nossa benemérita Santa Casa da Bahia. Quatrocentos anos de história, principalmente da história das doenças e dos homens no Brasil! Também devemos lembrar todo o esforço e trabalho acadêmico da Fundação Oswaldo Cruz, através do seu de- partamento de arquivo e documentação, que tem organizado e publicado, nos últimos anos, primorosos estudos referenciais para os estudiosos da medicina no Brasil. E mais: recentemente propôs a candidatura dos arquivos de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas à nomeação pela Unesco como documentos memória do mundo. Tendo sido aceitos pelo comitê nacional, hoje os referidos arquivos estão inscritos no Livro de Registro Memória do Mundo/ Brasil/ Unesco no Arquivo Nacional.

Em vista do esforço que já se realiza no âmbito dos arquivos de modo geral e em particular da documentação científica, não custa sonhar e esperar que em breve teremos um guia dos arquivos e bibliotecas médicas e uma biobibliografia

de vultos ligados à história da medicina. Profissionais de todas as áreas, não só da medicina, realizarão trabalhos monográficos, dissertações de mestrado e teses de doutorado com base em consultas aos arquivos e bibliotecas históricas. Teremos por certo um novo e profundo olhar sobre a medicina no Brasil, este país conti- nente que tanto encantou aos primeiros visitantes e que ainda encanta a todos que aqui chegam.

Temos de reunir sonhos e esforços e preparar documentos para serem manuseados, através da microfilmagem sistêmica, da preservação e digitalização, da facilitação de acesso e democratização a todos os pesquisadores e interessados. Bom exemplo que citamos sempre que temos oportunidade é o do projeto dos relatórios e falas dos presidentes de províncias e ministeriais (1835-1930), que coordenamos, à época, na qualidade de funcionária e diretora departamental da Biblioteca Nacional. Foi proposto e financiado por um grupo de universidades norte-americanas através do Latin American Microform Project (Lamp), do Centre for Research Libraries (http//brazil.crl.edu). Esses relatórios e falas são fontes inesgotáveis de informações. Passaram a ser impressos a partir de 1835, informando o que era feito pelos governantes e apresentando diversas estatísticas e notícias, inclusive sobre doenças. Pois bem, praticamente nenhuma instituição, nem a própria Biblioteca Nacional (privilegiada pela prerrogativa da lei do depó- sito legal), possuía as coleções sequenciais integrais. Tampouco o Arquivo Naci- onal, as bibliotecas e os arquivos públicos estaduais. Foram três anos de pesquisas em todos os estados para conseguirmos reunir, senão a totalidade, pelo menos a mais completa coleção de relatórios e falas provinciais e ministeriais até 1930. Foram também muitos rolos de microfilmes. Já há três anos, o Centre for Research Libraries digitalizou todos os rolos e democratizou o acesso via internet, o que tem beneficiado não só os pesquisadores americanos de costa a costa, mas os brasileiros e demais estudiosos do Brasil em diversos países do mundo. Esse trabalho tem sido tão útil, que algumas instituições no Brasil já o “baixaram” da internet e fizeram CDs para divulgação dos documentos impressos, como o Ins- tituto Histórico e Geográfico de Alagoas e a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. Exemplos que devem ser seguidos por todos os estados brasileiros.

Alguns poucos pesquisadores têm se debruçado no estudo dos livros anti- gos e das bibliotecas coloniais. Não se trata apenas de verificar as obras raras que ainda existem nas estantes das diversas bibliotecas, arquivos, institutos históricos, coleções particulares, mas de realizar estudos sistemáticos em documentos ma- nuscritos e nos livros que chegaram à Terra Brasilis desde a sua descoberta em 1500. Um dos pioneiros nesse estudo foi sem dúvida o professor Jorge de Souza Araújo, baiano de Ilhéus, nosso amigo e conterrâneo, que agora está de volta às suas raízes, mas que, à época, era professor na UFRJ/Departamento de Letras,

quando, durante 10 anos, aproveitando o seu período de férias das salas de aula, andou pelo Brasil afora, indagando e pesquisando por toda parte sobre os livros ainda existentes e referenciados em listagens de “livrarias”, como eram chamadas as bibliotecas particulares, e nos inventários, pois livros eram considerados “bens” e faziam parte das “fortunas legadas”. Em Portugal, nas instituições de memória, também debruçou-se em documentos amarelecidos pelo tempo para escrever a sua tese de doutorado defendida em 1988, (e já se passaram vinte anos!) na Fa- culdade de Letras da UFRJ, com o título Perfil do leitor colonial, e que hoje está publicada (1999) graças à Editus, da Universidade Estadual de Santa Cruz, recolhendo a sua sabedoria e carisma em livro que encanta a todos os que tomam conhecimento de sua pesquisa aprofundada. Nessa obra há uma parte dedicada aos leitores padres, militares, médicos e bacharéis. Enfatiza o autor “a sensível popularização de temas e assuntos médico-cirúrgicos”. O que liam os médicos no período colonial e para que liam? É o professor Jorge Araújo quem responde: “A lógica de popularidade das obras médico-cirúrgicas encontra-se, de um lado, numa necessidade prática do saber público quanto a situações elementares como sintomas, presumível diagnóstico, aplicação de remédios à base de ervas e a cura como resultado final”. Recomendamos a sua leitura aos estudiosos da medicina histórica. (2)

Temos ainda uma tese de doutorado recente da professora Gilda Maria Whitaker Verri, da Universidade Federal de Pernambuco. Como bibliotecária, além dos resultados de suas pesquisas em livros e noutros documentos de Pernambuco no século XVIII (1759-1807), apresenta, no segundo volume da tese publicada pela editora universitária da UFPE em 2006, (3) um primoroso e cuidadoso catálogo das publicações que encontrou, referenciadas aqui e ali. En- fim, é trabalho de fôlego, que acompanhamos de perto e que terá desdobramen- tos, tal a quantidade de informações colhidas por ela durante a etapa de prepara- ção de sua tese.

Mencionamos também um dos pioneiros e dos maiores estudiosos e cole- cionadores de livros antigos, o famoso professor Rubens Borba de Moraes e seu livro bastante instigante: Livros e bibliotecas no Brasil colonial, 1979 ( 4)

Muitos outros livros têm sido preparados e publicados sobre a biblioteca real, em função da chegada da Corte. Os livros que constituíram a base da Bibli- oteca Nacional, classificada pela Unesco como a oitava maior do mundo, eram provenientes da coleção d´el rei. A bibliografia sobre bibliotecas e livros antigos e/ou raros já começa a ter significado, comandada pelo entusiasmo da estudiosa Ana Virgínia da Paz Pinheiro, diretora de obras raras da Fundação Biblioteca Nacional e professora da Unirio.

Mas voltemos à nossa Bahia, ao Terreiro de Jesus, a nosso Colégio Médi- co-Cirúrgico, criado em 18 de fevereiro de 1808 por D. João VI. Não faz muito tempo, na coluna Leitores e Livros do jornal O Globo/RJ, de junho de 2002, lia- se o seguinte título: Acervo histórico da medicina brasileira ameaçado de virar pó. Esse grito de alerta calou fundo no coração dos profissionais da informação e dos próprios médicos, que sempre acompanharam o avanço do processo lento, mas inexorável do tempo sobre o papel. Dizia a matéria: “São aproximadamente 180.000 livros publicados entre os séculos XVII e XIX que correm risco de destruição na biblioteca da primeira Faculdade de Medicina do Brasil, no centro histórico de Salvador”...E não se falava na documentação manuscrita. Ainda bem que os es- forços se multiplicaram e podemos hoje estar comemorando neste colóquio inter- nacional, que congrega tantos ilustres convidados, o avanço dos trabalhos que em breve mostrarão urbi et orbi a obra de todos, pois, como diz o significativo título do livro da bibliotecária e pesquisadora portuguesa Maria Luísa Cabral, amanhã

é sempre longe demais, falando das ações de conservação e preservação de docu- mentos, que todos nós, profissionais da informação, devemos estar empreenden- do. (5)

E não nos esqueçamos que estamos nos trópicos. Dizendo isso, lembre- mos que foi aqui também na Bahia que nasceu, há quase 150 anos, a escola tropicalista baiana, conforme divulgou a revista da Fundação do Amparo à Pes- quisa do Estado de São Paulo em 2003. (6)

Lê-se em artigo nela publicado: “Uma das mais importantes mudanças nos rumos da medicina brasileira começou com um reduzido grupo de três médi- cos estrangeiros na então Província da Bahia”. Eram dois portugueses e um esco- cês, que se encontravam com médicos baianos, entre os quais o pai do poeta Castro Alves, Antônio José Alves, e seu colega da Faculdade de Medicina, Antô- nio Januário de Farias, que, juntos com Ludgero Rodrigues Ferreira e Manoel Maria Pires Caldas, discutiam em torno da patologia tropical. Esse trabalho de pesquisa ficou conhecido como Escola Tropicalista Baiana e muitos dos resulta- dos de suas pesquisas foram divulgados na Gazeta Médica da Bahia, que come- çou a circular em 1866. A coleção da Gazeta encontra-se hoje digitalizada, graças ao trabalho da pesquisadora Luciana Bastianelli, informa o referido artigo.

Não devemos esquecer que estamos nos trópicos. Isso significa dizer do redobrado cuidado que temos de ter com os documentos em suporte papel. A umidade, os insetos chamados bibliófagos, o descaso, a poeira, os locais inade- quados, tudo conspira para a destruição da informação. Se, na Europa, o cuidado tem sido redobrado nos últimos 20 anos, o que não deveríamos estar fazendo no Brasil para salvar e colocar à disposição dos interessados as fontes documentais

do nosso passado? Veja-se, nesse sentido, o livro da professora Maria Luiza Cabral, já citado, que reúne crônicas de conservação e preservação.

Relembremos aqui que a Universidade Federal de São Paulo nasceu tam- bém em torno da Escola Paulista de Medicina, que comemorou os 200 anos do ensino superior no Brasil em seminário promovido pelo curso de história. Na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, estão os primeiros centros médicos do Brasil. Sobre a criação dos cursos no Rio de Janeiro, recentemente o professor Luiz de Castro e Souza, sócio benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicou um opúsculo intitulado Príncipe regente D. João e a medicina, sua contribuição apresentada no curso D. João VI e a cidade do Rio de Janeiro-

1808-2008, promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (7)

Mas muitos são ainda os documentos inéditos ou não consultados sobre a história da medicina no Brasil, se pensarmos na significativa quantidade de docu- mentos avulsos e em códices manuscritos trazidos de Portugal pelo Projeto Resgate

de Documentação Histórica Barão do Rio Branco, da Diretoria de Relações Interna- cionais do Ministério da Cultura e que temos a enorme honra de coordenar há mais de 20 anos. Esse projeto de resgate organizou, verbetou e microfilmou 34 das 47 séries dos documentos localizados no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, que formam cinco fundos: Portugal, África, Oriente, Brasil e Rio da Prata. São mais de 300.000 documentos verbetados, ou seja, com descrição arquivística e catálogos publicados. Em breve teremos a publicação dos catálogos da Bahia e do Rio de Janeiro, na série Avulsos. Ainda não concluímos a consoli- dação em índice único de todos os verbetes para que a consulta por assunto/tema e onomástico/nome possa ser realizada. Neste momento, e à proporção que os conjuntos vão sendo digitalizados e registrados em CDs, todos os documentos estão disponibilizados on-line e na Web no Centro de Memória Digital e no ende- reço eletrônico http://www.resgate.unb.br/index.html pela Universidade de Brasília, através de convênio com o Ministério da Cultura. Convidamos todos a “navegar”. É realmente uma vasta extensão de documentos, como tivemos a opor- tunidade de mostrar em texto intitulado Brasil-Portugal: um mar-oceano de docu-

mentos, publicado no livro Brasil e Portugal: 500 anos de enlaces e desenlaces, editado em 2008 pelo Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. (8) Muitos navegadores virtuais encontrarão preciosos documentos e novas pistas, para além de confirmações de hipóteses de trabalho, nas mais de três milhões de páginas manuscritas, que abrangem os séculos XVI a XIX. Convidamos todos à pesqui- sa. Todas as universidades federais e privadas com cursos de pós-graduação em história, todos os arquivos públicos e os institutos históricos brasileiros recebe- ram em doação cópias do conjunto de cerca de 300 CDs que correspondem a

mais de 3.000 rolos de microfilmes, estes custodiados na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. On-line, em CD e em microfilme, milhões de páginas de docu- mentação histórica existente em Lisboa já estão disponibilizadas no Brasil e no mundo, graças ao empenho de muitos que nos antecederam no passado, e do esforço, dedicação e competência de mais de 120 historiadores, arquivistas, paleógrafos, brasileiros e portugueses irmanados no resgate do patrimônio co- mum, sob a coordenação do Ministério da Cultura e com financiamento de mais de 10 instituições públicas e privadas, nacionais e estrangeiras. Breve e finalmen- te teremos impresso e distribuído o catálogo dos documentos avulsos da capitania da Bahia, que, juntamente com o antigo catálogo de Eduardo de Castro e Almeida publicado nos Anais da Biblioteca Nacional (1913-1918) e o de Luísa da Fonseca editado pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1950), formam um grande conjunto documental não só em quantidade de informação, como no ineditismo dos documentos. Vale a pena reler, cuidadosamente, os verbetes dos dois primei- ros catálogos organizados por pesquisadores portugueses e os do tão esperado catálogo dos avulsos, para encontrar documentos como o de n. 16.491, que é um lembrete da Secretaria da Marinha e Ultramar sobre o requerimento do cirur- gião aprovado na cidade da Bahia, João Néri da Costa, em que pede licença para curar naquela cidade tanto em medicina como em cirurgia. É, sem dúvida, um dos primeiros profissionais a solicitar licença para exercer a profissão na cidade do Salvador. Quantos relatos de fatos e nomes poderão ser localizados no conjun- to dos documentos da antiga capitania da Bahia, verbetados em mais de 50.000 documentos, com mais de 400.000 páginas manuscritas! Os índices divulgados aceleram a pesquisa. E lembremo-nos de que não é mais necessário ir a Lisboa e lá manusear documento por documento em meses e meses a fim de localizar aqueles de interesse para os pesquisadores. A modernidade, junto com a sensibi- lidade de gestores públicos, federais, estaduais e privados, como a Fundação Cle- mente Mariani, na pessoa da Dra. Maria Clara Mariani, permitem agora a pes- quisa em torno do passado colonial praticamente no computador do interessado. Quem sonharia com esses avanços quando D. João VI chegou à nossa Bahia no longínquo janeiro de 1808? Recentemente, o caderno Ciência, da Folha de S. Paulo, em 24 de agosto de 2008, publicou um interessante estudo sobre os avanços para a medicina trazidos pela Guerra do Paraguai, apresentados por uma pesquisa inédita realizada pelo historiador paulista Marcelo Augusto Moraes Gomes em sua tese de doutorado na USP, intitulada Inválidos da pátria. Reco- mendamos sua leitura, pois o assunto é muito agradável.

Mas a história do Projeto Resgate, permitam relembrar, começou em 1838, quando da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que pleiteava, logo na primeira assembleia dos sócios, a “copiagem de manuscritos importantes

para a história do Brasil em Portugal e em outros países com os quais o Brasil manteve relações históricas...” A partir de então começaram as missões de José Maria do Amaral, de Francisco Adolfo de Varnhagen, Antonio Gonçalves Dias, Joaquim Caetano da Silva, José Higino Duarte Pereira, Capistrano de Abreu, Barão de Studart, Afonso d’Escragnolle Taunay, Tobias Barreto, Ernesto Cruz, Antonio José Gonsalves de Melo, Cícero Dias, João Cabral de Melo Neto.

José Honório Rodrigues, em precioso texto intitulado A pesquisa histórica

no Brasil, 1978, (9) apresenta referências sobre cada uma dessas missões de pes- quisa, referências que serviram de guia para a elaboração do plano de trabalho do Projeto Resgate. Quantas vezes lemos e relemos o texto de José Honório e quantos conselhos do mestre da pesquisa no Brasil ouvimos atentamente, na qualidade, desde então, de coordenadora técnica, no início dos anos 80 do século passado, quando, no Palácio Itamaraty, foram realizadas as primeiras reuniões sob a coor- denação geral e o entusiasmo do sempre saudoso e lembrado embaixador Wladimir Murtinho! Retomava-se então o velho sonho do imperador D. Pedro II e do Barão do Rio Branco, o de resgatar documentos históricos nacionais. Agora não mais os copiamos à mão, como fizerem tantos no século XIX, mas a eles temos

No documento A medicina na era da informação (páginas 157-167)