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O MÉDICO E A MEDICINA NA CRIAÇÃO LITERÁRIA, HISTÓRICA, ARTÍSTICA E NA

No documento A medicina na era da informação (páginas 167-187)

PRODUÇÃO FILOSÓFICA E CULTURAL:

panorama português nos tempos modernos

Daniel Ser Daniel Ser Daniel Ser Daniel Ser Daniel Serrãorãorãorãorão rdd23956@mail.telepac.pt

Sou médico, mas não sou criador literário, histórico ou artístico, nem pro- dutor de filosofia, nem agente cultural.

Amo a medicina porque dos 80 anos que levo de vida, 60 passei-os naque- le mundo, meio misterioso, onde se pratica o cuidado pelos outros, por serem outros, nos seus corpos e no seu espírito.

Amo a medicina.

Por isso estou a participar neste Colóquio A Medicina na Era da Informa- ção, com o qual a Faculdade de Medicina da Bahia celebra a entrada, em pleno, nesta nova Era e esta participação é motivo de uma imensa satisfação.

Agradeço, pois, vivamente, ao ilustre director, professor José Tavares-Neto, o honroso convite e à professora Zeny Duarte a simpatia e o cuidado com os quais promoveu a materialização da minha presença em tão vibrante iniciativa.

Estar no Brasil, que visito todos os anos sempre com emoção e alegria, mergulhar neste País, estuante de vida, é sentir bem como se constrói o futuro. Mas aqui, em Salvador da Bahia, encontro as raízes de um passado que, embora com erros e imperfeições, gerou este esplendoroso presente, que é o Brasil.

Sinto necessidade de agradecer aos irmãos brasileiros a forma como sou- beram, nestes 200 anos, engrandecer os talentos recebidos. Como na parábola do

Evangelho (Mt., 25, 14-30) souberam multiplicar o que receberam, com muito cuidado e diligência.

Muito obrigado, aos do passado e aos do presente. Amo a medicina, disse.

Mas amo, igualmente, as florações do espírito humano, toda esta cultura exterior simbólica, no sentido que Merlin Donald dá a esta expressão, e na qual a criação intelectual e artística ocupa um lugar insubstituível.

É boa a cultura técnica. Ela facilita a nossa comum vida diária, as deslocações de pessoas e bens por terra, mar e ar e a rápida comunicação da informação que aqui estamos a celebrar e a louvar.

Mas bem melhor é a cultura simbólica; a que se manifesta nas criações do espírito, tocadas pela magia da estética e pelo apelo a uma ética que é, essencial- mente, o amor pela vida, amor que se dirige ao mundo natural, a todos os seres vivos e, nestes, ao Homem, obra-prima da Criação.

Um autor inglês, C. U. M. Smith, escrevendo sobre a neurobiologia da estética, encontra nas percepções que induzem à emoção da beleza, por exemplo, uma origem evolutiva darwiniana; mas deste aspecto falarei mais adiante.

Agora o que pretendo enfatizar é que todas as criações do espírito huma- no, depositadas em objectos culturais exteriores, como, por exemplo, as diversas formas de escrita, emergem de um cérebro humano, que é humano precisamente porque por ele se manifestam as criações culturais que são uma exclusividade dos seres humanos.

A relação corpo/espírito, expressa em termos de relação cérebro/mente,

brain/mind, é hoje o tópico principal da moderna neurobiologia. E nenhuma aná- lise actual dos objectos culturais, em geral, e da emoção estética que, em nós, podem produzir, dispensará o debate sobre a neurobiologia das emoções e mes- mo dos juízos éticos, porque, uns e outros, são, na sua essência, estados mentais. Dando por adquirido – e creio que bem e com boas razões – este nexo entre o cérebro humano e todas as formas de criação artística, será que podemos descobrir ou inventar uma teoria geral da estética?

Fernando Pessoa, num célebre pequeno ensaio que intitulou “Apontamen- tos para uma estética não-aristotélica”, entrega-se a esta tarefa com a sua reco- nhecida exigência intelectual.

Diz Pessoa que “ao contrário da estética aristotélica, que exige que o indiví- duo generalize ou humanize a sua sensibilidade, necessariamente particular e pes- soal, nesta teoria o percurso indicado é inverso: é o geral que deve ser particulariza- do, o humano que se deve pessoalizar, o «exterior» que se deve tornar «interior».

Creio esta teoria mais lógica – se é que há lógica – que a aristotélica; e creio-o pela simples razão de que, nela, a arte fica o contrário da ciência, o que na aristotélica não acontece. Na estética aristotélica, como na ciência, parte-se, em arte, do particular para o geral; nesta teoria parte-se, em arte, do geral para o particular, ao contrário de na ciência, em que, com efeito e sem dúvida, é do particular para o geral que se parte. E como ciência e arte são, como é intuitivo e axiomático, actividades opostas, opostos devem ser os seus modos de manifesta- ção, e mais provavelmente certa a teoria que dê esses modos como realmente opostos que aquela que os dê como convergentes ou semelhantes.”

Com o seu génio analítico, Pessoa, ao afirmar que em arte “é o humano que se deve pessoalizar”, o “exterior” que se deve tornar “interior”, está a anteci- par a evolução conceptual do entendimento estético, baseado na sensibilidade, para um entendimento epistemológico fundado na perspectiva neurobiológica.

Mitias, citado por C. U. M. Smith afirma, e cito: The unity of the art work

causes the experience of unity in the percipient, porque a unidade da obra de arte produz a experiência da unidade naquele que a percepciona, nós afirmamos que a capacidade de apreciar a beleza é a marca de um espírito superior.

Também eu me proponho apresentar-vos elementos para uma estética não aristotélica, numa concepção na qual a força de interiorização, de que falava Pes- soa, é a neurofisiologia da percepção humana. E é assim.

O Homem está no mundo, é um objecto intramundano. Pelo seu corpo e com o seu corpo e no seu corpo, recebe constantemente estímulos que são da mais diversa natureza: uns são sensitivos como o calor, o frio, a dor, a pressão e a humidade da atmosfera; outros são sensoriais, vejo, oiço, palpo, cheiro, saboreio; e outros, ainda mal conhecidos, são extrassensoriais e usam uma sensitividade difusa que capta formas particulares de energia que a Terra e os outros corpos emitem.

Todos estes múltiplos estímulos externos são processados no extraordiná- rio supercomputador que é o cérebro humano.

Começamos a perceber que este é constituído por células isoladas e autónomas, a que chamamos neurónios e cada um estabelece com os outros li- nhas de ligação, os axónios, que entre si criam e desfazem pontos de contacto, as sinapses, que são em número incontável com rigor científico, mas que é de muitos milhares de milhões.

Esta poderosa máquina electroquímica trabalha incessantemente, proces- sando em milésimos de segundo uma miríade de informações que os inúmeros terminais constantemente recolhem do mundo exterior e enviam para o órgão central; este faz a sua distribuição a partir de um núcleo duro central a que cha- mamos tálamo.

O tálamo, na evolução filogenética, aparece já bem constituído nos répteis e vai-se enriquecendo, estruturalmente, nos mamíferos e no Homem.

Vamos dizer, de forma simplificada que, abaixo do tálamo, situa-se a parte do sistema nervoso que regula as funções da vida silenciosa de todos os órgãos, da qual não temos a mais ínfima percepção. O meu estômago, como o de qualquer mamífero, digere os alimentos e eu de nada me apercebo; como nada sei do traba- lho dos meus rins que, gota a gota, vão enchendo a minha bexiga com água e sais. Acima do tálamo o tratamento e processamento cerebral dos estímulos faz aparecer ou leva à emergência de um certo estado mental, um output, ao qual chamamos percepção.

Estava numa sala de olhos fechados, imóvel, no escuro e no silêncio e nada acontecia no meu cérebro. Ilumina-se a sala, abro os olhos e logo tenho a percep- ção do que nela se contém: objectos, pessoas, sons.

A percepção é a representação do mundo na minha cabeça. E esta repre- sentação informa e condiciona as minhas decisões. Porquê?

Porque as várias áreas de associação de neurónios supratalâmicos vão con- ferir às percepções sensitivas, sensoriais e extrassensoriais, uma conotação quali- tativa que podemos chamar de sentido ou significância, mesmo não sabendo, em rigor, o que estamos a dizer.

Com a atribuição de sentido às percepções, estas tornam-se conscientes e ficam em condições para serem arquivadas na rede neuronal, constituindo o que chamamos memória; que é, afinal, um modo de retirar do presente da consciência perceptiva, da cognição actual, estas percepções e o sentido que a elas fica como que colado.

Poderíamos falar de vários tipos de memória, consoante o uso que iremos fazer destes conteúdos arquivados, mas não é aqui o lugar para fazer tais distin- ções. Bastará que eu diga que esses conteúdos mnémicos podem ser evocados, podem aparecer num espaço virtual, em tempo real, sem localização cerebral co- nhecida, espaço ao qual chamamos autoconsciência, eu pessoal, intimidade, self, e a que eu prefiro chamar espírito porque é na autoconsciência humana que se revelam as capacidades desde sempre atribuídas ao espírito como sopro de Iavé que deu a um corpo, animal e terreno, a capacidade de ser um corpo humano.

Vemos, assim, que cada ser humano é construído de forma progressiva na medida das suas relações cognitivas com o mundo que o envolve; o mundo natu- ral e o mundo da cultura exterior simbólica, depositada nos objectos culturais, depositada nos livros, depositada na memória dos outros seres humanos e comunicada pelo gesto e pela palavra falada.

Muito antes de a criança vir a descobrir-se como um próprio, uma autoconsciência, toda ela está aberta ao mundo exterior para aprender a sobrevi- ver. O recém-nascido que, de olhos ainda fechados, procura, avidamente, o seio da mãe é a imagem perfeita desta abertura ao outro para dele receber cuidado e protecção.

A abertura ao mundo e aos outros marca, radicalmente, cada ser humano; e pode dizer-se, com rigor e verdade, que a pessoalização de cada um é obra do mundo exterior e da cultura exterior simbólica. Nenhum dos muitos milhões de chineses que vivem no interior do imenso território, recebendo os impulsos de uma cultura que se mantém há cinco mil anos, pode ser pessoa da mesma forma que é pessoa um negro criado no interior da sociedade tribal africana ou de um índio da Amazónia profunda.

Cada um de nós é a imagem, mais ou menos fiel, da cultura exterior, natural ou simbólica, que nos envolve por todos os lados, na qual estamos imersos e da qual dependemos.

Merlin Donald, reflectindo sobre esta realidade indiscutível que é uma verdade antropológica, no seu livro A mind so rare –the evolution of human

consciousness, avança para a noção de que a cultura exterior simbólica, porque é uma criação do espírito humano é, de certo modo, a representação inteligível desse espírito. E cada ser humano, ao apropriar-se dessa cultura pelos órgãos de percepção e pelo tratamento que o cérebro dá a todas as percepções, recebe o espírito próprio do Homem. Nas suas palavras, without culture, our world-models,

those highly personal and idiosyncratic visions of current reality that define all conscious experience will inevitably shrivel. If we line up the key features of the many different kinds of minds that coexist with us on Earth and rank the breath and complexity of their world-models, we see how deeply we depend on our cultural hook-up. (Sem a cultura, os nossos modelos de mundo, essas visões altamente pessoais e idiossincráticas da realidade corrente, que definem toda a experiência de cognição consciente, defi- nharão inevitavelmente. Se dermos atenção aos aspectos-chave dos muitos dife- rentes tipos de mentes que coexistem connosco na Terra e avaliarmos o fôlego e a complexidade dos seus modelos de mundo, veremos quão profundamente depen- demos do nosso vínculo cultural).

Mais adiante acentua que um cérebro isolado é uma coisa pobre que para pouco serve. Mas, se estiver ligado à comunidade dos outros cérebros, tem esta notável capacidade de criar uma comunidade de mentes, de adquirir a capacida- de de simbolizar a partir das percepções e expandir enormemente o leque da sua capacidade de se aperceber da riqueza e complexidade do mundo exterior, em proporção com a profundidade da sua inculturação.

Acrescentarei, entre parêntesis, que esta ideia da nossa relação de depen- dência das forças do mundo exterior, causa da nossa fragilidade e vulnerabilidade, era e é um conceito profundamente gravado nos povos que viviam, e nos que ainda vivem, no nível mítico-oral de percepção do mundo e de comunicação do significado atribuído a essas percepções.

Os estudos de campo do fenomenologista David Abram, expostos no seu livro The spell of the sensuous, perception and language in a more-than-human world, mostram bem como os povos ditos “primitivos” se sentem pertença da natureza e objectos de interesse para os outros animais e plantas numa espécie de reciproci- dade perceptiva.

Este conceito de reciprocidade perceptiva, que David Abram encontrou nos índios Koyukanus conduz-me ao meu objectivo principal, antes de chegar à apresentação dos médicos portugueses que foram, ou são, criadores artísticos e culturais.

E o objectivo é discutir o que é a criatividade, como se manifesta e como é modulada.

Direi, a abrir, que a criatividade é um acontecimento que ocorre na autoconsciência humana e se manifesta por uma decisão pessoal que é modulada pelos conteúdos memorizados resultantes das percepções cognitivas.

O acto criativo é individual e depende da forma como esse indivíduo interiorizou o seu “modelo” de mundo. É o tipo de mundo que ele tinha na sua cabeça, que vai orientar o tempo e o modo dos seus actos criativos.

Porque cobriu muitas das suas percepções com o sentido estético, ele está preparado para a criatividade estética. Porque atribuiu a diversas percepções um significado ético de Bem e de Mal, ele está capacitado para criar expressões de conteúdo ético. E porque, finalmente, o seu cérebro supratalâmico e cortical guar- dou, das suas percepções, uma sentiência afectiva e uma elaboração intelectual, ele está nas boas condições para criar obras de grande qualidade estética, de visão ética e de requintado valor emocional e racional.

Quero assim afirmar – e sei que corro riscos – que toda a criatividade humana é um produto da biografia do criador. A biografia, como história memo- rizada de experiência de vida, de cognições perceptivas, bem transformadas em afectos e sentimentos e geradoras de diversas, múltiplas e imprevisíveis ideias abstractas, modula o criador artístico.

Com esta base entro na análise do tema proposto: muitos médicos são criadores artísticos.

Respondo rapidamente: porque têm experiências de vida singulares. Escrevendo um dia sobre o “médico na cidade insalubre”, afirmei: “Entre o in e o out, entre a pessoa física, mental, social e espiritual, de um lado, e o out, que é tudo o que a envolve, há um conflito constante: a pessoa actua sobre o mundo, o mundo actua sobre a pessoa.”

No caso do médico, o mundo mais próximo são as pessoas que o procu- ram e se declaram doentes, apresentando-lhe uma narrativa pessoal de vida, que conduz a uma perturbação que se tornou insuportável.

Pode ser micróbio a origem de tal perturbação, mas a intervenção do mi- cróbio acontece numa certa pessoa, que tem um modelo do mundo e nele situa o que consigo acontece; que interpreta e valoriza o que sente – que é a acção do tal micróbio – em função de uma história pessoal e que espera que o médico a enten- da em toda a sua profundidade.

Não basta ao médico matar e silenciar o micróbio para que a perturbação deixe a pessoa que se lhe confiou. Ele vai ter de entender aquela pessoa, de a integrar num contexto social, familiar, profissional, cultural, relacional.

Ou seja, vai ter de construir, a partir do pedido de ajuda, a personagem, a pessoalidade, de quem pede, em toda a sua complexidade de ser humano, no mundo.

Não me admira nada, portanto, que os médicos sejam escritores realistas como o Fernando Namora dos Retalhos da vida de um médico, que são a prova provada do que afirmo.

A criação artística, nos médicos, brota do exercício da sua profissão, que os obriga a mergulhar no que de mais sublime ou escabroso, de mais humilde, ou heroico, de mais penoso, humilhante ou violento tem o viver dos humanos. Que os força a navegar pelos meandros de intimidades complexas, que roçam a insani- dade, e a admirar, com respeito, capacidade raras de aceitação do sofrimento e de vivências tranquilas da morte próxima. Que os faz reflectir em como a perda de um filho jovem leva ao desmoronamento súbito de um edifício pessoal que pare- cia tão sólido. E muitas outras “estranhas formas de vida” que levam a pessoa a procurar a ajuda do médico e permitem que ele como que viva, por interposta pessoa, as mais ricas, complexas e alucinantes experiências vitais.

Todas estas percepções, directas ou indirectas, reais ou representadas na autoconsciência, constituem um poderoso acervo de matéria-prima para a criação artística.

Pela palavra, pela imagem, pelos objectos. Principalmente pela palavra.

MÉDICOS NA CRIAÇÃO LITERÁRIA

Apresentarei seguidamente alguns médicos que foram, ou são, escritores e criadores culturais, procurando, numa breve análise crítica das suas realizações principais, carrear argumentos para a minha tese de que os médicos são artistas, porque as suas experiências de vida profissional os aproximam muito de uma interpretação emocional e racional das complexidades do viver dos humanos, no mundo, em sociedade com os outros, e imersos na natureza e na cultura.

Começarei por Júlio Diniz (1838-1871), que é paradigmático. Para além da representação dos acontecimentos que sucediam nas famílias que visitava como médico – o caso da Morgadinha dos Canaviais, por exemplo, em que os adoece- res eram os amores mal correspondidos –, Júlio Diniz analisa-se e figura-se a si próprio no médico João Semana, romanceando-se como o profissional que tinha a seu cargo as vidas dos que o consultavam e a quem dava mais conselhos que mezinhas. Assinala o advento da medicina mais científica na figura do médico novo, Daniel, que chegou da Escola Médica com a cabeça cheia de teorias, mas não estava preparado para compreender as pessoas do campo e, por esta compre- ensão, avaliar e tratar as suas queixas.

Muito do que escreveu nos seus romances só um médico o poderia ter escrito. Na mesma linha, mas em tempos mais recentes, refiro João de Araújo Correia (1899-1985) que exerceu clínica nas terras quentes do Douro profundo, como se fosse uma reincarnação do João Semana, de Júlio Diniz. Escreveu ro- mances e principalmente livros de contos. Muitos dos contos, onde usa uma linguagem directa e coloquial, com palavras do falar popular, parecem saídos da visita médica acabada de fazer e são como que a narrativa do pedaço de vida vivida entre o médico e, por exemplo, uma certa D. Eufémia, senhora na idade madura, cujos achaques sempre se agravavam quando o seu homem ia à cidade e por lá se ficava uns dias...

Júlio Dantas (1874-1960) ficou conhecido por ter sido presidente da Aca- demia de Ciências de Lisboa e ter batalhado, durante muitos anos, por um Acor- do Ortográfico Luso-Brasileiro, construído pelos eruditos académicos dos dois países e que os povos e os governos de um e outro lado do vasto mar atlântico simplesmente desconheceram.

Júlio Dantas foi médico durante pouco tempo. A sua prosa não apresenta sinais de repercutir experiências clínicas. Antes nela se repercute a experiência de vida de quem foi ministro, por duas vezes, da Educação e dos Negócios Estran- geiros na Primeira República e depois, no Estado Novo, embaixador de Portugal no Brasil, de 1941 a 1949.

Foi um dramaturgo de grande qualidade e um poeta menor. A sua peça, a Ceia dos Cardeais, em verso, foi um sucesso nos palcos lisboetas pelo seu ambi- ente palaciano, requintado, e por colocar três cardeais, de Itália, França e Portu- gal, a falar de política europeia, mas principalmente a falar da vivência do amor nos seus respectivos países.

Na linha nacionalista da época do governo de Salazar, escreveu um livro,

Pátria Portuguesa, em que exalta as grandes figuras que marcaram o desenvolvi- mento da nação portuguesa.

No documento A medicina na era da informação (páginas 167-187)