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4. RESULTADOS

4.2. DEFINIÇÃO DE DIMENSIONAMENTOS ESPECÍFICOS

4.2.5. Manobrabilidade a altas velocidades

4.2.5.1. Força lateral

A força lateral é dada pela equação 14 e resulta da massa em movimentação relacionada ao raio de giração da curva.

Para Fyf, que será utilizado, tem-se a equação 15. Fyf = m.c/L (V²/R) (15) Para: m = 235 Kg V = 12,3 m/s R = 10,1 m c = 0,636 m L = 1,4 m Tem-se: Fyf = 1615 N

Vale ressaltar ainda nesta seção que para o que se segue, estes dados são tidos como dados críticos, ou dados de limite. Entende-se que a velocidade e raio medido a partir de experimento real são limites para que o veículo testado não tombe ou deslize a ponto de perder desempenho.

4.2.5.2. Centro de rolagem

Para entender como essa força age no conjunto é necessário estabelecer o centro de rolagem do veículo. Como pode-se ver na Figura 22, o “centro de rolagem instantâneo” (IC) é dado por duas linhas traçadas em cada bandeja de suspensão, e, onde essas linhas se interceptarem tem-se o IC dos dois lados do veículo. Para se identificar o centro de rolagem do conjunto (RC) uma linha do ponto onde o pneu toca o solo até o IC contrário deve ser traçada de cada lado, e então analisa-se onde estas duas últimas se interceptam e tem-se o RC.

Figura 22 - Centro de rolagem.

4.2.5.3. Ângulo de rolagem

Para fins de cálculo se considera a força lateral atuando no centro de massa, por tanto, imediatamente identifica-se um momento torcional a partir da distância existente entre o centro de massa e o centro de rolagem. A situação é exemplificada na Figura 23.

Figura 23 - Momento no centro de rolagem.

Fonte: O autor (2018)

Ao ser aplicada em um braço de alavanca de 332 mm, a força lateral gera uma reação em um braço de alavanca contrário de 650 mm no ponto onde o pneu toca o solo. Pode-se descobrir essa reação ao se fazer o somatório de momentos (positivo anti-horário) conforme equação 16.

ΣM = 0 ΣM = - Fy.d + Fr.D (16) Para: d = 0,332 m D = 0,65 m Fy = 1615 N

Tem-se: Fr = 823 N

A partir desses dados parte-se para a obtenção do ângulo de inclinação frontal do veículo em sua condição crítica. Estipulando que o centro de massa esteja exatamente no meio de uma vista frontal, e sabendo que Wfs = 1067 N, pode-se dizer que cada roda frontal recebe uma carga aproximada de 534 N quando o veículo está em equilíbrio e que para esta carga o amortecedor desloca 35 mm. Da mesma maneira, sabe-se que para uma carga menor de 363,5 N, onde o piloto não está tripulado, o amortecedor desloca 15 mm.

Figura 24 - Inclinação do conjunto frontal.

Fonte: O autor (2018)

Com esses dados pode-se estipular o deslocamento do amortecedor através do método de interpolação, ao receber a carga Fz, componente vertical da carga Fr, conforme Figura 23. Para Fz, aplica-se método trigonométrico:

Fz = cos 21°. 823 N Fz = 0,9336 . 823 N Fz = 770 N

Carga Deslocamento

770 N x

534 N 35 mm

363,5 N 15 mm

Aplicando a interpolação tem-se que o deslocamento é de aproximadamente 63mm. Aplicando tal deslocamento na modelagem, e aliviando o amortecedor oposto pode-se dizer que o ângulo de rolagem crítico do veículo é de aproximadamente 5,65º conforme a figura 24.

4.2.5.4. Camber e Kingpin

Sabendo como o veículo irá se comportar em curvas pode-se agora definir os ângulos de inclinação da roda. Sabe-se que a inclinação do kingpin atua como uma variação do ângulo de camber do veículo, e para definir a variação máxima necessária considera-se a configuração crítica.

Na seção anterior se descobriu a inclinação sofrida pelo veículo a partir da força lateral desenvolvida pelo mesmo. O que não se definiu foi a posição angular das rodas em tal situação. Observando a equação 15, percebe-se que as variáveis envolvidas são a velocidade em que o veículo desenvolve a curva e o raio da mesma. Entendendo que a força lateral é o limite de manobrabilidade do carro subentende-se que ela será a mesma em uma curva de raio menor, porém o carro entrará na curva com uma velocidade mais baixa. Validando esse raciocínio através de cálculos reversos e teste prático, pode se tomar como base para calcular a variação de camber, os dados do posicionamento geométrico descrito na seção 4.2.3 da definição dos princípios de Ackermann, onde tem-se definido a angulação das rodas, que servirá como base para um posicionamento orientativo em variação ao posicionamento investigado nesta seção.

Tomando como ponto crítico a roda externa e sabendo-se que o carro em repouso é por convenção de boas práticas configurado com camber de 0,5º, pode-se afirmar que ao girar a roda externa 33,14º o veículo sofrerá uma inclinação de rolagem de 5,65° em sua condição crítica, portanto o camber neste instante deve assumir a angulação de 6,15º. Sabe-se então que ao estarem alinhadas, as rodas estarão com camber 0,5º e que para a mesma assumir a inclinação total do kingpin precisa ser

esterçada ao máximo, 90º. Com esses dados pode se calcular a inclinação do kingpin através de interpolação. δ Camber 1,5° 0,5° 33,14° 6,15° 90° x

* Lembrando que δ = 1,5 devido a configuração toe-in.

Aplicando o método tem-se que o ângulo do kingpin mínimo para que o camber assuma a posição estipulada deve ser de aproximadamente 16,3º.

Um outro fenômeno ainda deve ser apontado nesta seção. O ângulo descoberto tem validade para bandejas configuradas de maneira paralela e não para bandejas que sofrem variação de camber ao trabalharem, como é o caso proposital do veículo em estudo. Ao posicionar a modelagem paramétrica 3D na configuração representativa da situação em estudo, pode-se perceber a variação de camber de 2,67º para 63 mm de deslocamento no amortecedor, conforme Figura 25. Por tanto, para este veículo, a inclinação indicada para o kingpin é de aproximadamente 13,63°.

Figura 25 - Variação de camber por geometria das bandejas.

4.2.6. Método gráfico

Para determinar o dimensionamento geométrico das bandejas de suspensão, da manga de eixo, do braço atuador da cremalheira, e todas as suas respectivas posições, se utiliza o método gráfico de posicionamento que está ilustrado na Figura 26. Em um primeiro momento, é necessário arbitrar algumas medidas, como neste caso, já se sabe o espaçamento lateral entre as rodas, o espaço ocupado pelo amortecedor, já se tem definido o ponto U e também os centros instantâneos de rolagem.

Seguindo o caso em que o ponto U está ao lado externo, segundo REIMPELL, STOLL e BETZLER (2001), deve-se unir o ponto U ao centro de rolagem P1. Na sequência estende-se os segmentos EG e CD encontrando o ponto P2, e este conecta-se ao ponto P1. Conforme a geometria escolhida pelo projetista, a linha UP1 pode se localizar a cima ou a baixo de GD. Adotando que esteja a cima, o ângulo α formado deve ser replicado para cima da reta P2P1. Esta nova reta deve se encontrar com a extensão do segmento EU, formando o ponto P3, que por fim deve ser ligado a C e a extensão dessa reta até encontrar a reta UP1 forma o ponto T final.

Figura 26 - Método gráfico de posicionamento de junções.

É importante destacar que se o sistema pinhão-cremalheira estiver situado a frente do eixo da roda, e consequentemente o ponto U também, este último deve estar localizado ao lado externo do segmento formado por E-G. Se o sistema de direção estiver atrás do eixo da roda, o ponto U então deverá se localizar no lado interno. O ponto T segue este mesmo comportamento.

4.2.7. Resumo

Para modelagem dos componentes de suspensão frontal do veículo mini baja, chegou-se aos seguintes dimensionamentos e posicionamentos:

 Amortecedor com curso de trabalho de 85 mm;  Ângulo de ataque 7°;

 Ângulo de caster 7°;

 Configuração toe-in convergente de 1,5°;  Ângulo de camber com rodas alinhadas 0,5°;  Ângulo de Ackermann externo 33,14°;

 Ângulo de Ackermann interno 43,71°;  Inclinação do kingpin 13,63°;

 Kingpin-offset 46 mm.

 Dimensionamento e posicionamento dos pontos de influência conforme apêndice A.

4.2.8. Sugestão de pesquisa

Ao final da realização desse estudo, entende-se que muitos pontos requerem revisão de estudo, e outros, aprofundamento de estudos, ou ainda, uma mescla entre as duas coisas.

Dentre esses pontos, o principal deles que requer maior necessidade de compreensão e refinamento, é a harmonia e a correlação de funcionamento dinâmico existente entre os princípios de Ackermann, o ângulo de caster e a variação de camber gerada pelo kingpin.

A teoria de Ackermann aqui estudada, considera a arrumação geométrica em um plano 2D, o que não condiz com a realidade aplicada onde se tem variação de camber e caster aplicados na configuração do mecanismo de direção.

Saindo da concepção 2D, e trazendo o sistema de Ackermann para a prática, pode-se perceber que o centro de giração de uma curva deve ser tratado a nível do solo, portanto, a inclinação do kingpin combinado com a inclinação de caster devem prover essa arrumação geométrica conforme a direção é esterçada, conforme pode ser observado na Figura 27.

Figura 27 - Centro de giração ao solo.

Fonte: O autor (2018)

Essa leitura e identificação de geometria faltante, se inclui nos estudos de giração a baixas velocidades, o que remete ao contraponto de que, o estudo e determinação da inclinação do kingpin e a variação de camber foram feitos baseados em dados de giração sob força lateral máxima, portanto, traz-se assim, mais um fator de variável para dentro do conjunto de mecanismo de direção.

O veículo concebido no período de 2016/2017, data que decorreu esta pesquisa, apresenta essas características geométricas, conforme Figura 28, porém elas são resultado, como já mencionado, da aplicabilidade a altas velocidades, o que produziu um resultado aceitável, porém deixa uma necessidade de refinamento ao mecanismo.

Sendo assim, a continuidade principal dessa pesquisa, recai sobre o entendimento e a harmonização entre os princípios de Ackermann aplicados em um centro de giração ao solo, necessitando o desenvolvimento de uma configuração geométrica do mecanismo de direção que concilie a arrumação angular para baixas velocidades com a arrumação angular para altas velocidades.

Figura 28 - Centro de giração em não conformidade.

Fonte: O autor (2018)

5. CONCLUSÕES

A realização dessa pesquisa mostra o quão vasta é a área de dinâmicas veiculares, onde mesmo restringida a um pequeno segmento automobilístico, e dentro deste, a apenas a uma parte dos vários mecanismos que o compõe, tem-se inabarcáveis conceitos e variáveis a serem compreendidos e estudados para a aplicação adequada a um veículo mini baja.

A principal problemática encontrada durante a realização desta pesquisa foi a dificuldade em identificar a bibliografia mínima necessária em âmbito nacional para desenvolver o projeto proposto, sendo necessário recorrer a material estrangeiro para se ter uma melhor abordagem do tema.

Outro fator importante foi a necessidade de adaptação dos conceitos aprendidos, para a necessidade proposta. Sendo necessário domínio de diversas variáveis que orquestradas da melhor maneira puderam proporcionar resultados específicos ao segmento veicular mini baja.

A melhora de desempenho de manobrabilidade do veículo após a realização dos testes em relação aos veículos anteriores demonstra o significado desta pesquisa para a universidade, que a partir deste ponto, passa a trabalhar sob uma nova perspectiva os seus projetos de estudos automobilísticos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BASTOW, Donald. HOWARD, Geoffrey. WHITEHEAD, John P. Car Suspension and Handling. Society of Automotive Engineers, Fourth Edition. Warrendale, PA, 2004. COSTA, V. A. da S., Dimensionamento e calibração de suspensão tipo duplo A para veículos mini baja. 64p. Graduação em Engenharia Mecânica – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.

FERNANDES, M. V. da S., Análise da suspensão e direção de um veículo “off-road” do tipo mini baja. 77p. Graduação em Engenharia Mecânica – Universidade Tecnológica do Paraná. Curitiba, 2015.

GILLESPIE, T.D., Fundamentals of Vehicle Dynamics, Society of Automotive Engineers, Warrendale, PA, 1992.

MILLIKEN, W. F. and MILLIKEN, D. L., Race car Vehicle Dynamics, Society of Automotive Engineers, Warrendale, PA, 1995.

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REIMPELL, J.; STOLL, H.; BETZLER, J. W. The Automotive Chassis: Engineering Principles. 2ª Ed. ed. Woburn: Butterworth-Heinemann, 2001.

SAE. Regulamento baja SAE Brasil, 01 de janeiro de 2018. Disponível em: <http://portal.saebrasil.org.br/programas-estudantis/baja-sae-brasil/regras>. Acesso em: 23 abril 2018.

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