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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2.2. Formação como ferramenta para inserção

A regularidade na abertura de instrumentos convocatórios com a finalidade de normatizar as condições de apoio e fomento às ações culturais e artísticas no município teve início em 2013. Desde então, todos os anos diversos editais ou portarias foram publicadas pela administração pública em um processo de ajustes contínuo por parte de seu corpo técnico visando o aperfeiçoamento de tais instrumentos convocatórios. Em 2013, os editais lançados pela MANAUSCULT foram desenvolvidos internamente sem nenhuma forma de consulta prévia junto aos agentes culturais. Ou seja, foram apresentados à sociedade como instrumentos de fomento cultural considerando apenas o diagnóstico de necessidades do setor feito pela equipe técnica do órgão.

Em 2014, a publicação dos editais e outros instrumentos convocatórios passaram a ser precedidos por consultas públicas ou reuniões com a classe artística em geral, ou com representantes de segmentos específicos como no caso do carnaval e do festival folclórico, iniciando um processo de formação e participação dos agentes culturais visando a melhor compreensão destes em relação às exigências burocráticas inerentes ao chamamento público, e também, buscando o diálogo com sociedade na construção e aprimoramento de tais ferramentas para melhor atender o seu público alvo, em consonância com os modelos democráticos e participativos já adotados em outras instâncias governamentais e considerando ainda o orientado pelo Sistema Nacional de Cultura.

40 A página da Prefeitura de Manaus veiculou a seguinte release em 08/01/2014:

“Representantes de todas as escolas de samba que desfilarão no carnaval participaram da ‘Oficina do Edital Carnaval 2014’, realizada na tarde desta quarta-feira (8), no auditório da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult). O objetivo da reunião é orientar os carnavalescos quanto às exigências do Edital 05/2013, publicado no último dia 30 de dezembro, e promover debate para receber sugestões da classe e, possivelmente, alterar o edital. O encontro será realizado semanalmente, às quartas-feiras, até que sejam sanadas todas as dúvidas.” (MANAUS, 2014)

O diálogo do poder público e a classe artística também foi citado pelo entrevistado abaixo:

“(...) tanto em esfera macro, o federal, quando o Governo Federal resolveu fazer as leis de incentivo, ou mesmo o Sistema Nacional de Cultura, ele foi criando reuniões setoriais com artistas de diversas regiões do país para entender a necessidade do Brasil. E quando a gente afunila para os municípios, para as capitais e para as cidades, a gente tem o mesmo movimento. A criação do diálogo entre categorias artísticas, os produtores e agitadores culturais, para entender se esse mecanismo atende e se ele não atende” (Entrevista – 002)

Nos anos seguintes, com a continuidade das atividades de formação realizadas, observou-se um crescente aumento da participação da sociedade civil nas reuniões com finalidade de debater esses instrumentos de fomento, o que resultou no fortalecimento da participação popular no processo de formulação de políticas públicas para o setor cultural. A partir de então, os editais e demais instrumentos convocatórios publicados pela MANAUSCULT passaram a ser amplamente debatidos pela sociedade, e como consequência, a sociedade e seus agentes culturais ficaram mais seguros para avaliar, criticar e exigir melhorias no processo de chamamento público realizado pelo poder público municipal. Diz a entrevistada:

“Eu fui nas chamadas públicas e eu via que a comunidade ia em peso, assim eu acredito que foi constituído junto, claro que a gente não pode deixar de lado que tem muitas coisas a se melhorar, mas eu acredito que foi constituído no diálogo.” (Entrevista 007)

A formação dos atores envolvidos no “campo da cultura” se dava por meio de oficinas de facilitação, lives explicativas – através das redes sociais da instituição, e, reuniões para repasse de informações com todas as categorias dos profissionais envolvidos nas artes e cultura, independente do segmento. Entretanto, reuniões para editais específicos como hip-hop,

41 audiovisual, carnaval, folclore ocorriam apenas com os agentes, produtores e artistas das áreas do certame vigente por ser aquela ocasião específica para aquela linguagem artística.

IMAGEM 01 – Encontros, reuniões e oficinas de formação

Fonte: arquivo da entidade

Os registros da MANAUSCULT apontam que entre os anos 2015 e 2019 foram realizadas pelo menos 70 (setenta) reuniões, encontros e/ou oficinas com esse profissionais, com o intuito de capacitá-los e ouvi-los. Para os entrevistados:

“Essa continuidade fez com que os artistas buscassem evoluir no sentido de formação, de aprimoramento, porque eles entenderam que o edital não seria mais um lugar de pedir no gabinete. E aí, esse lugar mexeu com toda a categoria, claro, fez uma grande divisão, fez com que muitas pessoas, talvez desistissem desse lugar por não se encontrar naquilo e aí, não foi falta de informação, de capacitação, foi constante nos editais, a participação das pessoas, eu acho que também foi um grande momento da construção dos editais da prefeitura, foi a construção participativa através de sugestões, aquelas reuniões presenciais de apresentar o modelo do edital, as pessoas

42 sugerirem como seria melhor, o que atenderia mais, eu acho que isso foi fazendo com que muita gente também se aproximasse do lugar que não frequentava” (ENTREVISTA – 005)

“Eu acho que seria interessante ter mais oficinas para está dando esse tipo de instrução, para elaboração de documentos, elaboração de Editais, eu acho que no de conexões culturais até acontece, sempre aconteceu com o Café e Teatro, eu acho que acontece toda vez de carnaval, eu não recordo se já aconteceu ou não, mas eu acho que seria interessante essa oficina onde alguém pudesse incluir as pessoas como elaborar um projeto, e dar um direcionamento, não é?” (ENTREVISTA – 008)

Os entrevistados expuseram a necessidade de formação para participação do processo. É por meio desse conhecimento das informações que os atores se envolvem e participam do jogo. Scott e Meyer (1994) estudaram os programas de formação nas organizações e os valores que, sustentam o uso delas. Os teóricos inferiram que o incentivo para a capacitação tem origem nas estruturas e necessidades concebidas pelos elementos do ambiente e não em necessidades técnicas explícitas. Logo, dizem que o que ocorre é uma troca dos modelos de formação rígidos tecnicamente por um modelo bastante institucionalizado, com a capacidade de legitimar as organizações que fazem seu uso.

“eu acho que precisaria ter um tipo de formação mais pesada com os agentes culturais, para poder... Estiver mais claro como escreve, mais oficinas, mais encontros, fomentar a organização social desses agentes, que eu acho que precisa estar organizado, você consegue reivindicar coisas mais concretas que vão gerar alguma ação mais concreta, modificações mais concretas, eu acho que é isso, acho que são os desdobramentos da existência desse edital que poderia... Que eu acho que seria muito positivo” (ENTREVISTA – 007)

Ademais, a formação é relevante por contribuir para conter os perigos da burocracia em seu excesso, a burocratização. Nesse sentido, Weber (1999) aponta “à necessidade de garantir condições para a formação de lideranças independentes e capazes de submeter o poder dos burocratas a uma direção coerente e a um controle efetivo”.

Ao oferecer capacitação e formação aos atores sociais envolvidos, a instituição oferece um dos dispositivos preparatórios para aumentar ou enfatizar as bases do poder que é estabelecer poder de informação. Este poder, conforme proposto por Raven (1992) “Apresenta um background informacional, o qual pode subsequentemente servir para aumentar a influência baseada em informações”.

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