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A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

4 UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE GEOGRAFIA EM DUAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DO

4.1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

Os Projetos Político- Pedagógicos dos cursos de Geografia foram obtidos através de contato direto com as duas universidades públicas do Estado de Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Na UFSC, o documento foi disponibilizado na página da internet do Departamento, mas em uma versão que não contempla todas as modificações finalizadas, e foi a partir desse documento que as primeiras impressões e entrevistas foram realizadas. Somente na finalização do projeto de tese, durante entrevista com a Chefia de Departamento, confirmando algumas informações, percebi que o documento publicado na rede não correspondia ao que fora aprovado pelas instâncias superiores. Assim, busquei na Pró Reitoria de Ensino de Graduação, o acesso ao projeto aprovado e em execução, que me possibilitou uma leitura mais cabal do trâmite Institucional.

Na UDESC, alguns meses após solicitação de acesso ao documento, o PPP foi liberado na página on line do curso, sintetizada. O documento na íntegra foi conseguido por contato pessoal, com um membro da comissão que coordenou a proposta de Reforma Curricular e, posteriormente, o Projeto Pedagógico. Dessa forma, foi possível iniciar a leitura e realizar os primeiros contatos com professores daquela instituição, com o propósito de compreender o processo de discussão, elaboração e concepções que fundamentam o curso. Também no Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI42 procurei identificar qual o destaque que as IES em estudo dão às Licenciaturas.

O Plano de Desenvolvimento Institucional preconiza que a instituição se compromete com os projetos aprovados nos cursos, em termos de pessoal e infraestrutura e com a formação, através desse planejamento estratégico. Nas instituições pesquisadas, os documentos orientam o processo a ser realizado nos cursos de forma integrada e coletiva; ressaltam a necessidade de agregar valores humanistas ao

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O PDI é uma exigência legal e “dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de Graduação e seqüenciais no sistema federal de ensino” (art.1º). Com base no Art.16 o Ministério da Educação (MEC) define o PDI como: “o documento que identifica a Instituição de Ensino Superior (IES), no que diz respeito à sua filosofia de trabalho, à missão a que se propõe, às diretrizes pedagógicas que orientam suas ações, à sua estrutura organizacional e às atividades acadêmicas que desenvolve e/ou que pretende desenvolver.” (BRASIL, MEC, Decreto nº 5.773, de 09 de maio de 2006, p. 1)

conhecimento e às práticas técnico-científicas, adotando-se como base um referencial teórico-metodológico dirigido a uma relação docente democrática, atualizada, cooperativa e construtiva; devem observar a flexibilização curricular, compreendida como proposta de organização de conteúdos, de modo a possibilitar aos estudantes uma maior mobilidade interna e externa; definem as atividades complementares e de extensão, entre outros indicadores.43 Não há especificidades relativas à Licenciatura, a não ser elencadas nos temas gerais. Mas, em uma delas há referências em relação à praxis de seus profissionais no ensino e na pesquisa, como segue:

O professor da UDESC desenvolve uma “práxis” educativa onde ocorre o entrelaçamento teoria e prática, o que é viabilizado pelo entendimento comum aliado ao esforço institucional. Através da integração entre ensino, pesquisa e extensão, o professor tem melhores condições para gerar e transmitir o conhecimento científico, entendido como uma atividade social, mediatizado pelo contexto histórico onde se realiza. (PDI/UDESC, p. 61).

Acredita-se ser possível uma práxis educativa onde ocorra o entrelaçamento entre (teoria e prática) ensino, pesquisa e extensão. Entretanto, essa prática só será viabilizada se houver um entendimento comum aliado a um esforço institucional. (PDI/UDESC, p. 130).

A pesquisa será um instrumento privilegiado para garantir a sólida formação teórica e interdisciplinar, sendo que essa (a pesquisa) é entendida como reflexão e teorização sobre uma prática educativa concreta. Nessa concepção, a pesquisa será também o eixo articulador da teoria/prática, entendida aqui como práxis. (PDI/UDESC, p. 225).

A referência à práxis educativa, no PDI/UDESC, remete à articulação teoria-prática-teoria, o que aponta para uma orientação de

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Maiores detalhes sobre o documento institucional pode ser visto em http://www.cienciasbiologicas.ufsc.br/reforma/dcn.pdf.

método aos seus profissionais. O documento informa que esse compromisso é com o desenvolvimento do Estado de Santa Catarina de forma indutiva, propositiva “e não movido por demandas localizadas” (PPP/UDESC, 2008, p. 109). Vazquez (2007, p. 219), afirma que “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. Nessa concepção, a práxis é uma atividade conscientemente orientada, o que implica não apenas as dimensões objetivas, mas também subjetivas da atividade. Para esse autor, não se trata de atividade social transformadora, que se limita à transformação da natureza, da criação de objetos, de tecnologias; mas, também, em relação ao próprio homem que, na mesma medida em que atua sobre a natureza, produz e transforma a si mesmo. Nesse sentido, o documento orienta que:

O professor da UDESC deve concretizar a presença da pesquisa no ensino, substituindo a mera reprodução, gerando e transformando conhecimentos a serviço da sociedade e, da mesma forma, efetivar a presença da extensão no ensino, articulando-o com a pesquisa, inserindo-o na realidade e respondendo aos problemas concretos. (PDI/UDESC, 2008, p. 61).

Esse é indiscutivelmente um posicionamento a favor da indissocibilidade do trabalho docente remetendo à perspectiva esperada dessa orientação e, também, ênfase na presença da pesquisa no processo de educação de seus estudantes. A referência à Licenciatura, de todos os cursos, aparece nas Metas do item Ensino, Pesquisa e Extensão, abaixo citados na Tabela 2, às vezes de forma generalizada.

Tabela 2 - Política de Ensino, Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão – 2006 -2010 / PDI/UDESC

Fonte: Resumo das informações apresentadas no PDI/UDESC, 2007.

As trinta primeiras páginas e as trinta últimas se referem aos aspectos de sua origem, seus objetivos e inserção nas questões regionais e estaduais, relatam a forma integrada de atuação junto aos órgãos de Planejamento e Desenvolvimento Regional, bem como o plano de ação para alcançar suas metas. Aponta como missão,

No seu papel de universidade, deverá cumprir uma missão cultural (conservação e transmissão do conhecimento), uma missão investigadora (organização e desenvolvimento do conhecimento) e uma missão social (a serviço da comunidade). (PDI/UDESC, 2008, p. 109 -110) A Instituição não identifica, em seu plano de desenvolvimento institucional, o conhecimento como motor das transformações político

econômicas e sociais, inerente ao trabalho intelectual44 crítico e que também é uma demanda social. Isso vai aparecer, com maior ou menor ênfase, nos PPPs dos cursos.

Esse documento mais geral apresenta as áreas prioritárias para capacitação docente estabelecidas pelos Departamentos; Geografia e História aparecem unificadas nessa intenção e definem os seguintes temas: Estado, Políticas Públicas e Movimentos Sociais; Sociedade, Memória e Educação; Multiculturalismo: História, Educação e Populações de origem Africana; Formação do Educador: Teoria e Prática Pedagógica; Educação à Distância (PDI/UDESC, 2008, p. 64).

Em várias partes do documento os aspectos relacionados à Licenciatura são explicitados quanto a sua inserção como extensão, como formalização institucional quanto à participação dos estudantes em outros órgãos públicos, referidos como:

(...) inclusas a cooperação acadêmica, científica e técnica com universidades estrangeiras, as parcerias com empresas privadas, no ramo da indústria e comércio com o objetivo voltado ao ensino, à pesquisa e à extensão, destacando-se que, no ensino, a finalidade maior é a introdução dos alunos formandos nas atividades produtivas em tempos de estágio curricular. As parcerias também são estabelecidas com o setor público, quando os concluintes das Licenciaturas ou Bacharelados são insertos nas escolas, nas instituições culturais e demais órgãos públicos, sejam pertencentes às autarquias estaduais ou ao domínio municipal (PDI/UDESC, 2006, p. 60). Como orientação institucional, quando se reporta ao ensino, refere que a pesquisa e a extensão devem estar presentes, na formação. Na Geografia o ingresso é único e a habilitação requerida pelos estudantes é realizada durante o curso, tendo possibilidade de se graduar como bacharel e licenciado. Um formato também presente na UFSC e na maioria dos cursos de Geografia do país.

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Gramsci, nos Cadernos do Cárcere, tenta mostrar que as pessoas que desempenham papel intelectual na sociedade podem ser divididas em dois tipos: 1. os intelectuais tradicionais, como professores, clérigos e administradores que, por gerações continuam fazendo a mesma coisa; 2.os intelectuais orgânicos, diretamente ligados a classes ou empresas, cujo papel era organizar interesses, adquirir mais poder e obter maior controle.

A Geografia é um dos dois cursos que participa do Programa de Educação Tutorial45 – PET - com bolsas concedidas pelo MEC/SESU – Ministério de Educação e Cultura e Secretaria de Educação Superior. Esse programa objetiva:

I - desenvolver atividades acadêmicas em padrões de qualidade de excelência, mediante grupos de aprendizagem tutorial de natureza coletiva e interdisciplinar;

II - contribuir para a elevação da qualidade da formação acadêmica dos alunos de Graduação; III - estimular a formação de profissionais e docentes de elevada qualificação técnica, científica, tecnológica e acadêmica;

IV - formular novas estratégias de desenvolvimento e modernização do Ensino Superior no país; e

V - estimular o espírito crítico, bem como a atuação profissional pautada pela cidadania e pela função social da educação superior (Portaria MEC nº 976, de 27 de julho de 2010).

O programa oferece doze bolsas sob tutoria, com diversificadas atividades acadêmicas e apresenta-se como estratégia para suplantar a relação entre teoria e prática. Permite aos estudantes, em contato com a realidade profissional, refletir sobre os modelos que se apresentam durante toda sua escolaridade, superando a reprodução acrítica de atuação pedagógica propondo uma articulação dialética entre teoria e prática. Esse programa teve início em 1979, sob coordenação da CAPES e passou para o MEC/SESU em 1999. No curso de Geografia da UDESC o PET iniciou nos primeiros anos do século XXI e vem favorecendo uma maior presença da profissão, estreitando laços com a Rede Pública de Ensino.

Na UFSC, a partir de 2012, teve início o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), com alunos da Prática de

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O Programa de Educação Tutorial foi oficialmente instituído pela Lei 11.180/2005 e regulamentado pelas Portarias nº 3.385/2005, nº 1.632/2006 e nº 1.046/2007. A Portaria 976/2010 inova a proposta de estrutura do PET acrescentando, por ex., a flexibilização e dinamização da estrutura dos grupos, a união do PET com o Conexões de Saberes, a definição de tempo máximo de exercício da tutoria, a aproximação com a estrutura acadêmica da universidade e a definição de estruturas internas de gestão do PET.

Ensino II. A iniciativa está vinculada ao Departamento de Metodologia de Ensino – MEN – e não ao curso de Geografia.

Nessa universidade, foi criado, em 1994, um núcleo de estudos e pesquisas com o objetivo de reunir professores e estudantes interessado no ensino da Geografia, nos vários níveis de ensino. Assim foi constituído o Núcleo de Ensino e Pesquisa em Geografia - NEPEGeo. Buscava-se, naquele momento, um diálogo na Universidade que possibilitasse uma contínua reflexão sobre as práticas da educação geográfica, profundamente referenciada nos discursos teóricos que se manifestavam desde a virada de 1978, em Fortaleza (Ceará), no Encontro da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB). Uma educação para a construção de uma cidadania ativa e crítica.

A Universidade Federal contempla em seu campus mais antigo (Florianópolis), os três níveis de ensino, desde 1961, quando foi criado o Ginásio de Aplicação (atual Colégio de Aplicação - CA), somando-se, em 1979, o Núcleo de Desenvolvimento Infantil – NDI. A possibilidade de aproximar esses níveis de educação estava posta para as experiências, as reflexões pedagógicas e seus desdobramentos na sala de aula. O modelo de educação nos cursos de Geografia, desde sua implantação, perdura ainda hoje com poucas alterações - a racionalidade técnica nos moldes “3+1”: três anos de conteúdos específicos e um de disciplinas pedagógicas46 que, regra geral, não se relacionam com aqueles, tornando dissociados os conhecimentos dos dois campos. Ao longo das décadas, o CA/UFSC tem sido referência e, apesar de carreiras diferentes, contempla a trilogia ensino, pesquisa e extensão. Essa presença de uma escola básica, no campus, tem proporcionado, permanentemente, uma aproximação entre os educadores envolvidos com a educação de professores.

No PDI / UFSC, os cursos de Graduação, o Colégio de Aplicação e o NDI estão vinculados à Pró-Reitoria de Graduação. Para as Licenciaturas essa universidade tem expandido seu campo de atuação, criando novos campi, e investindo na Educação à Distância (EaD) desde 2004 e integrando a Universidade Aberta do Brasil (UAB). O curso de Geografia não está envolvido nesse programa, resistindo às pressões e incentivos financeiros que acompanham a política para a EaD.

Não é apresentado nesse PDI, o Fórum das Licenciaturas criado em 1993, com o objetivo de “tratar mais organicamente as questões

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A didática é uma das características da profissão docente e deveria perpassar todas as salas de aulas, o que diminuiria os estranhamentos apontados pelos estagiários ao frequentarem as disciplinas do Centro de Educação.

relacionadas à formação de professores para a Educação Básica” (BAZZO, 2008, p. 25). Há mais de dez anos desarticulado, mas fundamental como articulador institucional, de discussão e debate entre os cursos. A presença de uma coordenação, fórum, enfim, uma instância que agregue os cursos de Licenciatura está prevista desde 1999 pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução CNE/CP Nº 1/1999), quando foi criada a figura dos Institutos Superiores de Educação.

Esta ausência no planejamento institucional denota a falta de perspectiva de resgatar o Fórum, apesar da existência de uma política institucional que regulamenta as Licenciaturas. Nesse documento (PDI) as questões relativas às Licenciaturas aparecem com ênfase na EaD, no PROLICEN47 e em dois itens destacados abaixo,

 Além do desenvolvimento de tecnologias e inovações e capacitação para ocupação de postos de trabalhos no mercado industrial, é importante o papel que a UFSC assume para a região na formação de professores para atuação no ensino fundamental, médio e superior.

 Fortalecer os cursos de formação de professores na UFSC, incluindo professores especializados no ensino à distância. (PDI/UFSC, 2009, p. 30). O acompanhamento dos PPPs para o atendimento às DCNs é uma das metas estabelecidas no PDI, com vistas à reestruturação dos cursos com duas habilitações – Bacharelado e Licenciatura.

Não há um plano específico para as Licenciaturas, nas duas IES, dentro dos PDIs que se apresentam de forma mais administrativa, organizacional. Uma delas apresenta uma contextualização e orienta para uma perspectiva de método e a outra é basicamente objetiva e técnica. Seguem um padrão estipulado na sua origem, artigo 16 do Decreto n. 5.773 / 2006 que “Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de Graduação e sequenciais no sistema federal de ensino”, documento que, entre outras orientações, pede objetividade e factibilidade. É nos PPPs que se espera um aprofundamento nas

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O PROLICEN vem sendo desenvolvido, como um Programa SESu-MEC, visando a valorização de Licenciaturas e a interação da Universidade com a rede pública de ensino. Esse trabalho recebeu um novo impulso com a aprovação do Programa de Bolsas para os cursos de Licenciatura. Na UFSC esse programa teve inicio em 2008 e atende aos cursos de Física e Matemática.

discussões das áreas específicas, resultando no documento basilar que orienta os cursos.