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4 CAPÍTULO IV A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E O ENSINO

4.1 A escola indígena sergipana e a escola indígena mato-grossense:

4.1.3 Formação dos professores atuantes nas escolas analisadas

Considerando então o quantitativo reduzido de alunos, e a possibilidade de uma prática pedagógica mais efetiva, na qual o aluno possa interagir com maior ênfase junto ao professor, e dessa forma possa expressar suas concepções, sejam elas de senso comum ou mesmo a partir do que o aluno observa nos livros didáticos, faz-se necessário que o professor tenha uma formação que o permita trabalhar adequadamente os conteúdos de acordo com as necessidades dos alunos.

Sobre a formação dos professores que trabalham nas duas escolas analisadas, ao se referir inicialmente a escola indígena mato-grossense constatou-se por meio da pesquisa de doutorado Lopes (2012) que todos os professores dessa escola foram formados no Magistério pelo Projeto Tucum34 e nas licenciaturas pelo Terceiro Grau Indígena35, portanto, os professores que exercem atividades didáticas naquela instituição possuem a formação específica para tal cargo, podendo atuarem tanto no Ensino Fundamental como no Médio.

Ainda considerando o que se recomenda no RCNE/indígena (BRASIL, 1998) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Escolar Indígena, os professores lotados na escola mato-grossense são de origem da própria aldeia. Isso, na concepção expressa nos documentos oficiais, é um aspecto importante no processo educacional dos alunos indígenas, visto que os professores, sendo de origem indígena, terão uma condição melhor de discutir a relação entre o conhecimento científico e as crenças de cada povo (LOPES, 2012).

No tocante aos professores que atuam na escola indígena sergipana, os mesmos possuem formação na área em que lecionam, mas não são de origem indígena; moram numa cidade do estado de Alagoas, vizinha a comunidade Xokó. Os professores são formados em instituições particulares de ensino do estado de Alagoas, e, portanto, apesar de terem a graduação, não possuem curso de formação específico na área educacional indígena como é prevista na legislação para lecionar na EEI (OLIVEIRA et al., 2013).

Dessa forma, compreende-se que o processo de escolarização dos índios da tribo indígena sergipana pode não favorecer o desenvolvimento sociocultural e acadêmico esperado para os povos indígenas, visto que, considerando as especificidades do grupo e as

34 O Projeto Tucum foi criado a partir de 1995 pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC) e ofertou aos professores indígenas daquele estado o Curso de Habilitação no Magistério, em nível Médio. O projeto teve como objetivo, formar professores indígenas para atuarem nas séries iniciais do Ensino Fundamental das escolas indígenas (LOPES, 2012, p. 15).

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Criado oficialmente em 2001, o Projeto de Formação de Professores Indígenas - 3º Grau Indígena, foi elaborado a partir de discussões da Comissão Interinstitucional e Paritária que iniciou as discussões sobre a formação de professores indígenas em nível superior. A Comissão era constituída por representantes da SEDUC/MT, FUNAI, CEE/MT, CEI/MT, UFMT, UNEMAT, CAIEMT e representantes indígenas.

necessidades em se trabalhar o contexto histórico da formação daquela comunidade, seria necessário que os professores tivessem um conhecimento aprofundado sobre tal assunto.

Além disso, as crenças do povo indígena em Sergipe, as manifestações religiosas, seus hábitos e costumes precisam ser valorizados, e dessa forma, compreende-se que a função do professor no cotidiano da sala de aula é imprescindível para se alcançar este proposito, pois, ao participar da vida ativa dos alunos ter-se-á a possibilidade em fazê-los perceber a relevância da cultura ali difundida, fazendo com que, ao respeitarem sua própria organização social, possam compreender e respeitar as diferenças observadas nas demais comunidades.

Em relação a este aspecto, Oliveira et al. (2013) destaca que

O Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNE/Indígena) é claro quanto à necessidade de formar profissionais capacitados a desenvolver atividades que contemple aspectos culturais e sociais dos alunos, não só para professores que irão atuar em escolas indígenas, mas também nas demais escolas do país, a fim de que se tenha um ensino mais amplo, considerando essas necessidades que estão presentes nas salas de aula, no que se refere à diversidade de opiniões, culturas realidades dos alunos. Assim o Referencial Curricular para as Escolas Indígenas proporciona subsídios para que se possa desenvolver e introduzir programas de educação escolar que melhorem e atendam aos anseios das comunidades indígenas. (OLIVEIRA et al., 2013, p. 13).

Nesse contexto, sabendo da necessidade em se aprimorar o trabalho do professor para que possam atingir os objetivos propostos para o atual processo de escolarização indígena, percebemos que a formação específica para os professores insere-se como uma etapa fundamental na estruturação de todo o processo, especialmente, quando não se tem condições de se oferecer professores com origem na própria aldeia. Casos como este é observado na comunidade indígena sergipana em que não se percebe, a princípio, cidadãos aptos para investidura no cargo.

Portanto, o que acontece na EEI e muitas vezes em boa parte do sistema educacional brasileiro, em termos da não formação específica dos professores que atuam nas escolas, contribui para que o aluno não identifique a relevância dos conteúdos científicos em seu cotidiano, pois, a ausência de formação de acordo com a legislação, mesmo quando a prática pedagógica é realizada por professores de áreas consideradas próximas, como por exemplo, nas Ciências Naturais em que professores de Física assumem as aulas de Química e vice- versa, acaba por prejudicar a interação professor aluno, fator imprescindível para construção do conhecimento.

Dessa forma, se considerarmos que os professores que lecionam na educação indígena além de não ter origens na comunidade, não tiveram uma formação específica e, nem

tampouco mora na localidade onde trabalha, a probabilidade de atingir os objetivos da escolarização dos indígenas é mínima. Assim, os alunos que frequentam esta instituição escolar irão permanecer com a concepção de que não há distinção entre as culturas do índio e dos não-índios, prevalecendo a ideia do integracionismo.

Portanto, compreende-se que é preciso, além da formação inicial específica, que se ofereçam cursos de formação continuada para os professores da EEI, visto que a sala de aula é um ambiente dinâmico e, em se tratando de uma comunidade tradicional, em que os aspectos sociais e culturais da comunidade devem ser valorizados, faz-se necessário que o professor esteja atento para estes pontos durante o planejamento e efetivação da prática pedagógica.

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