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2 CIDADANIA: LUTA POR DIREITOS E POR PARTICIPAÇÃO

5.2 Formação intelectual de Assessores/as educacionais para Assuntos da

5.2

Formação intelectual de assessores/as educacionaisFormação intelectual de assessores/as educacionais

para Assuntos da Comunidade Negra no Estado de São

para Assuntos da Comunidade Negra no Estado de São

Paulo

Paulo

Neste item apresento dados sobre a formação intelectual de assessores/as educacionais para Assuntos da Comunidade Negra no Estado de São Paulo encontrados nos documentos e/ou nos estudos supracitados.

Esses/as assessores/as formavam e se formavam por meio da ideia de “Educação Humanitária”. Uma proposta de “Educação Humanitária” – conceito que Rachel de Oliveira vai consolidando ao longo do tempo e que resulta na passagem do livro de sua autoria Tramas da cor – que consiste em uma tomada de consciência que remete ao exercício da cidadania e desenvolvimento das potencialidades, combinando-os ao combate a práticas desumanizantes e à busca da dignidade humana (OLIVEIRA, 2005, p.91).

Essa ideia de “Educação Humanitária” (OLIVEIRA, 2005) estava presente e orientava as ações dos/as assessores/as educacionais para Assuntos da Comunidade Negra como podemos constatar na passagem a seguir que trata de considerações do GTAAB:

O que se pretende é avaliar o que cada pessoa pode tirar de dentro de si, ou como cada indivíduo pode contribuir para que todos nós brasileiros possamos exercer sem reservas nossa cidadania, desenvolvamos integralmente nossas potencialidades, cresçamos

O contexto de implantação da assessoria educacional para assuntos da...

intelectualmente, façamos dessa nação uma potência (OLIVEIRA, [ca. 1987], p. 2-3).

Outro aspecto importante para a formação dos/as assessores/as foi a formação de grupos de estudo para discutir questões como: referências teóricas sobre educação e relações étnico-raciais, história e cultura de povos africanos, contribuição dos/as negros/as para a sociedade brasileira, Constituinte, entre outras (OLIVEIRA, [ca. 1986], p. 4). Isso também é destacado por Oliveira (1992), no trecho a seguir:

o GTAAB era um novo espaço conquistado e o cumprimento rápido de seu papel técnico e político, através da operacionalização de suas propostas, era definitivo para consolidar essa conquista. Para tanto, o GTAAB lançou mão de vários recursos: rediscutiu os projetos da Comissão e os encaminhou; fez alianças com setores mais progressistas da Secretaria, fortaleceu sua ligação com os grupos do movimento negro; e, paralelamente, organizou-se internamente para

leituras e estudos de teorias educacionais e sobre raça (OLIVEIRA,

1992, p.34; grifo meu).

Essa formação de grupos de estudo buscava capacitar os/as assessores/as para participar em eventos de cunho acadêmico e/ou político com o objetivo de divulgar os trabalhos da assessoria, sensibilizar representantes de entidades de classe e associações, especialmente do Estado de São Paulo, fazer reuniões com líderes sindicais e com diretores/as executivos/as de associações, com o objetivo de fazer alianças com essas entidades (OLIVEIRA, [ca. 1985]). Os documentos analisados indicam que esses eventos, dos quais participavam os membros da Comissão de Educação e do GTAAB consistiam em espaços de formação. Entretanto, as informações obtidas por meio dos documentos não foram suficientes para chegar a essa constatação. De qualquer forma, as entrevistas forneceram informações que nos habilitaram fazer essa análise.

O GTAAB tinha como desafio:

levar o professor, principalmente o Professor I, a analisar suas posturas frente ao preconceito racial e que esta análise possa levar a uma nova postura pedagógica, cuja finalidade específica é uma perspectiva de mudança pessoal, ou como profissionalmente pode contribuir para impedir que os ecos do preconceito racial ecoem entre as paredes de sua sala de aula (OLIVEIRA, [ca. 1987], p. 3).

O contexto de implantação da assessoria educacional para assuntos da...

Esse desafio do GTAAB visava conscientizar os/as professores/as para lidarem com a questão racial dentro das salas de aula e, ao mesmo tempo, estes/as levantavam questões (como revisão curricular, valorização do educador) que os integrantes do GTAAB foram incorporando para potencializar suas ações. Dessa forma, esses/as assessores/as, ao formarem os/as professores/as e outros agentes educacionais para a temática étnico-racial, também foram se formando.

Santos (2007, p. 163), em suas considerações finais, destaca que experiências como a do CPDCN, da Comissão de Educação e do GTAAB são importantes para grupos marginalizados pela sociedade porque, por meio delas, “várias gerações de militância foram se integrando. Pessoas de diferentes origens partidárias e com histórico de luta pela comunidade tiveram um papel destacado”. Essas considerações de Santos (2007) contribuem para entender a formação de assessores/as educacionais para assuntos da Comunidade Negra porque elas nos apresentam, pelo menos, três dimensões (geração; vinculação partidária; e histórico de luta pela Comunidade) que podem ser analisadas no presente caso.

A questão do “histórico de luta pela Comunidade” é outro elemento importante para a formação desses/as assessores/as, porque eles/as participavam em grupos do Movimento Negro. Essa participação possibilitou que eles/as mantivessem o compromisso com as prioridades e objetivos da Comunidade Negra. Sobre essa questão, Oliveira (1992, p. 27) salienta que:

o trabalho que aqui será descrito foi realizado apenas por um grupo do movimento negro – a Comissão de Educação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo. No entanto, este trabalho foi uma tentativa de encaminhar, dentro de uma secretaria de estado, propostas originárias do movimento negro amplo.

As diferentes orientações partidárias foram equacionadas, no interior da própria assessoria, de forma inovadora. Mesmo essa questão estando presente, o que mobilizava os/as assessores/as a participarem era a postura de combate ao racismo por meio da educação.

No que diz respeito à relação entre diferentes gerações, os documentos não nos apresentam dados suficientes para analisar essa questão. Entretanto, será importante abordá-la durante as entrevistas.

O contexto de implantação da assessoria educacional para assuntos da...

Os próprios espaços do CPDCN, da Comissão de Educação e do GTAAB eram entendidos como espaços de formação. Sobre essa questão, Santos (2007, p. 165) destaca que:

A participação nas comissões do Conselho [no presente caso, na Comissão de Educação e no GTAAB] apresentou-se como componente fundamental para o desenvolvimento individual e para o auto-aprendizado, pois a maioria das pessoas tinha vivido a problemática da discriminação racial. Antes, a forma de enfrentá-la era pessoal mas, depois, tratou-se de um processo para a construção de um cidadão ativo que podia lutar pelo autopoder. A participação foi entendida como forma de moldar e tomar consciência dos próprios interesses.

Como exemplo desse desdobramento da experiência, o período de elaboração da Constituinte “exigiu dos poucos quadros de militantes negros novas aprendizagens para as ações políticas. A questão racial ocuparia lugar nos debates públicos” e, dessa forma, esses/as militantes foram cada vez mais se envolvendo e aprendendo a se colocar em processos de negociação e mediação de tensões, inclusive, internas aos próprios grupos de que eles/as faziam parte (OLIVEIRA, 1992, p. 26).

Essa análise preliminar, apresentada neste capítulo, dos documentos e estudos sobre os/as assessores/as educacionais para Assuntos da Comunidade Negra foi importante para entender a criação e a composição da Comissão de Educação e do GTAAB; conhecer seus objetivos; e identificar esses/as assessores/as. Além desses esclarecimentos, essa análise possibilitou levantar questões sobre a formação intelectual desses/as assessores/as para o roteiro de entrevista. No próximo capítulo, eu apresento as dimensões sobre a sua formação intelectual apontadas por eles/as nas entrevistas.

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EDUCANDO-SE NO COMBATE AO EDUCANDO-SE NO COMBATE AO

RACISMO E FORMANDO-SE ENQUANTO

RACISMO E FORMANDO-SE ENQUANTO

INTELECTUAIS NEGROS/AS

INTELECTUAIS NEGROS/AS

Neste capítulo, apresento as dimensões apreendidas a partir das falas dos/as participantes da pesquisa. Para isso, o contexto de implantação da Assessoria para Assuntos da Comunidade Negra, traçado no capítulo anterior, por meio da análise dos documentos, foi importante para cotejar as dimensões apresentadas a seguir.

Cabe acrescentar que não se trata de julgar se as falas das pessoas apresentam similaridades ou não entre si ou com as informações expressas nos documentos, mas sim de apresentar a diversidade e particularidade de visões a partir do ponto de vista de quem viveu a experiência de ser assessor/a, de ser participante do GTAAB. Os dados serão apresentados, tendo como ponto de partida as questões iniciadoras utilizadas para realizar as entrevistas.

Para apresentar os dados, dividi este capítulo em três itens: Constituição

do GTAAB, no qual destaco elementos das falas dos/as participantes da pesquisa

que nos possibilitam entender o contexto de criação do GTAAB na sua perspectiva;

Formação intelectual de negros/as, item em que identifico e apresento espaços de

formação intelectual dos membros do GTAAB; e Desdobramentos da atuação do

GTAAB, cujo foco é no que a experiência de ser assessor/a contribuiu para a sua

vida e para a Rede de Ensino. Essa divisão em itens foi realizada a partir da análise das falas e também tem como objetivo facilitar a leitura do texto.

Educando-se no combate ao racismo e formando-se enquanto intelectuais...