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De acordo com Vaz, Maia e Santos (2008) a expansão do mercado de gás natural depende fortemente do preço a ser estabelecido, de forma que o combustível seja competitivo e atenda aos seguintes requisitos:

a) Remunerar os investimentos na produção, no transporte e na distribuição;

b) Substituir de maneira competitiva as fontes de energia já utilizadas ou que podem ser usadas em novos projetos;

c) Cobrir os custos ao longo de toda a cadeia produtiva.

Para Prates, Costa e Pastoriza (2005), a indústria do gás natural exige elevado grau de investimento em ativos específicos. O estado gasoso não permite a estocagem de grandes volumes a custos competitivos. Logo, a produção e o consumo devem ocorrer simultaneamente, exigindo uma rede de gasodutos que interliguem as fontes de produção aos mercados consumidores. Desta forma, o transporte e a distribuição do gás natural podem ser definidos como componentes de uma “indústria de rede”. Neste tipo de negócio os custos de implantação dos sistemas são elevados, porém os custos de operação e manutenção são baixos e há uma grande economia de escala. Estas características favorecem a formação de monopólios, denominados naturais, já que após a implantação de um gasoduto não é economicamente viável a um concorrente instalar outro na mesma região. A parcela dos custos de transporte e distribuição do gás natural pode superar os 50 % do preço final do combustível (ALMEIDA e FERRARO, 2013).

Os altos investimentos que devem ser realizados na implantação dos sistemas de transporte e distribuição do gás natural, necessitam de longos prazos de recuperação. Assim, os contratos de fornecimento de gás natural geralmente exigem a manutenção de determinados patamares de preço por longos períodos. Esta prática é normalmente utilizada em todos os países ao redor do mundo (ALMEIDA e FERRARO, 2013).

Outro fator que afeta diretamente a formação dos preços do gás natural é a forte concorrência entre as fontes de energia. De acordo com Almeida e Ferraro (2013) o gás natural praticamente não possui mercado cativo. Isso significa que o preço do gás natural

possui um teto. Caso o preço do gás seja estabelecido acima do preço de substituição dos combustíveis concorrentes, existe a tendência da troca do gás por outros energéticos. A título de exemplo, pode-se citar a concorrência existente entre o óleo combustível e o gás natural. Diversos processos industriais aceitam a utilização dos dois combustíveis. A indústria no momento de adquirir o combustível irá definir por aquele que apresenta menor custo. Caso o gás natural esteja mais caro ele não será utilizado.

De acordo com Monteiro e Silva (2010) a tarifa do gás natural entregue aos clientes, em linhas gerais, é composta por três termos, conforme apresentado na Equação (49).

T = PG + PT + MD (49)

Onde: T é a tarifa do gás;

PG é o custo do gás (commodity); PT é o custo de transporte do gás; MD é a margem de distribuição.

Portanto, o preço do gás natural vendido para as distribuidoras é composto por duas parcelas, a commodity que é destinada a remunerar o produtor, e a tarifa de transporte, destinada a remunerar o serviço de movimentação do gás entre as áreas de produção e de consumo (MONTEIRO e SILVA, 2010).

O preço da commodity do gás natural varia de acordo com índices internacionais vinculados ao preço do petróleo (ESTEVES e MATZ, 2013). Os principais índices são:

Average German Import Price, UK NBP, US Henry Hub e o Japan LNG. Como pode-se

observar estes índices são obtidos, respectivamente, na Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e Japão (BP, 2014). A Figura 38 apresenta o histórico da variação dos índices que regulam o preço mundial da commodity do gás natural.

Observa-se que o índice obtido nos Estados Unidos sofreu uma queda considerável desde o ano de 2008, com uma ligeira recuperação em 2013. A queda nos preços está diretamente ligada a maior oferta de gás natural nos Estados Unidos, possibilitada pelo aumento substancial da produção de gás não-convencional (shale gas). Por outro lado, os preços de gás natural no Japão sofreram um grande aumento nos últimos anos. Esta alta é

devida a redução da geração de energia elétrica em usinas nucleares e ao aumento do consumo japonês de gás natural. O aumento no índice japonês eleva os preços de GNL em todo o mundo, uma vez que, o Japão é o principal importador desta modalidade de gás natural (BP, 2014).

Figura 38 – Índices que regulam o preço da commodity do gás natural (US$/MMBtu) Fonte: BP, 2014

No Brasil, até 1999, vigorava a portaria DNC n° 24/1994, que estabelecia como preço teto para a venda do gás natural, para fins comerciais, o valor equivalente a 75 % do preço do óleo combustível do tipo 1A (VAZ, MAIA e SANTOS, 2008). De acordo com a ANP (2010) a portaria interministerial MME/MF n° 003/2000 fixou preços máximos para a venda do gás natural, de origem nacional, resultantes da soma das duas primeiras parcelas da Equação (49), uma relativa ao transporte e outra relativa ao gás – commodity (PT + PG). O gás natural de origem importada, somente pode ser comercializado em território brasileiro, mediante prévia autorização da ANP.

A partir de 2008 a Petrobras iniciou um processo de negociação de novos contratos com as companhias distribuidoras estaduais. Nesta nova política de preços, o preço do gás natural passa a vigorar a cada trimestre, sendo constituído por uma parcela fixa, atualizada anualmente pelo IGP-M – Índice Geral de Preços de Mercado publicado pela FGV – Fundação Getúlio Vargas, e por uma parcela variável, reajustada trimestralmente seguindo a

variação dos índices internacionais e do câmbio. Na nova política não há qualquer regulamentação de preços. Os valores são livremente acordados entre as partes, cabendo a ANP apenas a arbitragem em casos de conflitos (ANP, 2010). A Tabela 30 apresenta a sistemática das políticas de preços praticadas no Brasil.

Tabela 30 – Políticas de preços de gás natural praticados no Brasil

Política anterior Nova política

Parcela de Transporte:

Atualizada anualmente pelo IGP-M da FGV (Portaria ANP n° 045/02)

Parcela do Produto:

Reajustada trimestralmente pela variação de uma cesta de óleos e pelo câmbio (Portaria MF/MME n° 003/00)

Parcela Fixa:

Atualizada anualmente pelo IGP-M da FGV Parcela Variável:

Reajustada trimestralmente pela variação de uma cesta de óleos e pelo câmbio

Fonte: ANP, 2010

A formação dos preços do gás de origem boliviana segue uma metodologia distinta da apresentada para o gás nacional. O preço do gás entregue para as distribuidoras estaduais é calculado conforme a Equação (50).

Preço = Produto (PG) + Tarifa de Transporte (TT) (50)

A parcela PG é reajustada trimestralmente conforme a variação de uma cesta de óleos, composta de um óleo pesado (HSFO) e dois óleos leves (LSFO) com cotações no golfo americano e no sul e no norte da Europa. O HSFO tem um peso de 50 % na fórmula enquanto os dois óleos leves têm peso de 25 % cada. Existe ainda uma fórmula de amortecimento para evitar oscilações bruscas nos preços. A tarifa de transporte é cobrada levando em conta a distância percorrida entre o local da produção e o ponto de entrega do gás. Essa tarifa é atualizada anualmente de acordo com a Equação (51) (ANP, 2010).

TTt = TCt-1. (1+0,5%) + TMt (51)

Onde: TMt = Tarifa de transporte no ano t. TCt-1 = Tarifa de capacidade no ano t-1; TMt = Tarifa de movimentação no ano t.

As Margens de Distribuição das empresas estaduais de distribuição de gás natural são definidas pelos contratos de concessão. A tendência, principalmente em países mais desenvolvidos, é que cada companhia possua uma estruturação tarifária das margens de distribuição que permita a competitividade das tarifas, possibilite a concorrência do gás natural com outros energéticos e mantenha o negócio sustentável (MONTEIRO e SILVA, 2010).

A partir dos dados dos Boletins mensais de acompanhamento da indústria de gás natural, publicados entre 2007 e 2014 (MME, 2014a) foi possível analisar a evolução dos preços do gás natural praticados no Brasil nesse período. A Figura 39 apresenta a evolução dos preços do gás natural praticados pela Petrobras para venda para as distribuidoras estaduais. No comércio internacional de gás natural a unidade usualmente utilizada é US$ por MMBTU (Dólar por milhão de BTU). A Figura 40 apresenta os mesmos dados utilizando a unidade de R$ por GCal (Reais por Giga Calorias). Nesse caso, a influência da variação da taxa de câmbio é incorporada ao preço. Os dados consideram os preços médios para o gás natural de origem nacional e de origem importada. O período contempla as duas últimas políticas de precificação de gás natural praticadas: Política Anterior (2007-início de 2008) e Nova Política (2008 em diante).

Figura 39 – Evolução dos preços do gás natural para a distribuidora (US$/MMBTU) Fonte: MME, 2014a

Figura 40 – Evolução dos preços do gás natural para a distribuidora (R$/GCal) Fonte: MME, 2014a

É possível observar que os preços do gás natural no Brasil seguem uma tendência de alta em todo o período de análise. A queda acentuada no preço do gás ocorrida entre o fim de 2008 e o primeiro semestre de 2009 está vinculada a crise econômica ocorrida em 2008. A cotação do petróleo atingiu nível recorde de US$ 140 por barril, no primeiro semestre de 2008, sendo que ao fim do mesmo ano a cotação fechou próximo dos US$ 50 por barril (MME, 2014a). A variação do preço do petróleo afeta diretamente a cotação do gás natural, o que explica a alta acentuada e posterior queda nos preços.

A nova política de preços praticada pela Petrobras levou a um aumento gradual nos preços do gás natural. É possível verificar que a partir de 2011 a Petrobras passou a aplicar descontos nos preços da nova política. O desconto inicial no mês de julho de 2011 foi de 9,7 % sobre os preços contratuais. Em julho de 2014 o desconto foi de 35,60 %.

Os aumentos sucessivos dos preços do gás natural têm superado em muito os índices de inflação publicados pelo Governo. A Figura 41 apresenta um comparativo da evolução dos preços do gás natural, praticados no Brasil com os índices oficias de inflação. Observa-se que a variação acumulada dos preços da Commodity do gás natural superou, em muito, a variação do IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, publicado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No período em análise (2008-2014) a variação acumulada do IPCA foi de 44,14 %, no mesmo período a variação do preço do gás superou os

100 %, no caso do gás de origem importada, atingiu 112,2 %. O preço do gás de origem nacional subiu aproximadamente 120 % no período, porém, os descontos praticados pela Petrobras, reduziram o impacto destes reajustes, fazendo com que a variação acumulada dos preços esteja próxima do índice de inflação no período.

Figura 41 – Variação dos preços do gás natural e do IPCA (%) Fonte: MME, 2014a

O aumento sucessivo nos preços do gás natural tem diminuído a competitividade deste combustível. Em muitos casos, o óleo combustível 1A está mais barato que o gás natural. A Figura 42 apresenta a evolução dos preços do óleo combustível e do gás natural, na área de concessão da Comgas, em São Paulo. O comparativo considera a diferença de poder calorífico entre os combustíveis e simula o fornecimento de gás para um cliente com consumo equivalente a 20.000 m³/dia. É possível observar que desde o fim do ano de 2011 o gás natural passou a ser mais caro que o óleo combustível 1A.

Figura 42 – Competitividade do gás natural em São Paulo Fonte: MME, 2014a

7. APLICAÇÃO DO GÁS NATURAL EM FORNOS DE