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2. GÁS NATURAL

3.1. PANORAMA GERAL

Energia primária é aquela fornecida diretamente pela natureza, como a energia hidráulica, petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio, lenha, resíduos vegetais e animais, energias hidráulica, solar e eólica. Por outro lado, a energia secundária corresponde à energia obtida por processos de conversão, resultantes de diferentes centros de transformação. O objetivo da transformação é facilitar o transporte, o armazenamento e a adequação para que o combustível possa ser utilizado da maneira mais eficiente. São exemplos de energia secundária: óleo Diesel, óleo combustível, gasolina (automotiva e de aviação), Gás Liquefeito de Petróleo - GLP, nafta, querosene (iluminante e de aviação), gás (de cidade e de coqueria), coque de carvão mineral, eletricidade, carvão vegetal, álcool etílico, (anidro e hidratado) e outras fontes secundárias (gás de refinaria, coque e outros) (MARQUES et al, 2006).

Durante o século XIX e início do século XX o carvão era o combustível mais utilizado, sendo que após a Segunda Guerra Mundial ele foi sendo gradualmente substituído pelo petróleo. Nas últimas três décadas, o gás natural tem aumentado de forma lenta, mas progressivamente a sua participação na matriz energética. Estes três combustíveis, de origem fóssil, representam mais de 85 % da energia primária do mundo. Outras fontes de energia (nuclear, hidrelétrica e energias renováveis) desempenham um papel muito menor no abastecimento de energia mundial (ECONOMIDES e WOOD, 2009). Porém, as reservas dos combustíveis fósseis são limitadas e estão distribuídas de maneira desigual no mundo. Estes fatores são causa de conflitos armados, como os casos da ocupação do Afeganistão e do Iraque pelos EUA (MARQUES et al, 2006).

A Figura 15 apresenta a evolução das reservas mundiais provadas de combustíveis fósseis. O crescimento das reservas provadas de combustíveis fósseis, entre os anos de 2012 e 2013, foi inferior a 1 %. Os dados para o carvão só foram apresentados para o ano de 2013. Observa-se que o carvão representa cerca de 60 % das reservas mundiais de combustíveis fósseis.

Figura 15 – Reservas mundiais provadas de combustíveis fósseis (mtep) Fonte: BP, 2014

A Figura 16 apresenta as reservas provadas de combustíveis fósseis existentes no Brasil. Observa-se um grande crescimento nos valores, especialmente com relação ao petróleo. De acordo com a ANP (2012) as reservas de petróleo brasileiras cresceram 1,88 % em 2011 com relação a 2010, impulsionadas pelas descobertas do pré-sal. De acordo com Garcia (2002) os carvões minerais brasileiros não são de grande qualidade, pois apresentam alto teor de cinzas.

Figura 16 – Reservas brasileiras provadas de combustíveis fósseis (mtep) Fonte: BP, 2014

De acordo com Vaz, Maia e Santos (2008), o Brasil possui 29 bacias sedimentares, cuja área totaliza 4.650.000 km², sendo que 70 % das áreas estão localizadas em terra, 6 %

localizam-se em áreas costeiras e os 24 % restantes localizam-se em área marítima. Do total das áreas marítimas, mais de 12 % encontra-se em águas profundas, local onde estão as maiores reservas brasileiras de hidrocarbonetos.

As recentes descobertas de petróleo e gás natural, feitas especialmente nas bacias do Espírito Santo e Santos, permitirão ampliar as reservas brasileiras, contribuindo para a manutenção da autossuficiência do petróleo e a redução gradativa da importação de gás natural da Bolívia (VAZ et al, 2008).

De acordo com dados da BP (2014) o consumo mundial de energia primária no ano de 2013 foi 2,3 % maior do que em 2012, fechando o período com um consumo total superior a 12,7 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo. Deste total, 4,2 bilhões de toneladas foram supridas pelo petróleo, que continua sendo a principal fonte de energia primária. Nos últimos 13 anos a participação percentual do petróleo na matriz energética mundial tem sofrido pequenas, mas sucessivas quedas. O carvão mineral com 3,8 bilhões de toneladas e o gás natural com 3 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo completam a lista das três principais formas de energia mundial.

Observa-se, portanto, que os combustíveis fósseis continuam sendo a maior fonte de suprimento de energia primária, porém, pelos dados apresentados, o aumento das reservas tem ocorrido em ritmo mais lento do que o incremento de produção. Desta forma, a relação entre as reservas provadas e a produção tem diminuído ao longo dos anos. A Tabela 5 apresenta as relações reservas provadas por produção para os principais combustíveis fósseis.

Tabela 5 – Relação reservas provadas e produção dos combustíveis fósseis

Combustível Relação Reserva/Produção

(R/P – anos)

Petróleo 53,3

Gás Natural 55,1

Carvão Mineral 113

Fonte: BP, 2014

A BP (2014) define reservas provadas como os volumes obtidos pelas análises geológicas e de engenharia que podem ser recuperados no futuro de reservatórios conhecidos, sob condições econômicas e operacionais existentes.

A relação entre Reserva e Produção - R/P para os combustíveis fósseis no Brasil apresenta números mais baixos do que a média mundial, sendo que a R/P do petróleo brasileiro é de 20,2 anos, para o gás natural a R/P é de 21,2 anos. Para o carvão a relação R/P brasileira é superior a 500 anos, porém este número está ligado diretamente a baixa qualidade do carvão nacional que é pouco utilizado. A maior parte do consumo de carvão no Brasil é suprida por importações (BP, 2014).

Conforme relatório de consumo mundial de energia da BP (2014), dentre os combustíveis fósseis, o carvão mineral é o que possui a maior relação R/P. Contudo, entre os anos de 2013 e 2014 o crescimento do consumo do carvão foi o menor dentre os combustíveis fósseis, com avanço de 0,8 %. A utilização do carvão mineral tem sido limitada pelas leis ambientais mais restritivas, tendo em visto o alto potencial poluidor desse combustível.

Para o período em consideração, o gás natural apresentou um crescimento de 1,4 %, sendo que China, com expansão de 10,8 %, e EUA, com expansão de 2,4 %, foram os principais responsáveis por esse crescimento. Por outro lado, a Índia foi o país que apresentou a maior retração no consumo de gás, com uma redução de 12,2 %. O crescimento médio do consumo do gás natural foi menor do que o observado em anos anteriores. Por fim, o petróleo e seus derivados apresentaram crescimento de consumo igual ao observado para o gás natural, 1,4 % (BP, 2014).

O crescimento do consumo de energia primária tem ocorrido em ritmo mais lento nos últimos anos. O fator fundamental para esta redução são os baixos índices de crescimento econômico dos países industrializados. Por outro lado, os países emergentes continuam sustentando índices de crescimento econômicos mais elevados, o que acarreta aumento na demanda por energia primária nestes países. A China e a Índia têm apresentado nos últimos anos expressivos índices de crescimento de consumo energético, bastante superiores a média mundial. A China e os Estados Unidos representam quase 50 % do consumo de energia primária no mundo (BP, 2014).

A Figura 17 apresenta o histórico do consumo mundial de energia primária nos últimos 25 anos.

Figura 17 – Consumo mundial de energia primária, por combustível (milhões de toneladas equivalentes de petróleo - mtep)

Fonte: BP, 2014

A Figura 18 apresenta a matriz energética mundial nos anos de 2012 e 2013. Observa-se que, no período, as variações foram muito pequenas. A energia nuclear perdeu espaço, especialmente devido a redução da produção japonesa (BP, 2014).

2012 2013

Figura 18 – Distribuição percentual das fontes primárias de energia no mundo Fonte: BP, 2014

Dados recentes publicados no BEN (EPE, 2013) e pela BP (2014), mostram que o consumo total de energia primária no Brasil, em 2013, foi de 284 milhões de toneladas

Carvão Renováveis Hidroeletricidade Energia Nuclear Gás Natural Petróleo

equivalentes de petróleo – mtep, frente ao valor de 274,7 mtep registrado em 2012. A variação de +3,4 % foi superior a média mundial, que chegou a +2,0 %. Este consumo de energia primária posiciona o Brasil como o 8º maior consumidor mundial. A Figura 19 aponta os 25 países que mais consomem energia no mundo.

Figura 19 – Maiores consumidores de energia primária 2012-2013 (mtep) Fonte: BP, 2014 e EPE, 2013

Grande parte dos países desenvolvidos apresentou retração no consumo de energia nos últimos anos, sendo que os maiores recuos foram registrados na Austrália (-7,7 %) e Espanha (-7,6 %). Além da Espanha, diversos países que integram a União Europeia tiveram retração no consumo de energia primária, como por exemplo, Reino Unido, Itália, e os Países Baixos. Por outro lado, os países em desenvolvimento lideram a expansão do consumo de energia primária, liderados pela China, Índia, Indonésia e Brasil (BP, 2014).

Conforme pode ser observado na Figura 20 o consumo per capita de energia no Brasil é inferior a 1,5 tep por ano, desta forma, apesar do Brasil ser um dos maiores consumidores absolutos de energia primária, do ponto de vista de consumo per capita o país apresenta um dos mais baixos índices de consumo de energia do planeta.

Previsões para as próximas décadas apontam um crescimento do consumo mundial de energia, superior ao crescimento populacional. Para a BP (2012) a previsão é de um crescimento superior a 1,5 % ao ano na demanda mundial por energia. O maior crescimento

deverá ocorrer em países emergentes, como o Brasil. A principal utilização dos combustíveis será para a geração de energia elétrica, sendo que para este fim a demanda deverá crescer a taxas superiores a 2 % ao ano.

Figura 20 – Consumo per capita de energia 2012 (tep/ano) Fonte: BP, 2014

Dentre os combustíveis fósseis as previsões indicam que o gás natural deverá ter o maior aumento na demanda, cerca de 2 % ao ano, ao passo que a demanda pelo carvão deverá subir pouco mais de 1 % ao ano e o petróleo crescerá menos de 1 % ao ano. Desta forma, a participação do gás natural na matriz energética mundial deverá subir dos atuais 24 % para 26 % (BP, 2012).

Já para o Energy Information Administration – EIA (2011), vinculado ao governo dos Estados Unidos o consumo de energia deverá crescer mais de 50 % entre os anos de 2008 e 2035, sendo que os combustíveis fósseis corresponderão por cerca de 80 % da demanda. Porém, os combustíveis líquidos deverão apresentar um recuo na participação, ao passo que o consumo de gás natural deverá crescer a uma taxa de aproximadamente 1,5 % ao ano, conforme pode ser visto na Figura 21.

Figura 21 – Evolução do consumo mundial de energia Fonte: EIA, 2011

Observa-se, portanto, que as principais previsões realizadas ao redor do mundo sobre a evolução no consumo de energia para os próximos anos apresentam cenários de grande crescimento para o consumo de gás natural, que deverá apresentar um papel cada vez mais relevante na composição da matriz energética mundial.