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Formação dos profissionais de saúde no campo da saúde mental e no cuidado as pessoas em uso problemático de drogas

Na formação superior em saúde o campo da saúde mental deveria ser de inclusão de práticas e saberes, por meio da constituição histórica dos sujeitos, da reflexão sobre as ações e consequências advindas da inclusão hospitalar no tratamento e da aprendizagem sobre práticas e tecnologias geradoras para o contexto e a complexidade. Para isso, a formação dos futuros trabalhadores não deveria se apoiar, predominantemente, nas tecnologias duras, mas considerar as tecnologias leves ou de baixa exigência na relação entre profissionais de saúde e usuários (Ceccim, 2005; Ministério da Saúde, 2004; Merhy, 2002), além de desenvolver competências sobre o campo epistemológico de saúde, das experiências do cuidado, das avaliações de serviços e da atuação em rede territorial e na comunidade (Amarante & Da Cruz, 2008).

É importante destacar que, no REUNI, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação (DCNS) são consideradas estratégicas para as mudanças dos projetos político- pedagógicos dos cursos e, dessa forma, determinar o perfil profissional para lidar com as competências necessárias para as Políticas Públicas, como a de droga. Após estudo das DCNS dos cursos de graduação da saúde e as profissões que compõem da equipe básica do CAPS

AD (Enfermagem, Medicina, Terapia Ocupacional, Psicologia, Serviço Social), foi possível conhecer o perfil profissional do egresso e as competências e habilidades necessárias para que o profissional possa lidar com a gestão do trabalho. Esses aspectos foram descritos na Tabela 3.

Tabela 3

Perfil do egresso e competência 1

DCNS Parecer Ano Perfil do egresso Competência e habilidades

profissionais

Enfermagem CNE/CES n.3

2001 Formação generalista, humanista, crítica e reflexiva; Com base no rigor científico, intelectual e princípios éticos; Conhecendo e intervindo sobre os problemas/situações de saúde-doença; Baseado no perfil epidemiológico Nacional e da região de atuação, em dimensões biopsicossociais; Atuando com senso de responsabilidade social e

compromisso com a

cidadania, da saúde integral e do ser humano.

Atuação nas expressões da questão social, formulando e implementando de propostas de promoção da cidadania.

Atenção à saúde no âmbito profissional;

Tomada de decisões para eficácia e custo-efetividade da força do trabalho de práticas – avaliar, sistematizar e decidir condutas com base em evidências cientifica;

Domínio básico de conhecimentos psicológicos e a capacidade de utilizá-los em diferentes contextos que demandam a investigação, análise, avaliação, prevenção e atuação em processos psicológicos e psicossociais, e na promoção da qualidade de vida.

Comunicação com

confidencialidade;

Liderança em equipe

multidisciplinar – compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação;

Administração e gerenciamento da força de trabalho e dos recursos; Educação permanente Medicina CNE/CES nº 1.133 2001 Terapia Ocupacional CNE/CES n.º 1.210 2001 Psicologia Serviço Social CNE/CES n° 62 CNE/CES nº 492 2004

Fonte: Diretrizes Curriculares Nacionais Cursos de Saúde, em Portal MEC: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12991:diretrizes-curriculares-cursos-de-

graduacao.

Partindo das descrições dos DCNS, os profissionais que atuam nos CAPS AD devem ter uma formação superior que promova um perfil de competências para lidar de forma generalista, humanizada, reflexiva e crítica no cotidiano do serviço e que possa atuar com percepções sobre o processo saúde doença, com base nos aspectos epidemiológicos e de forma compromissada e com especificidades a partir das necessidades de cada profissão.

No diagnóstico apresentado pelo REUNI, uma das questões se refere às instituições formadoras que perpetuam modelos centrados em tecnologias altamente especializadas. Essa

afirmação é reforçada por muitos autores que fazem referência a aspectos relevantes, como: práticas dependentes de procedimentos e equipamentos de apoio diagnóstico e terapêutico (Ceccim, 2005), ausência de inclusão de trabalho em equipe na formação de graduandos de saúde (Castro & Campos, 2014) e, especificamente, no campo das questões de drogas, a ausência dessa temática nos currículos ou insuficiência de abordagens no contexto teórico e prático, social e de saúde (Barros, Santos, Mazoni, Dantas & Ferigolo, 2008; Gallassi & Santos, 2013), disciplinas compartimentalizadas, ausência de reagrupamento e reorganização de práticas educativas que desenvolvam as competências necessárias à compreensão da complexidade humana e, no ensino em áreas da saúde, da complexidade do cuidado em saúde (Morin, Gadoua & Potvin, 2007; Morin, 2010a; Morin, 2010b). Portanto, a universidade deve se tornar capaz de promover a formação e pesquisa com foco central pedagógico nas interações entre seus membros, como uma comunidade de aprendizagem com programas acadêmicos formais, sociais, extracurriculares e culturais (Demo, 2006).

Pelos dados do INEP (1999, 2007, 2012), observa-se um avanço progressivo na reformulação da educação superior, por meio, por exemplo, de ingressos e egressos nas IES públicas, mas que ainda se mostra com problemáticas históricas, como o contínuo avanço das IES privadas com foco apenas no ensino, dificuldades de interação teórica prática e de integrar abordagens pedagógicas diferenciadas, não fragmentadas, que permitam desenvolver o perfil e as competências descritas no DCNS dos cursos da saúde.

O REUNI mostra-se como um plano inovador não apenas para expandir, mas melhorar a formação superior, aumentando recursos e reorientando formação que possibilitem alcançar os novos paradigmas (como o de saúde) com profissionais com competências política, técnica, ética e pedagógica para aplicabilidade nas situações reais dos serviços no cotidiano do trabalho, mas que, principalmente, respondam às mudanças do modelo de saúde.

Esse cenário de mudanças na educação superior é significativo, mas com resultados ainda pouco expressivos no desenvolvimento do modelo de cuidado instituído pela Política de Saúde Mental, pois a formação em saúde ainda não incorporou os novos valores e princípios, comprometendo o desenvolvimento de competências para práticas que respondam ao modelo psicossocial, gerando, entre outros fatores, a necessidade de maiores investimentos de educação permanente em serviço como uma estratégia para superar essa lacuna.

Devido a importância da educação permanente, na seção seguinte, será analisado o papel da educação permanente em saúde como estratégia para promover o aprendizado contínuo de novas competências exigidas pelas novas práticas e estratégias terapêuticas e a complexidade do cotidiano dos serviços de saúde mental, como os CAPS AD.

4. A Educação Permanente em Saúde (EPS) e suas implicações na qualificação das