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POLITICA DE EDUCAÇÃO

3. Resultados e discussão

3.1. O campo de cuidado na saúde mental para as questões de droga

Ao longo do processo de consolidação da política de saúde mental, áreas especificas foram se desenvolvendo, como a das drogas que, até o ano de 2004, era denominada Política Nacional Antidroga (PNAD) e, inicialmente, se constituía de estratégias públicas de ações de redução de demanda e de oferta de drogas no Brasil, por meio do Decreto Presidencial nº 4.345 (26/08/2002). Entretanto, o prefixo ‘anti’ foi evidenciada por dados epidemiológicos de diferentes países, que demonstraram necessidade de novas políticas que enfatizassem a descentralização de ações e o estreitamento de laços com a sociedade e a comunidade científica para o manejo mais eficaz das drogas. (BRASIL, 2006).

O cuidado com as questões de droga foi um processo que evoluiu lentamente, marcado por acontecimentos pontuais no Brasil. Em 2006, um fato de destaque foi a inclusão de estratégias intersetoriais para os serviços que atuam com essa problemática. Além disso, após ampla participação popular, por meio de Fóruns Regionais e Nacionais sobre os dados epidemiológicos do consumo de drogas, foi possível repensar a área, culminando na instituição do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), que passou a ser denominada Política Nacional sobre Drogas (PND), com desenvolvimento de áreas específicas, como, por exemplo, a Política Nacional sobre o Álcool (Decreto n. 6.117. DOU 22/05/2007).

O segundo marco significativo ocorreu em 2009, em que a problemática das drogas se evidenciou como preocupação mundial, levantando a necessidade de repensar novas estratégias que resultou no Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e Outras Drogas (PEAD), que expandiu estratégias de tratamento e prevenção relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas no Brasil. E, em 2010, o Plano

“Crack, é Possível Vencer”, que ampliou os investimentos, destinando R$ 410 milhões

distribuídos em diversos setores, para o enfrentamento do problema. Esse plano envolveu a participação do Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social, Secretaria Nacional de Política sobre Drogas e Ministério da Justiça. (SENAD, 2011).

O Plano Crack é possível Vencer propôs ações organizadas em torno de três eixos: cuidado, prevenção e autoridade, focadas aos objetivos de: (1) estruturar a rede de atenção aos usuários de drogas e seus familiares, fortalecendo o vínculo familiar e comunitário e reduzindo os fatores de risco associados ao uso de drogas; (2) reprimir o tráfico e o crime organizado; (3) garantir a segurança dos que necessitam de atenção e cuidado; (4) promover a formação permanente dos profissionais em serviço na rede intersetorial (BRASIL, 2013).

Finalmente, outro fator que marcou o campo de cuidado das drogas na saúde mental foi a Portaria nº 3.088 (GM MS 23/12/2011), que consolidou a Lei 10.216, definindo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) como uma rede de serviços em saúde mental que desenvolve o modelo de cuidado psicossocial, por meio do trabalho intersetorial. Essa portaria definiu uma rede de cuidado específica para as questões do uso abusivo de drogas, separando-a da rede de atenção aos transtornos mentais (BRASIL, 2001, 2011).

A problemática das drogas foi descrita em diversos documentos relevantes, o que auxiliou no desenho das políticas públicas e encaminhou para o modelo atual, como os Princípios de Tratamento da Dependência de Droga (UNODC; WHO; UNICEF et al, 2008), o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários das 27 capitais brasileiras (SENAD, 2010), a Portaria nº 130 (BRASIL, 2012), o Inquérito Epidemiológico sobre o Perfil dos Usuários de Crack (SENAD, 2013) e o Relatório Mundial sobre drogas de 2013 e 2014 (UNODC, 2013, 2014).

Esses documentos, em geral, analisam o perfil do consumo de drogas a partir de informações relevantes, que indicaram: redução de uso de drogas tradicionais (canabis, drogas injetáveis); aumento significativo do uso de cocaína (em função do consumo do crack) e a entrada de consumo de novas substâncias psicoativas (drogas sintéticas), que ainda apresentam estudos restritos e pouco controle interno; e a diminuição da expectativa de vida da população de consumidores e dependentes de drogas, por meio de acidentes

automobilísticos, episódios de violência interpessoal, comportamento sexual de risco, além de prejuízos pessoais, como os acadêmicos, distúrbios do sono, mudanças dos hábitos alimentares, prejuízos no desempenho atlético, entre outros efeitos. Esses documentos apresentam como ponto comum o uso de drogas como um grave problema de saúde pública que tem avançado no mundo devido à facilidade de acesso as drogas, e aos graves prejuízos à saúde decorrente do uso abusivo de drogas, e causam efeitos biológicos, psíquicos, sociais e culturais devastadores na sociedade.

Nesse cenário, a PND encaminha estratégias e ações para os diversos setores, sob a coordenação do Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional Sobre Drogas (SENAD), considerando o modelo psicossocial com serviços e estratégias substitutivas intersetoriais que, ao longo dos anos, surgem processualmente e de formas distintas, nos Estados e no Distrito Federal. Na verdade, o Brasil, como membro em organismos mundiais, necessitou responder às resoluções pactuadas sobre atenção em saúde mental, realizando grandes investimentos nessa área.

Nos últimos anos, foram traçadas diversas medidas e usadas leis que regulamentam as atividades de cuidado em saúde mental e uso de drogas, fato justificado pela inclusão do tema nas agendas governamentais, tanto na esfera mundial como nacional, em virtude do crescente consumo de droga, dos distúrbios devastadores ocasionados pela dependência química e da necessidade de se construir um modelo de saúde mental que leve em conta a complexidade do problema. Contudo, a implantação do modelo psicossocial dos CAPS AD, ainda é pouco estudado, o que dificulta a análise de efetividade do modelo de cuidado, bem como o diagnóstico de fragilidade e estágios de implantação e adoção das práticas terapêuticas preconizadas pelo modelo psicossocial.

3.2.A inserção social como foco da reabilitação psicossocial no tratamento dos