• Nenhum resultado encontrado

O conceito de formação implica na análise dos processos de construção do conhecimento e saberes, processos esses que apontam para a concretude de construção do sujeito enquanto ser, esse conceito envolve uma relação com a aprendizagem e a transformação do sujeito que aprende.

No entanto os modelos de formação profissional, em sua grande maioria, têm características funcionalistas destinadas a uma formação minimista, focada em funções e/ou postos específicos de trabalho, mesmo quando estes apontam para uma atuação generalista dentro do sistema produtivo, desconsiderando a relação do processo de construção e de formação do sujeito com suas necessidades e aspirações, não levando em consideração a articulação entre as carências e experiências. Coreia (1997) afirma que o campo da formação é tendencialmente dependente de um discurso teórico.

Sá (2010, p.40) ao analisar os aspectos ontológicos da formação, que identifica o conceito de formação natural como referência a uma visão externa, conceito este que a partir da “religião instruída do século XIX, passa a integrar estritamente, o conceito de cultura e designar suas aptidões e faculdades”.

Ao longo do tempo o conceito de formação se afasta mais do conceito de cultura e se aproxima de conceitos de processos internos de constituição, a formação implica num processo pelo qual o ser humano se constrói e se aperfeiçoa construindo os seus saberes, nesta concepção o currículo surge como elemento propositor de metas para a formação (Sá, 2010).

Sá (2010) a partir dessa lógica, entede que a formação profissional é concebida como o conjunto de atividades articuladas que objetivam a apreenção de aquisição de saberes, atitudes e habilidades, necessárias a execução de funções inerentes a uma profissão exigidos para o exercício de uma atividade profissional, tem como pré-requesito o domínio de saberes práticos e teóricos especializados em uma determinada área do conhecimento.

No entanto, distante dos objetivos finais de um processo de formação, esses tem seus resultados dependentes dos processos internos inerentes a cada indivíduo, de suas vivências e expectativas e ocorrem idependentes das metas identificadas pelo currículo e da vontades dos educadores, diz Sá (2010, p.43):

Sem desconsiderar a expectativa legitima de qualquer estudante em termos de uma atuação futura, poderia aqui retomar Gadamer (1999) em sua tentativa de ressignificar o conceito de formação a partir da critica à ênfase no resultado em detrimento do devir. Defende o autor que o resultado da formação não produz na forma de uma finalidade técnica, mas nasce do processo interno de constituição e de formação [,...].

Considerando que os processos de formação vão além dos espaços escolares formais e de treinamento (PAIVA, 1998), os espaços de aprendizagem e dos saberes se estendem das escolas e salas de treinamentos para os espaços do indivíduo, da família, dos grupos sociais, da igreja, dentre outros, sendo a partir destes que se manifestam os processos de formação, resultantes da necessidade da construção de suas trajetórias profissionais e de aprendizagem. Portanto, os espaços formais de aprendizagem devem estar atentos a esses processos paralelos, pois só assim tornarão eficientes e significativos os processos de formação, devendo e podendo aproveitar os potenciais dos diversos espaços.

Paiva (1998, p.17), considera que a qualificação real, exigida no mundo do trabalho, tem origem a partir dos saberes construídos durante a vida.

Reafirmando a ideia da existência dos diversos espaços de formação, identificamos nos processos de qualificação e requalificação dos profissionais técnicos no Brasil a utilização destes espaços por diversos projetos e ações por parte do Governo, Organizações não Governamentais (ONG´s) e dos Sindicatos, a exemplo do uso dos recursos do FAT através do PLANFOR/TEM.

A partir de 1996 ocorreram inovadoras experiências de formação profissional, em outros espaços não formais, onde se observa o exemplo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que elaborou o projeto nacional de qualificação profissional CUT/BRASIL, no âmbito do Planfor/MTE, envolvendo treze ramos produtivos que qualificou centenas de trabalhadores.

Estas ações se diferenciam por uma série de aspectos: pela incorporação de novas áreas de atuação pelas várias entidades participantes, indo além das instituições de ensino e pela preocupação, de algumas delas de uma formação considerando as múltiplas dimensões dos sujeitos. Incorporando as experiências de vida como elemento fundamental do processo pedagógico e pela abrangência social, atendendo a desempregados, jovens em situação de risco, mulheres, portadores de deficiência, e outros sujeitos excluídos do mercado de trabalho. A novidade neste processo é que os trabalhadores, Centrais e Sindicatos, tiveram o acesso e a possibilidade de gerenciamento dos recursos públicos, que se constituíram como elementos dinamizadores e agentes de um processo de qualificação dos trabalhadores.

A existência desses espaços paralelos de formação contribui, para a ampliação das qualificações e competências dos indivíduos, incluídos nesses espaços os lares, de acordo com afirmação de Frigotto e Ciavatta (2006, p.79):

[...] Enfatiza, em sua análise, a “qualificação intelectual como fonte da competência”. “Realça a ideia de que o pensamento abstrato é o fundamento

da aquisição de competências de longo prazo”. Por fim, salienta que a tecnificação dos lares acaba demandando maior letramento e qualificação da população.

Ao analisar o fenômeno dos lares como espaço de letramento e qualificação, Paiva (1995), identificou um forte elemento presente na sociedade contemporânea, que certamente tem contribuído para o avanço significativo do conhecimento dos sujeitos.

Identificado como a tecnificação dos lares, fruto da revolução informacional, as inovações tecnológicas ocuparam todos os espaços da modernidade, modificando os processos de relação do homem/mulher com as tecnologias, aproximando e interligando o modo de viver, a cultura e os processos tecnológicos, com ênfase na informação e comunicação, quebrando a noção de espaço-tempo entre as comunidades, tornando próximas culturas diferentes, mudando o local para universal e vice versa.

As inovações tecnológicas ligadas a informação e comunicação virtualizaram o fazer e a cultura humana, unificando o ser e o fazer, ampliando assim a visão dos espaços formativos para além do mundo real: o virtual.

A partir destes processos de “tecnização dos lares”, muitas das tecnologias, antes restritas as indústrias e/ou agências especializadas, a exemplo da Agência Espacial Americana (NASA), entraram na casa das pessoas, assim, produtos tecnológicos como o teflon, o microondas, o raio laser, se tornaram de acesso comum. Tecnologias de acessibilidade operacional que implicam na ampliação cada vez maior de sua obtenção e utilização, como é o caso da internet e seus infindáveis recursos de comunicação e informação, que na década de 70, do século XX, eram tecnologias restritas às agências de investigação norte americanas.

Todos esses acessos às novas tecnologias estão ligados às transformações ocorridas no setor produtivo, que tem ampliado as suas produções e reduzido custos a partir dos processos de inovação e gestão, como cita FRIGOTTO e CIAVATTA (2006, p.81):

O artigo de Paiva (1999) é, em realidade, continuidade do texto de 1995, aqui analisado, com ênfase numa abordagem mais ampla a “nova relação entre educação, economia e sociedade”. A autora destaca as mudanças profundas ocorridas nas duas últimas décadas entre qualificação e renda, como consequência da transformação produtiva e organizacional.

A introdução das novas tecnologias, na sociedade contemporânea, acrescenta às formações profissionais novas configurações que vão além da formação formal, obriga-se a considerar a importância dos conhecimentos construídos ao longo da vida e dos conhecimentos experienciais profissionais. Surge a necessidade da compreensão científica dos processos de articulação entre o conhecimento formal e os diversos saberes nas condições de trabalho.

Percebe-se no estado atual do processo de desenvolvimento tecnológico, a importância de se identificar e aproveitar os diversos espaços de aprendizagens, sejam eles tanto no setor industrial no qual o trabalhador transita, aprendendo e recontextualizando nos processos de organização e gestão da produção e relação de trabalho, quanto nos espaços sociais de relação: lares, clubes etc.

Estes espaços cada vez mais se multiplicam a partir das transformações constantes impulsionadas pelo acelerado desenvolvimento das novas tecnologias e sua introdução na sociedade, em seus processos de constante reflexividade, sejam eles no sindicato e/ou na família.

Tais espaços permitem o surgimento de uma nova formação e consequentemente ampliação dos conhecimentos e saberes que são potencializados pela reflexividade da sociedade atual. Com relação aos processos de recapacitação Giddens (2002, p.14) diz:

Os indivíduos tendem a se recapacitar em maior profundidade quando se trata de transições importantes em suas vidas ou quando precisam tomar decisões sérias. A recapacitação, porém, é sempre parcial, e pode ser afetada pelas constantes “revisões” a que o conhecimento especializado está sujeito, bem como por discordâncias internas entre os especialistas.

Giddens (2002) citando os processos de recapacitação, considera que esses acontecem nos diversos espaços, seja nas experiências da vida pessoal ou nos envolvimentos sociais.

Os temas aqui tratados constituem um quadro da sociedade atual em processos que têm modificado a sua face, inclusive o mundo da produção. Este quadro ajuda a compreender o contexto no qual o profissional atua e que interfere em seus conhecimentos e saberes. Interferindo também na forma de resolução dos problemas em situação de trabalho, o processo de globalização (SANTOMÉ, 1998).

A formação dos profissionais, a partir da mudança do perfil da sociedade, frente aos processos de modernização tecnológica que transformou a cultura, a política, a economia, etc., estão vinculadas aos processos de reflexividade (GIDDENS, 1995) e recontextualização (BERNSTEIN, 1998), que interferem constantemente na cultura profissional, impondo novas identidades profissionais. Surge assim, a necessidade constante da apreensão destes conceitos para a compreensão das atividades profissionais e seus processos de mobilização e uso dos conhecimentos e saberes.

3 CONCEITOS QUE CONFIGURAM O MUNDO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

Fundamentado na hipótese de que o trabalho profissional intermedia e articula a produção científica e o uso dos saberes na busca de soluções para os problemas profissionais (Caria, 2010), é conexo ao considerar alguns conceitos que propiciam esta intermediação e articulação, que é construída a partir da materialização teórica e prática da: recontextualização, reflexividade, autonomia, identidade profissional, cultura profissional e etc.

Estes conceitos configuram o mundo profissional e as suas práticas em situação de trabalho, contribuindo para a compreensão das formas de mobilização e uso de conhecimento e saberes profissionais em situação de trabalho.