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3 – FORMAÇÃO RELIGIOSA – A EVANGELIZAÇÃO NO BRASIL A influência da Igreja Católica na formação da sociedade brasileira é

inquestionável. Junto com as primeiras caravelas vieram os primeiros religiosos. O registro da primeira missa é bem documentado, celebrada a 26 de abril de 1500, pelo frade franciscano Henrique de Coimbra 45. O povoamento da colônia ocorre algumas décadas depois e é sempre marcado pelos padres e frades das Ordens Religiosas: Franciscanos, Dominicanos, Beneditinos, Mercedários, Jesuítas, entre outras, que aqui chegaram junto com os conquistadores.

A evangelização católica encaixava-se no modelo de exploração mercantilista da coroa portuguesa, já descrito anteriormente. A Santa Sé através de uma série de bulas papais, emitidas durante o século XV, havia concedido ao Reino de Portugal o regime do Padroado 46.

Os direitos e deveres do Padroado: apresentação para os benefícios eclesiásticos, incluindo os episcopais; conservação e reparação das igrejas, mosteiros e lugares pios das diferentes dioceses; dotação de todos os templos e mosteiros com os objetos necessários para o culto; sustentação dos eclesiásticos e seculares adstritos ao serviço religioso; construção dos edifícios necessários; deputação dos clérigos suficientes para o culto e cura das almas 47.

Isto significava que o Estado Português ficava a cargo da evangelização cristã em suas possessões ultramarinhas e nas futuras terras conquistadas, desde que não fossem cristãs. A Santa Sé, deste modo, passava o controle da evangelização e da expansão da fé cristã para o governo português, e este, por sua vez, comprometia-se a empregar os recursos necessários para tal empreitada. Na prática, a Igreja passava a ser subserviente e

      

45 O quadro, a Primeira Missa no Brasil, é da autoria de Victor Meireles (1861). Procura retratar uma visão

romântica do século XIX, onde o “índio” catequizado e pacífico convive harmoniosamente com o

conquistador europeu o qual trouxe a “civilização” para as terras brasileiras. PRESTES, Roberta Ribeiro. A

primeira missa do Brasil em dois tempos. Disponível em:

http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficinadohistoriador/article/view/8834 20/10/2012 acessado em 20/10/2012, 13h00.

46 SOUZA, Ney de. Os caminhos do Padroado na evangelização do Brasil. Revista Eclesiástica Brasileira.

Petrópolis: Vozes, n. 62, 2002, pp. 683-694.

dependente do Estado. Portugal criou um organismo, a Mesa de Consciência e Ordens, que era o órgão que controlava os negócios eclesiásticos do Reino. Avalia e propõe quem podem ser os prelados mantidos pela Coroa, quem faz parte dos cabidos, a instalação de novas freguesias (paróquias), capelas, a falta de condições materiais para o exercício das obrigações religiosas, as questões relativas às irmandades religiosas e os conflitos entre a população e membros do clero 48.

Portugal sempre tentou colonizar o Brasil sem gastar muito, dentro de sua lógica mercantilista. Na evangelização, sendo uma obrigação do Estado, empregou o mesmo pensamento. Em última análise a evangelização, era uma imposição da fé católica a todos os habitantes da colônia: brancos, negros ou indígenas. Não havia a preocupação de uma real conversão por parte do fiel. Havia uma imposição estatal, que não aceitava outros credos ou cultos de outras religiões. Portugal logo se descuidou da administração da fé no Brasil, tanto é que temos, ao longo de todo o período colonial, a criação de apenas cinco dioceses para um imenso território. Os bispos, cuja nomeação dependia da Coroa, foram todos portugueses, e pouco fizeram por suas dioceses, largadas ao abandono. Também, apesar das determinações do Concílio de Trento (1545-1563) de haver seminários nas dioceses, aqui o primeiro seminário foi implantado apenas em 1798, em Olinda. Os padres e bispos eram, pelo regime do padroado, funcionários do governo, o qual deveria enviar as côngruas, para a manutenção daqueles. Mas, muitas vezes o governo não o fazia, gerando distorções nas obrigações espirituais dos clérigos, que precisavam arrumar dinheiro de outras formas para o seu sustento. O preparo dos clérigos era apenas sofrível, mesmo assim, muito melhor do que a média dos habitantes da colônia, em geral analfabetos. Esta situação levou, tanto o clero como o povo em geral, a ter uma baixíssima formação evangélica.

As ordens religiosas, que também se mantinham com o dinheiro público, ou com a exploração de terras doadas pela Coroa, ou recebidas como herança da população, com o tempo se secularizaram, tornando-se mais empresas do que organizações preocupadas com a espiritualidade do povo. Participavam, em sua maioria, igualmente do empreendimento colonial/mercantilista, baseando sua prática cotidiana na escravidão dos africanos.

Não se podem ignorar os dissidentes, inclusive jesuítas, que se manifestaram contra a escravidão. Assim como os índios, os africanos não queriam ser       

48 SOUZA, Ney de. Os caminhos do Padroado na evangelização do Brasil. Revista Eclesiástica Brasileira.

escravos. Padres adquiriam cativos porque, como os colonizadores, participavam do empreendimento colonial, precisavam de mão-de-obra e não conseguiam criar modelos econômicos condizentes com os ideais cristãos. Embora padres europeus em períodos anteriores provessem o próprio sustento ou até mendigassem para sobreviver, o ideal ibérico da era colonial americana isentava os padres do trabalho manual 49.

A vinda da família real portuguesa, com toda a burocracia religiosa, em 1808, não mudou grande coisa. Apenas agora o principal organismo da estrutura católica, a Mesa de Consciência e Ordens, estabeleceu-se no Rio de Janeiro.

O culto fica nos ritos externos, estes sim rigorosamente observados. Quanto à moral, era-se de uma tolerância infinita. Coisa que não é para admirar: afora as causas gerais e mais profundas que uma sociedade como a da nossa colônia, tornam inviável uma compreensão elevada da religião e de seu culto. Cabe nisto o clero, alias vítima também das mesmas circunstancias, uma boa dose de responsabilidades. Não cogitou ele nunca de levar a sério a instrução religiosa: o seu desleixo neste terreno é lamentável, e parece que os sacerdotes não tem outra função na colônia que praticar os atos exteriores do culto e recolher os tributos eclesiásticos 50.

Em resumo a evangelização do Brasil no período colonial foi falha, sem organização, sem preparo, sem a preocupação das necessidades do povo, um verdadeiro descaso. As consequências são, uma formação católica baseada em devoções populares sem os verdadeiros fundamentos da fé e uma participação dos fieis nos sacramentos muito mais por obrigação do que por devoção. A alta hierarquia da Igreja sempre estava alinhada ao governo português, de quem era dependente, pouco ou nada havendo de contato com as reais necessidades do povo.

Não podemos deixar de ressaltar, no entanto, que a atuação da Igreja como um todo não foi única. Desde cedo os jesuítas são contrários à escravidão dos indígenas, mas nada fazem contra a escravidão dos negros, sendo que, inclusive muitas propriedades da Igreja tiveram escravos. Os padres que viveram junto ao povo sofrido são diferentes, muitos dão suas vidas pela causa da liberdade, sensibilizados pelas angustias de seus fieis. A maioria das insurreições populares contou com a participação efetiva de padres 51. Eles

      

49 SERBIN, Kenneth P.. Padres, celibato e conflito social: uma história da Igreja católica no Brasil.

Tradução: Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 55.

50 PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 23. ed. São Paulo: Brasiliense, 1997, p.355. 51 Exemplo: a Confederação do Equador, com a participação do Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, o Frei

representavam, além do respeito natural da população, um dos poucos segmentos que possuía algum estudo e conhecimento.

A situação da evangelização não muda com a independência. Depois de um período de transição, o Brasil assina com a Santa Sé, o mesmo acordo do Padroado 52. Este sistema vigora até 1891, quando é promulgada a primeira constituição republicana, separando o Estado da Igreja e o Brasil passa a ser um país laico. A Igreja no Brasil durante o período imperial caracterizou-se muito mais por questões internas, questões religiosas entre o clero que quer depender do imperador e o clero que quer ser dependente de Roma, do que por um efetivo trabalho de evangelização, nada diferente do ocorreu no Brasil colonial. “A Igreja do Brasil independente continuou com o padroado e herdou a dependência do Estado, eram mais funcionários que pastores e constituíam uma segunda esfera administrativa do governo, ligada aos interesses dos grandes proprietários” 53. Com o regime republicano a Igreja se vê em face de novas preocupações. Com o fim do Padroado e sem nenhum acordo formal entre o Estado do Brasil e a Santa Sé, a Igreja está livre para agir em consonância com os alinhamentos de Roma na parte doutrinal, pastoral, disciplinar, porém, deve igualmente procurar obter recursos para a sua manutenção e para a sua expansão 54. A Igreja no Brasil se vê frente a enormes desafios nas primeiras décadas do século XX: a sua própria estrutura interna, que agora depende “apenas” de Roma; a falta de sacerdotes bem formados; a crescente taxa de urbanização, com todos os elementos que traz esse novo estilo de vida; a crescente imigração europeia e como consequência o ingresso de grande número de padres europeus; os ataques da maçonaria; a situação política instável na Europa, Primeira Guerra Mundial; a presença de novas religiões no Brasil, o protestantismo, espiritismo e as religiões afro. Dentro deste quadro, pode-se imaginar que as dificuldades para uma ação de transformação social, eram praticamente intransponíveis.

      

52 No dizer do Padre Antonio Feijó, intelectual e político brasileiro, regente de 1835 a 1837, o povo brasileiro

era sem educação, sem religião, sem ética... quando a sociedade toca o último da corrupção, não é um dia que o mais hábil político pode reorganizá-la. Trecho de artigo de Diogo Antonio Feijó, publicado na integra

no jornal o Justiceiro, de 7/11/1834. Quem é quem na história do Brasil. São Paulo: Editora Abril, 2000, p.204.

53 BIDEGAIN GREISING, Ana Maria. A Igreja na emancipação. In: DUSSEL, Enrique (org.). Historia

Liberationis: 500 anos de história da Igreja na América Latina. Tradução: Rezende Costa. São Paulo:

Paulinas, 1992, p.157.

54 De 1551, quando foi implantada a primeira diocese na Bahia, até 1890 foram criadas apenas 12 dioceses. A

última foi em 1854, Diamantina (MG). Quando da separação entre Igreja e Estado, de 1890 a 1930, foram erigidas 68 novas dioceses e prelazias e de 1931 a 1960, outras 72 dioceses são implantadas no Brasil. CERIS (Centro de Estatística Religiosa e Informações Sociais), 2000.

Para a sua efetiva expansão e ocupação do território nacional, a Igreja Católica buscou recursos entre a elite econômica local, fazendeiros, industriais, banqueiros e mesmo indiretamente aos poderes constituídos. O Brasil tornou-se laico na Constituição de 1891, mas a influência da Igreja na política local sempre existiu. A Cúria Romana incentivava a criação de novas dioceses no país, mas não contribuía com nenhum recurso. As dioceses deveriam ser sustentadas pela população local o que significava o poder local, “o Estado e as oligarquias se beneficiariam do grande poder legitimador do catolicismo, e este, por sua vez utilizaria recursos e estruturas oferecidas pelo poder temporal para realizar os projetos eclesiásticos” 55. Torna-se fácil compreender que a Igreja, como instituição, neste período, teria dificuldades para transitar na área social, pois além dos aspectos doutrinários, o movimento operariado tinha fortes ligações com as ideias socialistas ou, pior comunistas, estas declaradamente ateias. A Igreja Romana sempre combateu o socialismo/comunismo, além disso, aqui no Brasil, ainda precisava dos recursos da elite para a expansão de seus projetos eclesiásticos.

A separação entre Igreja e Estado provocada pela Proclamação da República em 1889 fizera com que a instituição eclesiástica restringisse sua atuação apenas ao campo espiritual, sem nenhuma participação efetiva no âmbito político-social. Porém após a Revolução de 1930, o catolicismo, principalmente o clero do Rio Grande do Sul, passou a apoiar o movimento revolucionário. Foi em torno da figura de Getúlio Vargas e do clero do Sul que teve início uma reaproximação entre Estado e Igreja Católica; o chefe do Estado “estava comprometido com os projetos de salvação do povo” 56.

A Igreja e principalmente organizações leigo/religiosas atuavam no assistencialismo, procurando minorar a situação das dificuldades cotidianas de grande parte da população, principalmente a fome e a saúde. Atuavam também na melhoria educacional dos operários, principalmente através de escolas e liceus. Muito lentamente a Igreja volta-se para as questões sociais, ainda que seu pensamento continue rural e demore a entender o fenômeno da industrialização e da urbanização em curso. No pensamento agrário e rural e com base na tradição da sociedade brasileira, a Igreja representa a esfera de poder visível, era o centro da convivência de todos, nobres e pobres, ainda que com

      

55 GOMES, Edgar da Silva. O catolicismo nas tramas do poder: a estadualização diocesana na primeira

república (1889-1930). Tese de doutorado, PUC-SP. Disponível em:

www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=14156 acessado em 16/11/2012, 12h00.

claras separações. As lições europeias, onde o catolicismo havia perdido o operariado no século XIX, não haviam sido corretamente assimiladas no Brasil.

Também há que se mencionar, que a Igreja ainda não estava em condições de enfrentar as opressoras medidas da política econômica e social do Estado brasileiro. Em função da falta de seminários não havia muitos clérigos locais. A falta de padres era suprida com a chegada de estrangeiros oriundos da Europa principalmente da Itália. Talvez não entendessem as necessidades materiais da população, ou tivessem as dificuldades naturais com a cultura local, dificultando a sua inserção na mesma. A inculturação não constava do ideário de ninguém, a prática era da aculturação, ou seja, os ritos e práticas religiosas boas são aquelas que vêm de fora, impostas pelas elites, inclusive a eclesiástica.

Uma verdadeira mudança começou a ocorrer a partir da década de 30. De um lado haverá um acordo implícito entre a hierarquia e o poder. Como já foi dito a era getulista contará com o beneplácito da alta hierarquia da Igreja Católica no Brasil, porém a Igreja não estará apenas a serviço do Estado, como um novo Padroado. Ela conquistou alguns de seus objetivos, como o ensino religioso nas escolas públicas, facultativo aos católicos, o empenho do governo central em não aprovar a lei do divórcio e não teve dificuldades na criação de muitas novas dioceses. Ainda que com muitas ressalvas, se interessará em abraçar mais e mais as causas sociais da população brasileira especialmente as dos operários e camponeses.

Latifundiários, industriais, grandes comerciantes, profissionais liberais, novos burgueses de classe média, operários são personagens em um país em ebulição que estão à procura de seu espaço político. Como a Igreja-instituição se encaixa nesta máquina dinâmica? À primeira vista poder-se-ia afirmar com simplicidade que a Igreja-instituição dialoga e negocia com o Estado, em suas diversas instâncias (executiva, legislativa, judiciária e outras). Mas, para realizar esse entendimento é inegável que ela se apoia em “mediações” e delas se aproveita à medida mesma de sua força e de seu raio de influência. Sempre escorada nos grandes latifundiários ou grandes comerciantes, no decênio de 1930 surgem possibilidades de novos conchavos ou alternativas diferentes com as forças da classe média e do proletariado. A estratégia da Igreja não são os velhos aliados que lhe foram sempre uteis e vantajosos na condução dos interesses eclesiásticos. Será, ao contrário, uma estratégia de maior flexibilidade na qual, a cada momento, o comportamento prático da hierarquia levará à frente, em movimento pendular, uma tática realista de sondagem, avaliação e exploração das diversas forças que, significativas em nível de peso econômico e social, poderão favorecer as linhas de ação da política eclesiástica em relação ao Estado 57.

      

No final dos 15 anos da era Vargas, a Igreja Católica conseguiu o que buscava desde 1891. Tendo se reestruturado com os recursos das elites oligárquicas durante a primeira república e trabalhando de modo pragmático, durante a era Vargas, alcançou resultados que a projetavam como uma instituição nacional e altamente respeitada pelo povo e pelos poderes constituídos. O governo em consonância com a hierarquia usava como parâmetro para a sua política social a Doutrina Social da Igreja, não que o fizesse efetivamente. Por outro lado a Igreja fazia vistas grossas para os claros desmandos e ataques indiscriminados que os agentes governamentais faziam contra seus opositores. Sem dúvida sua política teve êxito, a Igreja Católica daqui em diante não poderá ser ignorada no equilíbrio de forças, quando da discussão das propostas de solução dos problemas nacionais, notadamente os políticos e sociais.

Fora de dúvida, foram quinze anos de maré alta para a instituição eclesiástica que, apesar dos momentos de sombra, conseguiu, em boa parcela, o que almejava, desde 1889, isto é, um lugar de projeção na sociedade brasileira de onde pudesse, através das mediações de grupos sociais e políticos dominantes, conduzir o povo brasileiro nos caminhos da salvação 58.

Também para a Igreja no Brasil, a década de 30 foi um divisor de águas. Se antes ela era fortemente identificada com o poder político, pelo menos a Igreja-instituição, após 1930 já não foi mais assim. A alta hierarquia, habilmente aliou-se ao governo Vargas, mas a força do Espírito se fez presente em várias outras camadas do Povo de Deus. A ação dos movimentos fora da Instituição provocaram novas reflexões em muitos consagrados, gerando inquietudes, novo agir e também divisões. A ação pastoral da Igreja irá se modificar, as realidades sociais brasileiras não serão mais acobertadas por uma política oficial onde tudo parece perfeito. Ainda que muito lentamente, setores da Igreja irão de preocupar com os problemas que afligem as classes menos favorecidas.

Um dos aspectos mais destacados da atuação da Igreja no seio da sociedade ocorreu a partir do final da década de 30. Este movimento ficou conhecido no Brasil como Ação Católica.

No início do século XX, na Bélgica um jovem padre cria um movimento para atrair os operários, dando a este movimento o nome de Juventude Operária Católica (JOC). A Igreja europeia, fechada em si mesma como sociedade perfeita, rejeitava qualquer

      

58 LUSTOSA, Oscar de Figueiredo. A Igreja Católica no Brasil República. São Paulo: Paulinas, 1991, pp.58-

contato com a modernidade. Com esse comportamento, havia perdido a capacidade de evangelizar os operários no século anterior, estes se seduziram pelo ideário comunista, teoricamente igualitário, anticapitalista e naturalmente ateu. As condições de vida dos operários na Europa, nos primórdios da Revolução Industrial, eram as piores possíveis. A alta hierarquia da Igreja, nada fez, oficialmente, em favor dos operários ou de qualquer causa social, na verdade a Igreja de Roma (Gregório XVI (1831-1846) e Pio IX (1846- 1878)), rejeitou qualquer diálogo com o modernismo, condenando-o sistematicamente. Apenas em 1891, o papa Leão XIII (1878-1903), publicou uma encíclica, a Rerum Novarum, que contempla, discute e reflete sobre as questões sociais, salários e condições gerais do operariado. Com o que, anos depois vai se chamar de Doutrina Social da Igreja, a Igreja tenta reconquistar terreno entre os operários europeus. Porém com a JOC belga, nasce um novo fator: o papel do leigo na Igreja e fora dela 59. Os naturais conflitos e desconfianças gerados por um novo movimento dentro da hierarquia foram superados e, em 1925, o papa Pio XI (1922-1939), reconheceu oficialmente o movimento da JOC e da Ação Católica 60.

A JOC chega ao Brasil no começo dos anos 30. Aqui este movimento ficará conhecido como Ação Católica Brasileira (ACB). Seu primeiro presidente foi o intelectual Alceu de Amoroso Lima, principal assessor leigo de D. Sebastião Leme, Cardeal do Rio de Janeiro. A partir dos anos 30, a influência católica aumentará muito na vida da sociedade brasileira. Foi criada a Liga Eleitoral Católica (LEC), pensar-se-á na criação de um partido político cristão, porém não chegou a se concretizar, a ACB formou lideranças no meio operário para que estas evangelizassem seus pares. Agirá do mesmo modo para a evangelização de moças, estudantes e adultos. A ACB empregou o método ver-julgar-agir, partindo sempre da realidade vivida pelo seu público alvo, adequando a mensagem evangélica ao cotidiano de cada segmento. As ações da ACB foram orientadas por clérigos e promoveram uma conscientização de seus participantes principalmente no campo político e social, tendo a virtude de inserir a pastoral dentro da dimensão histórico-social. A