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MAPA 9: Suscetibilidade da Escarpa da Esperança

5. INVENTÁRIO E LEVANTAMENTO DOS PROCESSOS OCORRIDOS NO SETOR

6.2 Características dos materiais do substrato

6.2.1 Formação Rio do Rasto

A Bacia do Paraná compreende uma grande região sedimentar41 da América do Sul, a qual abriga uma sucessão sedimentar-magmática com idades entre o Neo- Ordoviciano e o Neocretáceo. Esta bacia inclui porções territoriais do Brasil meridional, Paraguai Oriental, nordeste da Argentina e norte do Uruguai, em uma área que ultrapassa 1.500.000 km², e é caracterizada como uma bacia intracratônica, contida inteiramente na placa sul-americana (MILANI, 2004, p.266).

No Paleozóico, a bacia do Paraná42 esteve sob influência da invasão do mar, de glaciação e de esforços tectônicos. Em distintos períodos foram depositadas seqüências de estratos e camadas de sedimentos finos, como argilas, siltes e calcários com centenas de metros de espessura; a partir do Triássico o mar regrediu e não mais retornou. Em ambiente continental, rios e lagos se formaram e o clima foi se transformando até se tornar inteiramente desértico. Foi nessa época que ocorreu novo ciclo de sedimentação: na base da seqüência depositaram-se sedimentos arenosos, argilosos, lacustrinos, fluviais (ROCHA, 1997).

41 Bacia sedimentar é a denominação dada para a depressão preenchida por sedimentos, carregados

das áreas circundantes. A estrutura dessa área é geralmente composta de estratos concordantes ou quase concordantes, que mergulham normalmente da periferia para o centro da bacia. É uma área da crosta que após ser deprimida, (segundo Maack, 1947 pelo peso do grande derrame eruptivo), e recoberta pelo mar recebeu uma espessura significativa de sedimentos que se consolidaram (GUERRA, 1966; LEINZ e LEONARDOS, 1977).

42 A Bacia do Paraná, em sua área central tem espessura não menor que 5000m de sedimentos e

camadas basálticas, situada longe da faixa de perturbações orogênicas, sendo que suas camadas não apresentam dobramentos apenas deformações locais relacionadas às falhas (ALMEIDA, 1983).

Um dos ciclos de sedimentação foi a da Formação Rio do Rasto43, presente na base da área de estudo. Segundo Schneider et al. (1974) citado por Baptista et al. (1984) esta formação é composta por sedimentos essencialmente clásticos de cores variadas, situados estratigraficamente acima da Formação Teresina e abaixo da Formação Botucatu. Compreendem siltitos e arenitos finos esverdeados e arroxeados, e argilitos e siltitos vermelhos com intercalações lenticulares de arenitos finos (ALMEIDA, 1983).

Gordon Jr. (1947 apud BAPTISTA et al. 1984) eleva o Rio do Rasto ao status de formação e divide-o em dois membros: o superior denominado Morro Pelado (ambiente deposicional estritamente continental, com sedimentos de lagos e planícies aluviais) e o inferior Serrinha (caracterizando um ambiente marinho de transição entre os depósitos de águas rasas da Formação Teresina e os continentais do Morro Pelado).

Segundo a MINEROPAR (2001), o Membro Morro Pelado está depositado em ambiente fluvial e de planície deltáica, contém siltitos e argilitos avermelhados e arenitos finos intercalados. O Membro Serrinha, desenvolvido em ambiente de frente deltáica e planície de marés, contém siltitos e arenitos esverdeados muito finos, micríticos e calcarenitos.

Entre as camadas calcáreas da Formação Terezina e as camadas vermelhas da Formação Rio do Rasto desenvolve-se uma seqüência de horizontes sem carbonato de cálcio, areno-argilosos, de coloração variável – avermelhados, esverdeados, violáceos e amarelados –, cuja espessura varia entre 60 m e 70 m (MAACK, 1947).

Este autor distingue, portanto, na Formação Rio do Rasto as seguintes divisões: uma formação de camadas areno-argilosas, de variada coloração que, em contraste com os horizontes calcáreos e com os bancos de desagregação esferoidal de Terezina- Serrinha, são isentas de calcáreos, desagregando-se em palhetas finas como folhelhos; os diversos horizontes de cores alternantes são nitidamente limitados entre si. Como limite inferior observa-se um horizonte argilo-arenoso, avermelhado, ou vermelho-

43 Maack (1947) afirmou que às camadas vermelhas Rio do Rasto foram inicialmente consideradas como

idênticas às camadas Santa Maria, todavia estas se situam mais alto no perfil estratigráfico, sendo separadas inferiormente das camadas Rio do Rasto e superiormente do arenito Botucatu por discordâncias de erosão.

violáceo, revelando evidentemente uma mudança das condições de sedimentação em comparação com as camadas Terezina. Na base deste horizonte avermelhado encontra-se uma leve discordância, limitada regionalmente, sob forma de uma linha ondulada. O limite com as camadas Terezina freqüentemente é formado por um arenito calcáreo cinzento, sendo em alguns pontos de difícil verificação na zona de decomposição, em virtude da coloração semelhante aos folhelhos inferiores. E uma seqüência de estratos limo-argilosos, notavelmente vermelho-castanhos ou intensamente vermelhos, freqüentemente formando bancos compactos, desagregando- se sempre em fragmentos mais grosseiros do que os folhelhos, finamente laminados.

Na área de estudo, o mesmo autor, encontrou Estheria ainda nas camadas vermelhas do Rio do Rasto, a 19 m abaixo da base do arenito eólico Botucatu e 1 m abaixo da base de um arenito fluvial, argiloso e vermelho, no pedestal da Serra Esperança, no Paraná, e na Serra da Bocaina, em Santa Catarina. Maack denominou estas camadas vermelhas do grupo Rio do Rasto de formação Poço Preto, em vista de que naquele lugar foram achados, pela primeira vez, os filópodos.

Foram levantados, na área de estudo afloramentos com coloração violeta e verde, provavelmente de fase síltica de areia de grandes planícies antigas (figura 35 e 36), onde os fluxos densos (provavelmente enxurradas) deixaram marcas de estratos cruzados em meio ao afloramento. Segundo trabalho de campo realizado com o professor Bigarella estas planícies podem ter sido de fase subaquática de nível raso, pertencente à Formação Rio do Rasto. Também foram observados afloramentos com níveis mais siltosos com alternância de camadas mais argilosas de coloração variável desde laranja á vermelho, e arenitos finos com camadas brancas dominantes e camadas amarelas que pode ser da alteração superficial (figura 37 e 38). Em certos afloramentos desta formação observou-se manganês, oriundos da deposição do ferro deixando traços escuros na rocha.

Também se constatou em campo, que esta litologia possui grande quantidade de linhas de escoamento que estão entalhando a encosta, devido ao fato da mesma ser predominantemente fina, pouco coesa e muito frágil o que confere a base da Escarpa da Esperança um baixo grau de resistência, resultando com isso na atuação dos processos modeladores do relevo, entre eles dos movimentos de massa.

Figura 35 e 36: Marcas de depósitos de grandes planícies. Este afloramento está localizado nas margens da antiga rodovia acima da Serra (ao Sul da atual).

Foto: Solange F. Vieira (Outubro de 2007).

Figura 37 e 38: Arenitos e siltitos/argilitos da Formação Rio do Rasto. Afloramento na margens da antiga rodovia abaixo da Serra (ao Norte da atual). Afloramento do arenito branco com aproximadamente 2,5 m de altura.

Foto: Solange F. Vieira (Junho de 2007)

Quanto a deposição da Formação Rio do Rasto esta é atribuída inicialmente a um ambiente marinho raso (supra a infra-maré) que transiciona para depósitos de planície costeira (Membro Serrinha) e passando posteriormente à implantação de uma sedimentação flúvio-deltaica (Membro Morro Pelado)(ORLANDI FILHO et al. (2002).

Segundo o mesmo autor, esta Formação apresenta contato por discordância erosiva com a Formação Botucatu que lhe é sobrejacente, e transicional com a Formação Teresina, que lhe é subjacente. O contato entre os seus Membros Serrinha e Morro Pelado é concordante e gradacional.

Na mesma linha, Maack (1947) diz que apenas acima dos horizontes vermelhos do grupo Rio do Rasto e abaixo do arenito Botucatu pode ser observada a grande discordância de erosão com o hiato entre o permiano e o triássico, faltando, tanto no Paraná como em Santa Catarina, a formação Santa Maria.

Portanto, o período Triássico no Brasil Meridional, desde o Triássico Inferior até o Médio, revela uma época de intensa erosão e denudação, da qual resultou, de um lado, a discordância e o hiato entre as camadas Rio do Rasto e a Formação Santa Maria e, por outro, entre o arenito Botucatu e as camadas rio do Rasto (MAACK, 1947).