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3 PERCURSOS METODOLÓGICOS

3.2 FORMAS DE ACESSO E CONTATO COM AS FAMÍLIAS

As famílias participantes da pesquisa foram acessadas por meio do acionamento da rede de contatos da pesquisadora, com base na técnica “snowball sampling” ou “Bola de Neve” (BROWNE, 2005; HECKATHORN, 2011). Esta técnica é uma forma de amostragem não probabilística por cadeia de referência, ou seja, algumas pessoas de referência indicam os participantes para a pesquisa e estes, por sua vez, indicam novos participantes (BROWNE, 2005; HECKATHORN, 2011), até que seja atingido o citério de saturação (GUEST; BUNCE; JOHNSON, 2006; MATA MACHADO, 2002).

Como também observado por Browne (2005) acredita-se que determinadas características do perfil dos participantes desta pesquisa, como idade, escolaridade e renda familiar, podem ter sido decorrentes do viés de seleção que a técnica Bola de Neve implica. Esta técnica de amostragem pode ser vista como tendenciosa, quando seleciona os participantes da pesquisa com base em redes sociais e, no caso desta pesquisa, o recrutamento dos participantes se deu exclusivamente pela rede de contatos da pesquisadora, como também foi feito por Browne (2005). Apesar de restringir a possibilidade de generalização dos resultados para a população em geral, a técnica Bola de Neve possibilita o estudo de grupos de difícil acesso e também desempenha um importante papel na relação estabelecida entre a pesquisadora e os entrevistados.

As informações sobre a pesquisa foram inicialmente difundidas em conversas informais com amigos e conhecidos, que costumavam suscitar narrativas como “eu conheço uma família que tem um(a) filho(a) com deficiência, mas não é adotivo(a)” ou então, “eu conheço uma família que adotou, mas o(a) filho(a) não é deficiente”. Frente à dificuldade de localizar e acessar famílias adotantes de crianças ou jovens com deficiência, ampliou-se a forma de contato com a rede por meio do envio

de um pequeno texto explicativo sobre a pesquisa por e-mail e também por meio de mensagem privada na rede social Facebook. Nesta mensagem, pedia-se para que a pessoa contatada, caso lembrasse de alguém que pudesse fazer parte da pesquisa, entrasse em contato, inicialmente com essa pessoa, informando os dados de contato da pesquisadora, ou então perguntando a ela se autorizava que seus dados pessoais de contato fossem repassados à pesquisadora. Algumas pessoas, que haviam respondido à primeira mensagem com a intenção de indicar uma família para participar da pesquisa, não retornaram o contato com as informações destas pessoas para que a pesquisadora pudesse contatá-las. Isso pode ter acontecido por vários motivos, entre eles, a pessoa indicada pode não ter autorizado a divulgação de seus contatos pessoais ou ainda não ter interesse em participar da pesquisa. Não houve, portanto, insistência para que estes contatos fossem retomados, a fim de preservar os preceitos éticos envolvidos na pesquisa, como o direito de recusar-se a participar da pesquisa.

Como forma de ampliar o número de famílias participantes, as entrevistas foram realizadas em diferentes cidades da região sul do Brasil, não incluindo outras regiões devido à indisponibilidade da pesquisadora para deslocar-se para tais locais. Mesmo ciente das dificuldades de acesso às famílias participantes, optou-se por não recorrer a instituições como juizados da infância e da adolescência, fóruns e instituições de acolhimento, uma vez que estas instituições poderiam enviesar a indicação das famílias participantes, conforme foi observado por Bueno (2014) em sua pesquisa de mestrado. No trabalho de Bueno (2014), ela descreve que as indicações feitas por instituições podem ter reforçado o viés de “pais perfeitos” e provocado anseios aos participantes quanto a possíveis avaliações do seu processo de adoção.

Compreende-se que o acionamento dos participantes por meio da rede de contatos da pesquisadora também representa um viés de indicações, o que caracteriza a metodologia “snowball sampling” (BROWNE, 2005). Entretanto, a diversidade de pessoas contatadas, bem como as indicações de novos participantes feitas pelas próprias famílias entrevistadas, podem ter reduzido esse viés e contribuído para uma variedade de experiências familiares e compreensões da deficiência. Ainda com relação à indicação institucional, como estes pais e mães participaram de uma avaliação psicossocial durante o processo de adoção, procurou-se evitar a associação do papel da pesquisadora/psicóloga, como aquela que pretendia avaliar os méritos e insucessos da adoção, de forma que esta diferenciação era esclarecida já nos primeiros contatos com as famílias participantes da pesquisa.

Não se pretende aqui relacionar as informações das famílias entrevistadas com as pessoas que as indicaram, na tentativa de evitar que os participantes da pesquisa possam ser identificados e para que sejam, portanto, respeitados o sigilo e a privacidade dos participantes. Ressalta- se que nem todas as famílias indicadas, nem mesmo todas aquelas que foram contatadas pela pesquisadora, fizeram parte da presente pesquisa. Isso se deu principalmente devido aos seguintes motivos:

 Algumas famílias indicadas não preenchiam os pré-requisitos para inclusão na pesquisa. Como exemplo, cita-se o caso de uma família que havia se responsabilizado pelos cuidados de uma jovem com deficiência frente ao falecimento da mãe biológica dela. Não houve, neste caso, formalização de um processo de adoção, mas sim a responsabilização pelos cuidados da jovem, que foi repassada a outros integrantes da família ampliada.

 Outras famílias não foram incluídas na pesquisa devido à sua cidade de origem, de modo que a pesquisadora não teve disponibilidade para se deslocar até a residência destas famílias para a realização da entrevista. Optou-se também pela não modificação da metodologia adotada, que consistia em entrevistas presenciais.

 Uma das famílias contatadas optou em não participar da realização da pesquisa. Mesmo após contato telefônico, por meio do qual foram explicados os objetivos da pesquisa e a forma como esta seria realizada, a pessoa contatada parecia não sentir-se à vontade para participar da pesquisa. Este sentimento parecia estar atrelado, principalmente, ao receio de a pessoa ser identificada e porque a adoção ainda não havia sido concluída, de modo que a pessoa contatada parecia imaginar que a sua participação na pesquisa poderia ter implicações ao processo de adoção que estava pleiteando. Respeitando às suas narrativas e anseios, a pesquisadora não voltou a fazer contato com esta família.

Conforme iam sendo informadas as indicações e contatos das famílias, a pesquisadora realizava um primeiro contato telefônico, a fim de verificar seu interesse e disponibilidade para participar da pesquisa. Àquelas famílias que foram acessadas por meio da rede social Facebook ou e-mail, foi enviado um texto no qual eram dadas as explicações sobre a pesquisa. Em ambos os casos, após apresentação pessoal, a

pesquisadora mencionava quem havia sido a fonte de indicação àquela família e apresentava a proposta da pesquisa, bem como a metodologia sugerida para a realização das entrevistas. Também foi disponibilizada uma síntese do projeto por escrito por e-mail para aquelas famílias que aceitaram e/ou solicitaram o envio.

Como o convite foi estendido aos demais moradores da residência, integrantes da família e pessoas que participavam dos cuidados das crianças, e também devido à orientação para que, na medida do possível, as crianças não fizessem parte da entrevista, frequentemente foram realizados mais de um contato com a família participante, anteriores à entrevista. Este intervalo de tempo era providenciado para que a pessoa contatada pudesse combinar e organizar a sua participação na pesquisa com os demais integrantes da família.