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Formas de internacionalização e barreiras ao capital internacional de

Capítulo 1. A Edificação no período da globalização

1.2. O segmento de Edificação e suas transformações

1.2.2. Internacionalização da Construção

1.2.2.1. Formas de internacionalização e barreiras ao capital internacional de

Para vários segmentos dos serviços o IDE, ou mesmo o estabelecimento de Relações

Contratuais com produtores locais, são as opções mais razoáveis de internacionalização

que o comércio (UNCTAD, 2004). No caso da Construção, em que muitos contratos são de longo curso, ou mesmo em que se exige a presença comercial do prestador de serviço para que os contratos sejam estabelecidos, o IDE ou o estabelecimento de alguma

Relação Contratual com produtores locais pode se tornar uma imposição (MSITS,

2010 e UNCTAD, 2010).

Para a internacionalização dos serviços nos segmentos onde a produção e o consumo se dão de forma simultânea, como a Construção, pode-se dizer que os IDEs têm como motivação a busca de mercado, e a barreira por excelência à internacionalização seria a imposição de restrições à operação de firmas estrangeiras sob a forma de ―presença comercial‖, assim como no caso da prestação de serviço com ―presença de pessoas naturais‖, as restrições à mobilidade do fator trabalho significariam a impossibilidade da internacionalização. No caso da restrição a firmas não-residentes, são poucas as economias que ainda impõem barreiras explícitas ao IDE. Para a presença de pessoas naturais, a situação é diversa – já que existem processos legais intrincados para que se consiga vistos

58 exigências como o reconhecimento de diplomas para a habilitação profissional local, entre outras. A mobilidade do capital ainda é muito superior à do trabalho.

UNCTAD (2006) procurou mensurar as barreiras aos IDEs em serviços nos países em desenvolvimento e nas Economias em Transição, identificados no ano de 2004, construindo um índice que variava de 0 a 1 – indo da total liberdade de atuação do capital estrangeiro na economia local ao simples impedimento da entrada. Foram consideradas para a construção do índice as restrições diretas à propriedade de empresas por estrangeiros (tendo peso inclusive o percentual de participação no capital), a necessidade de registro e aprovação da operação de estrangeiros e as restrições pós-investimento. A primeira restrição é considerada a mais relevante, já que determina a possibilidade de atuação, ou não, de estrangeiros no mercado local. A segunda é a que está mais sujeita às idiossincrasias locais, já que o registro e aprovação das operações das empresas estrangeiras podem ser deliberadamente postergados ou mesmo negados, em nome do interesse nacional. Entendeu-se como restrição pós-entrada, restrições operacionais – aquelas ligadas à movimentação de pessoas, como discriminação de nacionalidade de gerentes, membros do conselho ou trabalhadores.

O resultado geral da análise foi que as barreiras ao investimento externo em serviços são relativamente baixas – sendo a América Latina e os países do Leste Europeu relativamente mais abertos que os países em desenvolvimento da Ásia.

Especificamente para os serviços da Construção, constatou-se que o segmento é um

dos mais liberalizados entre os serviços em geral, sendo menos aberto apenas comparado

aos serviços relacionados ao meio ambiente – um segmento relativamente novo para as economias. Em uma lista de 50 países, cinco limitavam a participação de estrangeiros no capital de empresas da Construção a até 49,9% das ações (Egito, Indonésia, México, Qatar, Thailandia), seis limitavam aquela participação a algo entre 50% e 99% (Ghana, Índia, Kenya, Paraguai, Filipinas, Arábia Saudita) e os demais (entre eles o Brasil), não tinham legislação limitando a participação estrangeira no capital de empresas locais. Os autores salientam, por sua vez, que os resultados encontrados são consequência do processo de liberalização ao Comércio e ao IDE de serviços, observado desde a década de 1990 – um processo ainda em curso. Em março de 2005, por exemplo, a Índia promoveu uma ampla

59 reforma dos regulamentos em torno dos IDEs no segmento de Real Estate, impactando sobre o segmento da Construção, não captada por UNCTAD (2006).

O esforço de UNCTAD (2006) dá uma primeira aproximação das dificuldades do capital estrangeiro em aproveitar o crescimento dos negócios de outras economias que não a sua de origem, mas outras barreiras devem ser avaliadas.

Segundo MSITS (2010), as limitações mais frequentes ao tratamento nacional das empresas da Construção seriam a elegibilidade de ofertantes estrangeiros a subsídios locais e a restrição à posse de terras por estrangeiros. UNCTAD (2000) também coloca as

compras governamentais como uma fonte de discriminação do capital estrangeiro.

O acesso à terra e à propriedade e a possibilidade de subdivisão de glebas é essencial no negócio imobiliário e, como alerta UNECE (2003), vai além das questões meramente econômicas:

Restrictions of rights in land and real properties are a highly sensitive issue. It is subject to cultural legal and historic traditions that develop in countries over centuries. Thus countries demonstrate different views on what can be considered a restriction of rights in land and real property. A restriction in one country may not be treated or considered as such in another. (p.4)

UNECE (2003) coloca o direito à propriedade como um importante elemento para a atração de IDEs, nos mais variados segmentos, e que é comum haver restrições ao acesso à propriedade de ―terras‖ por estrangeiros segundo o local (áreas de referência para a segurança nacional, de valor histórico/cultural, etc), o ―tipo‖ de terra – agricultável ou não, e o tamanho de gleba.

Afora à questão da aquisição de terras, para MDIC (2002), as maiores dificuldades impostas aos estrangeiros no segmento da Construção estariam nas normas e legislações

domésticas que em geral não os discrimina explicitamente, mas que impõem a eles uma

dificuldade maior de operação que ao capital nacional. As próprias associações patronais locais sugerem normas técnicas específicas que dificultam a concorrência para estrangeiros. As barreiras não-tarifárias vão desde padrões técnicos, culturais, de meio

ambiente ao de registro profissional.

UNCTAD (2000 e 2000b) procuram levantar as principais dificuldades dos países em desenvolvimento de se beneficiarem da internacionalização dos serviços da Construção e

60 apontam, de forma mais detalhadas as questões apontadas por MDIC (2002) – referente ao aparato regulatório local e a mobilidade de mão de obra.

A referência para acordos internacionais de transações no setor de serviços é o GATS (General Agreement on Trade in Services), um dos acordos sob a OMC, fixado a partir da Rodada do Uruguai – o primeiro conjunto de disciplinas e regras no nível multilateral para cobrir o comércio internacional de serviços (MSITS, 2010). O GATS, válido desde 1995, teria como objetivo, além de promover a liberalização do comércio de serviços, que se justificaria pelo maior crescimento econômico que desencadearia, elevar a participação dos países em desenvolvimento no comércio internacional de serviços.

UNCTAD (2000), levando em consideração o desenvolvimento dos mercados e os acordos firmados no GATS, aponta como grandes fragilidades das empresas da Construção de países em desenvolvimento, mais uma vez, a qualificação técnica (e o acesso e/ou desenvolvimento de tecnologia) e o acesso ao financiamento. Para superar o ―atraso‖ técnico UNCTAD (2000) e UNCTAD (2000b) sugerem que aquelas firmas deveriam procurar desenvolver parcerias com empresas dos países desenvolvidos – seja nos mercados locais, seja nos próprios países desenvolvidos, para adquirir o expertise necessário para atuar no âmbito internacional. Isso poderia ser exigido por governos locais e/ou por organismos internacionais de financiamento, como o Banco Mundial – que já exigiria a participação de Construtoras locais nas obras erigidas nos próprios países em desenvolvimento, financiadas pela instituição.

A atuação do Banco Mundial, por sua vez, tem ido além do financiamento a grandes obras de infraestrutura – como o fez desde a sua criação. Especialmente através do seu braço privado – o IFC (International Finance Corporation) – o Banco tem patrocinado o modelo de securitização de créditos imobiliários desenvolvido nos EUA, tornando-se sócio de empresas securitizadoras em alguns países em desenvolvimento

no intento de dar maior confiança e liquidez aos mercados daqueles papéis. Sua motivação, em princípio, seria ampliar as possibilidades do financiamento imobiliário, inclusive residencial, potencializando o desenvolvimento das economias receptoras de recursos. Esta sistemática já foi aplicada no México e no Brasil.

No âmbito do financiamento, a IFC vem apoiando o desenvolvimento da

61 de Securitização – adquirindo aproximadamente 10% do seu capital; e em 2006 concedeu R$ 50 milhões (o equivalente a aproximadamente US$22 milhões) em um financiamento de cinco anos para a Rio Bravo Securitizadora S.A. – recursos que deveriam ser direcionados para o financiamento imobiliário. O IFC, por outro lado, também vem atuando ―no lado da oferta‖, como se verificará no terceiro capítulo do estudo, se associando a uma incorporadora local, mas de capital estrangeiro, para erigir empreendimentos habitacionais para a baixa renda.

O avanço na liberalização financeira no período da globalização sem dúvida foi maior que a própria liberalização do comércio e do investimento direto, gerando fluxos intensos de capitais de difícil discriminação setorial. Há poucas estatísticas formalizadas sobre a que setores produtivos o capital líquido entrante nos países se destina, o que seria importantíssimo para verificar a possível formação sobreinvestimentos, como Belluzzo (1999) identificou na crise asiática de 1997.