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A cidade constitui o horizonte das sociedades industrial e pós-industriais. As formas societais têm sido ainda responsáveis pela produção de metrópoles, de conurbações, de cidades industriais e de grandes aglomerações urbanas.

Deste o início do século passado que se chamam “metrópoles às mais dinâmicas e mais importantes destas aglomerações.”1 A noção de metrópole peca, ainda hoje, por não possuir uma total concordância quanto à sua definição, contudo, parece haver consenso quanto às três características que possuem: são as principais concentrações urbanas de um determinado país que concentram centenas de milhares de habitantes; são aglomerações urbanas multifuncionais; desenvolvem um tipo multifacetado e fortemente integradas na economia. internacional.

Ao fenómeno de desenvolvimento. das metrópoles junta-se um outro fenómeno – a metropolização – possuidor de contornos ainda pouco distintos, que envolve não só os processos de crescimento e de proliferação das grandes aglomerações, como se estende aos procedimentos que têm levado, de modo progressivo, à concentração de populações, actividades económicas, sociais e culturais e à produção e concentração de riquezas no seu interior.

Este processo de metropolização não contempla, nem seria esperar que contemplasse, somente o conjunto de dinâmicas físicas – as superfícies construídas – como também abrange as dinâmicas sociais e económicas responsáveis pela atracção, para as grandes cidades, de categorias sociais de maior rendimento económico e com actividades profissionais mais qualificadas, procedendo simultaneamente à sua repartição, de forma especificada, dentro do território das metrópoles.

Esta situação contribui para que se verifique um conjunto diversificado de

diferenças socioespaciais bem mais marcado do que noutro tipo de cidades.2 Esta

diferenciação pode ser agregada em dois princípios discriminantes:

1 - ASCHER, François (1998) – Metapolis - Acerca do Futuro da Cidade, Oeiras, Celta, p. 3

2 - Este processo é bem nítido nas metrópoles dos Estados Unidos da América, onde se traduz sob forma de guetos, enquanto na Europa, a sua configuração é baseada na formação ou alargamento de dominantes sociais que atingem um certo número de bairros.

• o primeiro, assenta na concentração de grupos sociais da população, com rendimentos económicos e categorias profissionais mais elevados em bairros de cidades mais centrais da metrópole ou em cidades já ocupadas por camadas

sociais já enriquecidas.1 Este princípio é operado através de processos de

exclusão assentes na renda fundiária e nos valores imobiliários da habitação, na requalificação urbana, na requalificação do comércio ou ainda no controlo dos próprios equipamentos colectivos;

• o segundo, desenvolve os processos de segregação através de processos que

levam à concentração de populações com estatuto socioprofissional precário

por via da construção de bairros de habitação social.2

Por outro lado, as deslocações pendulares que caracterizam o crescimento das metrópoles vêm mostrar que o crescimento da metrópole se faz, em menor escala, pela adição de novos subconjuntos e em maior escala através da formação das chamadas bacias de habitat e de emprego, decorrente das concepções polarizadoras do espaço, ou seja, em volta de uma ou mais cidades principais.

Este processo de metropolização é, deste modo, o grande responsável pelas transformações mais significativas operadas nos territórios que abrangem as grandes cidades, os seus subúrbios e arredores, estes territórios, que formam espaços urbanos mais vastos, com grande heterogeneidade e descontinuidade e em que não raras as vezes as grandes cidades se encontram cada vez mais distanciados da economia. regional e cujos territórios são transformados em espaços de serviços e de lazeres.

Todavia, os espaços que são produzidos pelas dinâmicas urbanas contemporâneas apresentam maior complexidade que as configurações clássicas produzidas pelas sociedades industriais. As metrópoles de hoje já não são somente territórios. Elas são

1 - No caso português, o bairro de Telheiras na cidade de Lisboa concentra um grande número de

indivíduos que são quadros superiores. Quando a Autoeuropa se instalou no Município de Palmela, os quadros técnicos superiores foram alojados nos municípios da linha de Cascais, com particular incidência para o Município de Cascais

2 - Foram os casos dos bairros do Vale da Amoreira, no Município da Moita, da Bela Vista no Município

de Setúbal, do Bairro do Pica-Pau Amarelo no Município de Almada ou da Nova Palmela, no Município de Palmela, entre muitos outros existentes na Área Metropolitana de Lisboa

também modos de vida e modos de produção.1

Este processo faz com que se torne indiscutível a necessidade de intervenção sobre a organização territorial.

A discussão hoje produzida centra-se sobre as formas de intervenção urbana, em que associam problemáticas da ideia de cidade - planeamento urbano em sentido restrito - e de governo de cidade - que é entendida como “a dinâmica dos actores face às formas de produção e reprodução do espaço urbano”.2

A partir dos anos setenta começa-se a assistir a uma articulação entre o urbano e o económico, o que leva a novas reflexões sobre o urbanismo que vão incluir necessariamente as questões do desenvolvimento urbano e regional; inversamente qualquer reflexão em torno do desenvolvimento urbano e regional vai obrigar a introduzir a variável organização territorial.

12.1 - URBANISMO E PLANEAMENTO URBANO

O urbanismo é uma disciplina que ainda se encontra em definição, e espera o contributo de outros ramos da ciência e da técnica de modo a poder equacionar um corpo coerente, que integre simultaneamente a complexidade e a diversidade da organização espacial.

Para Jean François Tribillon (1991), o urbanismo encara-se, ele próprio, quer como uma ciência interdisciplinar, onde as dimensões sociais espaciais estariam englobadas, quer como uma técnica decorrente da aplicação das metodologias de planeamento à intervenção sobre o urbano.

O conceito de urbanismo, tal como hoje é entendido, tem a sua emergência em Inglaterra no início do século XVIII, sendo filho directo da revolução industrial.

Essa mesma revolução industrial constitui “uma linha divisória na história do urbanismo e, especificamente, como o processo de transformação que torna possível uma inversão dos pesos relativos da população urbana e não urbana”.3

A revolução industrial inglesa foi também a grande responsável pela atracção de

1 - Cf. ASCHER, François (1998) – Op.cit. p. 16

2- CARIA, Fernando(1993)– Op.cit. p. 74

populações rurais para as cidades, que por seu turno não se encontravam preparadas para as receber e acolher.

Com cidades superpovoadas, as condições de vida e de habitabilidade eram péssimas, pelo que “uma série de pensadores vão repudiar a noção tradicional de cidade, elaborando modelos que permitam reencontrar uma ordem perturbada pelo maquinismo e pela tecnologia nascente.”1

É este pensamento, traduzido num outro olhar sobre a cidade, que vai dar origem à principal corrente do urbanismo moderno – a corrente progressista – que se opõe e se afasta das correntes humanista e naturalista, esta última muito ligada aos aspectos nostálgicos do rural.

Desde o século XVIII que a história do urbanismo se encontra marcada por duas ambiguidades que ainda hoje persistem.

Na primeira, assiste-se ao confronto entre utopias e realidades, ou seja, “durante longos anos as reflexões dos «urbanitas» não passavam de ensaios utópicos não concretizados” 2, ou seja, a não concretização prática dos modelos levou a que, na maioria dos casos, a avaliação sobre eles se tornasse impossível de realizar.

A concretização dos modelos foi feita tardiamente, no que se refere à presença de dois elementos que constituem parte integrante do urbanismo, falamos obviamente dos profissionais de intervenção urbana e na integração das técnicas de planeamento nos modelos teóricos.

A segunda ambiguidade, que se prende com o conceito de urbanismo, provém do confuso entrosamento verificado entre os pressupostos teóricos e as técnicas de intervenção. Esta confusão é devida ao facto do urbanismo ter sido encarado em duas dimensões não exclusivas: uma, de carácter técnico, baseia-se no estudo histórico- arquitectónico das formas de crescimento e de organização das cidades; a outra, de carácter teórico, procura defender um corpo de conceitos essenciais, nos quais os estudos sobre o crescimento das cidades se devem basear.

Estas duas dimensões dão origem, respectivamente, a dois tipos de urbanistas: os primeiros que se têm debruçado sobre o facto já consumado, ou seja, sobre a realidade já

1 -CARIA, Fernando (1993) -

Op.cit., p. 78

construída, sobre os efeitos morfológicos provocados por uma determinada forma de crescimento, apontando para a necessidade de se identificar: os diferentes actores responsáveis por esse crescimento, a estrutura fundiária, as figuras de planeamento e as formas de uso e apropriação da cidade por parte dos seus habitantes; os segundos, pelo contrário, colocam-se num nível mais teórico, e procuram as reconciliações do homem com a cidade, da técnica com a natureza, a partir da clarificação das necessidades humanas e da vivência em colectivo, procedendo à detecção das lógicas de materialização de uma dada sociedade.

Pese embora as diferenças entre os dois grupos, é a cidade que é tomada como matéria-prima de intervenção ou de teorização.

O que o urbanismo de hoje procura fazer é uma englobalização entre o social e o espacial, entrosando entre si as diferentes dimensões estruturantes de cada uma das dimensões:

1 - O homem, o social e o territorial - considera-se que o espaço é o elemento mediatizador dos comportamentos individuais e sociais, que condiciona e é condicionado por todos os que quotidianamente se reapropriam dele;

2 - O económico - que coloca uma dupla dimensão de questionamento sobre os aspectos económicos por parte da intervenção urbanística, em termos de custos e rentabilidades, ao mesmo tempo que o conjunto de actividades produtivas que geram a riqueza e o emprego nas regiões é integrado na paisagem;

3 - O arquitectónico e a engenharia civil – que materializam o espaço, marcando- o de forma real e simbólica, influenciando simultaneamente a pluralidade de formas e funções da vida urbana;

4 - O estético - que reside nas formas, mas que as ultrapassa indo globalizar-se nas memórias, nas emoções e sensações produtoras de valores, nas culturas e nas identidades individuais e sociais próprias;

5 - O equilíbrio biológico e a paisagem - em que se procura humanizar o ambiente natural e o ambiente técnico, sem provocar desequilíbrios biológicos e recriar espaços ecológicos;