• Nenhum resultado encontrado

No que diz respeito às formas de denúncia dos acusados, foram identificadas 5 principais: a anônima, onde não foi possível encontrar referência alguma nos cadernos de registros de que meio o denunciante se utilizou para denunciar o suspeito da violação; através do disque 100 (sistema telefônico da Secretaria de Direitos Humanos, em Brasília), sistema no qual a pessoa que denuncia não precisa se identificar, em que o centro que recebe essa suposta denúncia elabora um relatório que é enviado via fax ou e-mail diretamente ao Conselho Tutelar onde a violação foi praticada; ofício, elaborado geralmente por algumas instituições/departamentos sejam públicos ou privados, como escola, hospital, postos de saúde, delegacia, secretarias de educação, secretarias de ação social (especificamente CREAS e CRAS), outros; por telefone, segundo meio mais utilizado, pode ser feito por meio do telefone do órgão ou de algum conselheiro onde a pessoa

106 pode ou não se identificar; e, presencial, a principal forma de denúncia, se refere quando o denunciante comparece à sede do Conselho Tutelar para denunciar a prática de violação e seu nome consta nos registros.

Com relação aos dados coletados na pesquisa referente aos anos de 2000 a 2015, embora tenham sido identificados 3.741 casos, a forma de denúncia só passou a constar nos cadernos de registros a partir de 2008, o que gera uma perda de informações as quais poderiam entrar para os quantitativos. Todavia, ainda assim foi possível identificar 2.063 formas de denúncia relacionadas às violações.

O gráfico a seguir nos traz de forma bem ilustrativa esses meios utilizados para denunciar o suspeito.

Gráfico 4 – Formas de realização da denúncia (2008-2015)

Fonte: Elaborado pela autora a partir do banco de dados coletados.

Como se percebe, dos 2.063 casos em que foi apontada a forma de denúncia, o principal meio utilizado foi o presencial com cerca de 1.196 ocorrências, ou seja, 56% do total analisado. Isto nos remete a um ponto importante nesta pesquisa, os dados indicam a disposição do denunciante em ir pessoalmente realizar a denúncia, mesmo com condições adversas que dificultem isso, como, por exemplo, a questão do deslocamento até o órgão, o fato de poder ser reconhecido por alguém ou mesmo não saber como será recebido e até que ponto pode ir seu envolvimento com o caso.

107 Há de se deixar a ressalva de que esta ocorrência pode também estar relacionada ao fato de aparentemente não se ter outra forma de se realizar a denúncia, isso porque muitas vezes o telefone do órgão não está funcionando e nem sempre estas pessoas que denunciam possuem o número do celular dos conselheiros. Tal hipótese pode ser pensada; contudo, a questão é que mesmo com as condições citadas anteriormente, ao invés de o denunciador desistir de realizar a denúncia, este assume um papel importante que é o de se dispor a ir ao CT e revelar toda a situação pela qual a criança/adolescente está passando.

O segundo meio mais recorrente de se realizar a denúncia foi o telefone (que pode ser tanto o do órgão quanto o do celular dos conselheiros) com 683 ocorrências, 34%. Se comparado com a forma presencial percebemos uma redução em sua utilização. Isto pode estar relacionado ao fato de muitas vezes o aparelho não estar em funcionamento e, passar dias esperando conserto por parte da assistência técnica disponibilizada pela prefeitura. Ainda assim, pelos dados é perceptível que este é um instrumento bastante utilizado. Um ponto que ajuda a refletir sobre isso é a questão de que através deste meio o denunciador não precisa se identificar. Claro que, quando esta forma não é possível, presume-se que a denúncia presencial acaba aparecendo como o único caminho encontrado pelo realizador da mesma.

Em terceiro lugar como forma de denúncia veio os ofícios, com 91 ocorrências, 5%. Este geralmente é o meio utilizado por instituições como escolas, secretarias e outros departamentos. É presumível que estes ao relatarem algum fato de violência acabem usando os ofícios, pois é esperado deles uma posição mais formal se comparado aos outros denunciadores que se utilizam do telefone ou da forma presencial. Mesmo quando algumas dessas pessoas se dispõem a comparecerem ao órgão, fato bastante perceptível durante a estada em campo, ainda assim se fazia necessário que apresentassem um documento, no caso, o ofício, como uma maneira mais formal de realizar a denúncia.

Em quarto lugar, aparece como forma de denúncia a “anônima”, com apenas 57 ocorrências, 3%. Nesses casos, não foi possível identificar de que meios os denunciadores se utilizaram para apontar a ocorrência. Não havia qualquer informação nos cadernos de registros.

108 Por último, o outro meio utilizado é o disque 100 com 36 ocorrências, apresentando uma porcentagem pouco expressiva de apenas 2%. Uma hipótese que ajude a refletir sobre isto pode estar relacionada ao fato de que, além de haver formas mais acessíveis ao denunciador para realizar a denúncia, como a presencial ou mesmo o telefone do órgão, poucos conhecem esse instrumento que é o disque 100.

Vez ou outra ele acaba aparecendo na mídia, no entanto, geralmente aparece apenas quando ocorrem grandes eventos. Isso leva muitos a esqueceram o número. Outro fato é a questão de esse meio gerar um certo “receio” nas pessoas por não saberem quem vai atender a sua ligação, se vão identificá-la, se isso as leva a correrem algum risco etc. Há, ainda, a falta de credibilidade em alguém que está longe e que talvez não vai resolver o fato, muito diferente de procurar um conselheiro que está ali muito mais próximo de sua realidade.