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Fortalecimento da rede de sociabilidade na imprensa bibliográfica

1 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE LEONEL FRANCA: UM AGENTE

2.2 Fortalecimento da rede de sociabilidade na imprensa bibliográfica

Como construído durante toda a elaboração desta tese, reforçamos que nosso interesse maior é compreender Leonel Franca como mediador, da Igreja Católica, e participante ativo nos rumos da educação brasileira. Porém, consideramos ser imprescindível demonstrar a forma como sua obra o impulsionou a ocupar um espaço considerável nos campos políticos e educacionais. Enfatizamos suas produções e o caráter educativo que podem ser identificados em sua escrita, pensando, sempre, na formatação social e cultural, referente aos leigos em prol da organização da Igreja Católica. Ressaltamos que suas publicações/divulgações o engendra na cultura nacional, isso foi decisivo como estratégia para sua inserção no

campo social.

Muitos dos artigos de Franca foram publicados nos mais variados jornais e revistas de circulação leiga no Rio de Janeiro, como por exemplo: Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Jornal do Comércio; com vinculo a instituições profissionais: Anuário das Faculdades Católicas, Gregorianum, Revista Brasileira de Pedagogia, Revista Brasileira de Estatística, Verbum; e, religiosas: Anais da Sociedade Jurídica Santo Ivo, Boletim da Associação de Professores Católicos, Boletim Oficial da Ação Católica Brasileira e por fim A Ordem. No entanto, além das veiculações de mais fácil acesso encontram-se os livros.

Textos relacionados a embates contra a Igreja Católica também marcaram a trajetória de Franca na imprensa. Dessa forma, o padre tornou-se um – conhecido – polemista da igreja. Seus debatedores variavam entre alguns dos principais líderes protestantes daquele momento. Dentre eles estavam os reverendos pastores: Eduardo Carlos Pereira, Ernesto Luiz de Oliveira, Othoniel Motta e Lisâneas Cerqueira Leite. Lima (1995) afirma ter ocorrido, neste período, uma das maiores polêmicas entre católicos e protestantes no Brasil. Cristãos católicos e protestantes utilizavam-se de próprias criações para divulgar seus escritos. Nos protestantes foram criados A Imprensa Evangélica e O Estandarte – Igreja Presbiteriana; O Jornal Batista e O Expositor Cristão - Igreja Metodista. E, na Igreja Católica os periódicos surgiam de paróquias ou dioceses.

Para pensar a produção de Franca é necessário considerar a situação da cultura intelectual católica durante seus anos de formação na Europa (1912-1924). Sua inspiração formadora esta enraizada na tradição jesuítica, que: “[...] estimulado pelo espírito aberto e generoso de Mercier, era representado pelas correntes do chamado ‘tomismo franco-belga’ que, a partir, sobretudo, dos problemas então candentes da Crítica do Conhecimento, tentava um diálogo com correntes da filosofia moderna, sobretudo com o kantismo” (VAZ, 1998, p. 323, grifos do autor). Para nos atentarmos a isso, entramos em contato com suas produções.

Em pesquisa no arquivo da província dos jesuítas no Brasil, situada no Rio de Janeiro, podemos identificar que as produções do inaciano vão muito além daquilo que foi divulgado. O conjunto dos registros de suas acepções quanto aos rumos sociais daquele período não foi publicado em sua totalidade. Seus livros divulgados foram: Noções de História da Filosofia (1918); Apontamentos de Química Geral (1919); A Igreja, a Reforma e a Civilização (1923); As relíquias de uma polêmica

(1926); Ensino Religioso e Ensino Leigo (1931); O divórcio (1931); Catolicismo e Protestantismo (1933); A Psicologia da Fé (1934); Protestantismo no Brasil (1938); A crise do mundo moderno (1941); O método pedagógico dos Jesuítas (póstumo) (1952); O problema de Deus (póstumo) (1953); além de duas traduções, Imitação de Cristo (1944) e Livro dos Salmos (1947); alguns deles passando por diversas reedições.

O trabalho intelectual, com divulgação intensa, aconteceu entre os anos de 1954 e 1955, quando a edição de sua obra completa foi divulgada com 14 volumes. Franca escreveu sobre os mais diversos temas, passou da defesa do catolicismo a posicionamentos polêmicos como divórcio, aborto, ataques protestantes, política, filosofia, química e qualquer outro assunto que pudesse perpassar pelas questões sociais emergentes do período.

Após ingresso na Companhia de Jesus e estudos introdutórios para cursar filosofia na PUG, em 1912 – como afirmamos no capítulo anterior –, Franca empreendeu esforços na produção de sua primeira produção: Noções de História da Filosofia (1918). O texto foi reeditado aproximadamente 20 vezes até o final da década de 1990. A partir da segunda publicação, o livro recebeu um capítulo adicional: História da Filosofia no Brasil. Podemos, ainda, afirmar que esse livro seja a continuidade dos estudos necessários para Franca preparar suas aulas, enquanto professor recém-formado e dedicado a seu ofício.

Padre Franca, ainda em processo de formação jesuítica, por meio dessa obra, empreendeu três enfoques altamente debatidos no século XIX: espiritualismo, positivismo e materialismo. O jesuíta aponta que um número considerável de filósofos e estudiosos debatem essas temáticas, no entanto, a superficialidade e a fragilidade dos autores as tornam carentes e esse fato o impulsionou a produzir o livro em questão.

Os nomes de Tobias Barreto (1839-1889) e Sylvio Romero (1815- 1914) são os alvos de maior parte das críticas de Franca. Além do fato de serem sergipanos e de terem estudado Direito em Recife, os dois são associados ao esforço por consolidar uma tradição de crítica literária e filosófica no país ancorada no materialismo e em profunda crítica à metafisica. Reconhecendo em ambos os principais adversários a combater, Franca empreende um esforço para demonstrar a superficialidade de sua reflexão, associada aos modismos intelectuais (ARDUINI, 2013, p. 09).

Notamos que Franca tem como objetivo defender, para além da sua fé, a Igreja Católica dos ataques protestantes e de todos aqueles que atingiram direta, ou

indiretamente, a Igreja Romana com os mesmos argumentos. Leonel Franca possuía o poder do discurso à representatividade da Igreja. Em nome dessa defesa ele utilizava seus livros com uma linguagem que expressava autoridade e precisão. Sobre a linguagem, na teoria bourdieusiana, é possível constatar que ela

[...] na melhor das hipóteses, representa tal autoridade, manifestando-a e simbolizando-a. Há uma retórica característica de todos os discursos institucionais, quer dizer, da fala oficial do porta- voz autorizado que se exprime em situação solene, e que dispõe de uma autoridade cujos limites coincidem com a delegação da instituição (BOURDIEU, 2008, p. 87).

Enquanto porta-voz da Igreja, em prol de sua defesa, o inaciano, por meio da linguagem do catolicismo, obteve um movimento de aceitação e aprovação de sua primeira produção, impactante mesmo a nós pesquisadores. Os breves e poucos recortes, encontrados em arquivos e periódicos da época, não são o suficiente para demonstrar e mensurar sua participação social, bem como sua repercussão.

Elencamos alguns dos recortes de jornal, destacados pelo próprio Franca, contidos em sua pasta/diário de anotações que contém alguns dos periódicos de maior circulação naquele contexto. Se os seus livros não poderiam ser comprados, por não ter um valor acessível ao público, ou devido aos leigos não terem entendimento daquela importância, os jornais circulavam em variadas camadas sociais – atingiam uma porção maior da população, se não pela forma escrita com o impacto de sua divulgação oral.

Enquanto isso, no mesmo ano, n’O INTRANSIGENTE, quinta-feira – 05/06/1919, no Recife, Esdras-Farias aponta que “A obra Noções de Historia da Philosophia do padre Leonel Franca, é, por conseguinte, um grande livro, um expositor de conhecimentos úteis, de vantagem educativa para a mocidade de hoje”. Ressaltamos a dimensão de sua publicação e sua divulgação em massa. Em seus arquivos de correspondências encontramos inúmeras cartas de recebimento das obras. Ou seja, sua estratégia para divulgação e expansão consistia em fazer autodivulgação de seus escritos para, assim, espalhá-los por todo o país ou para além dele, o quanto pudesse.

No que tange às publicações, com base no posicionamento ocupado por escritores numa sociedade, podemos afirmar que foram objeto e meio de divulgação. Independente do seu aspecto, se voltada para o público interessado, seu impacto teria constantemente um retorno. Franca, enquanto um intelectual engajado, não

apenas nos compromissos eclesiásticos, mas nos mais diversos estratos sociais, tinha o poder dessa divulgação. Essas ações:

[...] podem desembocar em duas acepções do intelectual, uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e os ‘mediadores’ culturais, a outra mais estreita, baseada na noção de engajamento. No primeiro caso, estão abrangidos tanto o jornalista como o escritor, o professor secundário como o erudito. Nos degraus que levam a esse primeiro conjunto postam-se uma parte dos estudantes, criadores ou ‘mediadores’ em potencial, e ainda outras categorias de ‘receptores’ da cultura (SIRINELLI, 2003, p. 242).

Considerando que as características da linguagem sacerdotal, e/ou professoral – no caso de Franca, as duas coisas –, costumam estar atreladas à instituição à qual pertencem, compreendemos que as produções em questão foram originadas da posição ocupada pelo jesuíta no campo de concorrência por uma verdade dentro das polêmicas temporais (BOURDIEU, 2008). Não obstante, utilizando-se de sua autoridade, delegada por grandes líderes – como Dom Leme, por exemplo -, o padre ficou conhecido como “O Polemista”, pela crítica literária.

Franca, na condição de professor, escritor e intelectual prestigiado, encontrava-se na primeira classificação. Seu reconhecimento repercutia intensamente, e seu posicionamento como criador ficava demarcado no meio social. Sobre seus reconhecimentos, o Correio da Manhã, em 23/11/1919 (grifo nosso), trazia:

Noções de Historia da Filosofia, por Leonel Franca. Este livro é uma

obra de valor escripta sob uma inspiração visivelmente catholica.

Cremos que é a primeira Historia da Philosophia que se publica no Brasil, e é preciso confessar que honra a nossa cultural, e é

digna do assumpto que versa com superior erudição.

Desde as primitivas filosofias orentaes, e depois a philosphia grega, até os últimos systemas, degrega, até os últimos systemas de nossos dias, o autor estuda todas, expondo-as sucintamente e comentando- as, num resumo utilíssimo.

É um compendio organizado com muito methodo e que se torna eficaz como uma boa obra para estudo e para consulta.

A crítica na coluna Vida Literária, d’O Jornal29, escrita por Gualter, em

29 Fundado em 1919, O Jornal estruturava-se como uma provocação ao Jornal do Comércio – o mais popular naquele momento. Organizado por ex-funcionários do Jornal do Comério, tinha o objetivo de mostrar qual seria o verdadeiro e mais original jornal. Dentre esses representantes, estava Alceu Amoroso Lima.

28/3/1922, reforçava:

O numero dos nossos pensadores das ultimas gerações, dessas que vão dominando agora a arena intelectual, já avultado e citar os nomes dos srs. Papaterra Limongi, Tristão de Athayde, José Oiticica, Andrade Muricy, Ronald de Carvalho, Perillo Gomes, Tasso da Silveira, Renato de Almeida, Alvaro Bomilcar, José Maria Bello, Albertina Bertha, Flexa Ribeiro, Victor Vianna, Pontes de Miranda, Gilberto Amado, João Pinto da Silva, A. Chateubriand, Mario de Lia, será citar somente os que revelam mais atividade mas, nem de longe, lembrar todos os moços que merecem aquelle qualificativo e nem mesmo se pode dizer que representem, no seu conjunto, todos os matizes desta nova e já muito complexa intelectualidade brasileira. [...] É neste ponto, que, ao que nos parece, vae tendo a palma, entre nós, a mocidade que se educa em institutos catholicos. De facto, poucos são ainda os que se dedicam ao estudo de questões propriamente pholosophicas, mas os mais sérios espíritos, com que já contamos, nesses domínios, força é confessor que, por educação e convicções pertencem ao grêmio da Egreja.

Observamos que o crítico literário coloca Leonel Franca entre os pensadores com mais repercussão e impacto na época em discussão. Logo em sua primeira obra, o jesuíta aceitou o timbre de intelectual e é amplamente acolhido por aqueles que já estão imersos naquela realidade. Afinal, se considerarmos que só têm tamanho impacto aqueles que aceitam a entrada no campo intelectual e são aceitos por aqueles que já o compõem, podemos afirmar que:

[...] um campo só pode se conceber como um mercado, como produtores e consumidores de bens. Os produtores, indivíduos dotados de capitais específicos, se enfrentam. A razão dessas lutas é a acumulação da forma de capital que garante a dominação do campo. O capital aparece então, ao mesmo tempo, como meio e como fim (BONNEWITZ, 2003, p. 61).

Em consonância com o que afirmamos e em defesa daquele que acaba de ser aceito no campo intelectual, o colunista Gualter, d’O Jornal, ataca os materialistas que, segundo ele, organizados em pequenos grupos, possuíam pouco argumento literário. Afirma que a Igreja Católica, em campo filosófico, principalmente, se posiciona melhor e demonstra capacidade de explicar obras de difícil entendimento e de muito fôlego. O fato de o vocabulário de Leonel Franca ser mais complexo e por sua capacidade de atingir as camadas mais desfavorecidas economicamente não ser tão eficaz não parecem ser pontos negativos para os críticos literários. Afinal, o convencimento deveria se dar “de cima para baixo”. Neste caso, constatamos uma parte da imprensa que servia aos favorecimentos da igreja.

Com isso, podemos notar que não apenas em Roma, mas em vários outros pontos da Europa a produção de Franca mostra-se afirmativa e importante para a defesa do catolicismo. Os apontamentos e considerações são divulgados até mesmo para servir de inspiração para aqueles que professam da mesma fé. Na vida da intelectualidade do século XX, em sua grande parte,

O padre Leonel Franca é, como disse, autor de uma “História da Filosofia”, de que a segunda edição constituía, por assim dizer, a sua revelação ao mundo das letras brasileiras. [...] talvez só por modéstia não de um volume à parte as últimas cem páginas que são, realmente, a primeira tentativa séria de uma história das ideias no Brasil, de uma história e de uma crítica dessas mesmas ideias, do ponto de vista de um sistema com direito de cidade no mundo da filosofia, no caso, graças a Deus, o da filosofia tradicional, católica (FIGUEIREDO, 1924, p. 29).

Jackson de Figueiredo refere-se à inclusão de um capítulo final, na segunda edição, da obra de Franca, de 1921, sobre história da filosofia no Brasil. E, embora com toda a repercussão de um de seus maiores livros sobre a filosofia, ele ainda escreve os Apontamentos de Química Geral (1919), com os objetivos centrais de preparar suas aulas e organizar o currículo das escolas religiosas. Muitos dos itens teóricos foram adotados, antes por ele, e posteriormente por muitas instituições confessionais.

Como já tratado no capítulo anterior, na década de 1920, Franca retornou a Roma para a realização do curso de filosofia, o qual teria duração de quatro anos. É necessário destacar que suas passagens por Roma deixaram, frutos importantíssimos a serem colhidos pela ordem religiosa e, após isso, a serem distribuídos à sociedade. Nenhuma passagem por Roma, ou melhor dizendo, nenhum financiamento empreendido pela Santa Igreja deixou de dar origem a obras impactantes na Igreja Católica, sobretudo em território brasileiro. O livro A Igreja, a Reforma e a Civilização (1923) foi uma dessas produções. Com base nos pressupostos bourdieusianos, defendemos que tais investidas são possíveis por meio da acumulação do capital cultural:

[...] que corresponde ao conjunto das qualificações intelectuais produzidas pelo sistema escolar ou transmitidas pela família. Este capital pode existir sob três formas: em estado incorporado, como disposição duradoura do corpo (por exemplo, a facilidade de expressão em público); em estado objetivo, como bem cultural (a posse de quadro, de obras); em estado institucionalizado, isto é,

socialmente sancionado por instituições (como os títulos acadêmicos) (BONNEWITZ, 2003, p. 53-54).

Com mais uma obra, Leonel Franca teve o reconhecimento de ser um ilustre intelectual. A partir do capital cultural utilizado, produtivamente de forma proveitosa, o padre, em poucos anos, estava pronto e adequado a fazer parte do rol daqueles que já estavam consolidados no campo social com os objetivos de dirigir a sociedade e atingir as mais variadas camadas sociais por meio da repercussão e divulgação de “manuais culturais”. O livro “[...] ao mesmo tempo que firmava a reputação intelectual de Franca, prenunciava para o jovem jesuíta uma presença marcante na conjuntura intelectual do catolicismo brasileiro dos anos 20 (VAZ, 1998, p. 326).

Embora se referindo a um contexto francês e tratando de assuntos de outra natureza, consideramos importante e possível a aplicabilidade da análise de Pierre Bourdieu, que classifica o capital cultural em três estados: o estado incorporado, o estado objetivado e o estado institucionalizado. Podemos defini-los, respectiva e sucintamente, em disposições do agente em seu campo; acumulação de bens culturais – quadros, livros etc. -; e posse de um certificado escolar, de algum grau. No caso de Leonel Franca, o capital cultural teve como meio o fato da necessidade fundamental de estar ligado ao corpo do jesuíta, que tinha a Igreja lançando mão de tudo o que fosse necessário para sua formação – isso pressupõe sua apropriação (BOURDIEU, 2012).

Ainda sobre apropriação do capital cultural tendo como um dos resultados suas produções, n’O jornal, em 25/05/1924, Agrippino Grieco (grifo nosso) discute que:

A obra do Padre Leonel Franca é admirável. Embora escripta

especialmente para responder a um livro do sr. Eduardo Carlos Pereira sobre o problema religioso na America latina, ella vae muito

além do seu objetivo, porque o assumpto é vasto demais, alto

demais para ater-se a uma só individualidade. Dahi mudar-se em obra de doutrina o que poderia ser apenas obra de polemica. [...] O

autor, que dispõe de uma sorprehendente cultura histórica, clarificada pela argucia critica, sabe ver a acção catholica nas suas correlações sociaes e humanas. Leu, sem medo, tudo

quanto era necessário a sua especialidade. Leu os próprios

inimigos da Egreja e combate-os agora com as armas mesmas que trouxe dos seus arsenais theologicos. Não há uma obra

essencial da literatura protestante que lhe seja desconhecida e teve o recurso de ir as fontes originaes, sabedor como é das ásperas glóticas tedescas não menos que dos nobres acentos latinos ou das cariciosas syllabas gregas.

Grieco divulga, por meio de um meio mais acessível de comunicação, uma opinião que favorece a igreja, e direciona uma crítica ao protestante Carlos Eduardo Pereira30. O colunista, na mesma divulgação, defende o padre Franca e diz que,

como todo bom católico e principalmente jesuíta, o padre responde às críticas com educação e com a erudição de um filósofo a ser destacado naquela sociedade e cultura. O pastor presbiteriano Carlos Eduardo Pereira, na publicação de O problema religioso na América Latina, escrito em 1920, afirma que todos deveriam ser protestantes para unificar a nação. Realiza apontamentos que contribuem com a discussão gerada em torno do Congresso da Obra Cristã na América Latina.

Em 1916, na capital do Panamá, realizara-se o Congresso da Obra Cristã na América Latina. Tal encontro era um desdobramento da grande Conferencia Mundial de Missões, realizada em Edimburgo, 1910, e que tinha chegado à conclusão, para desespero dos evangélicos mais conservadores, que a América Latina não podia ser considerada um campo missionário, justamente por causa da presença do catolicismo (LIMA, 1995, p. 15).

Naquela ocasião, os brasileiros que compunham uma parcela daquele público, julgavam que o catolicismo apresentava-se como um fator prejudicial a ser combatido; e, os católicos, por sua vez, um público a ser evangelizado. Pereira (1920), ao participar do presente evento, publica sua obra com cerca de 450 páginas provando, entre outras teses, a de que o problema da América Latina é o religioso. Para o pastor presbiteriano, “[...] o catolicismo seria o principal fator da manutenção do continente latino no atraso econômico e social. A solução para tal atraso estaria na adesão ao protestantismo, somente ao abraçar a fé protestante os povos latinos alcançariam o progresso” (FABRICIO, 2015, p. 06).

As críticas feitas ao catolicismo atingiam, por vezes diretamente, à Companhia de Jesus, uma das Ordens mais atacadas pelo autor do livro. Portanto, entende-se que A Igreja, a Reforma e a Civilização foi uma expressão contra essa produção. Com isso, cabe-nos

[...] observar que polêmicas ou disputas, como esta entre Leonel Franca e os pastores protestantes, só colocam em evidência a tensão e a concorrência existente no campo religioso, onde o que

30 Carlos Eduardo Pereira, nascido no ano de 1855 – em Minas Gerais, converteu-se ao presbiterianismo e tornou-se sacerdote na cidade de São Paulo. Foi um dos mais consideráveis debatedores sobre o protestantismo no Brasil e na América Latina, do início do século XX (LIMA, 1995).

está em jogo é o acúmulo de capital religioso e capacidade de fornecer um discurso legítimo adequado à demanda dos leigos (FABRICIO, 2015, p. 08).

Leonel Franca, ao responder o pastor Carlos Eduardo Pereira, refere-se e desdenha à péssima forma de escrita dos protestantes, mas ainda assim publica 600 páginas. Os protestantes reivindicam que ninguém gastaria tantas páginas para