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Francisco Adolfo de Varnhagen: um alemão, um português, um brasileiro ou um

Francisco Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, foi um historiador e diplomata cuja pesquisa e produção bibliográfica muito contribuíram para a historiografia brasileira no século XIX. Varnhagen nasceu em 17 de fevereiro de 1816 nas Instalações da Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, em que seu pai, Friderico Luiz Guilherme de Varnhagen 23, era diretor à época. No dia 19 de março de 1816, foi batizado na Capella da Real Fabrica de São João de Ipanema e teve como padrinho,"o Excellentissimo Conde de Palma, Governador e Capitão General desta capitania24".

A Fábrica de Ferro de Ipanema situa-se no morro de Araçoiaba, próxima a cidade paulista de Sorocaba. Ele viveu lá até 1822. Em 1822 seu pai voltou para sua Waldeck num primeiro momento e depois seguiu para Lisboa. Sua mãe, Dona Maria Flavia de Sá Magalhães25, se mudou com os filhos para o Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, teve os primeiros estudos básicos. E em 1823, mudou-se com sua mãe e irmãos para Lisboa ao encontro de seu pai. Em um requerimento sem data, Friderico

22 Texto adaptado de minha autoria. IN: ALMEIDA, Gisele Cristina Cipriani de. Francisco Adolfo de Varnhagen: um alemão, um português, um brasileiro ou um carreirista? IN: Luna Halabi Belchior; Luisa Rauter Pereira; Sérgio Ricardo da Mata (orgs). Anais do 7o. Seminário Brasileiro de História

da Historiografia – Teoria da história e história da historiografia: diálogos Brasil-Alemanha.

Ouro Preto: EdUFOP, 2013. (ISBN: 978-85-288-0326-6).

23 Friderico Luiz Guilherme de Varnhagen nasceu em 24 de fevereiro de 1783 na Freguesia de Wetterburgo, próxima a cidade de Arolsen, Corte do Príncipe de Waldeck.

24 Assentamento de Batismo de Francisco Adolfo de Varnhagen. Manuscrito localizado na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional, localização é I-46, 13, 37, no. 2.

Luis Guilherme de Varnhagen pede ao rei que "satisfaça ao Supllicante as dispezas do seo transporte e do da sua familia do Brazil à esta Corte".26

Em 1825, ele ingressa no Real Colegio Militar em Lisboa através de um requerimento de seu pai27. Varnhagen tinha dois irmãos e três irmãs. Ele era o caçula dos meninos. Em 1831, um dos seus irmãos morre da queda de um cavalo e em 1832 seu irmão mais velho morre lutando.28 Portanto, em 1833 Varnhagen era o único filho homem de um militar de origem alemã, a serviço da Coroa portuguesa. De acordo com o historiador, foi em uma visita que fez com seu pai a Pedro I que o fez seguir a carreira militar portuguesa, pela qual afirma que não tinha interesse algum até aquele momento.

Lembro-me que o imperador me mediu com os olhos, e disse: <<Já é mais alto que o pai: isso é do sangue paulista.>> - As aulas se acabavam de fechar quando eu me alistei; e como tinha alguns estudos, e a campanha se abriu com vantagem, fui eleito oficial artilheiro no fim dos três meses de praça. (VARNHAGEN, 1846, p. 05)29

Este trecho explica os motivos que levaram o historiador a se alistar no exército português. Filho de uma portuguesa com um alemão, seguindo os passos do pai, iniciou sua carreira militar ainda jovem e se formou engenheiro com honras. Lutou ao lado de Pedro I contra Dom Miguel, na guerra civil que se estendeu de 1831 a 1834, assumindo a carreira militar com a cidadania portuguesa.

Em 1834, concluiu seus estudos militares na Academia de Fortificações com glórias e teve contato com Herculano e o D. Francisco de São Luís, entrando para o círculo dos intelectuais portugueses.

26 Arquivo Histórico Militar. Processo militar no. 1443 de Frederico Luis Guilherme de Varnhagen, cx 22. Requerimento de Friderico Luis Guilherme de Varnhagen, pedindo ao rei que pagasse as despesas da vinda da família do Brasil para Portugal. Sem data.

27 Arquivo Histórico Militar. Processo militar no. 1443 de Frederico Luis Guilherme de Varnhagen, cx 22. Requerimento de F. L. G. V. ao rei pedindo que seu filho, Francisco Adolfo de Varnhagen, possa ingressar como aluno no Real Collegio Militar de Lisboa. Marinha Grande, 8 de junho de 1825. 28 Friderico Luis Guilherme de Varnhagen tentou conseguir com a Coroa Portuguesa que seu filho, Timotheo Varnhagen, servisse no Exército Português, voltando para Portugal em requerimento. Sobre este requerimento, ver processo de Friderico Luis Guilherme de Varnhagen no Arquivo Histórico Militar, Processo militar no. 1443 de Frederico Luis Guilherme de Varnhagen, cx 22. Requerimento de F. L. G. V pedindo à Rainha que admitisse seu filho Thimotheo de Varnhagen como oficial do Exército de Portugal. Lisboa, 4 de outubro de 1826.

29 VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Réplica Apologética de um escriptor calummiado e juizo

final de um plagiário difamador que se intitula general. Madrid: Imprensa da Viuva de R. J.

Estudioso da poesia medieval lusitana, frequentador das rodas literárias lisboetas, aproximou-se do historiador Alexandre Herculano e do cardeal d. Francisco de São Luís, o que lhe valeu uma recomendação para ter acesso aos arquivos da Torre do Tombo (GUIMARÃES, 2013, p. 16).

Entre muitas pesquisas e descobertas na Torre do Tombo, as mais importantes foram a “revelação da identidade do autor (Gabriel Soares de Sousa) do Roteiro do Brasil, a principal descrição dos domínios portugueses na América no século XVI” e também “desvendou o mistério que envolvia os restos mortais de Pedro Álvares Cabral, ao encontrar seu túmulo no Convento da Graça, em Santarém”(GUIMARÃES, 2013, p. 16).

Em 1838, apresentou seu primeiro trabalho à Academia de Ciências de Lisboa e em seguida foi nomeado sócio da instituição, ao mesmo tempo que terminava seus estudos de engenharia, que concluiu em 1839. Em 1839, publicou “Reflexões

Críticas”, um estudo sobre um escrito de Gabriel Soares de Sousa, intitulado Notícias do Brasil do século XVI, sendo então aceito para membro da Academia Real de

Ciências de Lisboa, ganhando notoriedade entre os intelectuais da época. Logo após a publicação do estudo a questão da sua nacionalidade apareceu e serviu como ponto de questionamento, exigindo a definição.

Em maio de 1840, Varnhagen pediu licença militar em Portugal e fez uma viagem ao Brasil às suas custas.30 Em 1840, fez uma viagem pelo interior do Brasil e se tornou sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Algumas biografias declaram que seu amor pela pátria foi maior que o desejo de ser europeu, por isso quando entrou em contato com a pátria de seu nascimento assumiu o sentimento de mais puro patriotismo e pediu que tivesse sua cidadania brasileira reconhecida pelo imperador, o que ocorreu apenas em 1842 quando estava em Lisboa.

30 Sobre esta licença, ver: Arquivo Histórico Militar. Processo de Francisco Adolfo de Varnhagen no. 1134, cx 44. Informações sobre condições físicas e militares de Francisco Adolfo de Varnhagen. Data de 1841 e 1842.

Porém, no capítulo31 que fiz e que ainda está no prelo sobre o historiador, defendo, através de pesquisa que fiz no Arquivo Histórico Militar de Lisboa, que o historiador, à princípio, pretendia uma promoção militar em Portugal, antes de tentar reconquistar sua cidadania brasileira. Depois de muitas tentativas fracassadas, Varnhagen busca conseguir sua cidadania brasileira e uma posição profissional.

Enquanto aguardava a manifestação imperial, estava em atividade na carreira diplomática brasileira. Passou grande parte de sua vida como diplomata brasileiro em terras estrangeiras, sendo muito questionado por isso. Paralelamente aos deveres diplomáticos, era frequentador assíduo de arquivos e buscava documentos que pudessem enriquecer a história do Brasil. Encontrou documentos inéditos, editou documentos importantes, copiou outros e enviou inúmeros estudos e pareceres sobre a história do Brasil para o IHGB. Muitos historiadores contemporâneos ao historiador ou posteriores tratam seu pedido de reconhecimento da cidadania brasileira como um ato patriótico e relacionam toda sua pesquisa e obras ao seu patriotismo, transformando-o em um mártir que deixou a cidadania portuguesa para retornar à pátria, apaixonado pelas causas brasileiras. Varnhagen era um homem do seu tempo, portanto nosso olhar deve ser cuidadoso ao trata-lo como um patriota, livre de ambições e até da necessidade de sobreviver 32.

Não proponho diminuir a importância do historiador para a historiografia, mas sim separar a questão da nacionalidade de sua trajetória, mostrando que seu valor está em suas pesquisas e publicações, e não em sua nacionalidade. Proponho que o tema da nacionalidade de Varnhagen estava vinculado às escolhas mais promissoras para sua carreira, contudo, o os questionamentos sobre sua nacionalidade o perseguiram durante toda sua trajetória, o que aparece principalmente na autoria de suas obras e trabalhos.

a. A escolha de Varnhagen pela nacionalidade brasileira

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi o grande incentivador da pesquisa histórica no Brasil. Tanto o Instituto Histórico como o Ministério dos

31 Trecho do capitulo, no prelo, de ALMEIDA, Gisele. Visconde de Porto Seguro, natural do Brasil e cidadão do mundo. IN: HAUSSER,Christian e POETTERING, Jorun. Encontros e desencontros da historiografia brasileiro-alemã. Representações oitocentistas do passado brasileiro.

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Ver: “Para o historiador, a redação de uma biografia presta-se a toda sorte de desvios. Convém manter certa distância do sujeito que em geral lhe é simpático e que, por isso mesmo, o arrasta a uma adesão não apenas intelectual, mas não raro afetiva e passional. Existe, pois, uma “ilusão biográfica” de que é bom desconfiar.” DOSSE, François. O desafio biográfico: escrever uma vida. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2009, p. 208.

Negócios Estrangeiros foram os principais órgãos que com apoio do imperador incentivaram a pesquisa da nossa história em arquivos na Europa e no Brasil. De acordo com Rodrigues (1952, p. 32 e 35)

Em relação à pesquisa no estrangeiro propunha que se procurasse a colaboração de sábios estrangeiros e se mantivesse a correspondência com sociedade científicas, solicitando o auxílio do Ministério dos Negócios Estrangeiros e aceitando a colaboração de diplomatas. (...) Antônio Meneses de Vasconcelos Drummond (1794-1865) foi um dos poucos diplomatas que atendeu aos apelos do Instituto Histórico de colhêr documentos brasileiros na Europa.

Desde o início de sua carreira, o patriotismo de Varnhagen era declarado quando seu trabalho e credibilidade como intelectual e historiador eram questionados. Varnhagen fez uma viagem para o Brasil na tentativa, de acordo com muitos historiadores, de resolver a questão de sua nacionalidade. Vasconcelos de Drummond foi o diplomata brasileiro defensor de Varnhagen, principalmente na questão da nacionalidade brasileira, que valorizou a potencialidade do historiador e o indicou para serviços que envolvessem pesquisas em acervos que contribuíssem para a coleta ou cópia de documentos ligados a história do Brasil. Rodrigues (1952, p. 39), atenta para a iniciativa de Drummond:

É por intermédio de Drummond que Varnhagen oferece ao Instituto Histórico em 1840, um exemplar de suas Reflexões Críticas e do Diário de Navegação de Pero Lopes de Sousa. 'O Sr. Varnhagen ocupa-se ainda em procurar documentos da mesma natureza e igualmente interessantes à nossa história. Devemos esperar de seu talento e grande atividade que continue a prestar ao País de seu nascimento importantes serviços dêste gênero'.

Drummond reconhecia em Varnhagen o potencial de investigação histórica. E foi na diplomacia que Varnhagen teve a oportunidade de estudar os interesses do Império e contribuir com a bibliografia para a história do Brasil. Drummond foi o primeiro a exaltar Varnhagen, principalmente, na escolha da nacionalidade brasileira.33 Varnhagen foi

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Sobre o que Drummond escreveu na defesa de Varnhagen, Guimarães diz: “Em 14 de dezembro de 1839, Vasconcelos de Drummond escreveu ao ministro de Assuntos Estrangeiros do Brasil, Caetano Maria Lopes de Gama (1795-1862): ´Recusa também qualquer emprego português, procura o Brasil, sua pátria de nascimento, por amor e porque promete engrandecimento e elevação. É por isso que

Nomeado aos 18 de maio de 1842 adido de primeira classe em Lisboa, por sugestão de Vasconcelos de Drummond e influência do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que desejava aproveitar sua inteligência e capacidade em pesquisas históricas, Varnhagen inicia desde aí, realmente, a primeira investigação histórica de caráter público, já que José Maria do Amaral poucos resultados apresentara. (RODRIGUES, 1952, p. 41)

Em 1843, em um ofício enviado para o general Francisco José de Sousa Soares de Andréa, Varnhagen faz sua primeira autobiografia. Ele insere em sua autobiografia a ideia de patriotismo desde quando fala do seu alistamento no exército português, julgando que somente serviu a causa portuguesa por defender Pedro I “contra um tyrano usurpador em pró de uma princesa e umas instituições emanadas do nosso solo” (VARNHAGEN, 1961, p. 99) justificando assim sua opção pela carreira militar portuguesa até aquele momento.

Em seguida, o historiador fala sobre o propósito de sua viagem para o Brasil, que era resolver a questão da sua nacionalidade.

Entretanto as minhas aplicações e afeições eram de tal modo para o Brazil que em princípio de 1840, sabendo que se discutia nas Câmaras a Lei para chamar novamente ao Brasil todos os filhos dele, deixei Portugal, tomando sucessivamente licenças por mais de ano e meio para nesta corte, onde logo me apresentei, me poder sem demora aproveitar das suas disposições benéficas, sem de todo sacrificar a minha segurança de posição social, porém sucedendo não passar ainda tal lei, aproveitei o tempo para uma viagem ao interior do Império, a qual não só me prestou muitos conhecimentos naturais, como de novo me arraigou sentimentos de patriotismo ao ver os meus lares e amigos de infância (VARNHAGEN, 1961, p. 100).

emprega seu talento em coisas de interesse do Império. E ninguém melhor do que ele está em circunstância de prestar importantes serviços neste gênero histórico e geográfico, não só pelas relações íntimas que tem com os empregados dos arquivos e bibliotecas deste Reino e da Academia Real de Ciências, de que é membro, mas também porque conhece praticamente tudo quanto existe acerca do Brasil, de que faz seu particular estudo em qualquer parte deste Reino. Pretende ser empregado no serviço do Brasil, sua pátria de nascimento, e nós ganharíamos com isso, suponho eu, mormente se ele fosse empregado com o título de adido a esta Legação, com encargo especial de coligir documentos e diplomas para a História do Brasil e diplomática, coordená-los e analisá-los de modo que verifique datas e acontecimentos e apure a verdade do fabuloso que abunda nas relações daquele tempo de propensão maravilhosa.´” (GUIMARÃES, 2011, p. 186).

Nesta autobiografia o historiador enfatiza o seu patriotismo ao tentar resolver a questão da nacionalidade, porém “sem de todo sacrificar a minha segurança de posição social”, ou seja, saiu de licença para averiguar a real possibilidade de “aproveitar das suas posições benéficas”. Sua cautela em relação ao cargo português pode demonstrar que o historiador estudava as melhores ofertas sem abrir mão da situação que vivia até aquele momento. Qual cidadania lhe ofertava carreira mais promissora?

Capistrano de Abreu, no Necrológio de Varnhagen, considera seu patriotismo, mas reconhece a importância de seu ofício de historiador. E segue narrando sua trajetória, sempre voltando ao patriotismo (amor à pátria). E termina o necrológio exaltando o historiador: "Nobre e tocante vida voltada ao trabalho e ao dever! Grande exemplo a seguir!" (ABREU, 1931, p. 132).

Paulo Vieira Santos, em suas observações sobre o visconde, vincula o amor à pátria a obra História Geral. Ele só poderia conseguir escrever obra tão importante para a história do Brasil caso fosse apaixonado por sua terra natal. Somente por amor a pátria o historiador foi capaz de investigar, coligir e anotar tudo o que fosse de interesse para a história do Brasil, com intuito no final de escrever a sua conhecida obra (SANTOS, 1979, p. 494). Santos enaltece o patriotismo de Varnhagen ou o enaltece por ser o primeiro historiador da historiografia brasileira? Quem veio primeiro, Varnhagen ou sua obra História Geral do Brasil? Qual a importância que os especialistas viram e veem em Varnhagen? Por ele ser brasileiro e ainda por ter optado por ser reconhecido brasileiro?

Sobre sua nacionalidade brasileira e formação portuguesa, AYRES (1951, p. 81) diz que

se Varnhagen pertence pelo seu nascimento e pela especialização dos seus estudos ao Brasil, pertence bem a Portugal pela sua formação intelectual desde bem moço até à publicação dos seus trabalhos históricos, da mais profunda e completa investigação no Arquivo Nacional.

Ayres se preocupa em destacar a formação portuguesa de Varnhagen ao colocá-lo como historiador importante. É interessante como para tantos historiadores, sejam

portugueses ou brasileiros, defender a cidadania de Varnhagen é o mesmo que enaltecer a historiografia nacional.

Varnhagen não foi importante por ser um historiador brasileiro e com formação portuguesa, e muito menos concluiu sua obra por puro amor à pátria, mas foi importante por ter sido um historiador especialista em arquivos, manuscritos e ainda por ter contribuído com volumosa bibliografia sobre a nossa história. Ele nasceu no Brasil, mas viveu por toda a sua vida fora do Brasil. Até a morte de Pedro I, seu interesse era com a pátria portuguesa. Quais ofertas brasileiras passaram a ser mais interessantes que as portuguesas? A escolha de Varnhagen pela cidadania brasileira está muito além de seu patriotismo, representa a luta pela sobrevivência em um período de instabilidade política, social e econômica em Portugal.

Guimarães trata a “ambição de Varnhagen pela nacionalidade brasileira”, não como “muitos intérpretes de sua obra” colocam, como por amor ao “país de seu nascimento”, mas como a “chance de Varnhagen concretizar seus planos e oportunidades para um sacrifício heroico em prol da Nação” ou até mesmo como uma ambição que o levou ao novo grande Império tentar a sorte (GUIMARÃES, 2011, p. 188). O autor destaca a possibilidade de Varnhagen ter tentado sua nacionalidade brasileira, por ambição, por seu caráter e talvez nada tivesse a ver, como muitos estudiosos de Varnhagen destacam, com seu amor à pátria. Ele continua sua análise e reflete sobre a sociedade em que Varnhagen estava inserido, a qual ele dialogava e que influenciou por anos na formação da Nação. Para ele, Varnhagen foi construído "como um grande patriota, já que, através da sua obra, oferecia às camadas responsáveis pela nação modelos de identificação, com a ajuda dos quais era possível sentir-se como uma comunidade nacional (GUIMARÃES, 2011, p. 227). Ou seja, Varnhagen fazia parte do projeto de construção da Nação. Ele coloca Varnhagen e sua obra, neste momento, como fundamentais para a consolidação dos novos princípios. Como se o papel do historiador nesta construção fosse de abarcar o conjunto da sociedade, "caso o processo de formação da nação se completasse" (GUIMARÃES, 2011, p. 227). Será que o patriotismo de Varnhagen, tão valorizado até hoje por historiadores e biógrafos foi uma construção da historiografia nascente no século XIX, na tentativa de dar credibilidade à sua obra enciclopédica? Será que foi uma construção posterior ao historiador, na tentativa de criar uma identidade na historiografia ainda nascente nos fins do século XIX? Varnhagen pode ter sido um grande historiador e diplomata, sua obra foi de grande importância para historiografia

e é referência até hoje, porém, qual é o valor do seu patriotismo para a sua importância como historiador ou para a sua bibliografia?

Renilson Rosa Ribeiro, em sua tese de doutorado, faz uma reflexão interessante sobre “A Invenção Biográfica de Varnhagen” (RIBEIRO, 2009, p. 33) Para ele, a imagem do historiador foi uma construção do IHGB que o colocou com “marco fundador” da historiografia brasileira. Ao fazer essa construção, o IHGB garantia sua participação no pioneirismo da obra de Varnhagen. Para ele,

essas narrativas procuraram estabelecer um sentido, uma lógica, uma consistência e uma constância por meio do estabelecimento de relações, colhendo fragmentos para o desenho de um retrato do morto Varnhagen, o historiador-monumento. Ele não mais se configuraria como sujeito, mas sim objeto dos discursos que o fabricaram. Varnhagen passa a ser uma invenção, o discurso de uma causa, de um projeto, dos poderes instituídos (RIBEIRO, 2009, p. 33).

Ribeiro defende que Varnhagen foi sendo construído como tamanho “marco fundador” que pode ser considerado um “historiador-monumento”. Essa construção de um exemplo de brasileiro, historiador e diplomata foi realizada pelo Instituto após a morte do historiador para elaborar uma imagem do século XIX que afirmasse o papel do historiador como “marco fundador” de uma historiografia.

Guimarães destaca também que os "estudos publicados sobre Varnhagen são primordialmente de natureza biográfica, apresentando claramente a tendência de salientar seu significado como figura-símbolo da historiografia nacional". E que os

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