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4- MATERIAIS E MÉTODOS

5.6 Frequência do Treino de Força

O treinamento teve duração total mínima de 12 e máxima de 13 semanas. A frequência de treino dos grupos LEU e PLA foi de 94,5 % e 96,1 %, respectivamente, não sendo observada diferença significativa entre os grupos (p=0,3779).

6- DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo investigar o efeito da suplementação de leucina sobre os ganhos de força e massa muscular em jovens saudáveis submetidos a 12 semanas de TF. Os principais achados foram que o TF foi efetivo em aumentar força e massa muscular de membros inferiores nos grupos suplementados com leucina ou placebo, em magnitude semelhante. Em jovens saudáveis, treinados e com alto consumo proteico diário, a suplementação de leucina isolada não foi capaz de trazer benefícios adicionais sobre a força e hipertrofia muscular esquelética.

Os resultados de nosso estudo vão de acordo com muitos na literatura. Herda et

al. (2013), observaram que, a suplementação de 20 ou 40g de WP, com ou sem adição de 7-

14g de leucina, não foi capaz de trazer benefícios adicionais no aumento de força máxima, resistência de força ou AST da coxa (mensurado via tomografia computadorizada), quando comparado aos grupos placebo e controle, sendo no entanto identificado um efeito principal de tempo. Neste estudo, realizado com 106 sujeitos fisicamente ativos, o consumo proteico basal variou entre 1,3 e 1,6g/kg de peso. Ao final das 8 semanas de TF, os grupos suplementados com proteína consumiam aproximadamente 1,8-2g de proteína/ kg peso, enquanto que os grupos controle e placebo não tiveram alterações significativas. Similarmente, Spillane et al. (2012) avaliaram a suplementação de 9g de BCAA (contendo 4,5g de leucina) ou placebo, combinado com 8 semanas de TF, em jovens saudáveis, com consumo proteico diário de aproximadamente 1,3g/kg de peso. Foi identificado um efeito principal de tempo sobre força máxima e resistência de força, porém, não observou-se interação grupo x tempo significativa. E outras palavras, a suplementação de BCAA não resultou num ganho de força adicional ao já promovido pelo treino. Corroborando com estes resultados, Hoffman et al. (2009) compararam o efeito da suplementação de 42g de proteína (protein blend – colágeno hidrolisado, WP isolado e caseína isolada) administrada no período da manhã e da noite ou imediatamente antes e após o TF, em conjunto de 10 semanas de TF, em 33 indivíduos treinados. Neste estudo foi também incluso um grupo controle não suplementado. Os autores não identificaram nenhum efeito de tempo ou grupo na força máxima, potência ou massa livre de gordura. Foi sugerido pelos autores que a suplementação não promoveu melhora de desempenho ou hipertrofia muscular pois os atletas já se encontravam em balanço proteico positivado no início do estudo, dado o alto consumo proteico habitual de 1,6g/kg peso (Hoffman et al., 2009). Em contrapartida, Ispoglou et al. (2011) identificaram benefício adicional sobre o aumento na força dinâmica máxima (5-RM),

com a suplementação de 4g de leucina, quando comparado ao grupo placebo. Cabe apontar porém que, o consumo proteico médio dos voluntários foi de 0,9g/kg de peso, ou seja, abaixo da recomendação da ACSM de 1,2-1,7g/kg peso (Rodriguez et al., 2009). Crowe et al. (2006) observaram um acréscimo significativamente maior na potência de força máxima de membros superiores com a suplementação de leucina, quando comparado ao placebo. Similarmente ao controle dietético observado por Ispoglou et al. (2011), a ingestão proteica de ambos os grupos, antes e após o estudo, foi de 0,85g/kg peso. Corroborando com os dados acima, Walker et al. (2010) observaram que 8 semanas de TF em conjunto com a suplementação de 19,7g de WP + 6,2g de leucina foi capaz de aumentar significantemente a força máxima de membros superiores (testado no aparelho supino), quando comparado ao período basal. Tal efeito não foi observado no grupo placebo. Mais uma vez, o consumo proteico diário foi de aproximadamente 1,05g/kg peso, abaixo da recomendação da ACSM. A partir destes achados, pode–se supor que um baixo consumo proteico habitual superestime o real efeito da suplementação de leucina e proteína, ao passo que uma alta ingestão proteica anule seu efeito. O efeito da suplementação de proteína e AAEs sobre a força e hipertrofia muscular em conjunto de TF ainda é controversa, especialmente em indivíduos saudáveis. A metanálise de Cermark et al. (2012) identificaram efeitos positivos da suplementação de proteína e/ou AAEs em conjunto de TF, mesmo em sujeitos com alto consumo proteico diário (>1,2g/kg). A suplementação de diferentes doses de proteínas / AAEs foi relacionada a um aumento de 20% no teste de 1-RM no aparelho leg press. Interessantemente, o ganho relativo de força máxima no leg press em nossa pesquisa foi de 23 e 22% para o grupo LEU e PLA, respectivamente. Ou seja, nossos resultados demonstram que o TF, acompanhado de consumo proteico diário adequado, foi capaz de promover um efeito semelhante na força máxima quando comparado com o grupo proteína + TF na metanálise de Cermark et al. (2012). Corroborando com isto, Reidy e Rasmussen (2016) concluem em sua recente revisão sistemática que, quando a ingestão proteica diária atinge uma quantidade mínima adequada, qualquer alteração ou acréscimo de proteína/AAs tem pouca ou nenhuma influência nas adaptações musculares promovidas pelo TF (Reidy e Rasmussen, 2016).

Inesperadamente, observou-se em nosso estudo somente uma tendência de efeito de tempo para a variável resistência de força (RF). Estes resultados não estão de acordo com a literatura. Herda et al. (2013) e Spillane et al. (2012) observaram aumento significativo no número de repetições até a falha para o exercício leg press, após protocolo de TF (p<0,05), porém sem efeito de interação (grupo x tempo) significante. Não se sabe ao certo a razão do baixo desempenho de nossos voluntários no teste de RF pós intervenção, porém após

considerar as características das últimas semanas de treino (volume total) e a percepção subjetivo ao esforço (relatado ao fim de cada série), acredita-se que fadiga crônica seja a justificativa mais plausível. É importante apontar que, durante as 12 semanas de TF, o volume total de cada sessão de treino evoluiu de forma crescente e constante, logo a expectativa era de aumento significativo no teste de RF, em ambos os grupos.

Conforme observado no teste de 1-RM, nossos resultados demonstraram efeito principal de tempo para a AST do músculo vasto lateral (alteração média de +2,3cm2 ou +8,4%), porém não foi observada nenhuma interação grupo x tempo. Este aumento médio na AST está de acordo com outros estudos na literatura com protocolos de TF, variando de +2,4cm2 (Δ9% ) a +2,9cm (Δ10,4%) (Ema et al., 2013; Earp et al., 2015). Semelhantemente aos resultados de 1-RM, Herda et al. (2013) também não identificaram aumento significativo na AST em nenhum dos grupos experimentais (placebo e controle incluso), tampouco efeito principal de grupo ou de interação, confirmando a hipótese dos pesquisadores de que suplementação de proteína e/ou AAs não promove benefícios adicionais sobre a força e massa muscular, quando a ingestão proteica ultrapassa as recomendações diárias para a categoria em questão. Por outro lado, cabe ressaltar que Laboute et al. (2013) observaram um aumento estatisticamente significante no perímetro da coxa (a 10cm da patela) em voluntários suplementados com leucina, quando comparado ao grupo placebo. Porém, apesar do alto consumo proteico relatado (1,3g/kg peso), cabe suspeitar que as necessidades destes atletas em situação pós traumática e em recuperação sejam diferenciadas e não representem adequadamente uma população sadia. Em outras palavras, possivelmente esta população se beneficie com uma maior quantidade diária de proteína / AAEs durante o período de recuperação, logo, destacando os benefícios da suplementação de leucina. Com relação ao estudo de Crowe et al. (2006), discutido anteriormente, inferências sobre o efeito da leucina na composição corporal não seriam adequadas, pois o método de avaliação corporal utilizado pelos autores foi antropometria via dobras cutâneas, sendo este método pouco utilizado em pesquisa científica, por sua questionável validade e reprodutibilidade. Coburn et al. (2006), ao compararem a suplementação de 20g de WP + 6,2g de leucina com 26g de maltodextrina (placebo) em conjunto de 8 semanas de TF, observaram que, em conjunto de TF, a suplementação foi capaz de promover um aumento significativamente maior de massa muscular (Δ AST: +7,9%) do músculo VL (mensurado por ressonância magnética). Ambos os estudos, de Crowe et al. e Coburn et al., observaram um efeito ergogênico da suplementação de altas de doses leucina em conjunto de TF, sem efeito colateral aparente, porém a grande limitação dos estudos foi a falta de um controle dietético, já que vem sido demonstrado que a

suplementação pode superestimar alterações musculares, quando a ingestão proteica habitual é insuficiente para potencializar o acréscimo de força e/ou massa muscular em função do TF.

Durante as análises do consumo calórico-proteico observou-se que, no período basal, a ingestão proteica média do desjejum no grupo LEU foi significantemente menor do que no grupo PLA (≈16g ou 0,20g/kg vs. 22g ou 0,29g/kg, respectivamente). O consumo proteico do grupo LEU, no desjejum, se manteve abaixo da recomendação de 20g ou 0,24g/kg/refeição de proteína de alta qualidade para jovens saudáveis, tanto no período basal quanto pós intervenção (Moore et al., 2009; Moore et al., 2015). Por outro lado, a consumo proteico do almoço e jantar de ambos os grupos se mantiveram muito acima deste valor, não sendo observado efeito significante de tempo ou interação. Cabe apontar que, ambos os grupos, demonstraram um alto consumo total de calorias e proteínas, tanto no período basal, quanto após o experimento. O consumo proteico se manteve constante e acima de 1,5g/kg, enquanto que a ingestão energética se manteve entre 29,4 e 31,3kcal/kg, ou ≈2400kcal/ dia, indicando uma ingestão calórica-proteica adequado para esta população (Thomas et al., 2016). A influência do consumo proteico total diário vs. distribuição proteica por refeição no BP e na SPM ainda é discutível. Kim et al. (2015) concluem que, em idosos saudáveis, aumentar o consumo proteico diário de 0,8 para 1,5g/kg resulta em uma maior resposta anabólica, tanto a nível muscular quanto a nível corporal total. Por outro lado, foi observado pelo pesquisadores que uma distribuição proteica diária equilibrada (33/33/33%) de proteína no desjejum, almoço e jantar, respectivamente) não promove benefícios anabólicos superiores à diferentes distribuições proteicas por refeição (15/20/65% de proteína no desjejum, almoço e jantar, respectivamente). Logo, foi concluído que, num contexto de refeições completas, o consumo proteico diário total acima do RDA (0,8g/kg) promove maior acréscimo no balanço proteico corporal (via síntese proteica corporal total e SPM), sem influência significativa do padrão de distribuição proteica diária. Interessantemente, observou-se que o balanço proteico corporal total aumentou com o acréscimo de ingestão proteica, em todas as refeição, sem nenhuma evidência de efeito platô . Ou seja, não foi observada uma dose de proteína máxima, da qual quantidades acima deste valor não traria benefícios adicionais ao BP corporal (Kim et al., 2015).

Em contrapartida, Mamerow et al. (2014) demonstraram que, em indivíduos jovens e saudáveis com consumo proteico diário de 1,2g/kg, uma ingestão proteica moderada e equilibrada ao longo do dia (0,40g/kg no desjejum, almoço e jantar) é capaz de promover um aumento significativamente maior (≈25%) na SPM do que uma distribuição proteica desigual (0,14g/kg, 0,21g/kg e 0,82g/kg no desjejum, almoço e jantar, respectivamente). Cabe

apontar porém, que, este segundo grupo teve o consumo proteico de 2, das 3 das refeições diárias (desjejum e almoço), inferior a recomendação, sendo a ingestão no desjejum muito inferior a recomendação de 0,24g/kg/refeição, estipulada por Moore et al. (2015). Ao contrário de Mamerow et al. (2014), em nosso estudo, o consumo proteico do grupo LEU no desjejum foi de 0,20g/kg, ou seja, levemente abaixo da recomendação, sendo que, a ingestão proteica do almoço e jantar (principais refeições para a população brasileira) foram satisfatórias.

A metanálise de Schoenfeld et al. (2013) demonstra um modesto efeito da suplementação de proteína/AAs sobre o anabolismo muscular, sem efeito significativo na força. Porém, ao incluir outras variáveis na análise, como a alta ingestão proteica total, o efeito da suplementação foi negado, e logo os autores concluíram que o consumo proteico diário tem maior influência no aumento de massa muscular do que a dose e distribuição proteica, contrariando a crença de que a administração de proteínas/AAs deve ser feito próxima ao EF, durante a então denominada “janela anabólica”. Logo, uma grande parte das pesquisas, tanto agudas quanto crônicas, sugerem a pouca influência do momento ideal, e sim da quantidade total de ingestão proteica diária, já que o EF sensibiliza o músculo esquelético `a absorção de AAs por até 24h (Burd et al., 2011; Schoenfeld et al., 2013; Reidy e Rasmussen, 2016). Em outras palavras, durante o TF, o músculo utiliza AAEs para SPM com maior eficiência, dado que a ingestão de AAEs seja adequada. Tal fato possivelmente explique a grande diferença dos efeito da administração de proteínas/AAs sobre o metabolismo muscular encontrados em estudos agudos vs. crônicos. Hulmi et al. (2009) resume:

‘‘while the positive effects of the protein or amino acid

ingestion on muscle hypertrophy signaling can often be clear when studied acutely after each exercise, especially when the study was performed in a fasting state, the long- term positive effects may not be as robust with normal daily high protein consumption.”

Apesar da robusta quantidade de evidências sobre efeito positivo de AAEs na sinalização e síntese proteica, até o momento não se pode afirmar se este efeito se mantém cronicamente, resultando em hipertrofia e aumento de força. As evidências se enfraquecem ainda mais quando se considera uma ingestão calórica-proteica habitual adequada e suficiente para promover anabolismo muscular em conjunto de protocolo de TF (Pasiakos et al., 2015). Logo, a suplementação adicional de leucina possivelmente traga benefícios evidentes sobre o aumento de massa muscular quando a ingestão proteica diária seja insuficiente (<1,2g/kg)

para suportar tais adaptações morfológicas durante TF, ou em situações onde o BP favorece o catabolismo, como em consequência de doenças crônicas, infecções, uso prolongado de medicamentos, entre outras razões.

O presente estudo teve como limitação a curta duração da coleta de dados, a qual ocorreu num curto período de 10 meses. Por esta razão, os TF tiveram que ser realizados nos 3 períodos (manhã, tarde e noite), 4 vezes por semana, para conseguir atender a demanda de frequência e duração de treino estipulada na pesquisa. Logo, tanto os horários das refeições quanto da suplementação foi constante durante a pesquisa porém variou entre os indivíduos. Outra questão que deverá ser melhor controlada nos próximos estudos é a variação de ingestão proteico-calórica entre os indivíduos. Novamente, não foi observada variação com relação ao tempo, porém alguns poucos voluntários iniciaram a pesquisa com consumo entre 0,8-1,1g/kg de peso, ou seja, abaixo da recomendação da ACSM, de 1,2 a 2g/kg peso. Cabe apontar que, apesar do tratamento estatístico não indicar nenhuma influência dos dados destes voluntários no resultado final da pesquisa, um controle maior destas variáveis se faz imprescindível nas pesquisas futuras de nosso grupo.

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