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U M M UNDO F ECHADO E D ISCIPLINADOR

FUNCIONÁRIOS ORDENADO GRATIFICAÇÃO

Diretor 1.200$000 600$000 Professores 800$000 400$000 Capelão 600$000 200$000 Médico 500$000 Tesoureiro 600$000 400$000 Secretário 600$000 300$000

Inspetor dos alunos 400$000

Porteiro 400$000 200$000

Contínuo 350$000 150$000

Fonte: Regulamento de 1857 (Anexos).

Não era muito diferente a opinião de Joaquim Antão Fernandes Leão, quando comenta que, nesta Província, como na maior parte das outras, “o magistério não é uma profissão, é um meio de vida, não é um sacerdócio, é um simples emprego para o qual se entra de ordinário sem a arte da escola, sem a ciência do ensino [...]” (RPP, 1858, p.22).

Quadro 10

Funcionários do Ateneu Rio-Grandense (1872)

FUNCIONÁRIOS ORDENADO GRATIFICAÇÃO TOTAL

Diretor 1:800$000 1:800$000 3:600$000

Vice-diretor 600$000 600$000 1:200$000 Um capelão 400$000 400$000

Dois inspetores repetidores 600$000 200$000 800$000 Um tesoureiro 400$000 400$000 800$000 Um secretário 400$000 400$000 800$000 Um porteiro 300$000 300$000 600$000 Um contínuo 300$000 300$000 600$000 Um bedel 300$000 300$000 600$000

Onze professores, cada um 1:200$000 600$000 1:800$000 Fonte: Regulamento de 1872, p.14.

Do mesmo modo, se manifestava Bittencourt: “com vencimentos mesquinhos, às vezes insuficientes para poder um homem prover os meios de sua subsistência, não é a carreira do magistério a que mais convida a nossa mocidade, a quem escasseiam recursos para seguir os estudos superiores” (1874 p.263-264).

Para termos certos parâmetros salariais, arrolamos alguns dados sobre o custo de vida da época. Em 1873 as casas de moda pagavam um imposto anual de funcionamento no valor de 40$000 réis. Os proprietários de escravos pagavam por cada um uma taxa anual de 8$000 réis (AZEVEDO LIMA, 1875, p.39).

Por sua vez, em 1884, os dados arrolados pelo Anuário de Azambuja informavam: navegação a vapor de Porto Alegre ao Rio de Janeiro, câmara: 110$000 réis; convés: 50$000 réis. O preço de hospedagem no Hotel Central de Rodolfo Schorn (Porto Alegre), era de 2$500 réis por dia. A Livraria Evangélica anunciava livros para meninos com estampas coloridas e vinhetas a 1$000 réis cada um: As Provações do pequeno Henriquinho; Lindo Alphabeto para crianças mimosas; Meu lindo segundo livro (AZAMBUJA, 1884).

Apontando outras carências do nosso ensino, o missivista criticava os concursos públicos, eivados de interesses políticos; o despreparo da maior parte dos docentes, assim como a falta de profissionalismo daqueles que exercem o magistério público, levando o governo a “gastar dinheiro”, “acoroçoar a preguiça” e a “abater a causa que devíamos levantar”. Salvando honrosas exceções, “é pobríssimo o professorado público”; a grande maioria, principalmente os mestres contratados, “não fazem do ensino um sacerdócio, porque lhes falta à vocação”. Entendia Bittencourt, que a maioria deles não possuía os necessários requisitos que deve existir quem de “coração se consagra a tarefa sublime de educar a mocidade; eles, que nada sabem, que nada procuram aprender, deixam as crianças entregues a própria discrição e vão recolhendo com pontualidade os magros vencimentos” (1874, p.264).

Além dessas proposições, defendia a qualificação dos nossos docentes, e identificava na sua ótica um aspecto positivo, a criação da Escola Normal.

Urge melhorar o nosso professorado.

Temos para isso dado um passo – a criação da escola normal. Mas para que esta produza todos os bons resultados que há a

esperar de tão importante instituição, força é que o corpo dos professores das diversas matérias se componha de cidadãos altamente habilitados; que ao fim do ano haja severidade nas provas dos que a cursarem, para que não venha a receber um título de capacidade aquele que não souber bem o que tem depois de ensinar aos outros. (BITTENCOURT, 1874, p.265). A ampliação cada vez maior das disciplinas, perfeitamente perceptível numa análise comparativa dos diversos estatutos e regulamentos, desde o de 1846, passando pelo de 1851, o de 1857, com as alterações impostas pelo de 1859, o de 1870, e, por fim, o de 1872, nos mostra um processo de amadurecimento na constituição de um corpo docente profissional.

O primeiro corpo docente constituído é decorrência do Estatuto de 1851, pois mesmo tendo sido criado o Liceu 1846, as aulas no Liceu só foram implantadas a partir de 1851. O seu Artigo 2º estabelecia que o pessoal do Liceu fosse constituído de um Diretor, de nove professores proprietários, três substitutos, um secretário, um bedel e um porteiro. No quadro 10 arrolamos como estava constituído esse primeiro corpo docente, assim como as poucas aulas avulsas que ainda funcionavam.

Um prenúncio de organização por parte dos docentes, pode ser percebido no seguinte comentário do Vice-Presidente Luis Alves Leite de Oliveira Bello, ao apresentar perante a Assembléia Legislativa o Relatório do Diretor da Instrução Pública:

Posto que tenham somente pouco mais de um ano de execução os Estatutos do Liceu (referência ao Estatuto de 1851), com tudo já se têm revelado alguns defeitos, e lacunas, principalmente na parte correcional, que dificultam muito o progresso da Instrução Secundária, e o regular exercício do magistério, e que devem ser prontamente corrigidos. [...].

No dia 14 do mês passado foi-me apresentado por uma comissão de professores do Liceu um projeto de Estatutos confeccionado pela respectiva congregação: era muito tarde para eu o estudar. Li-o apenas: parece-me digno da vossa atenção: e vos será apresentado para deliberardes sobre a sua adoção. (RPP, 1852, p.9).

O movimento associativo, na opinião de Nóvoa (1995, p.27), teve um papel primordial na construção da profissão docente. O professor começa a tomar consciência da sua condição, criando “redes de partilha” e de “cooperação” no seio do corpo docente.

Contudo, no período abrangido por este estudo, não foi possível aos professores do Liceu levar adiante a configuração de uma associação, somente no findar da década de setenta, temos notícia da criação de “associação professoral”, na cidade de Pelotas, de acordo com ofício encaminhado a Câmara Municipal de Pelotas:

Associação professoral da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Ilustríssimos Sr. Comunicamos a V.V.S.S. que no dia seis do corrente mês instalamos nesta cidade, uma sociedade com o título de Associação Professoral da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, composta de todos os professores públicos da Província, cujos intuitos estão consignados nos seus Estatutos que enviamos um exemplar a V.V.S.S. Esta Associação oferece o seu concurso para auxiliar V.V.S.S. em tudo que for atinente aos seus fins. Pelotas, 15 de abril de 1879. O Diretor, Francisco Paula Ibirapuitã Ourique. O Secretário, Antônio Luiz Martins de Araújo. (MANUSCRITO, pasta 519, Biblioteca Pública Pelotense).

De maneira incipiente, as aulas do Liceu ganham uma visibilidade, um número relativamente estável de alunos encontra-se matriculados, ainda que poucas cadeiras estejam funcionando. Desse modo, no curto período de dois anos, de 1857 para 1859, o curso passa de quatro anos para seis.

Quadro 11

Mapa das aulas do Liceu D. Affonso