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3 PERSPECTIVAS TEÓRICAS ALTERNATIVAS À ABORDAGEM DOS

3.3 Alternativas as Abordagens do Mercado II: Os Instituitucionalistas e a Perspectiva

3.3.2 Funcionamento da Economia com Custos de Transação: a nova economia

O entendimento da maneira como funciona cada sistema econômico é relevante para que os agentes tomem as melhores decisões. Há variadas formas de organização dos sistemas produtivos, mas, existem elementos básicos que estão presentes em todos os sistemas como é o caso dos agentes que compram e vendem, e do governo, esse último visto como entidade responsável pela lei e a ordem que atua de maneira mais ou menos intensa no sistema ou em partes dele, esse poder de atuação é, em muitas ocasiões, questionado quanto aos limites e as reais capacidades de tornar a economia melhor, de modo que existem variadas correntes teóricas que discutem o papel do Estado na economia.

Os neoclássicos advogam que a coordenação da economia é mais bem feita quando o mercado atua livremente, esse arranjo tenderia a levar à eficiência e ao desenvolvimento sem a necessidade de uma entidade coordenadora como o governo. Nessa abordagem é sustentado que a livre interação entre os agentes por meio da oferta, da demanda e do mecanismo de preços leva a economia ao resultado eficiente no decorrer do tempo, numa perspectiva de que o problema do subdesenvolvimento é uma questão de alocação correta de recursos que um mercado autorregulado pode solucionar por adaptação autônoma, isso significa que os agentes isoladamente procuram se acomodar às mudanças tanto no ambiente como nos preços (FIANI, 2011, p.55).

Abordagens heterodoxas apontam às dificuldades que a teoria neoclássica possui em se sustentar como, por exemplo, as barreiras a entrada ou saída de empresas em um mercado, a falta de instantaneidade nas trocas, as falhas de mercado ou os problemas de externalidade, podem levar a uma situação de equilíbrio. Para Ronald Coase (1937) a

hipótese neoclássica é irreal. Para esse autor, a ideia de agentes isolados tomando decisões e acordos instantâneos para encontrar equilíbrio entre oferta e demanda é demasiadamente abstrata, assim, Coase buscou reduzir as lacunas entre a teoria neoclássica e a economia real.

Entre os objetos estudados por Coase estão as empresas e as relações de mercado. Na análise dele, a utilização da ideia de margem e de substituição pela a teoria ortodoxa estaria incompleta, pois na situação na qual o sistema econômico operasse tendo a oferta e a demanda auto-ajustáveis, o desenvolvimento econômico seria organizado pelo mecanismo de preços, sendo que eventuais planejamentos econômicos (dos agentes) seria uma tentativa de fazer o trabalho do mecanismo de preços. Ora, se como diz a teoria neoclássica, o mecanismo de preços é eficiente, Coase (1937) pergunta: Por que as organizações (firmas) são necessárias? Deriva dessa pergunta outra questão: Por que as empresas crescem se elas podem recorrer ao mercado?

As ofertas e demandas dos agentes econômicos são elementos básicos para efetuação das transações que são compostas pelo mecanismo preços. Todavia, como explica Coase, existe um custo para usar o mecanismo de preços. Esses custos são os de negociar, de forjar e de concluir um contrato; a inserção de especificidades, o tempo e eventuais riscos e incertezas no cumprimento dos contratos constituem os “custos de transação”.

O trabalho de Coase (1937) intitulado “A Natureza da Firma” reponde sobre a existência das empresas, bem como o crescimento delas ocorre mediante aos custos de transação. Pois, de acordo com o autor, as firmas são organizações que tem uma função de produção somada à especialização em reger contratos, no estabelecimento das regras de especificação de um produto ou serviço, assim como nas formas de pagamento e duração dos acordos. Isto é, as firmas reduzem o custo de transação. De maneira similar, frente a um ambiente de negócios incerto ou sobre demasiado risco, as empresas preferem incorporar atividades extras para reduzir os custos de transação.

A pesquisa de Coase serviu de incentivo aos estudos sobre custos de transação e a respeito da coordenação das atividades econômicas. Adicionada a essas questões no trabalho sobre o “Problema do Custo Social”, no qual apresentamos que Coase (1960) mostrava preocupação com o estabelecimento dos direitos de propriedade e no tratamento das externalidades negativas. A questão que norteia o trabalho é como se deve tratar um produtor que gera efeitos negativos a terceiros? Em outras palavras,

quando a execução de uma atividade produtiva gera externalidades negativas, como o problema deve ser solucionado? A conclusão dele é a de que a solução depende a quem são assegurados os direitos de propriedade.

A definição dos direitos de propriedade é um elemento central no problema das externalidades, porque, ela determina a quem caberia os custos da solução da questão. Se o direito for concedido ao causador da externalidade, então os que sofrem com os impactos das ações é que deverão incorporar esse custo; no caso oposto, no qual os agentes afetados possuem o direito de propriedade, então a responsabilidade de incluir os custos das externalidades é do causador do problema. O custo de transação incide quando é possível transacionar o direito de propriedade e, portanto, o custo da elaboração de contratos e em consequência sujeitos às incertezas.

A NEI se fundamentou nas hipóteses de custos de transação e direitos de propriedade para avançar nos estudos da realidade econômica, segue que quando os direitos de propriedade estão mal definidos, isto é, na situação em que o pretenso proprietário não tem a liberdade de uso, de recebimento de renda e de transferir a ativo, ou na possibilidade de ter o bem expropriado, existe a tendência de que os indivíduos elevem o grau de incerteza restringindo a disponibilidade de recursos produtivos. Essa é uma preocupação sob a situação na qual os recursos econômicos possuem exclusividade de uso, quer dizer quando os bens são grandezas unidimensionais.

Entretanto, as características variam de forma que cada ativo ou mesmo com mudanças das regras de uso torna mais óbvio o fato de que o direito de propriedade é uma grandeza multidimensional e dinâmica, nesse sentido, Fiani (2011, p. 77) resume que “a insegurança dos direitos de propriedade é algo relativo, e não absoluto”. O que leva ao fato de que de maneira geral não temos direitos de propriedade plenos, sempre existirá algum grau de insegurança.

Direitos de propriedade multidimensionais em um mundo de custos de transação positivos são sempre mal definidos, nunca totalmente garantidos de forma antecipada, de modo que a relevância da insegurança e do potencial grau de conflito em relação a um direito de propriedade decorre do arranjo institucional que os regulam, essa regulação ultrapassa a definição inicial dos direitos de propriedade que sempre é incompleta, mas, também, que arbitra e soluciona novos problemas no decorrer da transação de forma a incentivar a cooperação e a redução de conflitos (FIANI, 2011, pp.79-80). Quando os arranjos institucionais ou estruturas de governança promovem a

cooperação e reduzem conflitos, então, os direitos de propriedade estão suficientemente seguros e protegidos, porque, os custos de transação estão reduzidos.

É relevante notar que a partir de apontamentos como nos trabalhos de Frank Knight e de Ronald Coase, o mainstream econômico tem incorporado as instituições nas análises, o significado desse movimento parece ser uma reaproximação da economia da realidade. Pois, em que pese o apontamento de falhas na economia neoclássica, a NEI está longe de ser uma oposição à principal corrente teórica da economia. Pelo contrário, autores como Douglass North e Oliver Williamson estiveram dispostos a contribuir para reconduzir essa corrente teórica no caminho das explicações dos fenômenos sociais.

A compreensão do peso da economia na vida das pessoas, somada às que regras que regem as relações socioeconômicas direcionam a economia institucional em esforços para compreender os mecanismos que reduzem riscos e possibilitam maiores cooperações em favor do progresso. Segue que os avanços da NEI têm revelado novas estruturas e se aprofundado na maneira como as regras socialmente constituídas conduzem a trajetória no desenvolvimento das nações, ao mesmo tempo em que tem oferecido conceitos claros para completar a teoria e ser capaz de explicar as relações econômicas com rigor científico.