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2 DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL

3.2 FUNCIONAMENTO DA MEMÓRIA

135IZQUIERDO, Ivan. Memória. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2011. 136IZQUIERDO, Ivan, op.cit.

137IZQUIERDO, Ivan. Memória. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2011. 138IZQUIERDO, Ivan, op.cit.

A memória é definida pela capacidade de retenção de ideias, impressões e os conhecimentos adquiridos durante a vida. A memória possui três fases: fase de apreensão (ou armazenamento), fase da conservação (ou retenção) e, por fim, a evocação (ou recordação). Isto é, primeiro o sujeito presencia e apreende o fato, guarda na sua memória as percepções e depois as recorda. Estes processos são conhecidos como processos mnemônicos. Todavia, Izquierdo sustenta que a memória apresenta as fases de “aquisição, formação, a conservação e a evocação das informações.140

Os processos mnemônicos anteriormente citados são atividades complexas, envolvendo diversas estruturas do cérebro, como o hipocampo e a amígdala. A memória guarda as emoções e dependendo do tipo da lembrança, esta será armazenada em diferentes partes do cérebro. A parte informacional ou cognitiva do fato será armazenada no hipocampo como uma memória declarativa (memória de fatos, ideias e etc). Quanto a parte emocional, por exemplo algum susto, horror do acontecimento, entre outros, será armazenada na amígdala, área pré-frontal do cérebro.141

Voltando às três fases da formação da memória, partindo do momento da apreensão do fato e suas condições de percepção, as informações serão armazenadas no cérebro em forma de código, depois são convertidas em informações quando a lembrança ocorrer.142 A apreensão ou aquisição do fato possui condições objetivas e subjetivas que podem influenciar a apreensão do ocorrido. Com relação às condições objetivas, temos variáveis como o lugar, tempo, luminosidade, entre outros. Quanto às condições subjetivas, são variáveis intimamente ligadas à própria testemunha.

As condições objetivas podem prejudicar ou auxiliar de inúmeras maneiras. Um dia ensolarado em que o suspeito estava de óculos de sol e boné, então a testemunha não consegue ter uma visão clara do seu rosto. Ou por estar calor e o réu encontrar- se de bermuda, a vítima consegue observar uma marca de nascença em sua perna. Ou ainda, por condições de tempo chuvoso ou neblina, a vítima vê ou ouve de forma equivocada o acontecido.

140DI GESU, Cristina. Prova Penal e Falsas Memórias. 3. ed. Porto Alegre: Editora Livraria do

Advogado, 2019.

141DI GESU, Cristina, op.cit.

142ÁVILA, Gustavo Noronha de. Falsas Memórias e Sistema Penal: A Prova Testemunhal em Xeque.

Já as condições subjetivas dizem respeito a elementos como a atenção, emoção, dentre outros. Stein sustenta ser ponto pacífico o fato de que os processos de recordação são facilitados pela emoção. Contudo, também alerta que “a emoção poderia estreitar o foco da atenção, o que levaria a um aumento da memória para conteúdos emocionais, com a diminuição para detalhes periféricos". Portanto, Stein diz não haver uma resposta objetiva quanto ao questionamento se a emoção melhora ou piora a memória. Até certo patamar, a emoção ajuda e passando deste ponto ela seria prejudicial.143

Outra característica subjetiva que pode influir na apreensão é o estado de espírito da pessoa no momento do fato. Há uma profunda relação do estado de espírito com a memória, pois como Stein sugere “os indivíduos que se encontram em um estado particular de humor geram mais associações para informações que vão ao encontro desse humor”.144

A próxima condição diz respeito à conservação da memória que se mostra tão importante como a apreensão ou conhecimento do fato. Com o decurso do tempo, a memória se modifica consideravelmente e algumas informações do fato arquivado poderão se perder. Há um desgaste lento e progressivo que resulta no desaparecimento de algumas partes da recordação. Por este motivo, deve-se colher o depoimento da testemunha o quanto antes, para que sejam preservados o maior número de dados possíveis.145

Além do decurso do tempo, poderão haver influências internas e externas capazes de modificar a recordação. A introdução de fatos não verdadeiros na lembrança chama-se falsas memórias, assunto tema do presente trabalho e que logo mais será detalhado.146

A recordação, fase final da lembrança, consiste no ato de retirar a informação armazenada na memória para usá-la. Contudo, este resgate é passível de falhas, assim como nas fases anteriores decorrentes de uma percepção defeituosa ou

143STEIN, Lilian Milnitsky, et al. Memórias, Humor e Emoção. Revista de Psiquiatria. Porto Alegre,

vol.28, n.1, p.66, 2006.

144STEIN, Lilian Milnitsky, et al. Memórias, Humor e Emoção. Revista de Psiquiatria. Porto Alegre,

vol.28, n.1, p.66, 2006.

145CORRÊA, Priscila Matos. Prova Testemunhal sob a ótica da Falibilidade do Depoimento de

Testemunhas e Informantes. 2014. 57 f. Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, 2014.

146CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI, XVII, 2008, Brasília. As falsas memórias na reconstrução

dos fatos pelas testemunhas no Processo Penal. Brasília: UnB, 2008. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/brasilia/06_191.pdf.

esquecimento diante do transcurso do tempo. A memória extraída nunca será a recordação completa do fato.147

O depoimento judicial encaixa-se justamente na fase da recordação. A prova testemunhal é o meio probatório mais importante do processo penal, porém é também um meio muito frágil. A confiabilidade do testemunho está necessariamente relacionada com a confiabilidade da memória. A memória, como já mencionado, pode ser alterada por vários motivos e nunca sendo a recordação igual à realidade.148

Deste modo, resta, claro, as falhas que a memória pode apresentar. O que é levado ao processo é apenas parte do acontecido, ficando detalhes importantes esquecidos ou ainda há a possibilidade da interferência das falsas memórias. A percepção dos acontecimentos é relativa, podendo ser maior ou menor conforme as razões fisiológicas.149