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CAPÍTULO II – O PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA

2.4. O Funcionamento do PEF nas escolas

2.4.1. Quanto às verbas

As escolas que aderiram ao Programa Escola da Família receberam em Dezembro/2003 o valor de R$ 4000,00 (Quatro mil reais) para aquisição de materiais de limpeza, desportivos e culturais para serem trabalhados nos projetos desenvolvidos nas escolas. Contudo, a lista desses materiais não foi de total escolha das escolas, já veio preparada pelos órgãos centrais, por meio da equipe do Núcleo Pedagógico do Programa e não podia fugir muito daquilo que fora recomendado e inclusive, nem dos preços cotados em algumas empresas. A verba foi repassada para Associação de Pais e Mestres, que teve 30 dias para gastá-la e 30 dias para prestar contas ao setor financeiro da DE.

No ano seguinte, o valor repassado às escolas estava totalmente relacionado com o número de participantes no Programa, aos finais de semana. Esses números eram levantados pela equipe do Núcleo de Informática do Programa e tirados da digitação feita pelos educadores profissionais nas telas correspondentes no site. Houve muitas reclamações dos diretores com relação a esse assunto, porque muitos não concordavam com o valor recebido, alegando haver problemas na coleta de dados.

Tivemos reclamações, também, quanto ao engessamento na aplicação das verbas, direcionadas apenas aos materiais listados pela Coordenação Geral do PEF. Ocorria que escolas tinham que adquirir alguns materiais para os quais não tinham oficina/atividade, e outros, nas quais as oficinas estavam acontecendo, não estavam liberadas para compra. Mas na Diretoria de Ensino não houve alterações nos valores recebidos e nem nos produtos indicados.

O que afirma a Coordenação Geral do PEF é que o valor recebido pelas escolas deveu- se ao número de freqüentadores aos finais de semana e ao número de projetos ali

desenvolvidos. Mesmo usando do artifício de se registrar vários projetos no site, que muitas vezes não eram totalmente desenvolvidos nos espaços da unidade escolar, a verba recebida não era suficiente para suprir as necessidades materiais e os recursos para um bom trabalho pedagógico nas oficinas.

Em alguns locais observamos que muito do que a escola indica torna-se inviável pela falta de verbas e recursos. Esse é um aspecto que deve ser discutido e revisto. Com verba irrisória, outros novos projetos não podem ser colocados em pauta. É como um círculo vicioso: quando a escola tem poucos projetos (por falta de condições), recebe pouca verba e não consegue desenvolver e criar novos projetos. Em conseqüência disso, há menor freqüência da comunidade.

O programa atua numa linha de elaboração de projetos de trabalho, cujos registros são feitos no site pelo educador profissional da escola. Para todos esses projetos é indicada a busca de parcerias a fim de que se concretize nos espaços das escolas. Nem sempre as escolas conseguem parceiros efetivos para o que pretendem realizar.

Cada unidade escolar comporta, no módulo do Programa, um educador profissional, um gestor e um número de universitários de acordo com o número de participantes aos finais de semana, e de acordo com o módulo estipulado pela Coordenação Geral do Programa. Todos os meses, quando é emitida uma lista de universitários bolsistas, aprovados para serem encaminhados às escolas, a equipe da coordenação regional tem a função de fazer os encaminhamentos dos mesmos de acordo com o módulo aprovado. Existe certa flexibilidade nesses números, mas só podem ser modificados pela equipe do Núcleo de Informática do PEF, a pedido da Diretoria de Ensino.

2.4.2. Quanto às atividades do Programa

A Secretaria da Educação, através da Coordenação Geral do PEF, apresenta no Manual Operativo uma grade de atividades propostas para o programa, que foi construída a partir de quatro eixos norteadores:

Programação Básica: as atividades são desenvolvidas aos sábados e domingos, das 9h às 17h, obedecendo a uma grade de atividades que incluem:

1) Esportes - não só as modalidades esportivas propriamente ditas, como também as atividades físicas cooperativas e de convivência geracional; jogos pré-desportivos; jogos populares; brincadeiras; atletismo; esportes coletivos; ginástica e artes marciais. Exemplos: xadrez, futebol de salão, pingue-pongue, skate, judô, boxe, taco e outros.

2) Cultura - envolve todas as formas de manifestação artística: música; teatro; artes plásticas; dança clássica e danças popular-folclóricas; gincanas; feiras; leitura; exibição de vídeos/filmes. Exemplo: capoeira, hip-hop, canto coral, gibiteca, mostras de poesia, rádio comunitária, jornal impresso ou eletrônico etc.

3) Saúde - abarca questões relativas à promoção da saúde e da qualidade de vida, especialmente no que se refere à prevenção ao uso indevido de drogas e às DST/AIDS. Formação de multiplicadores para ações preventivas diversas; palestras e encontros sobre temas variados. Exemplos: planejamento familiar, prevenção ao uso indevido de drogas e Doenças Sexualmente Transmissíveis, primeiros socorros, cuidados na gravidez e puericultura, responsabilidade na criação de animais domésticos, etc.

4) Qualificação para o Trabalho - abrange atividades que propiciam geração de renda ou aquisição de competências e habilidades para o mercado de trabalho, como: informática; idiomas; curso pré-vestibular; cursos básicos de qualificação profissional. Exemplos: noções básicas de Windows, Internet, marcenaria, confeitaria, culinária, cerâmica, pintura, aulas de inglês/espanhol, etc.

O objetivo proclamado do Programa é atender a grande parte da população paulista de jovens e adolescentes que se encontram na rede estadual de ensino. Como consta no manual operativo do PEF, dados extraídos do Censo 2000-IBGE, o número total de pessoas entre 15 e 24 anos no Brasil, portanto, população jovem, é de 34.09.224, sendo que 21% estão concentrados no Estado de São Paulo e desse percentual 80% estão matriculados em escolas estaduais e os 20% restantes estão distribuídos nas redes particulares e municipais. Por isso, os órgãos centrais declaram que todas as políticas públicas voltadas para a Rede Estadual de Ensino representam inferência direta sobre a população mais jovem de nosso Estado, como forma de promover ações de prevenção à ocorrência de violência, garantindo-lhes, além do acesso e permanência com êxito nos Ensinos Fundamental e Médio, oportunidades para sua formação integral, enquanto futuros cidadãos no exercício ético de seus direitos e deveres.

A coordenação central destaca, pelo Manual Operativo do PEF e pelo quadro que segue os tipos de atividades mais solicitados pela comunidade de participantes, alunos e não- alunos da rede estadual. As atividades mencionadas foram sugeridas aos profissionais do programa para serem desenvolvidas nos espaços das escolas estaduais, aos finais de semana.

Quadro 1 - Atividades mais solicitadas pela comunidade

NÃO ALUNOS ALUNOS

Orientação antidrogas 80,2% Orientação antidrogas 78,3% Curso de informática 77,5% Língua estrangeira 68,7%

Esportes 69,3% Esportes 66,9%

Língua Estrangeira 66,6% Educação sexual 64,3%

Educação Sexual 66,6% Palestras com profissionais 58,6%

Dança 61,1% Curso de informática 58,2%

Palestra com profissionais 60,6% Música 57,7%

Música 60,0% Higiene e cuidados

pessoais 54,6%

Grupos de discussão sobre comportamento de

adolescentes

56,7%

Grupos de discussão sobre comportamento de

adolescentes

54,3% Artes e produção artística 56,3% Lazer fora da escola 53,8%

Para os mentores do PEF, as atividades sugeridas oferecem uma excelente oportunidade para que jovens e adolescentes possam ser protagonistas de ações criativas e sociais na discussão de problemas, na livre manifestação e na busca de soluções. Afirmam, ainda, segundo o Manual Operativo (2004), que mais do que uma forma de ocupação do tempo ocioso, as atividades são instrumentos que poderão contribuir para a diminuição do índice de ocorrência de violência no Estado de São Paulo. Além do que colaboram para o desenvolvimento de uma cultura de paz, nas regiões que apresentam maior vulnerabilidade juvenil, por meio de ações educativaspreventivas, com vistas à formação integral de jovens e crianças paulistas, e ao fortalecimento do exercício ético da cidadania. O discurso é estimulante e envolvente, mas na prática isto não se confirma.

A “orientação” para as escolas enfatiza ser de suma importância que as atividades desenvolvidas tenham como foco prioritário a população jovem, e com a primordial intenção criar oportunidades para a ampliação de horizontes e perspectivas para todos os participantes, fortalecendo o sentimento de pertencimento da comunidade intra e extra-escolar, a auto- estima e a identidade cultural dessa população.

Com todas essas indicações/sugestões de atividades, o Manual confirma que o quadro de sugestões pode ser adequado ou alterado de acordo com a realidade local e suas potencialidades, atendendo às expectativas da comunidade. Acreditamos que, com tantos detalhes encaminhados às escolas sobre o desenvolvimento do PEF, o que a SEE pretende realmente é um controle de tudo que se realiza nos espaços escolares aos finais de semana, como uma forma de delimitar o tipo de participação da comunidade às atividades restritas do Programa.

O manual é muito enfático no que diz respeito ao estabelecimento de parcerias, captação de voluntários e à conservação da limpeza. E ainda acrescenta que para o funcionamento do Programa Escola da Família é importante que as ações sejam preparadas

durante o período letivo por toda a comunidade escolar, num primeiro momento, para serem executadas ao final de semana pelos educadores do Programa e voluntários da comunidade escolar – alunos, funcionários, educadores do quadro da unidade escolar e pais.