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Registros e discursos sobre ações da SEE e do PEF

CAPÍTULO II – O PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA

2.6. Registros e discursos sobre ações da SEE e do PEF

2.6.1. As vozes oficiais

O então Governador Geraldo Alckmin, quando se referia ao PEF, afirma que ele tem o objetivo de fazer das escolas espaços privilegiados de convivência familiar e comunitária, dando oportunidades de lazer para os jovens e aproximando mais professores, e alunos e trazendo a comunidade para dentro da escola. Ao associar educadores voluntários aos professores dá-se exemplos de solidariedade e de cidadania. Ainda...

[...] a escola não pode ser concebida apenas como lugar exclusivo da educação formal, da freqüência obrigatória, da hora marcada. Agora, para que cumpra o seu papel social, é necessário também que promova o desenvolvimento de talentos e aptidões, que atue integrada à família e à comunidade [...] (MANUAL OPERATIVO, 2005, p.2).

Quando o então Secretário da Educação, no mesmo documento, apresenta o “Escola da Família” afirma: “[ ...] estamos envolvidos em uma iniciativa séria e profunda, inserida em uma política educacional firme e duradoura,comprometida com resultados concretos [...]” (MANUAL OPERATIVO, 2005, p.3).

O PEF, segundo ele, renovou a relação entre a unidade escolar e a comunidade. Parcerias com a sociedade civil e a iniciativa privada representam a maneira mais eficiente e democrática. Procuram valorizar o papel do educador nesse programa, dizendo que ele é parte fundamental de todo o PEF, não se restringindo à sua coordenação e organização, mas representando um ato de cidadania e solidariedade e de construção da concepção do ser, conviver, fazer e conhecer para a formação de atividades positivas que valorizem a vida.

Na concepção do Governador, a gestão democrática é uma prática que deve ser construída e reconstruída no dia-a-dia e a administração escolar não pode ser reduzida a uma só pessoa. Ele enfatiza que é importante também entendê-la como espaço e instância de análise dosproblemas da escola e de decisões de questões relativas ao processo educacional.

Complementando a concepção do Governador, também entendemos que numa gestão democrática e participativa os membros devem participar de debates e decisões de questões relativas ao processo educacional, conhecendo as necessidades e prioridades da escola e se envolvendo efetivamente no processo educativo. Contudo, não foi esse tipo de gestão que encontramos na pesquisa sobre o PEF. Houve apenas a democratização dos espaços da escola e isso não caracteriza uma gestão democrática, até porque não basta apenas participar de atividades ou estar presentes na escola como meros espectadores de decisões já tomadas pela equipe interna, para que ela se consolide.

Quando da realização do evento de aniversário do primeiro ano do Programa, em agosto de 2004, houve uma grande ênfase por parte dos governantes no fato de que esse não se constituía em um simples e novo projeto colocado para a rede pública, mas como um “Programa de Governo”.

Foram muitas as palavras do Governador, do então Secretário da Educação e da equipe da Coordenação Geral do Programa; dos representantes dos parceiros da UNESCO; de membros do Instituto Ayrton Senna e do Faça Parte, no sentido de valorizar essa política pública do Estado de São Paulo. Vários acadêmicos foram chamados para palestrar sobre o assunto e mostrar a grande responsabilidade de todos os atores sociais no desenvolvimento do Programa e, também, para frisar a necessidade de se conjugar esforços no sentido de mudar, inovar e construir coletivamente a educação do século XXI.

Mostrou-se a importância do papel de cada um dos profissionais nos espaços escolares, para elevar a auto-estima de todos com o propósito único de se conseguir um

envolvimento cada vez maior dos profissionais e garantir resultados positivos na avaliação do Programa.

Nesse período, todos os discursos para a mídia, para os dirigentes de ensino, para os educadores e para a comunidade em geral, confirmavam que o PEF “era a menina dos olhos do governador” e que a ele seria dada atenção especial.

Os diversos artigos publicados na Revista Idéias (2004, nº 32) - edições comemorativas do PEF, editada pela FDE, procuraram mostrar o caminho de sucesso do Programa, a sua contribuição para a redução da violência e depredação nos espaços escolares, a melhoria das relações escola e comunidade, a apresentação de um novo cenário de coexistência de educadores com as famílias, uma maior aproximação da comunidade em geral com a escola.

Os textos apontaram também para a “autonomia” que as unidades escolares teriam na realização de seus projetos; para os canais de gestão democrática que se abriram a partir do Programa.

Os temas mais abordados para se referir ao Programa foram: escola cidadã, democrática e inclusiva; a construção de uma cultura de paz; desafios cotidianos e de fins de semana nas escolas e com os jovens que nela habitam; projeto de não violência; protagonismo juvenil e educação para o desenvolvimento humano. Registraram-se detalhes sobre o projeto, na visão de seus coordenadores e mentores, sobre as parcerias, trabalho voluntário e sobre os eixos norteadores do Programa: cultura, esportes, saúde e qualificação para o trabalho.

Nesse evento de comemoração do primeiro ano do Programa, além de uma amostragem de trabalhos realizados nas escolas, alguns depoimentos foram ouvidos, no sentido de exaltar os aspectos positivos. Nas comemorações do 2º ano, também foram feitas muitas apresentações de danças, teatros, além de depoimentos e palestras com educadores de renome no plano educacional do país.

Segundo Leila Ianone (2004, p.17), Diretora de Projetos Especiais da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE/SEE),a SEEvem implantando sua política educacional que redefine o papel da escola, concebendo-a como instituição democrática, inclusiva, com a responsabilidade de promover a permanência e o sucesso de toda a sua população estudantil. Para isso, propõe ações que contribuem com a inclusão social de crianças e jovens, minimizando sua vulnerabilidade e possibilitando sua plena formação como cidadãos.

A professora afirma, ainda, que a educação paulista tem avançado em propostas que procuram contribuir para a formação de uma sociedade democrática, igualitária, (grifo nosso) atendendo as necessidades educacionais colocadas pela realidade contemporânea, por meio da oferta de uma educação de qualidade.

Na concepção dos mentores do PEF, o Programa é considerado como uma dessas ações que mais compartilha com a comunidade o compromisso de tornar cada vez presente a Escola-Cidadã, democrática e plural; que traz para dentro da escola as famílias de alunos e ex- alunos; que procura respeitar a cultura local e as peculiaridades da comunidade em seu entorno, valorizando a autonomia da escola na elaboração e execução coletiva de seu projeto pedagógico, para que todos se responsabilizem eticamente pelos resultados alcançados na educação. E, para isso, “a escola deve estar aberta também à participação da comunidade, estimulando a interação democrática entre pais, alunos, educadores e toda a população do seu entorno” (PEE, SEE, 2003).

A equipe da SEE responsável pela criação do Programa considera que dentre a diversidade de iniciativas e ações sociais e pedagógicas desenvolvidas pela Secretaria do Estado da Educação para atender as reivindicações da população por uma escola de melhor qualidade e mais aberta, está o “Programa Escola da Família – Espaços de Paz”, criado para ampliar e fortalecer os canais de participação dos alunos, dos pais e da comunidade nas atividades escolares.

Segundo as palavras do Professor Gabriel Chalita7, o Programa Escola da Família – Espaços de Paz foi o início do que pode ser chamado de “A nova história da educação paulista”. O objetivo principal do PEF é de oferecer novas oportunidades de aprendizado e de convivência harmoniosa não apenas para os alunos da Rede Estadual de Ensino, mas para seus familiares, amigos e todas as comunidades em que estão inseridos. E acrescenta que essa união entre unidades de ensino, pais e comunidades simboliza um dos objetivos principais da proposta que permeia todo o programa pedagógico que vem sendo desenvolvido pela SEE de São Paulo.

Segundo Barbosa (2004, p. 27-29), o “Escola da Família”, além de outros projetos na rede, tem como objetivo ampliar o conceito de escola aberta à comunidade , de estar afinado com o conceito de qualidade educativa explicitado pela política educacional definida a partir de 2003, além de atender às questões solicitadas pela rede: diminuir a violência, ampliar a participação da comunidade, melhorar o convívio escolar, criar mais espaço para atividades culturais, esportivas e de lazer. O Programa foi criado também com o propósito de promover a integração da comunidade escolar, de ex-alunos, de incentivar o voluntariado, as parcerias e expandir os horizontes e limites do espaço formativo. Também buscou quebrar barreiras, abolir preconceitos, aproximar o cidadão da escola, descobrir potencialidades e talentos e estar, realmente, aberta à participação da comunidade, estimulando a interação democrática entre pais, alunos, educadores e toda a população do seu entorno.

De acordo com Ianonne (2004, p.19), o Programa Escola da Família é tido como um marco da política educacional dessa Secretaria da Educação, e confirma que ele foi criado em consonância com os princípios básicos dessa Política Educacional do Estado: a inclusão, a participação e a autonomia das escolas.