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CAPÍTULO II – O PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA

2.5. Outras ações desenvolvidas no Programa

A SEE/SP e a Coordenação Geral do PEF inseriram outros projetos dentro do programa; segundo eles, para atender às necessidades das comunidades do entorno das escolas públicas. Podemos destacar alguns deles:

• Programa Escola da Juventude, iniciado na rede em 2005. O objetivo principal dessa ação dentro do programa, como declara o Secretário da Educação da época, é a formação de jovens que estão fora da escola e não tiveram oportunidades de cursar o Ensino Médio. No site do PEF visualizam-se todas as orientações e explicações sobre o que é o projeto e como funciona. O curso, segundo a Coordenação Geral do Programa, é desenvolvido pensando em praticar um currículo ligado com a vida e voltado para o acolhimento dos jovens, melhorando sua auto-estima, autoconfiança, autonomia e reafirmando identidades.

O curso tem a finalidade de dar formação para jovens e adultos que não concluíram o Ensino Médio por não terem possibilidade de estudar durante a semana, por motivos diversos, mas que podem fazê-lo aos finais de semana.

Nossa preocupação na análise da implantação desse projeto diz respeito ao currículo, que pode estar sendo reduzido, sem a qualidade de um ensino que se espera para toda e qualquer faixa etária. Um currículo não deve contemplar somente a competição no mercado de trabalho, mas deve ser um currículo que sirva para a vida de cada educando, dando-lhes

oportunidade de ter acesso ao conhecimento sistematizado e produzido ao longo de nossa história e opções de formação com qualidade. Precisa ser um currículo cujo conteúdo contribua para a formação de jovens e adultos mais críticos e autônomos, capazes de olhar o mundo com mais criticidade. Acreditamos que esse projeto atenda às expectativas de pessoas que pretendam apenas garantir seu emprego, até porque as empresas hoje em dia trabalham em função de garantia de qualidade de serviços ISO9000, 14000, etc. e a garantia de emprego é a garantia de sua sobrevivência e de sua família. Contudo, esses alunos não podem ter uma certificação vazia e sem perspectivas de melhoria para suas vidas como seres humanos integrados na sociedade em que vivem. É imprescindível uma análise mais profunda dos recursos utilizados para essa formação e carga horária do curso que delimita a aprendizagem e cria uma falsa expectativa nos alunos com relação à continuidade de estudos e a possibilidade de concorrer a uma vaga no vestibular, inclusive em escolas públicas de ensino superior.

Estudantes universitários são contratados pela empresa SCA-Sistema de Informática Ltda., da cidade de São Paulo, para serem monitores nas aulas da Escola da Juventude. Como podem alunos ainda no primeiro ano do curso superior estarem tão capacitados (ou habilitados) para formar tantos jovens colocados no projeto? O curso é distribuído em módulos e por componentes curriculares. Esses monitores são orientados por um Coordenador da Região, também contratado por uma Universidade parceira do Programa, cujo papel é visitar as escolas aos finais de semana para acompanhar o desenvolvimento das aulas, fazer intervenções no processo de ensino e aprendizagem e garantir a freqüência dos alunos. Parece que a SEE se preocupa com o número de freqüência porque esse dado é colocado freqüentemente na mídia. Oficinas de capacitação e planilhas com orientações sobre as aulas são montadas por esse coordenador e repassada aos monitores. Um número considerável de alunos receberá certificação através desse curso ainda em 2006.

Há questionamentos que podemos fazer sobre a qualidade dessas aulas; sobre a forma como elas são ministradas e sobre o tipo de contratação dos profissionais que atuam nesse projeto, com nenhum vínculo com a SEE. Há também uma outra crítica advinda dos professores da rede, através do seu Sindicato, na justificativa de que essas aulas deveriam passar por um processo regular de atribuição no decorrer do anoletivo, serem oferecidas aos professores habilitados nas diversas áreas e não da forma como acontece: terceirizando a educação, precarizando a profissão de professor e desqualificando a educação nas escolas públicas paulistas. O Estado, mais uma vez, se isenta da obrigação de dar ensino de qualidade, de construir mais escolas e abrir mais salas de aula para atender à demanda para todas as faixas etárias.

Para os alunos é uma questão de aceitar um curso que, embora com algumas limitações, é o que lhes está disponível no momento e que pode atender às suas necessidades de horário e de vida. Para eles, melhor esse curso, mesmo que aligeirado, do que nenhuma formação.

• Projeto SPA na Escola - Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil, o Instituto da Família, a Vita Derm e o SESI também contribuem sendo parceiros nesse projeto, que integra o Programa Escola da Família contemplando os eixos: Movimento; Saúde e Nutrição; Saúde e Beleza e Roda de Conversa com participação de famílias e jovens discutindo temas e problemas que atingem e preocupam jovens e a sociedade em geral.

Na região de Americana, o projeto foi colocado em 5 escolas estaduais, sendo duas no município de Americana, duas no município de Santa Bárbara D’Oeste e uma em Nova Odessa, escolhidas pelo critério de boa freqüência da comunidade; por estar próxima de uma área de lazer, de uma praça ou de um parque ecológico, que permite o desenvolvimento de atividades físicas como ginásticas, alongamento, lien-chi, entre outras.

Segundo Cristina Cordeiro6, coordenadora executiva do PEF, o objetivo é promover a cultura de uma vida saudável e incentivar a qualidade de vida por meio de práticas de uma alimentação saudável.

São muitas as parcerias conseguidas no Programa, tanto pela Secretaria da Educação como pelas coordenações regionais e locais, visando trazer atividades diversificadas e que atraiam o interesse da comunidade.

• Projeto PAI - Projeto de Alfabetização e Inclusão. O PAI é um programa da Secretaria de Estado da Educação que, segundo o discurso da SEE-CENP, pretende, a curto prazo, reduzir índices de analfabetismo no Estado de São Paulo. Em algumas comunidades vai além da etapa inicial da alfabetização, oferecendo também escolaridade equivalente ao Ciclo I do Ensino Fundamental.

A parceria PAI – ESCOLA DA FAMÍLIA trata-se de um Programa de Alfabetização e Inclusão (PAI) de adultos que não concluíram seus estudos no Ensino Fundamental de 1ª à 4ª séries. Essa parceria da CENP com o PEF, segundo seus mentores, tem como objetivo principal a realização de ações sócio-educativas, nos espaços das Escolas Estaduais, aos finais de semana, com o intuito de ampliar os horizontes culturais e a perspectiva de vida de milhares de crianças, jovens e adultos que não concluíram o Ensino Fundamental.

Algumas características desta parceria: Perfil dos monitores: estudantes universitários que estejam cursando faculdades ligadas à área da educação, preferencialmente Letras e Pedagogia. Perfil dos voluntários: ensino médio como escolaridade mínima e, preferencialmente, experiência na docência. O monitor é capacitado pelos multiplicadores da Coordenação Regional da DE e recebe o kit do educador, tendo o compromisso de desenvolver a proposta do PAI, aos finais de semana, com 4 horas de trabalho aos sábados e 4

horas de trabalho aos domingos. O Assistente Técnico-Pedagógico e o Supervisor de Ensino do Programa Escola da Família têm o compromisso de: Supervisionar e acompanhar presencialmente o desenvolvimento dos trabalhos; Capacitar, acompanhar e orientar os monitores para que sejam realizados registros de presença e de aproveitamento dos alunos. A Secretaria de Estado da Educação ficou responsável por oferecer o programa de capacitação para a Coordenação Regional, Supervisores de Ensino e Assistentes Técnico- Pedagógicos, bem como distribuir kits de material didático-pedagógico para os monitores e alunos do Ensino Fundamental.

Na Diretoria de Ensino de Americana o curso é mais direcionado para alunos que não concluíram as séries iniciais do Ensino Fundamental. Para salientar como o projeto é bem divulgado pelos órgãos centrais, e como alguns adultos ficam envolvidos com essas aulas dada à possibilidade de voltar aos bancos escolares e aprender a ler e a escrever, temos o seguinte depoimento de um aluno com 77 anos de idade que freqüentava o curso numa das escolas da DE, no município de Americana:

É muito gratificante reaprender aquilo que já tinha esquecido: revigora a vida, formamos muitas amizades. A escola aberta aos sábados e domingos foi a melhor idéia, pois estávamos fora da realidade. Se deixo de vir um sábado à escola, a semana para mim fica acabada. Tenho uma excelente professora, que facilita as coisas para a gente. A escola me ressuscitou, me sinto jovem aos 77 anos. Minha esposa sempre quis estudar e adoramos estar aqui. Isso nos trouxe uma nova vida, pois não sabíamos nem conversar. Hoje praticamente minha família está aqui na escola nos finais de semana, pois minha filha também faz o curso de alfabetização. O ensinamento nos leva a pensar mais. Agora que o Estado de São Paulo evoluiu na

sabedoria, está deixando os outros para trás (REVISTA IDÉIAS, 2004, p..239).

Como vemos, as pessoas sentem necessidade de aprender para se sentirem como cidadãos participantes da vida em sociedade. Querem ter instrução, adquirir conhecimentos sistematizados e construídos em nossa trajetória para poderem fazer escolhas, terem opções de melhoria de vida. Veja-se nós, como um simples curso que terá a certificação da CENP-SEE é importante para levantar a auto-estima das pessoas. Contudo, precisamos ter um olhar crítico para essa forma de ensinar e aprender e percebermos as intenções subjacentes a essa educação

aligeirada. Pode ser apenas uma tentativa de o Estado pagar a dívida que tem para com uma grande parcela da sociedade trabalhadora, que ficou alheia não só do processo educacional por longas décadas, mas também do processo político e social do país.