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Já em 1964, a autora Barraga sintetizou a literatura sobre diferentes aspectos do funcionamento visual (desenvolvimento, psicologia e educação) sendo as principais conclusões:

- O desenvolvimento do processo visual parece ter um padrão sequencial, apesar de para se conseguir a máxima eficiência visual parecer ser necessário a presença de estimulação e/ou treino.

- Apesar das limitações funcionais causadas por uma determinada patologia a literatura sugere que se pode incrementar competências visuais através de acções musculares de fixação, fusão e/ou de reorganizações perceptivas.

- O reconhecimento visual pode ser melhorado através do desenvolvimento da discriminação, interpretação cognitiva e subsequente integração conceptual dos estímulos ambientais.

Neste mesmo estudo, Barraga (1964) concluiu que existiam fortes probabilidades das crianças com visão residual poderem aumentar a sua eficiência visual, se existisse desde as primeiras idades uma planificação sequencial de estímulos visuais, especificamente com planos de sessões de estimulação visual para a discriminação e reconhecimento de materiais educacionais.

Barraga e Morris (1978) consideram que para se melhorar a eficiência visual é necessário analisar algumas das variáveis como sejam: o olho, o sistema visual e as suas funcionalidades; a selecção de dificuldade progressiva de tarefas visuais de acordo com o nível de desenvolvimento; ou, considerar a visibilidade

dos diferentes envolvimentos. Por outro lado, elegeram três factores como fazendo parte fundamental do desenvolvimento das funções visuais: existência de experiências para estimular a visão (qualidade e amplitude dos estímulos); listagem das actividades realizadas independentemente das condições ambientais; bem como, motivação e capacidade perceptiva e cognitiva.

Overbury et al. (1989) na sua investigação conseguiram corroborar o trabalho iniciado pela equipa de Barraga, que coloca como hipótese as competências perceptivas estarem organizadas de forma hierárquica, o que condiciona a sequência da perda de funções visuais quando a deficiência visual acontece na idade adulta. Ou seja, estes autores defendem que as tarefas perceptivas mais complexas (que requerem estratégias mais elaboradas ao sistema visual) são as mais afectadas.

Outro tipo de investigação relaciona-se com a observação do desempenho de tarefas visuais com o objectivo de desenvolver programas significativos. Waiss e Cohen (1996) afirmam que o funcionamento visual pode ser melhorado com programas desenhados de forma individualizada tendo em atenção as capacidades visuais que os sujeitos já tenham e quais as necessidades que seriam desejáveis para serem melhoradas. E como principais razões para treinar a função visual advogam três factores: o encorajamento da visão excêntrica4, melhorar a visão binocular e melhorar as estratégias de

varrimento.

Corn e Webne (2001) defendem que uma avaliação exclusivamente clínica é insuficiente para efectuar um bom programa para desenvolver a eficiência da utilização da função visual. É necessário, como sugerem estes autores, conhecer o potencial funcional da visão e compreender o papel que as expectativas desempenham no desenvolvimento das competências visuais.

4 Visão ou fixação excêntrica – alterar a direcção do olhar de forma a utilizar áreas funcionais

Cor Mobilidade Campo Visual Funções Cerebrais Recepção da Cor e da Luz

Cor Tem po Con traste Esp aço Ilum inaçã o

Cor Mobilidade Campo Visual Funções Cerebrais Recepção da Cor e da Luz

Cogn ição Des. In tegra ção S enso rial

Perc epçã o Estr utura Fisiol ógica Estr utura Físi ca Potencial Individual: Disponível e Armazenado C a p a c id a d e s V is u a is Pist as d o En volv imen to

Existem diferentes teorias sobre o funcionamento visual. Os autores Corn e Koening (1996) seleccionaram três teorias: Barraga, Corn (1983) e Hall e Bailey (1989). A primeira teoria foi a desenvolvida pela equipa da investigadora Natalie Barraga e defende, como já foi mencionado, que o desenvolvimento da visão ocorre sempre pela mesma sequência, quer nas crianças com uma visão normal e quer nas crianças com baixa visão, apesar de se admitir que acontece com diferentes ritmos. Esta teoria explica as etapas do desenvolvimento visual da criança com baixa visão, mas não reflecte o que se passará quando se perde a visão na fase adulta.

Figura 2 - Modelo de Funcionamento visual (Traduzido de Corn,1983)

Corn (1983) sugere que o funcionamento visual pode ser representado por uma estrutura com diferentes componentes organizados em três dimensões distintas: Capacidade Visual (acuidade e campo visual, mobilidade, funções cerebrais e percepção de luz e de cor), Pistas do Envolvimento (cor, contraste, espaço, iluminação e tempo) e o Potencial Individual - Armazenado e Disponível (cognição, desenvolvimento da integração sensorial, percepção, estrutura fisiológica e física). De acordo com este modelo todos os componentes têm de estar presentes de alguma forma para que exista funcionamento visual.

Controlo de Pistas Visuais

Código Visual

Redução da conspicuidade visual

Gestão do Envolvimento Visual

Tarefas

Dirigidas pela cr. num envolvimento especial

Reforço

Envolvimento c/ tarefas ou estímulos sensoriais dos seus componentes

Treino de Competências Visuais

Tarefas

Dirigidas pelo instrutor

Reforço

Completar ou envolver-se na tarefa; com frequência há reforços adicionais

Sem Programa Especial

Tarefas

Dirigidas pela criança, com estímulos sensoriais encontrados naturalmente

Reforço

Envolvimento com a tarefa ou estímulos sensoriais dos seus componentes

Treino de Tarefas dependentes da Visão

Tarefas

Dirigidas pelo instrutor

Reforço

Completar ou envolver-se na tarefa; com frequência há reforços adicionais Comport. que servem a visão Comport. de análise visual Comport. Visuo- motores Comport. que servem a visão Comport. de análise visual Comport. Visuo- motores Comport. que servem a visão Comport. de análise visual Comport. Visuo- motores Comport. que servem a visão Comport. de análise visual Comport. Visuo- motores.

Os autores Hall e Bailey (1989) publicaram um artigo onde propõem um modelo para o treino da função visual, descrevendo as relações entre a visão e os comportamentos dependentes da visão, com o objectivo de ajudar a estruturar programas de treino.

Figura 3 - Modelo para o treino da função visual (Traduzido de Hall e Bailey, 1989)

Uma questão que estes autores levantam é sobre a importância da avaliação do funcionamento da visão na edificação de ambientes educativos apropriados e no desenvolvimento de programas que promovam a utilização da visão. Também são da opinião que os instrumentos de avaliação existentes até à data permitiam recolher informação pertinente e com qualidade suficiente para este objectivo

Hall e Bailey (1989) dividiram os comportamentos visuais a promover em três categorias: comportamentos que servem a visão (incluindo nesta categoria as

capacidades motoras e sensoriais do sistema visual), comportamentos de análise visual e comportamentos motores guiados visualmente. Por outro lado, mencionaram três tipos distintos de programas para aprenderem estes tipos de comportamentos, nomeadamente: gestão do envolvimento visual (criar ou seleccionar ambientes especialmente organizados com pistas visuais para encorajar ou controlar os três tipos de comportamentos visuais), treino de competências visuais (promover a aquisição de comportamentos guiados visualmente específicos que não se tenham desenvolvido a um nível satisfatório) e treino de tarefas que dependem da visão (promover o desenvolvimento de comportamentos guiados visualmente em tarefas específicas que sejam mais eficientes de realizar com a visão mas que não sejam uma motivantes).

O trabalho de Hall e Bailey foi seguido por Luek, Dornbush e Hart (1999) que consideram alguns factores como determinantes no treino da função visual de crianças:

- determinar o nível de funcionamento visual através de avaliações oftalmológicas, optométricas, subvisão e função visual;

- usar um modelo transdisciplinar para avaliar e intervir, envolvendo os pais nas várias fases do trabalho;

- determinar o repertório visual da criança (comportamentos: que servem a visão, de análise visual e visuo-motores) de forma sistemática;

- determinar em equipa um programa de treino visual funcional que tenha em consideração a gestão do envolvimento visual, o treino de competências visuais e o treino de tarefas visuais;

- o uso apropriado de pistas visuais e um envolvimento que encoraje comportamentos visuais;

- incorporar programas de treino que incluam rotinas diárias (implementados pelos pais ou pessoas significantes);

- incorporar objectivos funcionais nas rotinas de maior agrado para as crianças e para os pais, e que estejam apropriados à idade das mesmas;

- ter em consideração as características das crianças, em particular a postura, o tempo de resposta e o nível de alerta;

- ir ajustando os programas de treino, objectivando a promoção da independência no funcionamento visual em ambientes naturais ou quando os resultados não estão a ser satisfatórios.

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