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CAPÍTULO 4 – RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO

4.1 Fundamentação teórico-conceitual

4.1.1 Fundamentação dos subsídios geológicos

- Ignorância cultural.

Geoconservação: é um ramo da atividade científica que tem como objetivo a caracterização, conservação e gestão do patrimônio geológico ou geodiversidade e processos naturais associados (BRILHA, 2006).

De outro modo, a geoconservação é o ato ou efeito de proteger usando, ou manter os geossítios de modo a permitir o seu uso científico, educativo, cultural e turístico (modificado de BRILHA, 2006).

Política de suporte: Segundo Brilha (2006), a geoconservação requer uma política de suporte por ser o resultado da integração indissociável entre o ordenamento do território, a conservação da natureza e a educação (aqui chamada de geoeducação). No modelo europeu, o geoturismo está intimamente ligado à geoeducação e ambos subordinados à geoconservação. Neste contexto, depende, pois, de políticas públicas.

4.1.1 Fundamentação dos subsídios geológicos:

Os resultados da revisão bibliográfica fundamentando os subsídios geológicos e suas aplicações no planejamento e gestão ambiental do turismo serão apresentados a seguir.

Os subsídios geológicos que embasaram a proposição da presente tese consideraram a geologia regional em seus aspectos estratigráfico, tectônico, hidrogeológico, geomorfológico e geotécnico, bem como a inserção do geoturismo nesse contexto.

A geologia regional apresentou-se definida de uma forma sistêmica a partir dos trabalhos divulgados por Soares et al. (1979), Stein et al. (1979), Almeida et al. (1980) e Almeida e Melo (1981), também referido em São Paulo (1981).

Almeida e Melo (1981) apresentaram uma síntese da geologia da Bacia Sedimentar do Paraná no Estado de São Paulo, descrevendo as unidades litoestratigráficas e os ambientes deposicionais, bem como os principais elementos estruturais e a história geológica envolvida.

Soares et al. (1979) foram os precursores da proposta de criação do Grupo Bauru, atribuindo-lhe idade neocretácica. No Estado de São Paulo, esses autores o subdividiram nas formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília. Apresentaram-nas empilhadas nesta ordem, da base para o topo, em contato interdigitado entre elas e repousando, em discordância erosiva, sobre os basaltos da Formação Serra Geral, de idade eocretácica.

Quanto à Formação Serra Geral, inúmeros são os trabalhos na literatura geológica brasileira. Sua ocorrência na região oeste paulista se restringe ao Vale do Paranapanema e seus tributários, bem como a porções do Vale do Tietê e alguns de seus afluentes, do Vale do São José dos Dourados e de alguns trechos dos vales dos rios Aguapeí, Peixe e Paraná (ALMEIDA et al., 1980). Segundo os mesmos autores, a Formação Serra Geral é constituída, predominantemente, por rochas basálticas dispostas em derrames sub-horizontais, ocorrendo, subordinadamente, arenitos e brechas intratrapianas.

Os basaltos geralmente são compactos, afaníticos e de coloração cinza escura a preta, mas há variações para tipos vesiculares e/ou amigdaloidais no topo e base dos derrames. A composição varia de um derrame para o outro, mas basicamente constituem-se de vidro vulcânico, plagioclásio (labradorita), piroxênio (augita), magnetita e apatita (LEINZ, 1949).

As rochas intratrapianas são representadas por arenitos eólicos, geralmente róseos e silicificados, e por brechas de pequena espessura constituídas de siltitos argilosos ou arenitos com quantidade variável de fragmentos de basalto amigdaloidal, e por basalto amigdaloidal envolvendo fragmentos de rochas clásticas.

Almeida et al. (1980), consideraram o contato da Formação Serra Geral com o sotoposto arenito Botucatu concordante.

A litoestratigrafia do Grupo Bauru se completou com a inclusão da Formação Itaquerí, de presumível idade terciária, no topo dessa coluna, ao término do episódio de sedimentação dessa bacia (BARCELOS et al., 1983).

Esse conceito geral se manteve durante toda a década de 1980 e o início da década de 1990, ocasião em que se iniciou uma fase de detalhamento e de propostas de individualização de sub-bacias dentro da Bacia Sedimentar do Paraná.

Em 1994, a Petrobrás apresentou uma síntese propondo uma carta estratigráfica geral para toda a Bacia do Paraná abordando a geocronologia, a bioestratigrafia, a litoestratigrafia, as seqüências deposicionais, a evolução tectônica e o ambiente deposicional (MILANI et al., 1994).

Fulfaro e Perinotto (1996) propuseram a definição da Bacia Bauru como uma unidade sedimentar continental de interior cratônico individualizada no topo da Bacia do Paraná e composta pelas formações Adamantina e Marília. Da mesma forma, depreenderam individualizar, como bacia restrita, a Bacia Caiuá, composta pela Formação Caiuá, de idade provável meso-cretácica e pela Formação Santo Anastácio, neo-cretácica.

Fulfaro et al. (1999) definiram a Formação Santo Anastácio como um geossolo do topo do Grupo Caiuá e precedendo a deposição da Bacia Bauru a partir do Neo-Cretáceo.

Fulfaro et al. (1999a) reiteraram a proposta de individualização da Bacia Caiuá em relação à Bacia Bauru, ambas como sub-bacias no topo da Bacia do Paraná.

Fernandes (1998) admitiu para a Formação Adamantina uma subdivisão em fácies sedimentares assim denominadas: São José do Rio Preto, Araçatuba, Ubirajara e Taciba. Dentre essas, propôs para as duas primeiras a categoria de Formação São José do Rio Preto e Formação Araçatuba.

A Formação Araçatuba foi redefinida por Batezelli (1998) e Batezelli et al. (1999) como oriunda de um paleoambiente interpretado como um lago situado entre os atuais vales do Rio Tietê e Rio do Peixe e estendendo-se até a proximidade oeste/sudoeste da cidade de Marília.

Fernandes e Coimbra (1999), analisando paleocorrentes na parte oriental da Bacia Bauru e a nordeste de Paraguaçu Paulista, reconheceram, como unidade da Formação Marília, o Membro Echaporã, atribuindo-lhe um paleoambiente de leques aluviais.

Etchebehere (2000), estudando a região do Vale do Rio do Peixe, que se situa imediatamente a norte do Município de Paraguaçu Paulista, definiu aloformações do Quaternário em terraços aluviais.

Fernandes (2004) reconheceu a Bacia Bauru como sendo uma bacia continental interior do Neocretáceo, desenvolvida no centro-sul da Plataforma Sul- Americana e composta por uma seqüência sedimentar essencialmente arenosa. Na parte oriental dessa bacia identificou nessa seqüência dois grupos cronocorrelatos: o Grupo Caiuá e o Grupo Bauru. Mapeou dentro do Grupo Caiuá as formações Rio Paraná, Goio Erê e Santo Anastácio e dentro do Grupo Bauru as formações Uberaba, Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Marília e Vale do Rio do Peixe.

A seção-tipo da Formação Vale do Rio do Peixe (FERNANDES; COIMBRA, 2000) foi descrita no corte do km 87 da rodovia SP-457, a sudoeste da cidade de Tupã, no vale do rio homônimo, a 40 km ao norte da cidade de Paraguaçu Paulista (SP). Essa formação corresponde a grande parte da outrora denominada Formação Adamantina (SOARES et al., 1980). Tem espessura máxima preservada da ordem de 100 m. Neste local, na base faz contato erosivo com o basalto da Formação Serra Geral e no topo passa gradualmente e interdigitada para a Formação Marília aqui representada pelo Membro Echaporã. Tem estrutura tabular típica, em camadas de espessura submétrica. É composta por arenitos intercalados com siltitos ou lamitos arenosos, marrom-claro a alaranjado, localmente com cimentação intensa de calcário. A Formação Vale do Rio do Peixe formou-se em ambiente essencialmente eólico na forma de lençóis de areia e campos de dunas baixas associadas com loess (FERNANDES, 2004).

Segundo este mesmo autor, a Formação Marília, cuja área-tipo fica próxima à cidade paulista de mesmo nome, é representada em São Paulo apenas pelo seu Membro Echaporã. Ocorre na parte superior de espigões regionais sustentando planaltos escarpados e alcançando até 180 m de espessura (ALMEIDA et al., 1980) nas regiões de Marília-Echaporã, a 40 km a nordeste da cidade de Paraguaçu Paulista. Neste local, o Membro Echaporã apresenta-se como estratos tabulares de aspecto maciço (de 1 até 2,5 m de espessura) de cor bege a rosa e compõe-se por arenitos finos a médios, imaturos, com frações grossas e grânulos, com cimentação e nódulos carbonáticos. Formou-se em ambiente de leques aluviais em suas porções distais acumuladas por fluxo em lençol (FERNANDES, 2004).

Batezelli e Basilici (2006) referiram-se à Bacia Bauru como sendo uma entidade geotectônica gerada no Cretáceo Superior na porção sudeste da Placa Sul-

Americana, sobreposta à região centro-norte da antiga Bacia do Paraná. Esses autores atribuíram à Bacia Bauru uma gênese relacionada à reativação de antigas estruturas do embasamento (lineamentos de Três Lagoas, Presidente Prudente e Ribeirão Preto). Eles consideraram os arenitos do Grupo Caiuá (Cretáceo Inferior) e os basaltos da Formação Serra Geral (Grupo São Bento, do Período Cretáceo Inferior) como substrato desta bacia. Consideraram-nos também rearranjados sob a forma de uma depressão alongada na direção NE-SW, por influência de esforços direcionais intraplaca ocasionados pela separação Brasil-África, a leste, e pela colisão da Placa de Nazca com a Placa Sul-Americana, a oeste. Interpretaram o ambiente de deposição da Bacia Bauru como continental em regime fluvial de leques aluviais retrabalhados por rios entrelaçados. Consideraram, ademais, que nesse ambiente originaram-se rochas lamíticas e arenitos muito finos na base, onde posicionaram as formações Araçatuba e Adamantina. Continuaram interpretando que essas rochas foram gradando para arenitos finos a médios na sua porção intermediária, onde posicionaram as formações Adamantina e Uberaba, e arenitos médios a grossos, ora conglomeráticos, no topo, onde posicionaram a Formação Marília.

Quanto à geologia estrutural e geotectônica regional, a área pesquisada está a norte do Alinhamento Paranapanema (FULFARO, 1974), distando, aproximadamente 60 km a sul da Cidade de Paraguaçu Paulista (SP). Este autor assim o definiu como uma mega feição orientada de leste-sudoeste para oeste- noroeste e que exerceu grande influência durante a evolução da Bacia Sedimentar do Paraná, do Carbonífero Superior ao fim do Mesozóico. Continuou afirmando que, durante o Mesozóico, quando ocorreu a reativação Wealdeniana, ocorreu uma intensa atividade magmática ao longo desse alinhamento e reativações neotectônicas no Cenozóico.

Riccomini (1995) sintetizou os conhecimentos mais recentes sobre o tectonismo precursor, gerador e deformador da Bacia Bauru. Afirmou que se admite atualmente um severo controle estrutural para o substrato Bauru, que é caracterizado pelo arcabouço tectônico presente no assoalho basáltico da Formação Serra Geral. Associou este evento claramente a processo mesozóico de ruptura do Gondwana e seus reflexos no interior continental, que marcaram os estágios pré e sin-deposicionais das unidades da Bacia Bauru. Admitiu que o prosseguimento do

movimento de deriva da placa, no Terciário, foi causa do tectonismo modificador da bacia. A neotectônica foi também abordada por Saadi (1993) e por Mioto (1993). O primeiro autor apresentou as principais feições tectônicas do oeste paulista e os sismos associados. Dentro desse contexto, pode-se considerar a região que contém a área pesquisada dentro do Bloco Tectônico do Paraná ou Descontinuidade Crustal do Médio-Alto Paraná. Estaria assim incluída na Seqüência Mesozóica, localizada entre as megafeições estruturais de direção nordeste, denominadas Presidente Prudente e Ribeirão Preto, interceptadas pelas de direção noroeste, denominadas Guapiara e Marília. Já o segundo autor, ao definir a Zona Sismogênica de Presidente Prudente, com registros de epicentros de terremoto nas proximidades da área pesquisada, induz inserí-la nessa unidade geofísica.

Magalhães et al. (1996) fizeram observações de campo das formações Marília e Adamantina, em afloramentos localizados entre os municípios de Marília e Oscar Bressane, a nordeste de Paraguaçu Paulista, também identificando feições neotectônicas.

Bartorelli (1997) analisou as principais cachoeiras da Bacia do Paraná e as relacionou com alinhamentos neotectônicos e processos erosivos recentes. Segundo este mesmo autor, a origem das cachoeiras é do Quaternário, desde o início do Pleistoceno (há 1 milhão e 800 mil anos) e ocorreu concomitante ao processo de implantação das bacias hidrográficas atuais. Considerou que esse evento se estendeu até o último período seco correspondente à glaciação Würm, que aconteceu do final do Pleistoceno ao início do Holoceno, correspondendo ao intervalo de tempo de aproximadamente 25 mil a 7 mil anos.

Em análise continental, a origem das cachoeiras estaria relacionada ao movimento de rotação da Placa Sul-Americana após a separação da Placa Africana (SAADI, 1993).

A hidrogeologia de subsuperfície da região investigada foi extraída da tese de Silva (1983). A autora apresentou um estudo sobre o Aqüífero Botucatu no Estado de São Paulo, também conhecido como Aqüífero Guarani. Utilizando técnicas hidroquímicas e isotópicas, a autora definiu os mecanismos de evolução da composição química, origem, idades aparentes e velocidades de circulação dessas águas subterrâneas. Indicou também um aumento de temperatura e de salinidade dessas águas no sentido sudoeste, conforme aumenta o grau de confinamento do

aqüífero. Considerou que, também neste sentido, as águas evoluem quimicamente para bicarbonatadas cálcicas, bicarbonatadas sódicas e clorossulfatadas sódicas, quando chegam a atingir idades da ordem de 30 mil anos. Nesta época reinava um clima quente e úmido. Depois, pela entrada do último período glacial da Terra, com pico entre 25 mil e 11 mil anos, passou a frio e seco, findando há 7 mil anos. A porosidade e permeabilidade elevadas do arenito Botucatu propiciou a recarga do aqüífero.

Os elementos condicionantes do confinamento dessas águas são os basaltos da Formação Serra Geral, no topo, e as rochas sedimentares essencialmente argilosas, conhecidas na região como Formação Corumbataí, na base. Essas rochas funcionam como um aqüiclude (sistema sedimentar fechado, onde a água acumulada em seus sedimentos argilosos tem circulação muito lenta ou praticamente nula). A Formação Botucatu, em seu todo, funciona como um corpo receptor de água devido às suas características geológicas intrínsecas, de natureza litológica e hidrológica. Predominam arenitos finos a médios, bem selecionados, de origem eólica. A fração areia ocupa 80 a 94% de sua composição. O quartzo é o mineral preponderante na proporção de 90 a 97%. A permeabilidade média aparente é de 2 centésimos de milímetro por segundo, considerada muito elevada. O quadro hidrogeológico a indica como um sistema sedimentar permeável por porosidade granular (SILVA, 1983).

A geomorfologia regional foi definida por Almeida (1964), quando propôs uma compartimentação geomorfológica do Estado de São Paulo que se constituiu num modelo clássico convencionalmente aceito até hoje pela comunidade científica. Dentro dessa compartimentação, a área pesquisada pertence ao Planalto Ocidental Paulista, numa zona de transição entre o planalto propriamente indiviso e a subunidade do Planalto de Marília (SÃO PAULO, 1981a).

A dinâmica superficial imposta às unidades geológico-geomorfológicas anteriormente abordadas e caracterizando os processos e impactos geoambientais regionais atuais, foi estudada por Iwasa e Prandini (1980), IPT (1987), Oliveira (1994), Carvalho e Prandini (1998), Brannstrom e Oliveira (2000) e Carvalho (2002).

Os dois primeiros trabalhos geraram a cartografia geomorfológica do Estado de São Paulo (IPT, 1987) e citaram os depósitos sedimentares do Terciário e Quaternário. Carvalho e Prandini (1998), colocando o ser humano como agente

geológico, eles apresentaram a seguinte equação básica, separada nas respectivas etapas enumeradas de (1) a (3):

Ambiente geológico + nenhuma intervenção = ambiente geológico (1) Ambiente geológico + intervenção 1 = ambiente tecnogênico 1 (2) Ambiente tecnogênico 1 + intervenção 2 = ambiente tecnogênico 2 (3)

E exemplificaram:

Ambiente geológico + desmatamento = boçoroca (2’) Boçoroca + reabilitação = área reabilitada (3’)

Carvalho (2002), evoluindo nesse raciocínio, complementou: Ambiente tecnogênico 1 + nenhuma intervenção = ambiente geológico (4)

Iwasa e Prandini (1980), estudando as boçorocas do noroeste do Paraná e sudoeste de São Paulo, atribuíram-lhes idade de aproximadamente 40 anos, ou seja, década de 1940, época apical da colonização fundiária dessa região, quando aconteceram os desmatamentos para implantação da agricultura pioneira do café e a implantação dos núcleos urbanos.

Oliveira (1994) também realizou estudos nessa mesma linha e detalhou os processos erosivos atuais que, em estágio avançado, geraram as boçorocas, tão comuns no oeste paulista. Porém, afirmou que a atenuação desses processos erosivos vem possibilitando reverter esse quadro de degradação ambiental. E citou que a reabilitação dessas boçorocas para se transformarem em atrativos turísticos vem acontecendo em diversas localidades, como é o caso de Casa Branca (SP).

Brannstrom e Oliveira (2000) descreveram depósitos tecnogênicos em Cândido Mota (SP), Echaporã (SP), Marília (SP), Garça (SP) e Rancharia (SP). Nesses encontraram utensílios domésticos soterrados e restos vegetais carbonizados que, submetidos à datação pelo método Carbono 14 (C-14) indicaram idade provável de aproximadamente 70 anos, ou seja, da década de 1930, época inicial da intensificação das práticas agrícolas e pecuárias nos latifúndios de então.

O planejamento e a gestão ambiental dos espaços e recursos naturais vêm encontrando subsídios eficientes e eficazes nos zoneamentos geotécnicos. Segundo Vedovello (2000), o zoneamento geotécnico é o formato mais adequado de representação cartográfica para reunir espacialmente as informações geológico- geotécnicas de uma área.

O autor afirmou que a sua execução deve envolver três etapas básicas: compartimentação fisiográfica dos terrenos, caracterização geotécnica e cartografia temática final ou de síntese. A primeira etapa consiste na subdivisão do terreno em zonas homólogas quanto às características fisiográficas peculiares do meio físico definido pelos elementos – solo, rocha e relevo – e detectadas em imagens de radar, satélite ou fotointerpretação.

Para o estudo em tela, as características fisiográficas foram extraídas de imagens de radar e satélite. A caracterização geotécnica é obtida através das Unidades Básicas de Compartimentação (UBCs), as quais reuniram em mapas os caracteres comuns de tipos de solo e rocha (litotipos) e relevo, com drenagem, declividade e hipsometria. E, finalmente, a compilação desses dados resultantes na síntese cartográfica temática, fundamentou a interpretação geológica e ambiental integrada da área pesquisada.

Para efeito desse trabalho, baseado em Zuquette e Nakazawa (1998), considerou-se o termo mapa como referente ao documento que apresenta o registro de informações de um determinado aspecto do meio físico. Já o termo carta, com base nos mesmos autores, foi utilizado para referir-se a documento cartográfico que apresenta as interpretações das informações contidas em um mapa, objetivando uma aplicação específica.

A cartografia geotécnica aplicada à gestão ambiental do turismo local utilizou- se de produtos de avaliação de áreas naturais (VEDOVELLO, 2000), como as cartas geotécnicas aqui apresentadas, que representam as fragilidades do terreno. Essas fragilidades foram expressas em termos de suscetibilidade a processos geodinâmicos ou em termos de vulnerabilidade frente à determinada ação antrópica, no caso específico a atividade do turismo, posteriormente à agricultura e pecuária.

As avaliações de suscetibilidade refletiram a possibilidade de perigo às atividades humanas, no caso, o turismo, e à vida, devido ao desencadeamento de

processos geodinâmicos superimpostos às atividades agrícolas e pastoris intensificadas pela implantação da agroindústria sucro-alcooleira.

Já as avaliações de vulnerabilidade apresentaram a possibilidade de modificação das condições geoambientais naturais do meio físico devido à ocorrência de um determinado uso do solo, anteriormente às atividades supramencionadas e atualmente para o turismo.

E, assim, foram produzidas as cartas de suscetibilidade à erosão, suscetibilidade à inundação e vulnerabilidade à contaminação de aqüíferos.

Constatou-se também uma variação do tema do turismo ambiental para a modalidade geoecoturismo, cujas referências literárias específicas foram encontradas nos centros de pesquisa e extensão universitária e nas instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento. Neste contexto, encontrou-se o Programa Geoecoturismo do Brasil (CPRM, 2008), de caráter institucional, do qual Comozzato e Schobbenhaus (2005) publicaram os primeiros trabalhos. Esse tema também foi encontrado nos eventos científicos e tecnológicos como conteúdo em áreas de conhecimento de sensoriamento remoto, educação ambiental, turismo receptivo, etc.

Quanto ao tema específico do geoturismo, as referências literárias se mostraram escassas. A partir de 1972, com a realização da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural pela Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1972), o tema do geoturismo ganhou identidade própria. Foi realizada em consonância com o Conselho Internacional para Monumentos e Sítios ou International Council for Monuments and Sites (ICOMOS), com o objetivo de preservar as paisagens naturais. Essa convenção foi adotada em 1989, inicialmente por 111 países, dentre os quais o Brasil. Em decorrência, foi criado um mecanismo de cooperação internacional para gerir e administrar essas unidades espaciais, denominado Comitê do Patrimônio Mundial ou World Heritage Committee (WHC).

Definiu-se, então, que os sítios do patrimônio mundial deveriam incluir a geologia. E com o objetivo de identificar sítios geológicos foi iniciada em 1989/90 uma relação, em âmbito mundial, denominada Lista Indicativa Global de Sítios Geológicos, a Global Indicative List of Geological Sites (GILGES). Essa lista fica à disposição do Comitê do Patrimônio Mundial (WHC), para nortear suas decisões

finais sob a orientação da União Internacional para a Conservação da Natureza ou International Union for the Conservation of Nature (IUCN).

Foi criado o Grupo de Trabalho de Sítios Geológicos e Paleobiológicos ou Geotopos ou Working Group on Geological and Paleobiological Sites (GEOTOPES). Este grupo é um projeto cooperativo da UNESCO com a IUCN e a União Internacional de Ciências Geológicas ou International Union of Geological Sciences (IUGS) e o Programa Internacional de Correlação Geológica ou International Geological Correlation Programme (IGCP). Dentre as atribuições desse Grupo de Trabalho, destacaram-se a elaboração da Lista do Patrimônio Mundial ou World