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3.2 Parâmetros de Controle Definidos pelo STJ

3.2.5 Fundamentação específica da decisão

Borges (2019, p. 25), assenta que a maioria das decisões de juízes de pri-meiro grau que aplicam as medidas executivas atípicas é anulada no respectivo

tribunal em razão da insuficiência de sua fundamentação à luz do caso concreto, tal como levantado na pesquisa jurisprudencial atrás exposta.

A doutrina processual brasileira entende que a garantia de fundamentação

das decisões prevista no art. 93, IX, da CF/198827 incorpora os direitos fundamentais

das partes, além de apresentar-se como pilar do estado democrático de direito, na medida em que afasta a estrita legalidade do temerário arbítrio judiciário.

Aliás, como pressuposto de validade, o CPC/2015 prescreve um extenso

rol de condutas em seu art. 489, §1º28, cujas hipóteses configuram a ausência de

fun-damentação adequada da decisão judicial, com o consequente reconhecimento de sua invalidade no sistema jurídico.

Em relação à fundamentação específica nos casos de aplicação das medi-das coercitivas atípicas, cabe ao magistrado “revelar porque entende que as medimedi-das são adequadas e suficientes, atendendo no caso concreto os princípios da

27 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da

Magistratura, observados os seguintes princípios: (...)

IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimi-dade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (BRASIL, 1988).

28 Art. 489. São elementos essenciais da sentença: (...)

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclu-são adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos deter-minantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento (BRASIL, 2015).

proporcionalidade e da razoabilidade” (BORGES, 2019, p. 317 apud NEVES, 2017, p. 150), ao passo que sempre se exigiu dele uma fundamentação diferenciada.

Para efeitos práticos, em sua fundamentação, o magistrado pode se valer das seguintes diretrizes levantadas por Borges (2019, p. 318-319) e já estudados na presente pesquisa: a) exame do requerimento da parte; b) análise da subsidiariedade das medidas atípicas; c) resolução das questões peremptórias levantadas pelo exe-cutado (permitidas através da efetividade do contraditório); d) enfrentamento e apon-tamento sobre as chances de eficácia da medida coercitiva anômala.

4 CONCLUSÃO

No presente estudo, vimos quais são os parâmetros de controle das medi-das executivas atípicas sinalizados até então pelas decisões proferimedi-das pelos órgãos turmários do STJ. Com esse levantamento em mãos, pretendemos posteriormente analisar os parâmetros de controle, isoladamente, acompanhado dos comentários exarados pela doutrina processual, na medida do possível, seja pela forma como se complementam, seja pelo modo como se contrapõem entre si.

Parece-nos que o núcleo central da discussão reside na criação de parâ-metros de controle para impedir que a pessoa do devedor responda por sua dívida na execução civil, ao passo que vigora atualmente o princípio da responsabilidade estri-tamente patrimonial do devedor nas execuções por quantia certa. Portanto, a respon-sabilidade pessoal do executado representaria um evidente retrocesso do sistema processual contemporâneo, além de ser vedado na espécie de obrigação em estudo, o que preocupa especialmente a doutrina processual selecionada.

Com a finalidade de emaranhar a cláusula geral processual executiva no ordenamento jurídico, os controles assinalados e estudados ao longo deste trabalho se estruturam na estrita observância da legalidade, na medida em que estão lastrea-dos pelas previsões legais contidas na Constituição Federal de 1988 e no CPC/2015.

Em síntese final, após o desenvolvimento desta monografia, propomos que o art. 139, IV, do CPC, na execução por quantia certa, deve ser interpretado à luz dos seguintes parâmetros de controle: a) garantia do contraditório prévio; b) fundamenta-ção específica da decisão que restringir direitos fundamentais do devedor; c) obser-vância dos postulados gerais na aplicação da técnica executiva atípica, especialmente sobre a ótica da proporcionalidade, razoabilidade e necessidade; d) aplicação subsi-diária das medidas executivas atípicas; e) necessidade de indícios de existência e ocultação do patrimônio expropriável do devedor.

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