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Para falar sobre design & emoção, é preciso conceituar e entender um pouco as emoções e sua importância nas decisões humanas. Damásio (1996) em seu livro “O Erro de Descartes” conceitua as emoções como o aparecimento de impulsos que resultam em reações do organismo. São respostas a determinados estímulos que nos impulsionam a reagir de alguma forma.

Para Damásio (1996), as emoções são partes indispensáveis da vida racional, a qual está sempre associada às respostas emocionais do organismo. O autor se utiliza de exemplos para concluir que o raciocínio humano não pode agir de forma independente, como acreditava Descartes. As emoções possuem poder determinante no processo de decisão humano.

Com essa relação entre razão, emoção e processo de escolha humanos é possível sugerir que a interação entre pessoas e objetos possui caráter emocional. As situações de escolha e de uso de produtos são circunstâncias em que as emoções estão presentes no julgamento da qualidade das ações e que resultam em sensações de atratividade ou repulsa, medo ou segurança, dentre outras.

Os pesquisadores Mihaly Csikszentmihalyi e Eugene Rochberg-Halton estudaram a relação entre pessoas e objetos no livro The meaning of things: domestic symbols

and the self. Os autores iniciaram a pesquisa questionando a relação das pessoas

com os objetos de arte que possuíam. Perceberam que a maioria dos entrevistados não possui uma relação afetiva significativa com objetos de arte e sim com objetos do dia-dia e sem expressivo valor estético. Os pesquisadores concluíram então que os aspectos que aumentam a ligação afetiva entre pessoas e objetos

42 estão além do valor estético e do status do objeto perante a sociedade. Foi

constatado que os objetos que possuíam uma „história para contar‟ pelos usuários e que tinham significados expressivos para as pessoas eram os mais lembrados e valorizados.

De acordo com Seragini (2007), os valores atribuídos aos produtos partem do imaginário de cada indivíduo. O autor afirma que existem fatores além da estética e da funcionalidade a serem observados. Memória, imaginação e sentimentos devem ser considerados na relação entre consumidores e objetos.

Apesar da clara relação entre produtos e emoções humanas, ainda é relativamente difícil lidar com fatores emocionais no design. A relação entre pessoas e objetos envolve diversos níveis de envolvimento emocional, os objetos podem causar inúmeros tipos de reações e por diversos motivos, como aspectos configuracionais, modo de uso, valor social, entre outros. Desmet (2002) afirma que, apesar dessas dificuldades, é possível para o designer se envolver com os aspectos emocionais do projeto, pois, apesar de terem particularidades difíceis de discernir as emoções possuem características comuns.

O design possui importante papel no estudo da relação emocional entre usuários e produtos. A área de projeto permeia aspectos visíveis e invisíveis dos objetos, o design & emoção se preocupa sobretudo com aspectos não visíveis do projeto, mas de clara percepção e impacto na aceitação pelos consumidores.

O estudo dos aspectos subjetivos na relação usuário-produto tem sido alvo de diferentes pesquisas no design atualmente. No entanto, para o mesmo foco de estudo, diferentes denominações foram adotadas: Design & emoção, Design Experiencial, Design Afetivo, entre outros. No presente trabalho, a denominação escolhida foi a de Design & emoção, com a intenção de seguir as propostas da

Design and Emotion Society, que visa unir propostas sobre o tema oriundas de

diferentes lugares do mundo.

Assim como o Design & emoção e suas diferentes nomenclaturas, no Design tem surgido diferentes sub-áreas direcionadas à focalização do conhecimento. Dentre essas sub-áreas, as mais comuns abrangem ergodesign, ecodesign, design para a sustentabilidade, etc. É importante enfatizar que essas áreas não pretendem fragmentar o design, e sim complementa-lo com fatores a serem considerados na atualidade. É um reflexo das mudanças sociais, que se refletem no design, atividade que precisa estar em constante adaptação com o contexto onde está inserida. Todas essas áreas são, antes de tudo, um só Design, com preocupações globais voltadas a uma satisfatória atividade de projeto.

O design & emoção e seu enfoque no usuário tem origem e embasamento na ergonomia. A diferença é que, além dos aspectos físicos, cognitivos e

43 organizacionais, o design & emoção aborda o usuário também através de aspectos

subjetivos, com foco em emoções e expectativas de uso.

Suri (2003) afirma que é possível estudar as relações sociais que os produtos irão gerar. Assim, projeta-se um tapete planejando situações em que o usuário irá utilizá-lo (para assistir filmes, namorar, ler, dormir) e as relações sociais que podem acontecer com o uso do produto (conversas, fortalecimento de laços, aumento da intimidade). É possível então, procurar entender cada vez mais a capacidade dos produtos de evocarem emoções, e trabalhar essa capacidade no nível do design.

O design & emoção tem como meta proporcionar experiências positivas através do contato com produtos. Pesquisas na área buscam entender reações emocionais do ser humano para poder projetar objetos que despertem o prazer do usuário. Existe uma série de variáveis relacionadas à reação emocional humana que não estão sob o domínio do designer. Dentre elas estão a interpretação pessoal baseada na cultura, experiências passadas, particularidades de personalidade, entre outros (Pullman e Gross, 2004). Apesar disso, há níveis de resposta emocional passíveis de serem estudados pelos designers para aperfeiçoar o projeto de produto, dentre eles estão qualidades sensoriais formais (correspondentes aos sentidos) e qualidades comportamentais (feedback, ritmo, sequência, lógica) (Suri, 2003).

Os designers podem ajustar elementos da relação usuário-produto para despertar emoções e induzir experiências prazerosas, mesmo não possuindo o domínio de influenciar parte das respostas emocionais inerentes aos usuários.

Quando se fala em despertar emoções e induzir experiências, muitas vezes essas denominações podem ser interpretadas no âmbito da emulação e manipulação antiética das emoções humanas. Os objetivos do design & emoção não se enquadram nesse âmbito por terem a satisfação do usuário como objetivo principal da atividade de projeto, o que é contraditório à atividade de emulação que, como objetivo último, pretende gerar lucros e aumentar as vendas, independente da qualidade de vida do consumidor.

Durante a atividade de projeto, o estudo das emoções pode estar presente em diversas etapas da metodologia utilizada. Entre as fases de projeto em que o design & emoção pode ser aplicado, a análise de usuário se configura como de grande importância. Essa pesquisa aborda a aproximação do designer com aspectos subjetivos do consumidor, o que possui grande poder de influência nos resultados do projeto.

44 A análise de usuário proporciona ao designer maior aproximação e conhecimento

sobre emoções, expectativas, anseios e particularidades do público-alvo. Essa aproximação se fundamenta no conhecimento de áreas das humanidades, como psicologia, sociologia, antropologia. Esses e outros campos do conhecimento possuem tradição no estudo de indivíduos, grupos humanos ou sociedades, e podem fornecer teorias e ferramentas para uso e aplicação no design & emoção.