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2.1. O design gráfico como referência na composição fotográfica

Lançado, originalmente, com o título de “Graphic Design: The New Basics“, Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips definem, já nas primeiras duas páginas da apresentação, o real propósito da obra, que é uma proposta de re-conceituar e atualizar os principais fundamentos do Design Gráfico, devido a todas as mudanças metodológicas e tecnológicas e, visto que, grande parte do referencial desses fundamentos teria sido escrita há décadas atrás no programa da escola da Bauhaus. Para defender sua proposta, as autoras se baseiam em trabalhos realizados por alunos de graduação e pós-graduação da escola Maryland Institute College of Art (MICA) e outras faculdades e grupos de alunos, rumo à definição dos fundamentos ponto, linha e plano; ritmo e equilíbrio; escala; textura; cor; figura/fundo; enquadramento; hierarquia; camadas; transparência; modularidade; grid; padronagem; diagrama; tempo e movimento; e regras e acasos, que são tratados separadamente.

A atividade de conhecer, trabalhar e ordenar de forma estética e formal esses fundamentos é atividade de interesse compartilhada por diversas disciplinas das Artes Visuais e do Design, pois, desenvolver composições gráficas eficazes e, com isso, solucionar problemas visuais é o que se imagina ser o grande objetivo dos designers, fotógrafos e dos artistas gráficos em geral. O ato de tomar decisões compositivas pode determinar o significado e a mensagem visual pretendida. É nessa etapa crucial do processo criativo que o comunicador exerce o controle sobre sua criação.

Durante a revisão bibliográfica, que tem como objetivo encontrar as recorrências entre Design Gráfico e Fotografia, sobre a aplicação dos fundamentos do Design Gráfico no processo fotográfico, pode-se destacar a obra de Michael

Freeman: O Olho do Fotógrafo (The Photographer’s Eye), de 2012. Um livro que foi

escrito por um fotógrafo que utiliza um vasto conteúdo sobre Fotografia e Design Gráfico. Nele, Freeman parte de um princípio diferenciado, em que utiliza conceitos de Design Gráfico como a base de sustentação para o processo de composição fotográfica. Assim, temos um livro que foge às tradicionais regras fotográficas

convencionais, até então, o que se via na maioria das bibliografias correntes destinadas a fotógrafos.

Nos casos onde se buscou uma fundamentação teórica no campo da Fotografia, a pesquisa foi fundamentada na obra de John Hedgecoe: O Novo Manual de Fotografia, de 2007, um completo manual de Fotografia, no qual o autor a trata em sua forma mais tradicional, com temas tais como: a Câmera; Objetivas; tipos de Iluminação; Exposição e um vasto campo de estudo e prática das principais regras de composição fotográfica.

Ao contrário de Hedgecoe, a obra de Freeman é um livro sobre técnicas de Design. Nele, não são tratados temas como a fotometria ou como calcular a intensidade da luz de um flash. Temos aqui uma discussão sobre a harmonia, a composição e a estética fotográfica.

O Olho do Fotógrafo aborda assuntos relacionados aos Fundamentos do Design, baseado em ideias de Johannes Itten (1888-1967), um nome de destaque na primeira fase e no desenvolvimento dos cursos da origem do Design na escola da Bauhaus. Fundamentos como enquadramento, figura/fundo, ritmo, equilíbrio, textura, movimento, momento, cor, são assuntos análogos ao livro já citado - Novos Fundamentos do Design, de Lupton e Phillips.

Já a obra Sintaxe da Linguagem Visual, de autora de Donis A. Dondis, lançado em 1991, é utilizada na pesquisa por ser considerada um manual básico de Comunicação Visual, destinado a várias disciplinas, onde se dispõe a proporcionar ao leitor um alfabetismo visual. A autora trata de fundamentos em comum a Lupton, Freeman e Hedgecoe. Por isso, trata-se de uma obra essencial para esta pesquisa.

Realizando o debate entre esses autores e outros não menos importantes, que contribuíram de maneira positiva para a pesquisa, foram percebidas algumas semelhanças entre o Design Gráfico e a Fotografia, principalmente, ao inter- relacionar os Novos Fundamentos do Design de Lupton e O Olho do Fotógrafo, de Freeman, em que é possível pressupor que os processos fotográficos podem ser percebidos como um projeto de Design Gráfico, visto que a imagem fotográfica, enquanto representação visual, nem sempre é compreendida como um projeto gráfico, tendo o Design como referência.

A partir das pesquisas bibliográficas, foram eleitos e debatidos os principais fundamentos do Design Gráfico aplicáveis no processo fotográfico: enquadramento;

figura/fundo; escala; tempo e movimento; cor; textura; camadas e transparência. Sendo esses, eleitos pelo motivo de estarem presentes de forma direta ou indireta na bibliografia de Design e Fotografia que pesquisada. O debate tentará propor como esses fundamentos se comportam na imagem fotográfica, seus efeitos conotativos e suas concepções na pré-produção e/ou pós-produção fotográfica. É importante destacar que outros fundamentos propostos por Lupton serão aqui debatidos como subtemas, tendo como exemplos: ritmo será um subtema de tempo e movimento; padrão e ponto serão subtemas de textura.

2.1.1. A Importância dos Fundamentos

É possível afirmar que em trabalhos nos campos do Design, da Fotografia e até mesmo das Arte Visuais, podem ocorrer resultados espontâneos, à medida que exploramos instrumentos, meios ou materiais com o objetivo de resolver problemas pictóricos. Existem etapas do processo de composição em que decidimos o que é “Belo” ou relevante em termos práticos, muitas vezes, agindo intuitivamente, sem saber como e por que os resultados foram realizados. Podemos denotar sentimentos e emoções durante o processo criativo, criando um tipo de expressão que reflita nossa personalidade, gosto e repertório. Tudo isso se trata de uma forma de abordagem intuitiva da criação visual (WONG, 2010, p.13).

Embora resultados espontâneos aconteçam no processo de composição visual, existem metodologias para a criação de artefatos de Design Gráfico, bem como para a concepção de imagens fotográficas. Para isso, se supõe que é essencial o conhecimento prévio dos Fundamentos do Design, como eles são trabalhados e seus efeitos conotativos.

A herança da Bauhaus e outras instituições de ensino analisavam a forma sob o aspecto de elementos geométricos básicos, cuja forma seria compreensível para todos, apoiados pelo simples fato de que o olho humano é um instrumento universal (LUPTON, 2008). Os designers da Bauhaus consideravam não apenas que existisse uma maneira universal de descrever a forma, mas também seu significado universal. Na busca de um retorno ao pensamento da Bauhaus, diversas bibliografias vêm

recorrendo a temas que abordam elementos como a Linha; Plano; Cor; Textura; organizando-os em princípios como Escala, Equilíbrio e Enquadramento.

Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips, educadoras com décadas de experiência no ensino de graduação e pós-graduação, afirmam na obra Os Novos Fundamentos do Design (2008), ter testemunhado mudanças cada vez maiores no mundo do Design, fato que já ocorria, pelo menos, desde os anos 1920.

Albers e Moholy-Nagy moldaram o uso de novas mídias e novos materiais. Eles viram que a arte e o design estavam sendo transformados pela tecnologia – a fotografia, o cinema e a produção em massa. No entanto, suas ideias permaneceram profundamente humanistas, sempre o papel do indivíduo em face da autoridade absoluta de qualquer sistema ou método (LUPTON, 2008, p.08).

Lupton e Phillips, após perceberem que seus alunos não estavam à vontade construindo conceitos de maneira abstrata, recuaram ao uso desses métodos, e como solução, iniciaram o projeto Novos Fundamentos do Design. Nele, as autoras retomam a tradição da Bauhaus e o trabalho pioneiro dos grandes educadores do Design formal, buscando estabelecer novos parâmetros de composição visual, com base nos fundamentos visuais a seguir apresentados (LUPTON, 2008).

Nessa perspectiva, o referido estudo tem como Objetivo Geral pesquisar e debater a importância da aplicação dos Novos Fundamentos do Design de Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips (2008) na linguagem fotográfica. A pesquisa pressupõe que os processos de pré-produção e pós-produção fotográfica podem ser percebidos como um projeto de Design Gráfico.

Foram eleitos ainda objetivos específicos, que auxiliaram no desenvolvimento da pesquisa, a saber:

1. Discutir sobre história e conceitos da Fotografia e Design gráfico; 2. Debater acerca dos fundamentos do Design Gráfico;

3. Analisar os fundamentos do design aplicados aos processos de pré e pós- produção fotográfica.

Para a realização do referido estudo, foram utilizados os princípios metodológicos Estruturalistas de Lévi-Strauss; um método que parte da investigação de um fenômeno (a Imagem Fotográfica) que é elevado ao nível abstrato, por intermédio da constituição de um modelo (Fundamentos de Design Gráfico) que

representa o objeto de estudo, retornando, por fim, ao concreto, agora como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social (LAKATOS, 2004). De um modo geral, o método estruturalista foi usado na pesquisa com a finalidade de explorar as inter-relações das estruturas de Design Gráfico e da Fotografia.

Na pesquisa, são debatidos os sete fundamentos de Design Gráfico selecionados, bem como quais as inter-relações de equivalência ou de oposição que os mesmos mantém com os fundamentos da Fotografia, sendo esse conjunto de relações o que fundamenta o pensamento estruturalista.

A pesquisa conta ainda com fotografias icônicas de vários períodos da história e com importantes peças de Design gráfico que contribuíram para o entendimento dos temas debatidos, exemplificando casos nos quais são destacados os Fundamentos de Design, discutidos no referente estudo.

3. FUNDAMENTOS DE DESIGN GRÁFICO E OS PROCESSOS FOTOGRÁFICOS

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