• Nenhum resultado encontrado

Fundamentos e evolução

No documento A civil objetiva no acidente do trabalho (páginas 32-36)

A partir de um estudo que envolveu o conhecimento dos institutos formadores do tema central, quais sejam acidente do trabalho e responsabilidade civil, partimos para a abordagem da responsabilidade civil objetiva no acidente do trabalho.

Conforme já exposto, a responsabilidade objetiva mantém os elementos do ato ilícito, dano e nexo causal, sendo dispensada apenas a aferição da culpa para se estabelecer o dever de reparar.

Inicialmente, faz-se mister lembrar que a aplicação da teoria objetiva nem sempre foi aceita de forma parcimônica. Os tradicionais defensores da teoria subjetiva apontavam que conceber a responsabilidade sem culpa seria injusto e que a atenção com a vítima poderia acabar lesando o agente.

Historicamente, durante o final do século XIX, com o desenvolvimento industrial e científico, bem como com a explosão demográfica nas cidades, a preocupação com o crescente número de empregados acidentados fez surgir uma movimentação em prol da segurança do trabalho, desenvolvendo-se a partir daí a teoria do risco e a modalidade objetiva da responsabilização dos agentes causadores.40

A mecanização da produção foi, sem dúvidas, um grande causador do aumento no número de acidentes do trabalho. O despreparo dos empregados e a falta de oferta de treinamento por parte do empregador geravam um ambiente do trabalho bastante propício a acidentes.

Quando ocorriam tais acidentes, iniciavam-se as mais diversas dificuldades para o empregado lesado, uma vez que este raramente conseguia provar a culpa do empregador em seu infortúnio, quedando prejudicado e sem reparação do seu dano.

Observando-se tal problemática, os juristas perceberam que seria necessário pensar em uma teoria que suprisse as lacunas deixadas pela teoria subjetiva padrão de responsabilidade civil; então a teoria objetiva ganhou força e aplicação.

Destaque-se que a passagem da teoria subjetiva para objetiva não foi imediata. Primeiramente, os tribunais começaram por facilitar, em casos de acidente do trabalho, a comprovação da culpa. Depois, admitia-se a culpa presumida com a inversão do ônus da prova, situação que já se aproximava em muito dos efeitos da aplicação da teoria objetiva.41

Após tais fases, o entendimento finalmente evoluiu para a responsabilidade sem culpa, consagrando a teoria objetiva. Contudo, ainda hoje, sobretudo em julgamentos de primeiro grau, persistem julgamentos que vão de encontro a tal teoria, prejudicando as vitimas.

4.2 Teoria do risco

A teoria do risco é pautada na probabilidade da ocorrência do dano, no perigo proporcionado pela atividade, e na concepção de que quem exerce atividade perigosa precisa assumir os riscos da mesma e responsabilizar-se pelos danos causados.42

A empresa que atua em ramos perigosos tem por obrigação o dever de segurança dos seus empregados, devendo compreender os riscos da atividade e reparar os danos por ela provocados.

A teoria do risco expandiu-se ao longo dos estudos doutrinários, sendo dividida em subespécies ou modalidades, tais como risco proveito, risco profissional, risco excepcional, risco criado e risco integral.

Destaque-se que o artigo 927 do Código Civil, supracitado, não faz restrições quanto ao tipo de risco empregado, determinando apenas a reparação

41 CAVALIERI FILHO, Sergio. op cit. p.152 42 CAVALIERI FILHO, Sergio. op cit. p.152

quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

4.2.1 Risco proveito

A teoria do risco proveito tem concepção no entendimento de que aquele que tira proveito da atividade danosa é o responsável pela reparação, baseado no princípio de quem aufere o bônus, deve suportar o ônus – ubi emolumentum, ibi onus.

CAVALIERI nos lembra que a grande dificuldade paira sobre o conceito de tomar proveito, verbis:

“Quando se pode dizer que uma pessoa tira proveito de uma atividade? Será necessário obter um proveito econômico, lucro ou bastará qualquer tipo de proveito? Se proveito tem o sentido de lucro, vantagem econômica, a responsabilidade fundada no risco proveito ficará restrita aos comerciantes e industriais, não sendo aplicável aos casos em que a coisa causadora do dano não é fonte de ganho. Ademais, a vítima teria o ônus de provar a obtenção desse proveito, o que importaria o retorno ao complexo problema da prova.” 43

Tal assertiva faz pensar no problema que a aplicação dessa teoria causaria nas situações em que não se aufere ganho pecuniário sobre a vítima. Novamente a proteção iria quedar limitada.

4.2.2 Risco profissional

O risco profissional foi a teoria criada para justificar a reparação nos caso de acidente do trabalho. Nesta teoria, “o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do lesado”.44

Relata BRANDÃO que:

“A teoria do risco profissional compreende o dever de indenizar a partir do prejuízo ocasionado no desempenho de atividade laborativa ou profissão. Foi concebida especificamente para fundamentar os casos de acidente do trabalho, ocorridos sem culpa do empregador.” 45

43 CAVALIERI FILHO, Sergio. op cit. p.153 44 CAVALIERI FILHO, Sergio. op cit. p.153 45 BRANDÃO, Cláudio. op cit. p.222

Ressalte-se a importância de tal teoria, uma vez que o empregado, na maior parte dos casos, pela sua desvantagem econômica e social, era privado de provar a responsabilidade da empresa.

Além disso, também coaduna para a reparação nos casos de doença do trabalho, nos quais as razões são intrinsecamente relacionadas com o ambiente ou modo com o qual a atividade era exercida.

4.2.3 Risco excepcional

Para a teoria do risco excepcional, a reparação é devida quando o dano é fruto de uma atividade que não é exercida normalmente pela vítima.

Citam-se, neste enfoque, os casos de atuação com exposição à rede elétrica de alta tensão, exploração de energia nuclear, radioatividade, explosivos, dentre outros.

4.2.4 Risco criado

A teoria do risco parte de uma concepção mais ampla de que aquele que der causa, promova, crie um perigo em razão de sua profissão ou atividade deve ser responsável pela reparação dos danos causados.

O doutrinador Cláudio Brandão destaca a diferença entre o risco criado e o risco proveito, in verbis:

“Não se cogita do fato de ser o dano correlativo de um proveito ou vantagem para o agente e não há, por conseguinte, subordinação do dever de reparar ao pressuposto da vantagem. É suficiente a análise da atividade em si, independentemente do resultado que venha proporcionar para quem a desenvolve.”46

4.2.5 Risco integral

A teoria do risco integral faz-se como sendo a mais ampla e radical das teorias. Nesta, a responsabilidade deve existir inclusive sem a configuração do nexo causal.

46 BRANDÃO, Cláudio. op cit. p.224

O risco integral abrange a responsabilidade existente com base no dano, devendo ser aplicada mesmo nos caso de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior.47

Tal extremo somente é aplicado em casos excepcionais, tais como no caso das coberturas proporcionadas pelo seguro obrigatório de veículos automotores e concessão de auxílio-doença acidentário pela Previdência a partir do décimo sexto dia de afastamento.

4.3 Dever de segurança

Conforme já explanado, a responsabilidade nasce da violação de um dever jurídico preexistente. Tomando-se por base tal conceito, a responsabilidade objetiva surge da violação do dever de segurança que tem aquele que gera risco a outrem.

CAVALIERI assim resume com maestria:

“Em suma, quem se dispõe a exercer alguma atividade perigosa terá que fazê-lo com segurança, de modo a não causar dano a ninguém, sob pena de ter que por ele responder independentemente de culpa. [...] Há um direito subjetivo à segurança cuja a violação justifica a obrigação de reparar o dano sem nenhum exame psíquico ou mental da conduta do seu autor. Na responsabilidade objetiva, portanto, a obrigação de indenizar parte da ideia de violação do direito de segurança da vitima.”48

Portanto, o dever de segurança faz-se como um basilar fundamento da teoria objetiva da responsabilidade civil do empregador nos casos de acidente do trabalho, juntamente com a teoria do risco e com os princípios da segurança do trabalho.

No documento A civil objetiva no acidente do trabalho (páginas 32-36)

Documentos relacionados