CAPÍTULO II ORÇAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL: ENTRE O
2.1 Fundos Especiais
A análise crítica aqui desenvolvida parte da perspectiva do dever do Estado em garantir atendimento às necessidades básicas da população, alocando os recursos financeiros necessários na oferta qualificada de benefícios e serviços, articulando desenvolvimento social e econômico, assegurando o direito à proteção social ao cidadão. O Estado através do orçamento público deve materializar o compromisso do governo com a sociedade na execução das políticas públicas. Por meio dos programas governamentais, previstos nas leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA), toda a sociedade deve visualizar as receitas e gastos com as ações de atendimento aos direitos da população. Os órgãos gestores das políticas integrantes da estrutura administrativa do Poder Executivo (Ministérios, Secretarias, Departamentos e Coordenadorias) são responsáveis pelo processo de planejamento, monitoramento e execução das diversas políticas relacionadas aos direitos do cidadão. O responsável pelo órgão gestor da política é o titular da pasta, o mesmo tem a responsabilidade de gerenciar o fundo que tem a competência de financiar as ações de gestão, benefícios e serviços de âmbito da respectiva política. Cabe aos conselhos das políticas, órgãos superiores de deliberação colegiada, vinculados à estrutura administrativa do Poder Executivo, exercer o controle social sob as políticas e os recursos alocados nos fundos, sendo espaços de controle e participação social.
Sobre o conceito de fundo, a Lei15 que trata das finanças públicas traz a definição que “constitui fundo especial o produto de receitas específicas que por meio da lei se vinculam à realização de determinados objetivos ou serviços, facultada a adoção de normas peculiares de aplicação.” Neste sentido, o conceito de fundo por parte da Secretaria de Tesouro Nacional – STN é que “o fundo é um instrumento criado por lei, sem personalidade jurídica, para a gestão individualizada de recursos vinculados ao alcance de objetivos específicos”.
Os responsáveis pela gestão dos recursos alocados e executados pelos fundos são sempre os de última instância, Governador de Estado ou Prefeito, que delegam funções ao Secretário da pasta do ente.
Em relação aos fundos públicos específicos do âmbito da Seguridade Social, são três:
Criado no ano de 2000, pela Lei de Reponsabilidade Fiscal – LRF, o Fundo do Regime Geral da Previdência Social – FRGPS16 tem características diferentes do fundo de saúde e do fundo de assistência social, é base de financiamento do Regime Geral de Previdência Social, vinculado ao Ministério da Previdência Social - MPS, gerido pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), com a finalidade de prover recursos para o pagamento dos benefícios do regime geral da previdência social.
O Fundo Nacional de Saúde – FNS17 foi criado no ano de 1969, passou por diversas adequações para atender às mudanças corridas no campo da gestão, financiamento e controle social das ações e serviços públicos de saúde. Os recursos financeiros alocados no FNS destinam-se ao atendimento das finalidades previstas na Lei Orgânica de Saúde – LOS e no Sistema Único de Saúde – SUS. Os recursos alocados no FNS são administrados pelo seu Diretor-Executivo, sob a orientação e supervisão direta do Secretário-Executivo do Ministério da Saúde – MS. A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes (mais conhecida como Lei Orgânica da Saúde – LOS). A LOS no seu Capítulo II trata da gestão financeira e no art. 33, especificamente, que “os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em conta especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentação sob a fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde”.
De acordo com o artigo 6º do Decreto nº 3.964, de 10 de outubro de 2001, que dispõe sobre o Fundo Nacional de Saúde e dá outras providências “[...] a gestão dos recursos do FNS observará o Plano Nacional de Saúde e o Plano Plurianual do Ministério da Saúde, nos termos das leis definidoras dos orçamentos anuais, das diretrizes orçamentárias e dos planos plurianuais”.
O Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS foi criado pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, mais conhecida como Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, que transformou o Fundo Nacional de Ação Comunitária (FUNAC) instituído em 1985 e ratificado em 199018 em FNAS. O Decreto que regulamenta o FNAS previsto no
16 O Fundo do Regime Geral da Previdência Social (FRGPS) foi criado pelo art. 68 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 que estabelece normas de finanças voltadas à responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências.
17 O Fundo Nacional de Saúde foi instituído pelo Decreto Nº 64.867, de 24 de julho de 1969; foi reorganizado pelo Decreto Nº 806, de 24 de abril de 1993; A norma que se encontra em vigor até a presente data é o Decreto Nº 3.694, de 10 de outubro de 2001 que dispõe sobre o Fundo Nacional de Saúde e dá outras providências. 18 Decreto Nº91.970, de 22 de dezembro de 1985 que dispõe sobre a autonomia Administrativa e financeira limitada da Secretaria Especial de Ação Comunitária –SEAC, cria o Fundo de Ação Comunitária e da outras
Capítulo V – Do Financiamento da Assistência Social da LOAS de 1993, prevê no artigo 1º do referido Decreto que “o Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS, fundo público de gestão orçamentária, financeira e contábil, instituído pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, tem por objetivo proporcionar recursos financeiros para cofinanciar gestão, serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social”. Cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social – SNAS, órgão responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, gerir o FNAS, sob a orientação e acompanhamento do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS.
Segundo o artigo 30 do Capítulo V da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 (LOAS) e o art. 5º do Decreto nº 7.788, de 15 de agosto de 2012, para receberem recursos do FNAS, os entes subnacionais devem cumprir algumas condições que compreendem: instituição e o funcionamento de Conselho de Assistência Social, instituição e funcionamento do Fundo de Assistência Social, devidamente constituído como unidade orçamentária, elaboração de Plano de Assistência Social; e comprovação de recursos próprios destinados à assistência social, alocados nos respectivos fundos de assistência social.
Quadro 11 - Fundos das Políticas de Seguridade Social
FUNDOS DAS POLÍTICAS DE SEGURIDADE SOCIAL
Sigla Denominação Órgão a que está vinculado
FNAS Fundo Nacional da Assistência Social Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. FRGPS Fundo do Regime Geral da Previdência
Social
Ministério da Previdência Social.
FNS Fundo Nacional da Saúde Ministério da Saúde Fonte: O Autor, 2014.
providências; e Decreto Legislativo Nº 66, de 18 de dezembro de 1990 que ratifica, nos termos do artigo 36 do
Quadro 12 - Funções típicas da Seguridade Social
FUNÇÕES TÍPICAS DA SEGURIDADE SOCIAL
Funções Subfunções
08 - Assistência Social
241 – Assistência ao Idoso
242 – Assistência ao Portador de Deficiência 243 – Assistência à Criança e ao Adolescente 244 – Assistência Comunitária
09 - Previdência Social
271 – Previdência Básica
272 – Previdência do Regime Estatutário 273 – Previdência Complementar 274 – Previdência Especial
10 – Saúde
301 – Atenção Básica
302 – Assistência Hospitalar e Ambulatorial 303 – Suporte Profilático e Terapêutico 304 – Vigilância Sanitária
305 – Vigilância Epidemiológica 306 – Alimentação e Nutrição Fonte: BRASIL. MTO, 2015, p. 163.