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2. Micologia Clínica

2.2. Classificação dos fungos

2.2.2. Fungos filamentosos

Nos fungos filamentosos, o protoplasma pode ser contínuo e multinucleado, constituindo as hifas asseptadas ou cenocíticas. Nestas hifas pode observar-se o aparecimento, ocasional e irregular, de septos sem poros ou septos totais, que desempenham funções protectoras, como sejam a separação de zonas novas de zonas velhas da hifa, a delimitação de estruturas reprodutoras e o isolamento de zonas danificadas.

As hifas em que o citoplasma é interrompido regularmente por invaginações interiores da parede, septos, que dividem as hifas em compartimentos ou "células", são designadas hifas septadas. Nete tipo de hifas os septos são perfurados, permitindo a passagem do citoplama e dos seus organitos através deles. A ultra-estrutura dos poros septais é um critério importante na classificação destes fungos.

Também a composição química da parede é característica dos diferentes grupos taxonómicos. Os principais constituintes químicos parietais são os polissacáridos, associados a proteínas e lípidos. O tipo de polissacáridos varia entre os principais grupos. Assim, a análise química de fungos septados e leveduriformes (Ascomicota e Basidiomicota) mostra a presença de quitina e de glucanos (polímeros de glucose), enquanto a dos fungos asseptados (zigomicota) apresenta uma mistura de quitina e quitosano, associados a ácidos glucorónicos, em vez de glucanos.

A membrana citoplasmática dos fungos é constituída, essencialmente, por esteróis, lípidos e proteínas. O esterol mais importante é o ergosterol, enquanto que nas células humanas é o colesterol.

Além dos fungos leveduriformes e filamentosos existem os chamados fungos dimorfos, que adquirem a forma filamentosa ou a forma leveduriforme, consoante as condições do habitat nomeadamente temperatura, nutrientes, oxigénio e pH.

2.2.2.1. Dermatófitos

Os dermatófitos são parasitas que degradam a queratina, causando frequentemente infecções no couro cabeludo, unhas e pele glabra. Este grupo inclui espécies dos géneros: Epidermophyton, Microsporum e Trichopyton As são infecções fungicas causadas por dermatófitos denominam-se dermatofitoses (Brandi et al., 2007).

Os fungos dermatófitos são frequentemente classificados em três grandes grupos, com base no seu habitat natural e preferência em relação ao hospedeiro. Assim, existem as espécies geofílicas, geralmente existentes no solo e que ocasionalmente podem ser patogénicas para o Homem e animais; espécies zoofílicas que preferem os animais para hospedeiros, mas também podem infectar os humanos; espécies antropofílicas são responsáveis pela contaminação inter-humana directa e/ou indirectamente.

Os fungos dermatófitos, considerados agentes etiológicos de dermatomicoses, são fungos filamentosos que invadem os tecidos superficiais queratinizados do Homem e de outros animais vertebrados, como a pele, as unhas e o cabelo ou os pêlos.

Os fungos dermatófitos caracterizam-se por apresentar duas fases evolutivas, a assexuada, na qual pode ser parasita, e a sexuada, quando é saprófita do meio ambiente.

Na fase parasitária, os dermatófitos compreendem três géneros diferentes: Microsporum spp., Trichophyton spp. e Epidermophyton spp. (Martins, 1993; Karaca e Koç, 2004).

Existem espécies antropofílicas que são parasitas obrigatórios do Homem, espécies zoofílicas que têm nos animais o seu principal reservatório e só ocasionalmente infectam o Homem e espécies geofílicas que vivem como saprófitas no solo, podendo infectar o Homem e outros animais, ainda que indirectamente (Martins, 1993). Trichophyton rubrum tem sido referido como o principal agente etiológico responsável por dermatofitias, no entanto outras espécies de dermatófitos têm sido também isoladas com frequência, como Trichophyton mentagrophytes e Epidermophyton floccosum, o que sugere que as dermatofitias causadas por espécies antropófilicas têm vindo a aumentar nos últimos anos (Rosado e Teles, 1989; Onychomycosis, 2007).

2.2.2.2. Outros Fungos filamentosos não dermatófitos

Outros fungos filamentosos não dermatófitos, denominados de fungos oportunistas e/ou queratinofílicos, são os que degradam a queratina. Habitam nas plantas e solos de todo o mundo e são considerados como agentes contaminantes, saprófitas e oportunistas, tendo nos últimos anos aumentado a sua frequência entre as micoses ungueais (Gianni et al., 2000). Este grupo inclui, assim, os fungos que afectam a pele humana, mas também os que são contaminantes do ambiente. (Gianni et al., 2000).

Os fungos pertencentes a este grupo, diversificado e heterogéneo, diferem dos denominados queratinolíticos, uma vez que, a degradação da queratina efectuada por estes últimos foi experimentalmente comprovada, verificando-se, também, que invadem tecidos in vivo, provocando dermatomicoses (Araújo et al., 2003a).

Como exemplos de fungos filamentosos não dermatófitos têm sido referidos vários taxa nomeadamente: Alternaria, Aspergillus spp, Penicilium, Cladosporium, Fusarium sp.e Phoma, (que são agentes etiológicos de Tinea pedis e de onicomicoses) (Gianni et al., 2000), bem como, Acremonium sp., Fusarium oxysporum; Onychocola canadensis, Scopulariopsis spp., Scopulariopsis brevicaulis, Scopulariopsis hialinum, Scytalidium sp., Scytalidium dimidiatum, Scytalidium hyalinum (Esteves et al., 1990; Rosado e Teles, 1989; Onychomycosis, 2007).

Verifica-se, actualmente, um aumento da prevalência de lesões superficiais provocadas por fungos filamentosos não dermatófitos, potencialmente queratinofílicos, que anteriormente eram apenas considerados como contaminantes (Araújo et al., 2003a; Onychomycosis, 2007). Nos últimos anos, o aumento de casos de onicomicoses causadas por fungos filamentosos não dermatófitos indica que estes fungos são possíveis agentes etiológicos destas doenças (Araújo et al., 2003b).

Entre os fungos não dermatófitos com capacidade para invadir as unhas e produzir onicomicoses consideram-se, principalmente, Scopulariopsis brevicaulis, que atinge principalmente as unhas dos pés e Hendersonula toruloidea, ou a sua forma anamorfa Scytalidium hyalinum, que produzem também lesões nas palmas das mãos, plantas e espaços interdigitais dos pés e cuja patogenicidade parece comprovada. (Zaias, 1972 in Esteves et al., 1990)

Os géneros Curvularia e Hendersonula podem também parasitar a lâmina ungueal directamente. As espécies Fusarium solani e Fusarium oxysporum produzem, onicomicoses e outras doenças como dermatomicoses e infecções sistémicas (Araújo et al., 2003b).

A maior parte dos casos devido a Scytalidium hyalinum foi diagnosticada em Inglaterra e França em indivíduos que viveram em áreas tropicais (Gentle et al., 1970, Campbell et al., 1977 e Badillet et al., 1982 citados por Esteves et al. 1990). O aspecto clínico, geralmente não se distingue do das dermatofitias e é frequente que seja atingida mais que uma unha. Os filamentos são, geralmente, hialinos, mais raramente pigmentados, de diâmetro variável e com aspecto sinuoso, semelhante à pseudofilamentação de Candida na pele (Esteves et al. 1990).

É necessário uma maior atenção à identificação de espécies isoladas a partir de lesões da pele e/ou dos seus anexos queratinizados que não pertencem ao grupo dos fungos dermatófitos uma vez que, frequentemente, são consideradas como simples contaminantes e além disso existe uma semelhança clínica das lesões com as dermatomicoses causadas por fungos dermatófitos, revelando-se fundamental a sua diferenciação (Fusconi et al., 1991).

Num estudo anteriormente efectuado na Unidade de Micologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, I.P., constatou-se que existe uma actividade queratinofílica acentuada em determinadas espécies de fungos ambientais, denotando, algumas delas, actividades queratinofílicas surpreendentemente elevadas, pelo que é de considerar a sua estreita relação com determinadas patologias clínicas que afectam a pele, as unhas e o couro cabeludo. No mesmo estudo, concluiu-se que devem considerar-se como significativos os resultados de infecções provocadas por estas espécies, passando os mesmos a ser validados no decorrer da rotina laboratorial. Recomendou-se, ainda, ser de grande importância a sensibilização dos clínicos no sentido destes passarem a considerar estas espécies como potencialmente patogénicas, podendo assim ser tomadas as medidas terapêuticas adequadas ao tratamento destas infecções (Sabino, 2002).

Fungos demaciáceos

No grupo dos fungos filamentosos não dermatófitos existem os fungos demaciáceos ou pigmentado, que são caracterizados por apresentam colónias escuras, em tons de verde azeitona, castanho e preto, devido à presença de melanina. É um grupo heterogéneo que inclui numerosas espécies pertencentes a diferentes taxa. Os Fungos demaciáceos possuem características comuns, sendo fungos filamentosos septados; em cultura apresentam hifas e/ou esporos com um pigmento escuro do tipo melanina. Relativamente ao habitat e ao seu poder patogénico estes podem classificar-se em fungos de crescimento rápido e fungos de crescimento lento. Os fungos demaciáceos de crescimento rápido são ubíquos na Natureza, possíveis saprófitas oportunistas como os géneros: Alternaria, Cladosporium, Aureobasidium, Chaetomium, Curvularia, Phoma, Ulocladium. As espécies de crescimento lento existem, principalmente, em países de clima tropical e subtropical, sendo mais patogénicos que os anteriores, são agentes das phaehyphomycoses, como é o caso dos géneros: Exophiala, Phialophora, Cladophialophora, Fonsecaea, Phaeoannelomyces, Phaeococcomyces, Rhinocladiella, Wangiella. Membros deste grupo de fungos são saprofitas (McGinnis, 1997). As Cromoblastomicoses, micetoma e phaeohyphomycosis são infecções fúngicas causadas por fungos demateaceous, normalmente encontrados no solo Grillot (1996).

A maior parte das leveduras não possui pigmentos, no entanto, o género Rhodotorula, devida à presença de pigmentos carotenóides, apresenta uma cor vermelha, laranja ou

amarela (Esteves et al., 1990). Existem também algumas leveduras negras como é o caso da Exophiala.